segunda-feira, março 19, 2007

Contos III e IV - 'revista piauí'.
























Vocês sabem que participei do concurso da "revista piauí", muitos torceram, mas não peguei nem resfriado hihihi
Aqui estão dois dos contos que enviei, fiz quatro, exagerei, né? fazer o quê? agora é tarde, acho que pensaram que eu estava 'me achando', como dizem os meninos. A frase para encaixar era: "Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”
O conto que venceu é muito lindo, está , vão ler. Os outros dois que eles destacaram, francamente, eu não entendi, leiam e digam depois, estão lá também. Amanhã ou depois coloco os outros dois que fiz para vocês lerem aqui. Este mês a frase para encaixar é:
"Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo".
Frase estranha, né? Eu acabei fazendo dois contos, é divertido o desafio, dá vontade de tentar. Se não for destaque não faz mal, é assim mesmo a vida, não é? Vocês me lêem e eu fico feliz por isso, viu? :)
'Tks so much'.

Os contos:


O batom rosa


Não esperou que abrisse a porta, saiu apressada.

"Espere, Alice, espere”.

O elevador ainda estava no andar. Viu o rosto dele enquadrado na janelinha, dizia algo.

Passou pelo porteiro sem o cumprimento usual.

Fez sinal para o primeiro táxi.

Diante da mulher que chorava, o motorista fingiu naturalidade. Algumas quadras depois, ofereceu lenços de papel. Ela aceitou. Chorou mais ainda, soluçou. Depois suspirou fundo e se aquietou, afundando-se no banco do carro.

Reviu a cena anterior: ele a recebeu com certa frieza. Ela perguntou se estava de saída.

"Não, só preciso retocar o quadro antes de entregar".

Sentiu-se estranha na sala tão familiar. Olhou os quadros em volta, eram os mesmos, mas ela sentia como se algo tivesse mudado.

Ele a puxou para o quarto. Ela não resistiu, nunca dizia não.

Incomodou o beijo com hálito forte, ácido. Pela primeira vez, preferia que não a beijasse. Ele teve pressa ao despí-la, atrapalhou-se ao tirar seu soutien. Penetrou-a num ritmo acelerado e frio.

Pouco depois largou o peso morto sobre o corpo dela. Ela se moveu para que ele saísse de cima, levantou-se, catou as roupas jogadas pelo quarto e foi ao banheiro. Tomou um longo banho morno. Quis chorar, mas não havia lágrimas.

No quarto, ele fumava sentado na cama.

"Você viu o livro de poemas que deixei aqui no domingo?" Ela perguntou abrindo a gaveta ao lado da cama.

Antes que ele respondesse, ela disse:

"Que batom é este”?

"Batom? Que batom, Alice? Só pode ser seu"...

"Não é. Eu nunca usaria este tom de rosa cafona, horroroso! Quem esteve aqui"?

"Ninguém. É seu, Alice. Só você entra aqui. Está ficando louca?".

"Mitômano, filho da puta! Ainda por cima quer me confundir”!

"Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.

Ela saiu em disparada pelo corredor.

Quando o táxi pára no endereço indicado, ela não chorava mais. Abriu a porta e ouviu o batuque do bloco que se reunia no bar adiante. Disse para o motorista:

"Mudei de idéia: o senhor, por favor, siga em frente e na próxima quadra, me deixe à esquerda, no “Luna Bar”.




"Meu nome é Alice"



Ela beija minha boca e desabotoa a minha camisa. Eu finjo desinteresse, gosto de vê-la assim: desejante e incerta.

Abre minha calça. Eu continuo apenas deixando que me dispa, não faço nada. Tira as meias. Fico nu. Manda que me deite de costas. Sobe no meu corpo como uma gata, quase não percebo seu peso. De repente dá um grito:

"O que é isto nas suas costas? Onde arranjou este arranhão"?

"O que, Alice”?

"Este arranhão enorme aqui".

"Ah! deve ter sido na filmagem do comercial, na cena do barco, a Débora deve ter me machucado"...

"Mentiroso”...

Desiste da massagem, sai como uma bala do quarto. Vou atrás:

"Querida, deixe de bobagem, este arranhão foi na filmagem, só pode ter sido... eu não estive com outra mulher. Você sabe que sou só seu".

"Canalha, filho da puta! Mitômano, cretino”!

"Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano”.

Ela não ouve mais nada, pega um cigarro e vai para a varanda.

Vou até o quarto, visto uma cueca, pego também um cigarro. Encontro Alice sentada, agarrada às pernas.

Não está chorando, como sempre; está muito concentrada, pensando.

"Amanhã eu vou embora", ela diz.

"Eu não quero que você vá embora”.

Tento abraçá-la, mas não me deixa chegar perto.

"Amanhã de manhã eu vou embora, cansei das suas mentiras".
"Eu não minto para você, meu amor. Sabe que só amo você".

"Não acredito. Até agora fiz de conta, acabou".

Tentei beijá-la, tentei convencê-la de que fará falta na minha vida, não adiantou.

Ela passou a noite fumando na varanda. De manhã arrumou uma mala pequena e saiu.

"Na semana que vem, volto para pegar o resto".

Foi a última vez que a vi.

Na semana seguinte viajei, não estava em casa quando ela veio.

No avião, sentei ao lado de uma mulher morena com um belo sorriso. Depois de meia hora de bom papo, eu disse:

“Conversamos há meia hora e não sei seu nome”...

"Alice, meu nome é Alice."

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