domingo, novembro 13, 2005

É melhor ser alegre que ser triste.




















Não sei se Vinicius era poetão ou poetinha, mas dava muito prazer ouví-lo, tem lindas letras, belas melodias e ótimos parcerias. Além disto, foi um grande amante, teve inúmeras mulheres. Viva Vinicius! Vamos ver o filme, valerá pelas músicas, pelos amigos dele, vamos lá.













Samba da benção


Vinícius de Moraes e Baden Powell.

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não

Senão é como amar uma mulher só linda; e daí?
Uma mulher tem que ter qualquer coisa além da beleza
Qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado,
Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher,
Feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor
E para ser só perdão

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não...

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração



Ricardo Calil
. Nominino.

Vinícius, o poetão



11.11.2005 | Sabe aquela sensação de que não há nada de interessante para ver no cinema? Pois aí vai uma boa notícia: você não a terá por algum tempo. As estréias deste final de semana formam uma espécie de dream team do cinema contemporâneo atual.

Entre os internacionais, há “Marcas da Violência”, brilhante estudo do canadense David Cronenberg sobre as relações entre tendências agressivas e impulsos sexuais. Também estréia “Manderlay”, segunda parte da trilogia do dinamarquês Lars von Trier sobre os Estados Unidos, que trata do racismo sem poupar brancos ou negros.

Dos nacionais, chega ao circuito “Cinema, Aspirinas e Urubus”, excelente estréia em longa de Marcelo Gomes, sobre a amizade entre um pernambucano e um alemão no sertão nordestino durante a Segunda Guerra Mundial. Com toda justiça, o filme vem colhendo prêmios em todos os festivais de que participa.

E finalmente estréia “O Signo do Caos”, testamento cinematográfico de Rogério Sganzerla, um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos, morto no ano passado. A produção fala do pouco caso do governo com a memória cinematográfica nacional (a demora para a distribuição do filme se tornou um exemplo daquilo que ele denuncia).

Com tantos filmes ficcionais brilhantes, por que escrever sobre o documentário “Vinícius”, talvez a menos ousada das estréias? Em parte, porque os outros já foram comentados aqui durante o último Festival do Rio ou em outras ocasiões. Mas, acima de tudo, porque “Vinícius” tem o personagem mais fascinante.

O documentário assume de cara suas duas características. É um projeto afetivo, produzido pela filha Suzana de Moraes e dirigido por Miguel de Faria (que foi casado com a produtora e era amigo do artista). É também um filme com uma missão clara: desconstruir a imagem do “poetinha” – epíteto que esconde, sob a sonoridade carinhosa, uma tentativa de diminuir a importância de Vinícius de Moraes como escritor, de aprisioná-lo em seu lado mais folclórico.

Nesse sentido, o filme é muito bem-sucedido. Ele consegue apresentar um mosaico abrangente da trajetória pessoal e intelectual de Vinícius: poeta erudito, diplomata, autor teatral, crítico de cinema, criador da bossa nova, um dos nomes fundamentais da cultura brasileira no século 20. Também estão presentes, embora diluídos, os lados beberrão e paquerador de Vinícius, que se casou nove vezes e que dizia que o uísque, esse cachorro engarrafado, é o melhor amigo do homem.

Para ilustrar as muitas facetas do artista, o filme atacou em diversas frentes. Conseguiu algumas imagens de arquivo preciosas, como a de Vinícius apresentando o “Canto de Oxossi” no filme “Les Carnets Brésiliens”, de Pierre Kast, ou a de Elizete Cardoso e João Gilberto interpretando “Eu Não Existo Sem Você” no longa “Pista de Grama”, de Haroldo Costa.

Faria também convidou dez jovens cantores para gravar versões inéditas de músicas de Vinícius. A lista prima pelo ecletismo: vai de Adriana Calcanhoto e Yamandú Costa a Zeca Pagodinho e Mart’Nália, entre outros. Embora o resultado seja desigual, como sempre há de ser nesses casos, há alguns momentos iluminados, como as músicas cantadas por Mônica Salmaso ou Edu Lobo tocando um dos afro-sambas ao violão.

Há ainda uma série de entrevistas com amigos e parentes de Vinícius, que formam o ponto mais forte do filme. Pela óbvia admiração de todas as pessoas ouvidas pelo personagem e pela amizade de algumas pelo diretor, os depoimentos são mais francos, descontraídos e reveladores do que costumam ser em documentários biográficos.

Chama atenção principalmente a desenvoltura sorridente com que Chico Buarque, grande amigo de Faria, conta “causos” sobre Vinícius. Ferreira Gullar, Antônio Cândido e Tônia Carrero são outros que dão depoimentos marcantes, pela graça ou pela emoção.

Com essas três frentes, o filme consegue dar conta das principais contradições que alimentaram a obra e a vida de Vinícius: o embate entre o erudito e o popular, a dúvida entre os salões e os botecos, o paradoxo entre o artista sofrido e o bon vivant.

Existe, porém, uma quarta frente em “Vinícius”, que é seu aspecto mais problemático e que prejudica o resultado final. O fio condutor do filme é uma espécie de pocket-show (a definição é da própria produção) comandado por Camila Morgado e Ricardo Blat, que declamam poesias e interpretam textos do autor.

A encenação dessas seqüências é marcada por uma pompa e uma formalidade que têm muito pouco a ver com Vinícius. Fica evidente o enorme esforço de Morgado e Blat para carregar cada palavra de significados – movimento contrário ao de Vinícius, que fazia o complexo parecer simples.

Nessas cenas, o filme parece querer substituir a imagem do “poetinha” pela do “poetão”, o escritor folclórico pelo oficial. Sem perceber, o filme cria outra prisão para a obra de Vinícius. Ainda bem que o próprio aparece na tela em vários momentos para debochar dessa imagem.


Agora vejam que coisa linda Tom Jobim no detalhe. Lembra meu ex quando conheci, era muito bonito.

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