sábado, março 31, 2007

Cheguei ao 1000!!!! Viva!

















Cheguei ao milésimo post hoje. Será que eu e Romário?
uauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
Lembro quando comecei e perguntei ao Nemo Nox*, (para quem escrevi por causa de uma informação equivocada sobre Raduan antes de fazer meu blog), como isto funcionava, como era este mundo dos blogs e ele me respondeu que acontecia tudo aqui, que todos com o tempo têm seus leitores.
Comecei com um artigo do Contardo. Eu sempre gostei de repassar coisas que leio, gosto de trocar idéias. Depois coloquei cartas- lindas- de um amigo enamorado, os contos de Raduan- como não mostrar às pessoas um texto de Raduan- meu escritor favorito? Ai vieram meus questionamentos aqui no virtual, as historinhas com Drummond...Quando estava meio assim assim, colocava um poeminha antigo, um texto. Inagaki*, me descobriu, divulgou na primeira semana, eu ia aos blogs me apresentar, alguns me esnobavam, um deles, muito famoso na época, fez um post me chamando de ansiosa, não disse o nome, não precisava; outra figura me agrediu fortemente, também sem nomear, mas deu as dicas todas. Fiquei muito doída, não esperava cacetadas com meus pequenos escritos, mas não pensei em desistir, acreditava que tinha o que contar. E felizmente tenho. Tenho muitas histórias para contar. Tive a sorte de ter tido encontros fantásticos pela vida e gosto de contar.
Acredito que há leitores aqui que saem diferente depois de um pequeno texto meu e isto não tem preço. Recebo emails comovidos. Uma moça me telefonou dos EEUU algumas vezes. (Cadê você Eva? não respondeu mais os emails... Fico pensando como estará). Outras me escrevem dizendo que sentem o que eu escrevo na pele, que escrevi para elas.
Sempre gostei de escrever, escrevia longas cartas desde adolescente. Sempre tive amizades fortes, e amores intensos- muitos platônicos.

Fiquei pensando no que escreveria aqui no post 1000.

Estes dias reli cartas de Carlinhos, meu amigo querido que já se foi, mas que é sempre presente. Ontem li para uma amiga um trecho de uma carta dele de Portugal, o ano acho que era 69, eu estava prestes a fazer vestibular- ele diz na carta que está preocupado, quer saber se estou estudando. Minha amiga ficou emocionada, eu já chorei muito lendo as cartas dele. Mas não é de tristeza, é de saudade, mas sempre penso na sorte que tive por de tê-lo como amigo, por estarmos naquele lugar- Cabo Frio- ambos éramos do RS. É aquele rapaz lindo que está abraçado aqui a outro num post de uns meses atrás, os dois eram lindos. O outro é César, meu querido amigo também, que felizmente encontrei no Google e retomamos nosso afeto tão especial. É escritor e não sabia que eu escrevia- eu não mostrava para ninguém. Se não fosse este encontro mágico, eu acho que minha vida teria sido bem diferente, eu era muito triste, vivia fechada, casaria com um daqueles rapazes de Cabo Frio, que eu tanto esnobei.:) e seria infeliz para sempre. Eu não me arrependo nenhum minuto por não ter casado jovem, estas coisas.
Os encontros fantásticos continuam, escrevo muito para alguém em especial, alguém que não se revela, mas que eu adivinho. Pode ser qualquer um de vocês, qualquer um que me ouça, que me tire um pouco da solidão, da aridez. Não consigo viver sem amor, se não tenho, invento, criei um amor que me faz fértil, mais vibrante. Por tudo isto quero dizer: muito obrigada. Se não estivessem ai minha vida seria muito mais árida.
Pois é, eu havia começado o blog com uma frase no perfil:"Uma carioca tateando o solo árido do nordeste". Ainda continuo tateando, ou capinando, como alguém disse estes dias. Vejo um espelho d'água, vou ao encontro, aí é miragem. Estranho isto. Difícil alcançar algo desde que cheguei aqui. Espero que a minha sorte mude. Não lamento, acho que faz parte, eu de alguma forma assusto as pessoas. Se não fosse por este isolamento não teria escrito tanto. Não teria mergulhado em abismos no virtual, isto tudo me fez mais rica. Engraçado, eu fiz análise sempre, desde 71, mas é através do que escrevo que me sinto mais rica. Mesmo que ninguém leia. Estranho isto. Mas sei que há sempre um leitor. Acho que mesmo quando olho meu umbigo, há um desejo de dividir, não é um gesto mesquinho, talvez por isso me sinta tão melhor agora. Pode ser.
Grazie tanto :) per tutto.
Preciso estudar italiano, é a segunda língua daqui :)
ai ai per tutti ou per tutto? fiquei em dúvida. :)
Grazie tanto a tutti per tutto ?? ai ai
hihihi me divirto aqui também. Grazie.
POdem corrigir, eu agradeço hihihi
Aliás, já disse e repito: podem me corrigir sempre que virem erros, eu gosto que me mostrem os erros, muitas vezes demoro para ver, só quando leio pela 3ª vez vejo e não gosto de ficar relendo.

Adoro esta música, encontrei este blog ao acaso buscando o pianista que eu ouvia sem parar quando era adolescente, eu devia ser uma chata mesmo. Imagine,ou pense, como dizem aqui, uma adolescente que ouvia Rachmaninoff tocando o seu 2º concerto para piano e orquestra e amava...hihihi Detestava rock e Jovem Guarda.
Leiam a historinha que tem neste blog sobre ele, vale a pena ler e ver como sofreu. Uma pena. Os homens são cruéis, vejam que Leon Tolstoi diz. Imaginem os outros...
Aqui com uma pianista, prefiro com ele.

*Nemo e Inagaki vocês acham ai à direita. O Nemo é o selo do homem de olhos zangados, embaixo da 'Casa das mil portas". Conhece 'A casa'? vá conhecer, vale à pena.
O Ina é o do 'Pensar enlouquece'. E o Nemo foi em 2004 considerado o melhor blogueiro do ano num concurso internacional(Berlin).
É muitoooooo visitado, um espanto! Ina também.

sexta-feira, março 30, 2007

Mini conto. O homem do Shopping














O homem do Shopping


Sentada no café, viu, através do vidro, quando ele passou no corredor do Shopping. Homem bonito, há muito não via um homem assim tão bonito. Tem um belo caminhar, é elegante, charmoso. Segurava, com leveza, uma pasta de couro. Vestia uma roupa toda azul petróleo. Tem algo de europeu.
Os olhos dela o perseguiam, queria evitar, mas não conseguia. Viu quando ele, em frente a uma tela de computador, riu sozinho, quando recostou na cadeira e fumou com prazer, quando relaxou de olhos fechados aguardando algo. O que lia atento na tela?
Lembra um ator* dos filmes franceses que ela amava. Nunca mais viu filmes franceses, nem homens charmosos. A terra aqui é árida, seca, os homens são reflexo da terra. Secos.
Desejou chegar perto e dizer o quanto é belo aos olhos dela. Pensará que é louca. "O que esta mulher quer comigo?"
Esbarram-se muitas vezes no Shopping. Ele já a conhece, já percebeu que ela o persegue. Não lhe sorri, mas sorri sedutor na conversa com alguém, e olha para ela, para conferir se o viu sorrir. Ela sabe que ele gosta do olhar dela, mesmo sabendo que jamais chegará perto.
Um dia, escolhia maçãs no supermercado, ao levantar os olhos das frutas, o vê a observando. Foi a primeira vez em que ele a viu primeiro. Ela com óculos de grau, mais senhora. Ele sorriu cúmplice. Estava com uma jovem tão bonita quanto ele. Formam um belo casal.
Nada mudou. Os olhos dela ainda o seguem nos corredores do Shopping.










*Jean-Louis Trintignant

Você já leu o que eu contei aqui?
Ouça "Samba da benção", trilha sonora do filme "Um homem, uma mulher".
Aqui tem a música e um continho. Aqui a letra. Como vêem, eu gosto desta música. Ah! porque hoje? Porque o Jean- Louis me lembra o filme. Vejam, é uma delícia.

quinta-feira, março 29, 2007

Hoje é dia de Contardo















Contardo Calligaris

O "mea-culpa" pela escravatura

As desculpas retroativas pela escravatura parecem ser sinais da volta do racismo

O Reino Unido celebra os 200 anos da abolição do comércio de escravos. Tony Blair expressou seu pesar pelo antigo papel dos britânicos no tráfico.
Como assinala Marco Aurélio Canônico na Folha do dia 24, os aniversários anteriores passaram sem destaque especial. O historiador John Oldfield, citado por Canônico, atribui o interesse atual pelo aniversário às mudanças na sociedade britânica: o "mea-culpa" seria um jeito de agradar às massas de imigrantes das ex-colônias, facilitando sua integração. Quem dera...
O processo da abolição da escravatura é uma longa jornada da consciência ocidental; começou nos primeiros séculos da cristandade, com o sucesso da idéia de que o limite da humanidade não é a tribo, a raça ou a fé, mas é a própria espécie: somos irmãos, simplesmente por sermos humanos. Hoje, por um sentimento espontâneo e imediato, qualquer ser humano é "dos nossos". No passado e em outras culturas, já foi e ainda é banal considerar que nosso semelhante é só quem dorme na toca da gente.
A idéia de uma comunidade da espécie humana é uma invenção, se não exclusiva, no mínimo peculiar da cultura ocidental. E, sem essa idéia, vinga a tentação de usar e possuir o outro (diferente e, portanto, subumano) como um objeto.
Em suma, o aniversário do dia 25 deveria ser uma festa para todos - no caso, todos os cidadãos e residentes do Reino Unido, celebrando juntos sua igualdade de princípio.
Ora, as desculpas pela escravatura sugerem uma divisão: de um lado, há os "descendentes de escravos", do outro, os "descendentes de escravocratas". É curioso, pois, na modernidade ocidental, presume-se que ninguém se defina como "descendente de": se somos todos humanos, indiferentemente, é também porque somos definidos não pelo passado, mas por nossas potencialidades futuras.
Entende-se que os ditos "descendentes de escravos" (cuja cultura de origem pode ser escravocrata) sejam, eventualmente, enredados numa divisão subjetiva dolorosa: aderir à cultura que os acolhe como cidadãos (porque, para ela, só há homens livres) significa renegar sua tradição.
Mais complicado é entender as desculpas dos ditos "descendentes de escravocratas", pois qual é o sentido da desculpa retroativa de quem não se define pelo seu passado?
Versão otimista: hoje, por termos "evoluído", enxergaríamos o horror de um passado que não nos define, que não é o da gente, mas que, afinal, carregava nosso nome.
Tony Blair não tem nada a ver com os ministros dos séculos 17 e 18, salvo a referência comum a um "Reino Unido" que, aliás, não é mais o mesmo país.
Versão realista (a de Oldfield): as desculpas constituem uma homenagem (forçada) aos imigrantes, que são os novos cidadãos do Ocidente.
Minha versão é pessimista. A necessidade de se desculpar pela escravatura não vem do sentimento (improvável) de uma responsabilidade retroativa nem da vontade (duvidosa) de desejar as boas-vindas aos africanos. As desculpas se parecem mais com os desagravos preventivos e hipócritas que são pronunciados quando a gente está à beira de fazer uma besteira: "Desculpe, mas vou ter de lhe dar um soco na cara". Explico.
As diferenças que a Europa deveria integrar hoje não são maiores do que as que povoaram as Américas, por exemplo, no começo do século passado. As Américas tentaram diluir as diferenças transformando todos em puros agentes econômicos: "Esqueça-se de suas origens e pense em fazer fortuna".
A Europa, zelosa de sua história e de suas identidades nacionais, pode dificilmente pedir a seus imigrantes que se esqueçam do passado deles. Com isso, na Europa, as diferenças não se perdem, se agudizam.
As desculpas de hoje, justamente, parecem assinalar uma intolerância crescente. "Desculpe-me por tê-lo escravizado no passado" é um jeito de lembrar que o passado continua valendo, e, nesse passado, você foi escravo, eu não. Ou seja, não somos bem humanos da mesma forma.
Em 1973, um psicanalista francês, Jacques Lacan, previa a subida do racismo. Na época, antes das recentes ondas de imigração do Terceiro Mundo para a Europa, suas palavras pareciam estranhas: afinal, não estávamos no meio do luminoso caminho da tolerância? Hoje, obviamente, elas parecem proféticas. E as pretensas desculpas pelo passado escravagista parecem ser mais uma inquietante confirmação do pressentimento de Lacan.

terça-feira, março 27, 2007

Mini conto. Desta vez II (sem revisar)


















Desta vez II

Chovia. Da janela vi o céu carregado de nuvens, os carros congestionados, as pessoas se abrigando sob as marquises. Fazia frio. Pensei em desistir de sair. Olhei a geladeira vazia. Precisava comprar ao menos o lanche. Depois do banho quente, vesti uma roupa gasta- como gosto de andar em casa- um casacão não tão velho, calcei as botas de cano longo-odeio os pés frios. Passei batom, com o próprio batom colori minhas faces. Estava desbotada, há dias não saia de casa.
Um vento frio me empurrava em direção à esquina. Ergui a gola do casaco.
Ao entrar na padaria o conforto do ar quente e o cheiro de pão me invadiu.
Na saída, um homem se antecipou e abriu a porta, sorriu, fez uma mesura: "Por favor..."
Eu devo ter corado, meu coração disparou. Ao abrir o guarda chuva ele se partiu. O homem riu e disse:
- “Eu a acompanho. Vamos para que lado?”
Não consegui recusar. Caminhamos em silêncio. A chuva mais forte fez com que nos aproximássemos mais. Ele me abraçou. Senti um calafrio quando sua mão deslizou para o meu quadril. Desejei não chegar em casa.
Ao chegarmos, disse:
- “É aqui. Muito obrigada, não sei como lhe agradecer".
Ele me olhou firme nos olhos e falou:
-"Pode me servir um café".
Fizemos amor no tapete da sala.
Não perguntei seu nome, nem se voltaria.
No dia seguinte o interior dos meus lábios ainda ardiam, as coxas doíam.
Voltarei à padaria no mesmo horário. Desta vez, pensei, perguntarei pelo menos seu nome.

domingo, março 25, 2007

Amenidades e otras cositas más.


















Ontem recebi isto da Betty, vejam que graça.

O PPRangel voltou. Viva o PP! Vida longa para nosso querido amigo!

Eu não gosto de meter o pau aqui, mas eu queria alertá-los sobre a Sul América Seguros (Executivos Seguros), já fui para o PROCON no ano passado por causa de erros deles e agora novamente, depois de eu ter cancelado o seguro (não confio mais), fizeram um débito indevido no meu cartão Visa. Eu vi em janeiro, fui lá na agência pessoalmente reclamar, não queria voltar ao PROCON (é sempre chato, toma tempo e você só vê o dinheiro de volta, mas não é indenizado). As atendentes sabem até meu nome de tanto que nos falamos antes. Estamos em final de março e nada de me devolverem o dinheiro cobrado indevidamente. Fico muitoooooooo irritada. Acho um crime pegarem seu número de cartão e fazerem um débito indevido e apenas devolverem o dinheiro, é um desaforo! O tal débito limitou minhas compras no cartão no mês passado, eu fiquei muito p da vida. Tá, posso ir para o Juizado de Pequenas Causas. Aí demora meses e meses, e como aconteceu da outra vez num processo contra a Editora Três que também fez assinatura de revista sem meu consentimento, eu só vi o dinheiro de volta- meses depois- e nenhuma indenização. Ainda por cima, como o cartão não tem nada com isto, você é obrigada a pagar o valor integral para depois ser ressarcida (paguei meses da assinatura da revista que eu não queria).
Fazem o que querem com seu CPF e número de cartão e nada acontece.
Entrei na internet para ver se havia precedente, eles não pagam nada e você que esperneie. Adianta ir par ao Pequenas Causas? eu não vou, acho ridículo se expor- eu fico super irritada- sabendo que nada acontecerá. Coisas do Brasil.

Cuidado com o Mercado livre também, meus filhos fizeram uma compra de cento e cinquenta reais e nunca receberam a tal da Katana, nem o PROCON conseguiu fazê-los responder. Teria que ir para o pequenas causas, eu não fui- esqueço, já sei como acaba esta história.

E olhem aqui o que a Mani me mandou: coisas do Brasil.

Vejam aqui também. Pois é...


Mudando de assunto:
Uma vez eu ouvi a voz de uma blogueira famosa no blog da própria e fiquei tão desapontada...É uma mulher conhecida, agressiva, cheia de certezas e a voz...
Eu tive uma amigo virtual, um psicanalista genial, escrevia super bem, tinha humor, era muito querido. Um dia me ligou de Recife, onde morava, eu estranhei a voz dele. Sabe quando a pessoa pede para você adivinhar quem está falando? Eu nunca imaginaria que fosse ele. Era enorme, gordo, um metro e noventa de altura, eu conhecia por foto. E a voz era fina! Morreu de infarto com 51 anos e eu não o conheci. Se eu soubesse teria ido lá conhecê-lo. Foi uma pena, éramos amigos, ele gostava muito de mim e eu dele.
Mas, e a voz? Onde não encaixa a voz? fico desconfiada, com um pé atrás, como se fosse uma farsa, que uma hora vai ser desmascarada. Credo! :)
Uma amiga virtual me disse que tem voz de menina, eu concordo que tem voz de mocinha, mas acho que combina com ela, é jovem, miudinha, feminina. Não causa esta impressão de erro de pessoa.

Aqui em Natal faz um calor insuportável, eu me arrependi de ter me mudado para este apê, agora vou agüentar até o fim do contrato, que é de um ano, ai começar tudo de novo- odeio mudar. Ah! mas se fosse para outra cidade até que eu iria de bom grado, uma cidade melhor- New York, Paris, Milan
hahaha.
Sou louca, né? meu pai era assim, vivia mudando depois de aposentado. Meus irmãos também mudam fácil. Eu vivi 30 anos em Ipanema, se eu pude deixar o Rio e Ipanema- que é o meu canto preferido, posso morar em qualquer lugar, né? acho que eu faço meu ninho, é isto. Carlinhos dizia isto, que eu sento e faço um ninho, eu deixo livros por perto, bolsa, telefone, estas coisas. :)
Boa tarde de domingo para vocês.

sexta-feira, março 23, 2007

Mini conto. As pedrinhas transparentes




















As pedrinhas transparentes




Aos domingos, na praia, catava pedrinhas, escolhia as mais claras, preferia as transparentes, gosta de transparências.
Um dia um homem se abaixou e lhe deu uma pedrinha, seguiram assim catando pedrinhas. Acompanhou-a até sua porta, despediu-se com um ‘até domingo’. Ela sentiu algo diferente, algo novo, há muito não caminhava nem tinha contato com homens.
Esperou ansiosa o domingo, saiu antes da hora de sempre, logo da calçada viu o homem na beira mar, desta vez usava uma camiseta azul clara. Foi em sua direção, tímida, será que a reconheceria?
Ele foi cordial, logo seguiram caminhando e catando pedrinhas. Falavam pouco, ela desacostumada de falar, ele só dizia o essencial.
No terceiro domingo ele entrou em sua casa, ela havia preparado a casa, sabia o que iria acontecer.
Se amaram ali na sala, no chão sobre a colcha que cobria o sofá, ela desejou que o tempo parasse, desejou aquele homem na vida dela.
Enquanto ele se vestia para sair, pegou um copo de conhaque que o ex marido usava, colocou as mais belas pedrinhas dentro, sobre as pedrinhas um caramujo que encontrou há anos e que guardava, entregou a ele de presente, ele não disse obrigado, apenas olhou com olhos de quem admirava.
Quando se despediram ele disse: “Até mais”, não sabia bem o que ele queria dizer, mas não perguntou, intuiu algo ainda indefinido, sentiu-se estranha, talvez não devesse ter dado as pedrinhas. Mas e se ele voltasse mais tarde? Era domingo, poderiam sair, dar uma volta.
Nada sabia dele, nem onde morava ou o que fazia.
No domingo seguinte ele não estava na praia, pensou tantas coisas: poderia estar viajando, doente, viria mais tarde, quem sabe? Mas ele não veio, esperou até o pôr do sol, até sentir frio.
Os domingos passaram a ser sombrios, não havia mais graça na praia, já não o buscava mais entre outros rostos.

Não se importa mais com as pedrinhas, às vezes vê uma muito linda, pega, olha, mas devolve para o mar.


Ouça aqui "É doce morrer no mar" de Dorival Caymmi e Jorge Amado.

quinta-feira, março 22, 2007

Hoje é dia de Contardo

















"My Fair Lady"


Contardo Calligaris

O amor é prepotente: sempre acreditamos poder transformar e corrigir o objeto amado

Na semana retrasada, estreou a nova versão brasileira de "My Fair Lady", no Teatro Alfa, em São Paulo. Jorge Takla, realizador e diretor, produziu um espetáculo encantador. A nova tradução, de Cláudio Botelho, é ótima; Amanda Acosta, como Eliza Doolittle, é adorável. O elenco, os cenários, a coreografia, as vozes, tudo é impecável.
Ao longo de minha vida, assisti a três produções de "My Fair Lady", (duas americanas e uma italiana) e, duas vezes, ao filme musical homônimo, que ganhou oito Oscars, em 1962. Também assisti à peça de Bernard Shaw, "Pigmalião" (na qual o musical é baseado), e ao filme "Pigmalião", de 1938 (que é a versão cinematográfica da peça). Em suma, a história de "My Fair Lady" me é bastante familiar, mas, a cada vez, ela me "pega". Por que será?
Certo, a música de F. Loewe é maravilhosa (algumas melodias integram meu módico repertório de chuveiro). Mas não é só isso: "My Fair Lady" é um clássico, que encena fantasias que habitam a mente de todos nós.
A história é conhecida: o professor Higgins encontra uma pobre vendedora de flores, estigmatizada por suas maneiras, sua gramática e sua pronúncia. Ele aposta que a transformará em uma "lady" com um curso intensivo de poucos meses. O mesmo professor, celibatário rabugento, aproveitará o curso para aprender algo sobre sentimentos.
Como nota Jorge Takla no programa do espetáculo, "My Fair Lady" é uma "Cinderela" em que acontece uma troca extraordinária entre um homem e uma mulher, cada um transformando o outro.
Voltemos ao mito que inspirou Bernard Shaw. Pigmalião era um escultor que se apaixonou perdidamente pela figura feminina que ele mesmo tinha esculpido. Afrodite ouviu suas súplicas e deu vida à estátua. Não se sabe se Pigmalião ficou feliz com essa dádiva ou se, ao longo do tempo, ele lamentou a época em que sua amada não tinha vida própria. Detalhe inquietante: Pigmalião criou a estátua e se apaixonou por ela porque desgostava das mulheres reais, que lhe pareciam indecentes (animadas por desejos autônomos).
A psicologia clínica usa o termo "pigmalionismo" para designar 1) a conduta erótica, um pouco estranha, de quem se apaixona por estátuas e as deseja; 2) num sentido mais amplo, a paixão pedagógica e erótica do sujeito que sonha com um objeto de amor e desejo que ele mesmo moldaria.
A psicologia experimental, nas últimas décadas, confirmou e debateu o "efeito Pigmalião": quando os professores esperam um grande progresso de seus alunos, os alunos progridem duas vezes mais rápido. O desempenho do aluno é proporcional às expectativas do professor.
Aos 20 anos, leitor assíduo de Ronald Laing e devoto da antipsiquiatria italiana, eu devaneava que, um dia, encontraria uma jovem esquizofrênica e catatônica: pela mágica de meus cuidados, eu lhe devolveria a fala e a vida. No processo, eu me apaixonaria por ela, e ela por mim; viveríamos felizes para sempre. Portanto, confesso: já fui pigmalionista e já apostei na força curativa do "efeito Pigmalião".
Mas a história de Pigmalião não se aplica apenas em casos de extremismo pedagógico e terapêutico. Qualquer um de nós desejou e deseja transformar o objeto amado. O amor é prepotente: idealizamos o outro e acreditamos firme que ele ou ela se emendarão. Somos convencidos de que o outro amado carrega todas as qualidades que nossa paixão lhe atribui: elas estão escondidas, atrás de uma "deformação" que será corrigida pela virtude de nosso amor.
Com isso, o amor desafia diferenças extremas, étnicas, culturais, religiosas e sociais. Um amigo carioca, aliás, me disse uma vez, brincando, que, se não tivéssemos uma fé desmedida no poder transformador do amor, se fôssemos "sensatos", homem só casaria com homem, e mulher com mulher.
Resta que, quando escolhemos nossa parceira ou nosso parceiro apesar de diferenças que nos incomodam e confiantes nas mudanças que virão, as chances de durar são pequenas. E grandes são as chances de que a vida em comum vire, rapidamente, um inferno. Mas é uma constatação que não inspira ninguém: o amor pensa o contrário, e esse é o mito de "My Fair Lady".
A peça de Bernard Shaw termina "mal" (Eliza não casa com o professor Higgins). "My Fair Lady", aparentemente, termina bem. Mas considere a última cena e, honestamente, pergunte-se: "Como essa história vai acabar?"











Filme adorável( Laura)

quarta-feira, março 21, 2007

Contos 'Revista piauí/ março.











Como vcs sabem estou tentando o concurso da 'Revista piauí'(do João Moreira Salles e outros), não tem nada a ver com o Piauí daqui do nordeste, viu?
Todo mês tem uma frase para a gente encaixar. Este mês foi a esdrúxula:
"Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo"
Pode parecer autobiográfico, mas não é, naturalmente tem coisas que eu ouvi, mas é ficção, viu?

Eles estão aqui, fiz dois:


Conto I

Mamãe faz 90 anos

Fazia um calor insuportável aquele dia. O ventilador de teto não adiantava. Todos diziam que era o pior verão de todos os tempos.

- "Vocês têm que agradecer a Deus", disse minha prima, que veio do subúrbio ver minha mãe. Era aniversário da velha.

- "Agradecer, por quê?" Eu perguntei.

- "Porque só vai piorar e muitos morrerão".

- "Eu estarei noutra”, disse rindo e calei-me. Ela é fanática por uma seita religiosa.

- "Vocês viram o ventríloquo na TV no domingo passado? Foi um barato, eu adoro”, disse minha irmã, sentada na mesa, onde comia sem parar.

- “Ventríloquo? Não acredito que você goste de ver aquela cena patética: um cara com um boneco idiota no colo dizendo coisas estúpidas”, solta meu irmão, que, até ali, estava calado bebendo seu vinho de segunda.

- "Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo", disse minha mãe.

Eu e minha irmã nos entreolhamos contendo o riso.

- "Seu tio é ventríloquo, mãe? Qual tio?" Eu perguntei em tom irônico. Imagino que esteja inventando, até porque os tios dela a esta altura já se foram.

- "Você sempre me interpelando, sempre me antagonizando. Só pode ser carma", disse minha mãe.

- "Carma, mãe, faz favor... é melhor a gente parar esta discussão, vocês sabem que detesto esta conversa de carma, religião... Papagaiada que não leva a nada".

- "Você verá no dia do Juízo Final. Verá como existe esta papagaiada, como você diz".

- "Viu como a senhora me roga praga?"

- "Eu? Nunca roguei praga contra filho nenhum”!

- "Acaba de rogar".

A velha se calou, eu fui até a varanda respirar ar puro. Não acredito no Juízo Final, mas conheço a força da palavra das mães.

Naquele momento, desejei voar pela janela. Lembrei do meu filho único e não me alei.

Seria uma vingança. Mas acredito que ela olharia de cima e diria:

- "Estúpida, foi fazer isto logo no dia do meu aniversário, filha da puta".



Conto II

Fresta

Era madrugada, acordei com uma mulher, na rua, gritando:

"Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo".

Olhei pela fresta da veneziana e vi uma mulher de costas, pernas finas, cabelos ruivos, crespos. Usava um vestido muito curto, vermelho; saltos altos.

No meio da rua, de frente para mim, um homem de traços finos, usava um terno escuro- não sei se azul- cabelos grisalhos, barba bem aparada. Como me lembro disto tudo se estava quase dormindo? Perdi o sono, eles discutiam feio. Estavam embriagados, quase caiam. Eram tão diferentes... Eu tentei entender. Quando se distanciavam da janela, queria ver mais. Pelo tom rancoroso a relação era íntima. Ela avançava nele gritando, ele a continha com braços firmes. Um carro veio em alta velocidade, ele subiu na calçada, chegou perto dela, bem embaixo da minha janela. Pensei que fossem se beijar.

Ele disse:

- “Vamos, mãe, para casa, eu levo você no colo, se quiser”.

Não ao preconceito











Separar humanos em raças para mim é um crime, um absurdo! Não consigo olhar para um amigo querido, negro, e pensar que ele é de outra raça, ou outra casta. Ou uma pessoa gay e achar que é inferior pela escolha sexual que fez.
Não consegui fazer um post, passei o dia fora Quero dizer que vão até o Lino e leiam os posts que fazem parte da blogagem coletiva. Gosto de blogagens coletivas- muitos detestam- acho que nos fazem refletir e isto é importante. Somos obrigados a pensar e escrever, é bom, além da troca que gera.

terça-feira, março 20, 2007

Contos I e II 'revista piauí'.














Estes contos foram os primeiros que enviei para a 'revista piauí'. Alguns de vocês vão lembrar dos continhos que usei para encaixar a frase da Alice, era preciso incluir a frase: "Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.
Gosto dos personagens masculinos meio sádicos. Freud explica, não é? Eu vejo a mulher através do olhar masculino, é bom se ver assim, sei lá. Gosto das mulheres loucas- eu não sou assim, eu sou contida, posso ser louca escrevendo, mas na intimidade eu sou bem tranqüila. É divertido.
Raduan Nassar diz que riu muito quando escreveu "Um copo de cólera", eu posso imaginá-lo lendo alto os diálogos e rindo, ele ri gostoso demais. Eu gosto de ler alto, muitas vezes leio para Bethânia, algumas palavras eu troco para ela entender melhor. Escrever é um barato, estranho estas pessoas que dizem sofrer tanto, acho que sofrem porque se vêem obrigadas a cumprir prazos, mesmo que sejam internos, ou porque ficam bloqueados. Por enquanto tem sido só prazer. Clarice dizia que não era escritora profissional, que só escrevia quando tinha vontade, é assim que eu faço. Não tenho uma preocupação em ser escritora, ou mesmo em escrever sempre bem, apenas escrevo, às vezes é bom, outras, não, não importa, quero dizer o que está dentro de mim. Tenho tantas histórias para contar. Devia ter começado antes. E só comecei porque vim parar aqui e não tinha o que fazer - lógico que poderia ir à praia, ou ler, ou ver Tv, mas prefiro estar aqui.
A vida é muito engraçada...


Conto I


Através da cortina

Entrei em casa tirando a roupa e deitei nu. Estava exausto. Batem na porta, penso em não levantar, não quero ver ninguém. Insistem. Melhor ver quem é.
Pelo olho mágico vejo Alice: olhos pintados com kajal, boca vermelha, como gosta. Recuo em silêncio. Não poderia abrir, virá como cão farejador:
"Que cheiro é este na sua barba?" "Esteve com ela de novo, não foi?"
Através da cortina vejo-a atravessar a rua. Encosta-se no carro, ajeita a meia preta, logo acima dos joelhos: "Só uso meias pretas", ela diz, com cara de mulher segura. Está impaciente, olha para o relógio, para a casa, para os dois lados da rua. Imagina que eu chegue a qualquer momento.
Se eu abrisse a porta me diria: “Seu cretino, filho da puta, onde você estava? Desligou o telefone de novo!" Eu diria que não, que havia acabado de chegar, que estive pesquisando para o livro”. Não convencida, ela me daria socos no peito, exasperada.
"Mentiroso, filho da puta, você não estava trabalhando, eu sei”.
Eu a seguraria firme pelos braços e beijaria aquela boca rubra até que se calasse. Lágrimas desceriam dos olhos, agora borrados de negro.
"Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.
Ela me olharia perdida:
“Você é um cretino, filho da puta” diria entre um suspiro e outro, minhas mãos deslizando nas coxas lisas, seda pura.
Ela estará cansada de tanto esperar, serei eu o condutor, não pedirá nada, se entregará como sempre, como se fosse a última.
Ela sabe que pode estar certa.


Conto II


De saltos altos

Ela passa uma, duas, três vezes na calçada em frente. Quem vê pensa que é louca. Pisa firme com os saltos altos; o toc toc a denuncia. Traz algo nas mãos, de longe parece um terço, mas não é, conheço bem aquele cordão, ganhou de um amigo grego, não o larga, diz que dá sorte. Olha alternadamente para a casa e para o fim da rua. Acredita que ainda não cheguei. Faz quase uma hora que está ali, andando de um lado para o outro, impaciente. Conheço essa impaciência, ela pensa me pegar de surpresa, está com o discurso pronto, adivinho o que diria se abrisse a porta ou me vislumbrasse atrás da cortina:
- Seu cretino, filho da puta, como foi sair com ela? Eu pedi tanto que se afastasse daquela vagabunda!
- Você está delirando, não saí com ninguém, parece que ficou louca!
- Mitômano, cretino!
- Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano...
Não contenho o sorriso, é inevitável. Não nego o prazer em vê-la assim perdida, não diria desesperada, apenas perdida.
Ela, tão cheia de certezas...
Vejo aqueles olhos nos meus, esfomeados, querendo me decifrar, percebo seu desconcerto.
É meu o próximo passo, ela sabe.
Logo a raiva se dissiparia. Nunca brigamos, basta fixar bem os olhos nos olhos dela e sorrir. Ela desmonta, chora, me faz jurar que nunca mais a farei sofrer. Não digo nada, não posso lhe dizer que também amo a outra.
Vejo suas belas pernas cobertas por meias pretas, os saltos altos, “só uso saltos altos”- ela gosta de dizer.
Sei que se abrir a porta, beijarei aquele rosto até que ela sorria. Eu a farei sorrir, não sobrevivo sem aquele sorriso. Ela não sabe, apenas intui.

segunda-feira, março 19, 2007

Contos III e IV - 'revista piauí'.
























Vocês sabem que participei do concurso da "revista piauí", muitos torceram, mas não peguei nem resfriado hihihi
Aqui estão dois dos contos que enviei, fiz quatro, exagerei, né? fazer o quê? agora é tarde, acho que pensaram que eu estava 'me achando', como dizem os meninos. A frase para encaixar era: "Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”
O conto que venceu é muito lindo, está , vão ler. Os outros dois que eles destacaram, francamente, eu não entendi, leiam e digam depois, estão lá também. Amanhã ou depois coloco os outros dois que fiz para vocês lerem aqui. Este mês a frase para encaixar é:
"Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo".
Frase estranha, né? Eu acabei fazendo dois contos, é divertido o desafio, dá vontade de tentar. Se não for destaque não faz mal, é assim mesmo a vida, não é? Vocês me lêem e eu fico feliz por isso, viu? :)
'Tks so much'.

Os contos:


O batom rosa


Não esperou que abrisse a porta, saiu apressada.

"Espere, Alice, espere”.

O elevador ainda estava no andar. Viu o rosto dele enquadrado na janelinha, dizia algo.

Passou pelo porteiro sem o cumprimento usual.

Fez sinal para o primeiro táxi.

Diante da mulher que chorava, o motorista fingiu naturalidade. Algumas quadras depois, ofereceu lenços de papel. Ela aceitou. Chorou mais ainda, soluçou. Depois suspirou fundo e se aquietou, afundando-se no banco do carro.

Reviu a cena anterior: ele a recebeu com certa frieza. Ela perguntou se estava de saída.

"Não, só preciso retocar o quadro antes de entregar".

Sentiu-se estranha na sala tão familiar. Olhou os quadros em volta, eram os mesmos, mas ela sentia como se algo tivesse mudado.

Ele a puxou para o quarto. Ela não resistiu, nunca dizia não.

Incomodou o beijo com hálito forte, ácido. Pela primeira vez, preferia que não a beijasse. Ele teve pressa ao despí-la, atrapalhou-se ao tirar seu soutien. Penetrou-a num ritmo acelerado e frio.

Pouco depois largou o peso morto sobre o corpo dela. Ela se moveu para que ele saísse de cima, levantou-se, catou as roupas jogadas pelo quarto e foi ao banheiro. Tomou um longo banho morno. Quis chorar, mas não havia lágrimas.

No quarto, ele fumava sentado na cama.

"Você viu o livro de poemas que deixei aqui no domingo?" Ela perguntou abrindo a gaveta ao lado da cama.

Antes que ele respondesse, ela disse:

"Que batom é este”?

"Batom? Que batom, Alice? Só pode ser seu"...

"Não é. Eu nunca usaria este tom de rosa cafona, horroroso! Quem esteve aqui"?

"Ninguém. É seu, Alice. Só você entra aqui. Está ficando louca?".

"Mitômano, filho da puta! Ainda por cima quer me confundir”!

"Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.

Ela saiu em disparada pelo corredor.

Quando o táxi pára no endereço indicado, ela não chorava mais. Abriu a porta e ouviu o batuque do bloco que se reunia no bar adiante. Disse para o motorista:

"Mudei de idéia: o senhor, por favor, siga em frente e na próxima quadra, me deixe à esquerda, no “Luna Bar”.




"Meu nome é Alice"



Ela beija minha boca e desabotoa a minha camisa. Eu finjo desinteresse, gosto de vê-la assim: desejante e incerta.

Abre minha calça. Eu continuo apenas deixando que me dispa, não faço nada. Tira as meias. Fico nu. Manda que me deite de costas. Sobe no meu corpo como uma gata, quase não percebo seu peso. De repente dá um grito:

"O que é isto nas suas costas? Onde arranjou este arranhão"?

"O que, Alice”?

"Este arranhão enorme aqui".

"Ah! deve ter sido na filmagem do comercial, na cena do barco, a Débora deve ter me machucado"...

"Mentiroso”...

Desiste da massagem, sai como uma bala do quarto. Vou atrás:

"Querida, deixe de bobagem, este arranhão foi na filmagem, só pode ter sido... eu não estive com outra mulher. Você sabe que sou só seu".

"Canalha, filho da puta! Mitômano, cretino”!

"Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.

Ela não ouve mais nada, pega um cigarro e vai para a varanda.

Vou até o quarto, visto uma cueca, pego também um cigarro. Encontro Alice sentada, agarrada às pernas.

Não está chorando, como sempre; está muito concentrada, pensando.

"Amanhã eu vou embora", ela diz.

"Eu não quero que você vá embora”.

Tento abraçá-la, mas não me deixa chegar perto.

"Amanhã de manhã eu vou embora, cansei das suas mentiras".
"Eu não minto para você, meu amor. Sabe que só amo você".

"Não acredito. Até agora fiz de conta, acabou".

Tentei beijá-la, tentei convencê-la de que fará falta na minha vida, não adiantou.

Ela passou a noite fumando na varanda. De manhã arrumou uma mala pequena e saiu.

"Na semana que vem, volto para pegar o resto".

Foi a última vez que a vi.

Na semana seguinte viajei, não estava em casa quando ela veio.

No avião, sentei ao lado de uma mulher morena com um belo sorriso. Depois de meia hora de bom papo, eu disse:

“Conversamos há meia hora e não sei seu nome”...

"Alice, meu nome é Alice."

sábado, março 17, 2007

Queria viver Laura ( revisado)



















Há dias em que você deseja estar em outro lugar, ser outra pessoa. Hoje eu estou assim- esquisita, querendo fugir da realidade. Queria ser Laura. Coisas terrenas me incomodam, estava tão bom sonhando, escrevendo meus contos, ai levei uma pedrada. Putz, doeu.
Vocês conhecem o filme? Eu vi há anos, naquelas sessões da madrugada da Globo, li a sinopse agora e lembrei, leiam:

"Investigando a morte da diretora de uma agência de propaganda, Laura Hunt (Gene Tierney), que teve o rosto destruído por tiros de espingarda, o detetive Mark McPherson (Dana Andrews) interroga Waldo Lydecker (Clifton Webb), seu mentor e um influente jornalista, que considerava Laura não apenas sua maior "criação" mas também sua propriedade pessoal. Laura estava noiva de Shelby Carpenter (Vincent Price), um playboy, para desgosto de Lydecker e da tia de Laura, Ann Treadwell (Judith Anderson), uma mulher rica que era apaixonada por Carpenter. Enquanto a investigação evolui McPherson sente-se atraído pela vítima e, ao ir ao apartamento dela em busca de provas, contempla uma pintura de Laura pendurada na parede. Repentinamente acontece o inesperado..." Tirei a última frase, senão estragaria a surpresa do filme.


Ouça aqui a música, para mim é uma das melhores músicas de cinema que conheço, adoro, ouvia muito quando menina, alguém lá em casa gostava.

Aqui tem trecho do filme, Mani tks :) Adorei.



















Quando eu escolhi Laura, alguém num blog conhecido debochou: "Olhe a Lady Laura aqui." Fiquei tão irritada! A moça que riu- nunca esqueci, eu nunca esqueço, infelizmente- tinha o nome de uma mártir francesa hihihi. Não debochei, achei que poderia ser o nome dela, mas fiquei com vontade. Ah! se fiquei. Nunca mais vi a mártir por aqui. Coisas do mundo virtual. Pessoas somem, como num buraco negro. Cruzes, hoje estou má. hihihi
Não suporto Lady Laura, do rei, nada dele eu gosto (pronto, arranjei mais desafetos, hihihi). Gosto de Lauren Bacall, sempre elegantérrima, acho linda, chic e além do mais foi casada- até a morte dele- com Humphrey Bogard. Um casal lindo, vejam aqui.

Engraçado o meu título ai em cima, porque o blog é lauravive. Hã, vive, mas ...

Copo vazio.


















Desenho Elianne



Ouça aqui

Copo vazio

letra e música: Gilberto Gil-1974

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

in Gilberto Gil ao vivo
in GiLuminoso - A Po.Ética do Ser

Mais Gil aqui

sexta-feira, março 16, 2007

Viva!!!
















Hoje é aniversário de Juarez Machado* e de C., que faz 60 anos, teve quatro cânceres, e está vivo. Ave! eu o quero vivo até o meu fim, mesmo que seja longe. Eu acho que quando se ama alguém de verdade, o amor jamais morrerá, ocupará menos espaço, haverá lugar para outros amores, tão intensos quantos, mas ele estará lá- para sempre- é assim que eu sinto.
Acordei triste, desanimada, cansada. Acho que estou com muitas saudades dos meus queridos e velhos afetos. De pessoas que me conhecem e me amam como sou, sem nenhum esforço. Para quem eu posso falar uma barbaridade e sei que ela vai entender, rir. E não criticar, ou se espantar.
Outro dia tive um sonho fortíssimo com Cinézia, que é uma amiga querida do Rio, amiga de mais de 30 anos. Eu a abraçava e chorava de emoção.

Cansei um pouco do blog também, não de vocês que vêm me ler porque sentem afinidades, são muitos, mas de pessoas para quem eu teria que me explicar depois de dizer uma grande besteira. Eu não sou perfeita, nem politicamente correta em tudo, me cansa isto. Deixo de dizer coisas aqui. Acho que vocês me entendem.

Sábado tive uma notícia péssima: uma amiga queridíssima está com câncer na uretra. Droga! Fiquei muito triste, demais. Que horror! Tantas pessoas que eu amo tiveram câncer, ou têm. Que m.! Mas eu vou torcer para que ela saia desta, é muito saudável, nadadora do master, acho que consegue curar-se. Também tem muita fé, é muito católica, e sei que fé cura. É uma mulher maravilhosa, que eu amo e admiro muito, mais velha que eu, nos damos muito bem. Foi minha cliente, chegou muito deprimida, se curou(tomou medicação também, não sou onipotente). Foi uma relação muito boa, por isso ela aproveitou tanto. Ela tinha mais de 60 anos na época e histórias fortíssimas para contar. Uma mulher muito especial, conheci poucas como ela. Admirável, bonita, inteligente, forte. Eu aprendi muito com ela. A força dela me faz me envergonhar de minha fraqueza. Não quero que se vá. E não irá tão cedo. Eu acredito.
Minha amiga Gi também anda com dores de novo o que me entristece muito, dá pena, está sofrendo. Fui até lá no sábado, eu também a amo muito, gosto muito de vê-la, me faz muito bem.
Estes últimos dias conheci várias pessoas interessantes aqui em Natal.
Conheci uma pessoa muito interessante, uma mulher da minha geração, culta, bonita, inteligente. Ficamos amigas. Conheci naquele café que vou sempre ler. Fomos ouvir uma amiga dela cantar, eu não estava levando fé, fui para ser gentil e me distrair, e qual não foi minha surpresa ao ouvir Ilza Brilhante(com este nome também!!!) cantando: tem uma voz linda, como poucas cantoras têm. Linda... um timbre maravilhoso e canta músicas que eu gosto do repertório de Dolores Duran, Bethânia, Elis Regina- uma coisa. Fiquei encantada e emocionada. Acabei indo parar numa festa com elas onde Ilza ia cantar mais- havia cantado num restaurante à tarde. Mais surpresas: havia um rapaz- Djalma- que canta com uma voz linda também, cantou músicas de Bosco e de Gonzagão. É profissional. Muitos outros cantaram. Uma morena Débora, com bonita voz mas uns trejeitos que acabam tirando a emoção toda. Como gostam de cantar aqui! Fiquei surpresa! mas estes dois realmente merecem o destaque. Uma beleza.
Fui muito bem recebida por todos, me senti muito bem. Bebi um uisquinho e não tive nem dor de cabeça :)
Ai hoje acordei triste, ontem já estava devagar. Deve ser mal de amor, saudades, banzo.
Uma hora eu pego um avião e vou abraçar os amigos em Sampa e Rio. Preciso disto. Ainda não fui porque os meninos precisam de mim aqui, estudam quase o dia todo, vêm almoçar, eu não tenho empregada- só duas vezes por semana- preciso fazer a casa funcionar, eles não teriam nem tempo. estudam de manhã nas escolas(universidade um deles) e de tarde têm inglês, japonês, kung fu(Dan), estas coisas. Teria que ter alguém aqui para a casa, a grana não dá ainda.
Ah! vou fazer um curso de psicanálise, finalmente, com um psi do Rio super enturmada aqui, espero que eu me dê bem com o grupo. Sabe, eu tenho um jeito muito espontâneo de ser, ou muito quieto( depende do ambiente) e os psis não gostam disto. Posso parecer jovem demais, eu acho. Eu vivo um tanto apaixonada e isto não combina muito com o modelo de psicanalistas hihihihi que se danem! Nunca entrei num molde. Sempre fui diferente.
Como moldar, colocar num molde, uma mulher como eu? impossível! hihihi tive um analista querido que dizia que a sociedade de psicanálise molda. Vou contar para você uma coisa engraçada: eu tive muito anos um consultório num prédio onde havia muitos psicanalistas, ali ficava uma sociedade de psicanálise e preferíamos ficar por perto, era muito confortável, havia cafezinho, papo com colegas nos intervalos, curso à noite, um passeio com alguém enquanto se ia ao Banco, a saída para jantar...era bom. Eu, às vezes, esperava os clientes olhando a janela- sabem que adoro ver tudo- ficava observando a rua Visconde de Pirajá. Então via um barbadinho, camisa lisa para dentro da calça, lembrando Freud- era um colega. Podem crer. Alguns até cachimbo fumavam na rua. Pode? É ridículo!
Ah! a Cinézia trabalha nesta sociedade de psicanálise, desde que eu a conheço, foi em 1971 quando fui procurar um psicanalista pela primeira vez. Putz, faz tempo.

* Aqui tem mais Ju para quem não conhece.

Para alegrar ouça aqui.

quinta-feira, março 15, 2007

Fama e narcisismo















Foto Fernando M.O.P.


CONTARDO CALLIGARIS

Fama e narcisismo


Em uma "sociedade narcisista", a invisibilidade é mais intolerável que a prisão


Na conversa leiga, "Fulano é narcisista" significa que ele adora se ver no espelho e nunca pensa nos outros.
Na clínica, o sentido da expressão é diferente: o traço dominante da "personalidade narcisista" é a insegurança. Narcisista é quem está sempre se questionando: "O que os outros enxergam em mim? Será que gostam do que vêem?".
Em ambos os casos, o narcisista se preocupa com sua imagem. Mas, na conversa leiga, ele seria apaixonado por ela (como o Narciso do mito), enquanto, segundo a clínica, ele seria dramaticamente atormentado pelo sentimento de que sua imagem depende do olhar dos outros.
De fato, a clínica tem razão: no espelho, enxergamos sempre e apenas o que os outros vêem (ou o que imaginamos que eles vejam). O mesmo mal-entendido aparece quando a gente constata que vive numa "sociedade narcisista".
Na conversa leiga, essa constatação soa como uma queixa moral: estaríamos vivendo no mundo do "cada um por si". A clínica sugere o contrário: numa sociedade narcisista, cada um depende excessivamente dos outros. Somos desprovidos de essência: sou filho SE meus pais me amam, sou pai SE meus filhos gostam de mim, sou psicanalista SE pacientes e colegas me reconhecem, sou colunista SE você agüentou ler até aqui. O espelho que nos define não é o de Narciso, é o da bruxa de Branca de Neve, um espelho que interrogamos, ansiosos.
Ora, recentemente, assisti, fascinado, ao processo de seleção da sexta temporada do programa "American Idol" (no canal Sony). É um programa parecido com "Fama", da Globo de dois ou três anos atrás, e com "Ídolos", do SBT. Trata-se de descobrir novos cantores e cantoras.
O vencedor é eleito pelo público da TV, mas o que me cativou foi a longa fase inicial, em que os finalistas são selecionados por um júri, entre milhares de jovens concorrentes.
Todos os candidatos parecem entusiasticamente certos de que serão o futuro ídolo, mas a audição da grandíssima maioria é propriamente constrangedora.
No mesmo canal, há outro programa parecido: "American Inventor", em que desfilam inventores convencidos de que seu achado mudará o mundo, mesmo que se trate da máquina acariciadora de cachorro para dono preguiçoso (uma das invenções propostas).
O que leva milhares de sujeitos a encarar uma espécie de humilhação pública? Será que eles são narcisistas à moda da conversa leiga, enamorados de si mesmos a ponto de perder toda autocrítica? Por algum milagre do amor materno, eles guardariam uma imagem de si positiva e imperturbável: "Deixe o mundo falar, pois eu fui, sou e sempre serei o ídolo da minha mãe" (alguns concorrentes, aliás, compareciam acompanhados por uma mãe embevecida).
É possível. Mas, nas palavras de muitos candidatos entrevistados, aparecia outra coisa: uma vontade dolorosa de despertar um olhar de reconhecimento não só no público, mas nos seus familiares, ausentes e indiferentes. Era como se eles estivessem dispostos a qualquer coisa para deixar, enfim, de ser invisíveis: "Riam de mim, mas ao menos me vejam". Pode parecer paradoxal que alguém tente chamar a atenção (do pai, da mãe, da irmã e do mundo) expondo-se ao ridículo e ao fracasso.
Mas, aparentemente, acontece que escárnio e zombaria são um preço aceitável por um (triste) momento de fama.
Uma analogia talvez nos ajude a entender. As estatísticas dizem que há mais jovens que adultos delinqüentes. Justificação tradicional (além da "testosterona" da adolescência): os jovens andam em grupo.
Portanto, é freqüente, no caso deles, que haja mais de um réu por crime.
Certo. Mas também tudo indica que os jovens delinqüentes são presos mais facilmente que os adultos. Não é imperícia: parece que, de uma certa forma, eles se deixam prender, como se seu gesto transgressor tivesse como finalidade última o encontro com a polícia e o juiz. Por quê?
Para a dramática insegurança do narcisismo (aqui no sentido clínico), uma condenação ou um fracasso humilhante apresentam uma vantagem parecida: ambos são preferíveis ao silêncio do outro. Num mundo em que a gente só existe pelo olhar alheio, a invisibilidade é mais intolerável do que o escárnio ou a prisão.
PS.: Na semana retrasada, comentei o filme "Pecados Íntimos". Li, nestes dias, o livro no qual ele se inspira, "Criancinhas", de Tom Perrotta (Objetiva): é tão tocante e forte quanto o filme, se não mais.

quarta-feira, março 14, 2007

"Doralice eu bem que lhe disse..."




















Esta música é uma delícia. Aliás o Caymmi tem músicas muito lindas, acho que todas que eu conheço, eu gosto. A foto é para contratar mesmo, quem disse que eu acho o amor uma tolice? :) ai ai é o que me move, sempre. Mesmo que eu invente um amor, preciso dele para viver. Tá bom, eu sei, está em mim, não no outro, mas é bom se sentir enamorada por alguém e não por si mesmo, não é?

Ouça aqui esta música que é uma graça.

Doralice

Dorival Caymmi

Doralice eu bem que lhe disse,
Amar é tolice,
É bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho,
Ao som do lamento do meu violão
Doralice eu bem que lhe disse,
Olha essa embrulhada,
Em que vou me meter
Agora amor,
Doralice meu bem,
Como é que nós vamos fazer?

Um belo dia você me surgiu,
Eu quis fugir mas você insitiu
Alguma coisa bem que andava me avisando,
Até parece que eu estava adivinhando
Eu bem que não queria me casar contigo,
Bem que não queria enfrentar, esse perigo Doralice
Agora você tem que me dizer,
Como é que nós vamos fazer?

domingo, março 11, 2007

Um bom lugar pra se amar: Copacabana.


















Eu não vejo a novela atual das oito- não gostei do elenco, assisti um dia e vi que é maniqueísta- detesto estas coisas do bem contra o mal- tô fora. Mas eu ouço a música nas chamadas e me lembro de Dick Farney. Quem ai conhece Dick Farney? Ele era primo de minha mãe, não conviveram, ela morava em Curitiba, ele no Rio. É irmão do famoso galã de cinema nacional Cil Farney. Os dois eram muito bonitos. Uma vez, quando eu era menina, houve um almoço na casa de minha madrinha para o Cil, eu tenho uma foto autografada dele, mas eu era menina, nem ligava. Depois fui morar no Rio sozinha, mas nunca os procurei, devia ter procurado- eu era muito devagar. Agora lembro deles todos os dias quando ouço a música "Sábado em Copacabana", que lembro sempre na voz dele. Devo ter ouvido muitas vezes, a voz dele me é muito familiar.

Aqui no blog da Ana de Toledo, clicando no radinho vocês ouvem esta música.

Sábado em Copacabana

(Dorival Caymmi e Carlos Guinle)

Depois de trabalhar toda a semana
Meu sábado não vou desperdiçar
Já fiz o meu programa pra essa noite
E já sei por onde começar

Um bom lugar, pra se encontrar, Copacabana
Pra passear, à beira-mar, Copacabana
Depois um bar à meia-luz, Copacabana
Eu esperei por esta noite uma semana

Um bom jantar, depois dançar, Copacabana
Pra se amar, um só lugar, Copacabana
A noite passa tão depressa
Mas vou voltar lá pra semana
Se encontrar um novo amor
Copacabana


Mais Dick aqui e aqui.

sábado, março 10, 2007

Um dia qualquer



















Hoje sai a 'Revista piauí'* com o texto premiado, acho que não tenho chance. Aqui a revista não chega hoje. demora um pouco mais. Se alguém ai souber quem foi o sortudo, deixe um recado, que eu vou ler o conto.
Falei com um amigo escritor que ficou rindo quando eu disse que era ousadia escrever sendo amiga dele- fica rindo muito- fico feliz por fazê-lo rir- é tido como homem muito sério. ma sé homem de belas risadas. Não conhece meus contos mais fortes, vou mandar qualquer dia para ele ler. Sou ousada, né? Ele não será indelicado. Leu o que foi traduzido para italiano "O homem menos estranho" e gostou. Já é um bom caminho.
Vocês acham que eu sou felizarda por conhecer escritores, artistas famosos, ma s sabe que isto inibe? E eu namorei artista plástico- é lógico que o artista era ele. Assim como o escritor é o amigo, o poeta era o Drummond hihihi ai ai o pensador o outro, e assim vai. Ah! e mi madre a escritora. Tô ferrada hhihihi Eu fico no meu canto observando e vendo o tempo passar. Mentira. Eles me estimulam. Todos me estimularam, eu é que sou devagar.

Ando ouvindo direto a rádio GNT que tem muito Billie Holiday, minha cantora preferida. Eu ouço jazz, que é o que mais gosto. Esta moça canta lindamente, tem o mesmo timbre da BH, mas a Billie era mais sofrida, emociona mais.
M. Peyroux vocês podem ouvir aqui.

Vídeo aqui: 'Lady Sings the Blues'. Já curti muito ouvindo esta música,aliás, este disco.


E aqui com 'I Don't Want To Cry Anymore'. Tão bom, não é?



*Os meus contos que concorrem ao concurso da 'revista piauí' estão aqui os dois últimos.
E aqui os outros dois. Estes dias eu colocarei aqui.
Meu amigo Augusto César Proença, está aqui
com um conto muitooo bom, vão ler.
Ah! assinei Elianne lá.

sexta-feira, março 09, 2007

José Simão e o 'Dia Internacional das Mulheres' hahaha

JOSÉ SIMÃO


Fora Bush! Vassoura atrás da porta!
Dia Internacional das Mulheres. O Perereca's Day. O mundo é delas e se discutir é pior!

BUEMBA!BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
E uma amiga minha vai botar a vassoura atrás da porta pro Bush ir embora logo! Apelo à nação: todo mundo com a vassoura atrás da porta! Fora Bush!
Vassoura Atrás da Porta! É uma medida muito mais prática. Chega de protestos! E diz que o encontro do Belzebush com o Lulalelé não vai ser um acontecimento. Vai ser um ALCOOLtecimento! E já que eles vão discutir álcool, a véia marvada, por que eles não se encontram no boteco da esquina?
E acabo de receber a foto do local de nascimento do Bush: "Connecticut welcomes you! Birthplace of George W. Bush. We Apologise".
"Bem vindos a Connectituc. Local de nascimento de George W. Bush. DESCULPEM-NOS". Desculpem-nos pelos transtornos. Rarará!
Buemba 2! Hoje é o Dia Delas. Dia Internacional da Mulher. O Perereca's Day! E como disse um amigo meu: o Dia Internacional da Mulher devia ser de noite.
Rarará!
E todo dia devia ser Dia da Mulher.
O mundo é das mulheres. Não adianta discutir. Aliás, se discutir, é pior. E todo ano eu conto a mesma piada: Deus fez o mundo em seis dias, no domingo descansou, na segunda criou a mulher e aí ninguém mais descansou. Rarará!
E a pérola do século fica com o Lula discursando no Dia da Mulher: "Minha mãe era uma mulher que nasceu analfabeta". E a minha nasceu analfabeta, careca, desdentada e virgem. Rarará! Acho que só a mãe do Rui Barbosa nasceu alfabetizada!
E as sapatas comemoram o dia internacional da mulher de uma maneira diferente: Dia Internacional da MINHA MULHER! Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como diz o outro: é mole, mas sobe só pra agradar a vizinha!
Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Belo Horizonte tem uma loja de bombas hidráulicas chamada Bin Laden Bombas! Essa tem que estar na agenda do Bush! Rarará! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês.
Viva o Brasil!
E atenção. Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Bucho": companheira mulher do Bush! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
E quem não tem colírio pinga etanol com caipirosca!

Hoje é dia de Contardo




CONTARDO CALLIGARIS

Mistérios de dentro ou de fora

Desde quando o interior de nosso corpo revelaria os mistérios de nossa própria existência?

Na semana passada, duas exposições estrearam na Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo: "Corpo Humano" e "Leonardo da Vinci". O ideal seria visitá-las no mesmo dia (apesar das filas e do preço).
"Corpo Humano" apresenta 16 corpos esfolados e dissecados (e 225 órgãos internos). A exposição suscitou, pelo mundo afora, um enorme interesse de público e algumas críticas. Por exemplo, foi levantada a suspeita de que os corpos sejam cadáveres de indivíduos executados pela Justiça chinesa.
Seja como for, Roy Glover (o promotor desse circo anatômico ambulante) propõe um extraordinário espetáculo científico-educativo: enfim, podemos ver como somos por dentro. Diz a sinopse: "É uma oportunidade única para o público em geral explorar os mistérios de sua própria existência".
Pergunta: desde quando acreditamos que ver de perto o interior de nosso corpo seja um jeito de conhecer os mistérios de nossa existência? Não faz muito tempo.
Foi em algum momento do século 17 que nossa curiosidade científica e existencial começou a procurar respostas sobretudo no que está dentro das coisas e no invisível, no infinitamente pequeno (que podemos magnificar) ou no longínquo (que podemos aproximar e tornar visível). É nessa época que inventamos telescópio e microscópio. Desde então, descobrimos células, bactérias, vírus, circulação do sangue etc., assim como moléculas, átomos, cometas, satélites, buracos negros e por aí vai.
O cientista (que, geralmente, tem pouca consideração pela história da ciência) dirá que a ciência se engajou na direção do dentro e do perto, tornando visível o invisível, porque é assim que ela conseguiu entender melhor o mundo e transformá-lo no interesse de todos.
Mas, na verdade, a escolha pelo dentro e pelo perto não se deu na procura da eficácia técnica (que, aliás, no começo, era imprevisível).
Nossa cultura foi procurar a solução dos mistérios no que está escondido dentro dos indivíduos e dos objetos porque o conjunto do mundo visível tinha perdido seu sentido. A ciência se enveredou por um caminho forçado, imposto por um luto: éramos órfãos do sentimento de uma harmonia do Cosmo.
Se tivéssemos podido escolher o grande angular em vez do telescópio e do microscópio, se tivéssemos podido olhar para o conjunto e não sobretudo ou apenas para os elementos, teríamos produzido outra ciência (menos eficiente? Não há como saber). Agora é tarde: se, na noite de sábado passado, seu filho ficou doente, você, em princípio, preferiu pedir um exame de sangue a interrogar os efeitos do eclipse da Lua. Hoje, podemos "brincar" de astrólogos, mas nossa confiança num Universo harmônico, em que tudo estaria interligado, é abalada, duvidosa.
Os cadáveres de Roy Glover revelam alguns mistérios da existência nos mostrando o que é normalmente invisível, o interior do corpo. Mas há outros mistérios, perdidos: quem foram eles? Quem os amou, quem eles amaram, quem foram seus pais, qual conjuntura da família, do vilarejo, do mundo e dos astros acompanhou sua vida?
É o custo de nosso caminho forçado: nossa ciência gagueja quando se trata de entender o conjunto. Mapeamos o DNA e logo conheceremos cada proteína no sangue; em comparação, o que conseguimos entender das relações humanas e de nosso lugar no mundo é risível: conjeturas, interpretações nas quais a ciência compete com a fantasia.
Houve um momento de transição, mágico e esplendoroso, em que pareceu possível conciliar os inconciliáveis, ou seja, olhar para dentro, para o invisível, sem deixar de apostar numa suprema harmonia do mundo visível. Nesse momento, que é a Renascença, foi possível dissecar cadáveres e começar a construir ciência e técnicas eficientes sem abandonar a idéia de um Universo ordenado.
Na exposição de Leonardo, há desenhos anatômicos (resultado de dissecação) e há máquinas sofisticadas, mas, no centro, está o Homem Vitruviano com seu corpo perfeitamente inscrito num círculo. Leonardo podia explorar nossas entranhas sem deixar de acreditar na relação do corpo com o universo: a anatomia humana era, para ele, um microcosmo que refletia o macrocosmo.
Como seria o mundo de hoje se, por exemplo, medíssemos as distâncias não pelo metro (estabelecido arbitrariamente no século 18), mas pelo tamanho médio da envergadura de nossos braços?



















Dia Internacional da Mulher




















Camille Claudel, mulher maravilhosa, artista extraordinária, que foi vítima de um amor louco e do abandono da sociedade(família inclusive). Quando vi a expo dela no Rio, fiquei tão perturbada que tive que me sentar e esperar passar a emoção para ir embora. Beleza e dor.

Dia Internacional da Mulher

Quando eu era adolescente, até bem mais, eu dizia que devia ter nascido homem. Queria ser livre como os homens. Sempre fiz o possível para ser livre. Lógico que a história de vida atrapalhou, amarrou um bocado, mas eu não me arrependo de ter tentado ser dona do meu nariz desde muito cedo.
Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Pois é, as mulheres precisam de um dia para serem lembradas, para dizerem que querem os mesmos direitos que os homens, para gritarem que não aceitam mais serem violentadas em silêncio, amordaçadas.
Hoje eu me sinto feliz por ter nascido mulher. Acredito que somos mais fortes que os homens, mais corajosas, mais generosas.
Aposto como se tivéssemos mais poder, o mundo seria melhor. Uma salva de palmas para nós, mulheres. Para todas: para as fortes, as corajosas, que se expõe, dão a cara à tapa; e para a outra, frágil, acuada de medo.
É preciso criar espaço para que todas possam falar e, como somos generosas, para que possamos ouvir o que os homens têm para dizer. Parece que andam com medo de dizer o que sentem, afinal eles também sofrem diante desta mulher que se renova a cada dia e os surpreende.

Lembrei de "Mulheres de Atenas"
Chico disse que estava sendo irônico, mas não sei não. Homens... :)
mas eu ouço com ironia, lógico.

Aqui tem Vinícius que conhecia bem as mulheres, amava as mulheres.

Aqui tem um trabalho de uma psi sobre mulheres, só passei os olhos, não assino embaixo, não li com atenção. Mas fala de coisas que todos os psis falam.

Achei este poema de Carlos Drummond de Andrade:


Indagação

Como é o corpo?
Como é o corpo da mulher?
Onde começa: aqui no chão
Ou na cabeleira, e vem descendo?
Como é a perna subindo e vai subindo
Até onde?
Vê-la num corisco é uma dor
No peito, a terra treme.
Diz-que na mulher tem partes linda
E nunca se revelam. Maciezas
Redondas. Como fazem
Nuas, na bacia, se lavando,
Para não se verem nuas nuas nuas?
Por que dentro do vestido muitos outros
vestidos e brancuras e engomados,
Até onde? Quando é que já sem roupa
É ela mesma, só mulher? E como que faz
Quando que faz
Se é que faz
O que fazemos todos porcamente

quinta-feira, março 08, 2007

Miniconto. A parede

















A parede


Desde quarta ele não telefona. Lá, só a secretária eletrônica atende.

É insuportável. Não é a primeira vez que faz isto. Todas as vezes que o confronto é assim. Prometo para mim mesma que será a última.

Na primeira vez, me exasperei. Ele me disse: "Você me encosta na parede, viro parede". A frieza era tal, que nunca mais ousei confrontá-lo.

Não me pergunte porquê o aguardo em silêncio. Um dia, cansada, talvez não me encontre mais aqui.

quarta-feira, março 07, 2007

Marcelo Coelho. O caso Janine

Leiam o artigo do Marcelo Coelho da Folha de São Paulo, está muito bom.

MARCELO COELHO

O caso Janine

Não é todo dia que um intelectual confessa achar pouco castigar com a pena de morte

Comento a polêmica em torno do artigo de Renato Janine Ribeiro, publicado no
Mais! de 18/2. Ainda que previsível, a indignação provocada pelo seu texto
me pareceu desmedida.
Não é todo dia, por certo, que um intelectual confessa achar "que é pouco"
castigar com a pena de morte os assassinos de uma criança.
"Não paro de pensar que deveriam ter uma morte hedionda (...) Imagino
suplícios medievais, aqueles cuja arte consistia em prolongar ao máximo o
sofrimento, em retardar a morte".
Mas no mesmo artigo, depois desse chocante desabafo, Janine afirmou
claramente: "Não consigo, do horror que sinto, deduzir políticas públicas,
embora isso fosse desejável".
Mais aqui.

terça-feira, março 06, 2007

Mini conto. A janela aberta




















A janela aberta

Acordou, abriu as janelas, o sol batia no assoalho brilhante. Deitou no chão ainda fresco e foi se despindo até ficar nua.
Levantou quando o sol já não a aquecia. Em vez de vestir o vestido desbotado pegou um dos vestidos das freguesas prontos para entrega. Escolheu um de seda, preto, com leve decote na frente e maior nas costas, uma fenda do lado esquerdo da saia. Vestiu, olhou-se no espelho, gostou do corpo sensual, calçou a sandália preta guardada, suja de mofo.
Passou batom, coloriu as faces desbotadas e dançou sozinha.

Ingrid Bergman e Humphrey Bogard- um casal inesquecível.






















Foto deliciosa de Ingrid Bergman e Humphrey Bogard. Preste atenção na mão dele a apertando. ai ai


Ouçam a rádio GNT, dica da Lucia Guimarães.

Gabriel García Márquez completa 80 anos. VIVA!!!!

















Deu na Folha de S Paulo:

Gabriel García Márquez completa 80 anos.

(Que bom que ele ainda está vivo! É um dos meus escritores preferidos. Li muitos livros dele, mas acho que não li tudo, são muitosssss. "O amor no tempo do cólera" é um dos meus preferidos. Sonhei com um amor na maturidade como aquele- ainda há tempo :)
"Cem anos de solidão" faz parte do meu imaginário, mais que qualquer outro, tão forte impressão deixou. E tem "Ninguém escreve ao coronel", comovente. "Crônica de uma morte anunciada" que você lê num fôlego. "Relato de um naufrago" também, e muitos outros, onde personagens ricos te encantam. Não gostei do "Memórias de minhas tristes putas", o único que não gostei, li na marra, porque peguei emprestado e achei que deveria ler, afinal todos adoraram, mas eu não. O que não mudou nada, continuo achando o Gabo fantástico. Se você não o conhece, procure conhecer, vai se enriquecer, pode crer.

Vejam a notícia lá embaixo que linda.)

O ano de 2007 é especial para García Márquez de diversas maneiras: além de se tornar um octagenário, também é quando completam quatro décadas da publicação da história fantástica do coronel Buendía narrada em 'Cem Anos de Solidão", 25 anos após ter recebido o maior prêmio universal das letras e 60 de produção literária, com a publicação do conto "A Terceira Resignação".

"A verdade é que eu escrevo, simplesmente, porque gosto de contar coisas a meus amigos", declarou em 1968. Em outra entrevista, disse que só lamenta na morte o fato de não poder contar para ninguém a história depois.
...
Gabo afirmou em 1967: "Me parece que é necessária uma enorme irresponsabilidade para ser escritor".
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05/03/2007 - 10h23
"Cem Anos de Solidão" ganha leitura pública de 16 horas em Madri (Que barato!)
da Ansa, em Madri

Uma leitura pública de "Cem Anos de Solidão" começou nesta segunda-feira (5) na Casa de América de Madri.
...
A vice-premiê espanhola, Maria Teresa Fernandez de la Vega, começou a leitura do livro na escadaria do Palacio de Linares, que abriga a Casa de América na Plaza de Cibeles.

María Teresa leu sete páginas do livro e logo continuaram a leitura a vice-presidente do Congresso, Carmen Chacón, a secretária de Estado para a cooperação internacional, Leire Pajín, e a secretária de Estado para a Ibero-América, Trinidad Jiménez.

Participarão da leitura, que deve durar quase 16 horas, cerca de 80 pessoas, entre elas a atriz Marisa Paredes, Sergio Cabrera, Mercedes Sampietro, Emma Suárez e Montxo Armendáriz.

(Bela homenagem!)