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domingo, fevereiro 09, 2020

Carlos Drummond de Andrade e meus meninos



Drummond entrou realmente na minha vida ao morrer.
Éramos amigos, sim, mas a minha vida mudou com a morte dele. Conto aqui o porquê da data ser tão importante para mim. Viva Drummond!

Era agosto, meu inferno astral, mês de mau agouro. A TV noticia a morte de Drummond. Fico triste. Havia falado com ele pouco antes, alguns dias depois da morte de sua filha, Maria Julieta. Ele pareceu tranquilo, disse que ela sofria muito, que foi um alívio para ela. Sofria de câncer nos ossos- ele cuidava dela, eu o encontrava na rua à caminho de sua casa, que ficava na rua Barão da Torre- pertinho da minha rua. Tinha pena de vê-lo tão triste, contou que ela usava colchão de água por causa das dores.

Confusa, não sei se devo ir ao enterro, detesto estas cerimônias. Dia cinzento, chuva fina. Às nove da manhã a imagem de Drummond no caixão me comove numa capela quase vazia. Resolvo ir.

Onze horas, hora do enterro, a capela, cada vez mais cheia, me sufoca. Saio para a varanda do cemitério São João Batista. Havia ali um homem bonito- alto, de terno de linho azul claro e olhos orquídea- e outros curiosos, políticos, artistas... Pergunto, a um homem qualquer, se há outra saída para o caixão- pois vejo repórteres correndo- o homem de terno de linho azul diz: “Vou ver". Na volta diz, fazendo um gesto com a mão: "Venha comigo". Fui.

Algum tempo depois eu esperava meu primeiro filho- dele.

Diz um amiga astróloga que quando morre um escorpião nasce outro, no meu caso nasceram dois geminianos.

Devo a Drummond meus dois lindos meninos, hoje homens.

Drummond, Maria Julieta e eu



Encontro Drummond e Maria Julieta, sua filha, em frente à loja Forma em Ipanema. Era janeiro de 1987. 
Havia comprado uma cadeira de escritório para ele. 
Ao me apresentar à filha, diz: "Elianne é psicanalista, tenho medo dela". 
Maria Julieta diz: "O que significa comprar cadeira, Elianne?".
Não respondi, apenas ri, balançando a cabeça. 
O poeta responde ágil: "Para ficar ereto". 
Maria Julieta: "É o que o Tabaquinho* precisa". 
Drummond: Como vai de amores, Elianne? 
Eu: Mal. 
Ele dirigindo-se para a filha: "Elianne tem dois namorados". 
Eu: "Não tenho nenhum, Drummond." 
Maria Julieta: "É quem tem dois, não tem nenhum, papai, que sempre foi fiel, sabe disto." 
Drummond: "É". 
Me despeço apressada. Ufa!

*Tabaco: Personagem de Osmar Prado na novela “Roda viva”- Motorista de Renato (Tarcísio Meira) e homem de sua confiança. Tem várias mulheres, o que exige malabarismos para que uma não descubra a existência da outra.

domingo, outubro 02, 2011

A dedicatória mais preciosa


Drummond deixou este livro na minha portaria. Naquela época estávamos sempre em contato. É um presente muito especial. Vou colocar as outras aos poucos aqui- há anos queria fazer isso, mas sou desorganizada. Odeio digitalizar, também.
Ai no ladinho tem um link- título: Dedicatória, onde há outras dedicatórias legais.

quinta-feira, setembro 22, 2011

O poeta frugal- Carlos Drummond de Andrade




 


Chá das quatro com Drummond

Drummond se aproximou mais de mim, não sei exatamente porquê, depois da morte de Pedro Nava, fui amorosa com ele, fiz um cartão com um desenho bonito, caminhamos de mãos dadas por Ipanema...Ele sofreu muito com a morte de Nava, não se conformava, dizia: "Por que ele fez aquilo?"
Não sabíamos do drama que Nava vivia na ocasião.

Ele me perguntava, todos os dias, como seria a minha tarde no dia seguinte, e eu lhe dizia que teria um dia de trabalho cheio, às vezes mentia, eu não queria estar a sós com ele. Pode parecer estranho para muitos, mas é verdade, eu tinha receio de criar uma expectativa muito grande e não corresponder, não queria ser culpada por vê-lo infeliz.

Nesta ocasião ele rompeu com a namorada, por uma razão que não lembro, uma bobagem, disse que não a queria mais. Fiquei assustada, eu era muito discreta, não o procurava, esperava que ele se aproximasse.

Eu estava, naquele momento, completamente apaixonada por outro homem, impossível jogar charme a quem fosse, mesmo para o poeta. Eu lhe contava sobre o meu amor, e ele dizia que se eu quisesse manter a paixão deveria viver em casa separadas, como ele fez com a namorada, estavam juntos há trinta anos, como amantes.

Um dia eu o convidei para tomar chá comigo. Ele trouxe de presente uma gravura abstrata de Renina Katz, em azul, muito bonita. Elogiou meus desenhos, contou muitas histórias de flertes e namoricos que teve ao longo da vida. Preparei uma bela mesa com chá inglês, geléia dinamarquesa, quindim mineiro, torradas...Tomou chá, disse que a mesa era linda, mas ele era frugal. Todas as vezes que ouço esta palavra lembro dele- frugal- combina com o Carlos. Ele me pedia para chamá-lo assim, eu preferia Drummond, era como o conhecia antes, só quando me corrigia chamava-o pelo primeiro nome.

Tenho saudades de Carlos, o poeta frugal.

terça-feira, setembro 20, 2011

Drummond, sua filha e eu



Monólogo que estreia na quinta-feira revela correspondência entre Drummond e sua filha - O Globo


Drummond e Maria Julieta

Drummond e Maria Julieta Lendo esta reportagem, lembrei do meu encontro com Drummond e Maria Julieta.

Não lembro o ano exato, foi lá por 83, acho. Eu subia a rua Farme de Amoedo e esbarrei com os dois em frente à loja Forma. Carlos, era assim que gostava que o chamasse, me corrigia quando chamava-o de Drummond, que eu preferia, afinal...
 Bom, Carlos nos apresentou e disse: 
- “Minha filha, Elianne tem dois namorados- (é uma brincadeira dele porque eu tinha realmente dois “amores”, mas não namorados).
Eu, sem graça, era a primeira vez que via a Maria Julieta, digo:
- “Que nada! Não tenho namorado, é brincadeira de seu pai.”
Maria Julieta:
- “Papai sabe muito bem que quem tem dois não tem nenhum."
IH!...
Ele: - "Elianne, você que é psicanalista, me diga, acabei de comprar uma cadeira aqui na Forma, o que significa isso?"
Eu: - "Ah! Drummond, pare com isso, sei lá..."
Maria Julieta, rápida no gatilho:
- “Comprar cadeira é pra ficar ereto”.
Sorrisos e nos despedimos.

Drummond era jocoso e divertido. Quem o conheceu sabe disso. Havia sempre uma malícia no ar.

Pois é, depois a Maria Julieta adoeceu seriamente e ele se entristeceu. Eu o encontrava a caminho da casa dela, que ficava perto da minha, na rua Barão da Torre. Um dia, ele disse que ela sofria muito com dores, usava colchão de água. Muito triste um pai ver isso.

Quando ela faleceu, eu esperei uns quatro dias e liguei. Ele parecia tranquilo, disse que ela havia descansado, conversou comigo normalmente. Dias depois ele falece. O resto da história muitos de vocês conhecem. No enterro do Carlos conheci o pai dos meus dois belos filhos. Para quem não leu está aqui. 

Sobre insinuações de uma relação incestuosa entre pai e filha, é uma distorção enorme do afeto entre os dois- percebi claramente a cumplicidade entre eles. Quando ela diz: “Papai sabe muito bem que quem tem dois não tem nenhum.” Está se referindo a Lygia Fernandes, que ele encontrava todos os dias há mais de trinta anos na casa dela na rua Barão de Jaguaribe.

Ele me contou que Lygia o namorava há trinta anos, que saiu da casa da família para ter mais liberdade para encontrá-lo, que a visitava todos os dias e ressaltava, sempre:
- “Se você quer manter a paixão, não case.” Receita do poeta para a manter a chama.

Uma carta de Lygia aqui, li hoje. Engraçado, ele não me disse que tinha angina- disse, uma vez que ficou doente, que foi infecção urinária... Talvez porque a angina seja doença de velhos... Sei lá.

Ele gostava muito de falar no telefone de noite- uma vez me ligou depois de meia noite- eu não estava, minha irmã, que morava ainda comigo atendeu. Dizia que à noite ele colocava a mulher na cama e tomava um licor, ouvia música. Pela carta de Lygia, ficamos sabendo que eles namoravam pelo telefone. Ele disse também, que pela manhã era a mulher quem cuidava dele.

É, a vida é interessante e sofrida, nunca como esperamos- desejamos.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Drummond e a Garganta Profunda






Drummond, o Carlos, me contou que foi ver o filme “Garganta Profunda” no Cine Scala, em Botafogo no Rio de Janeiro. Chegou de mansinho, pediu o ingresso, meio de lado para que mal fosse visto- era quase uma linha imaginária. Viu o filme, saia pé ante pé, quando ouviu a bilheteira dizer em alto e bom tom:
- "E aí, poeta, gostou do filme?"

domingo, janeiro 30, 2011

Acordei lembrando Drummond

Foto Google- esta imagem me comove, é assim que lembro dele.


Desde o início venho lembrando o Drummond, o Carlos, tenho muito cuidado ao falar de Drummond, é uma pessoa muito especial.

Eu e Drummond nos cruzávamos nas ruas de Ipanema, ele em direção à rua Barão de Jaguaribe, eu em direção à Rua Visconde de Pirajá.

Durante anos nos cruzamos, eu dizia: “Boa tarde, poeta” e seguia, ele olhava timidamente e respondia.

Nossos horários coincidiam, lá pelas três da tarde (engraçado, é o titulo de um conto do Raduan).

Drummond, depois me contou que ia visitar uma namorada que ele tinha há 30 anos- dizia gaiato: "Se somar os anos de meu namoro e de casamento oficial dá mais de 80 anos", que era a idade dele quando o conheci.

Em 2002 a imprensa festejou os seus 80 anos, eu pensei em escrever uma carta e lhe entregar, mas aí um dia, nestes meus rompantes, eu o parei e disse que queria cumprimentá-lo pela data, ele disse qualquer coisa que não lembro- tipo: “Eu não mereço”, ele costumava dizer estas coisas. Eu o abracei e segui cheia de ansiedade em direção ao meu consultório- o pior é segurar a novidade sem poder falar com ninguém, ( lembram da piada do cara que está numa ilha deserta com a Sharon Stone?), para os clientes eu não podia contar.

Continuei mais dois anos, eu acho, só o cumprimentando, até que um dia eu estava no restaurante da Creuza, uma atriz que era dona de um delicioso restaurante caseiro na rua Barão da Torre, eu mostrava meus desenhos para ela- ela comprou uma aquarela de uma bela fatia de melancia, nunca mais repeti o desenho- quando Drummond passou, lá pelas 6 da tarde. Eu o chamei e disse que queria lhe dar um desenho. Ele olhava os desenhos e dizia: "Eu não posso aceitar, são muito lindos...você poderia fazer ilustração de meus poemas eróticos...”, eu argumentei dizendo que ficaria ofendida se ele não aceitasse, que era um prazer. Aceitou, pegou meu endereço e telefone e saiu apressado-mais apressado que ele só o Chico Buarque andando pelas ruas - este eu não tive a ousadia de parar, nunca, never, o que faria com Chico na frente? Ficaria deslumbrada e infartava!

Dez dias depois recebo pelo correio o poema “O que se passa na cama é segredo de quem ama”. Lindo poema erótico, postarei para quem não conhece. Fico sem saber o que fazer, ligo ansiosa para meu amigo Chico, ele diz: "Ligue para ele”. Telefonei e perguntei se o poema era para eu ilustrar ou era simplesmente um presente, respondeu que era um presente, mas que se eu quisesse poderia ilustrar, seria um privilégio.

Aqui começou uma bela amizade. Eu não ilustrei os poemas dele, estava numa fase de estudos intensos de psicanálise. Sobre os eróticos, ele dizia: “Não vou publicar senão dirão que sou um velhinho tarado”. Tarado não sei, mas sacana era.

Continuo outro dia contando mais.

Este post fiz em 2005- hoje revisei- coloquei mais pontos, menos vírgulas- hoje corto mais as frases.

domingo, outubro 31, 2010

Drummond e eu- Arquivo





Caminhar: Drummond e eu
 

Hoje, 31 de outubro seria aniversário de Carlos Drummond de Andrade. Nunca me esquecerei, pois se não fosse por ele eu não teria meus dois filhos. Já contei antes esta história, todos os anos conto, então vou repetir os posts anteriores. Quem já leu, sorry.

Drummond entrou realmente na minha vida ao morrer.

Era agosto, meu inferno astral, mês de mau agouro. A TV notícia a morte de Drummond. Fico triste e confusa, não sei se devo ir ao enterro- detesto estas cerimônias.

Dia cinzento, chuva fina, às nove da manhã a imagem do meu amigo no caixão na capela quase vazia me comove, e resolvo ir ao enterro.

Onze horas, hora do enterro, a capela cada vez mais cheia me sufoca. Saio para a varanda do cemitério São João Batista. Ali um homem alto, olhos azuis, de terno de linho azul claro aguarda, como eu, a saída do corpo. Havia outras pessoas: políticos, artistas, gente do povo.

Pergunto a um homem qualquer se há outra saída para o caixão- vi repórteres correndo.
O homem de terno de linho azul claro diz: "Deixe que vou ver". Volta e de longe faz um gesto com a mão para seguí-lo. Diz: "Venha". Fui.

Algum tempo depois eu esperava meu primeiro filho- dele.

Diz um amiga astróloga que quando morre um escorpião nasce outro, no meu caso nasceram dois geminianos.

Devo a Drummond meus dois lindos meninos, hoje homens.

Mais 'Drummond e eu' aqui.

sábado, maio 29, 2010

Lembrando Drummond


Você tem ou conhece alguém que tenha uma carta escrita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade ou de qualquer outro autor brasileiro?

Folha pergunta.

Interessante, não sei se quero 'mandar' para lá a cartinha que tenho dele. Nossa relação foi mais ao vivo, ou ao telefone, que epistolar. Eu lhe escrevi agradecendo os livros. Ele agradecendo o desenho, que achou magnífico- palavra dele.

Vocês já estão cansados de saber que nos encontrávamos nas esquinas de Ipanema. Tomou chá comigo em minha casa, disse que era frugal diante da mesa farta. Ganhei naquele dia uma gravura de Renina Katz. Ganhei livros, me escreveu linda dedicatória... Mas isto não é nada diante da lembrança que tenho dele. Da figura magra se delineando nas ruas. Dos nossos encontros, do caminhar de mãos dadas- eu encabulada- conhecia muita gente ali- amigos me contavam que me viram com o poeta- brincavam comigo.

Eu o encontrava às 3 da tarde e às 6 da tarde. Na hora que ia e quando voltava da casa de Lygia, que morava umas quadras depois de mim. Eu, na rua Nascimento Silva, ela, na Barão de Jaguaribe.

Contei algumas vezes. Aqui está. É estranho saber que alguém possa ler minhas cartas para ele.
Drummond ficou enamorado por mim, eu sei porquê, eu era uma moça exuberante e transbordava paixão- estava vivendo naquele momento uma bela relação de amor.

Ele me disse: Se quiser manter a paixão, não case.

E me contou que tinha uma amante há 30 anos, moça de família,(palavras dele), que deixou a casa dos pais para viver só por ele etc. Vocês também conhecem a história dele com Lygia Fernandes. Ele me disse, gaiato, que tinha mais anos de casado com a sduas mulheres do que de vida. Era ágil e jovial. Impressionante.

Fez uma crônica para mim, enciumado com meus amores- um deles ele inventou- era meu amigo- um violinista americano- Tad Lauer- hoje vive na Suiça. Esta crônica foi a ante penúltima dele para o JB- estava cansado- era o próprio quem ia até a Av. Brasil levar a crônica- se fosse hoje provavelmente não deixaria de escrever. Realmente, ir de taxi até lá é desanimador- Drummond só andava  a pé e de taxi.
Caminhava muito- eu o via em Copacabana- ia ao Correio. Imagino quantas correspondentes deve ter tido- era gentil e gostava de aconselhar, mesmo- a mim também disse: Não se debruce muito sobre as tristezas, amor é misto de alegrias e angústia.
Acho que é isto, não vou conferir agora.

Pois é, e amanhã é aniversário de Luc, que nasceu um ano depois que Drummond morreu, conheci o pai dele no enterro do poeta. Dan nasceu dois anos depois. Devo ao Carlos Drummond meus dois lindos filhos.
Que viva Drummond! em mim estará sempre vivo.

quinta-feira, março 04, 2010

Drummond na matinée



Drummond- o Carlos- me contou que foi ver “Garganta Profunda” no Cine Scala, em Botafogo no Rio de Janeiro. Chegou de mansinho, pediu o ingresso, meio de lado para que mal fosse visto- era quase uma linha imaginária. Viu o filme, saia pé ante pé, quando ouviu a bilheteira dizer em alto e bom tom:"E aí, poeta, gostou do filme?"

sábado, outubro 31, 2009

Que viva Drummond!





Hoje, 31 de outubro seria aniversário de Carlos Drummond de Andrade. Nunca me esquecerei do dia de seu nascimento, se não fosse por ele eu não teria meus dois filhos. Já contei antes esta história, todos os anos conto, então vou repetir os posts anteriores. Quem já leu, sorry.

Drummond entrou realmente na minha vida ao morrer.

Era agosto, meu inferno astral, mês de mau agouro. A TV notícia a morte de Drummond. Fico triste e confusa, não sei se devo ir ao enterro- detesto estas cerimônias.

Dia cinzento, chuva fina, às nove da manhã a imagem do meu amigo no caixão na capela quase vazia me comove, e resolvo ir ao enterro.

Onze horas, hora do enterro, a capela cada vez mais cheia me sufoca. Saio para a varanda do cemitério São João Batista. Ali um homem alto, olhos azuis, de terno de linho azul claro aguarda, como eu, a saída do corpo. Havia outras pessoas: políticos, artistas, gente do povo.

Pergunto a um homem qualquer se há outra saída para o caixão- vi repórteres correndo.
O homem de terno de linho azul claro diz: "Deixe que vou ver". Volta e de longe faz um gesto com a mão para seguí-lo. Diz: "Venha". Fui.

Algum tempo depois eu esperava meu primeiro filho- dele.

Diz um amiga astróloga que quando morre um escorpião nasce outro, no meu caso nasceram dois geminianos.

Devo a Drummond meus dois lindos meninos, hoje homens.

Mais 'Drummond e eu' aqui.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Drummond e eu- Arquivo




Desde o início do blog venho lembrando o Drummond, o Carlos, tenho muito cuidado ao falar de Drummond, é uma pessoa muito especial.

Eu e Drummond nos cruzávamos nas ruas de Ipanema. Ele em direção à rua Barão de Jaguaribe, eu em direção à Rua Visconde de Pirajá. Durante anos nos cruzamos. Eu dizia: “Boa tarde, poeta” e seguia. Ele olhava timidamente e respondia. Nossos horários coincidiam- lá pelas três da tarde (engraçado, é o titulo de um conto do Raduan). Drummond, depois me contou que ia visitar uma pessoa, que ele namorava há 30 anos. Dizia gaiato: Se você somar os anos de namoro e de casamento dá mais de 80 anos, minha idade.

Em 1982 a imprensa festejou seus 80 anos. Pensei em escrever uma carta e lhe entregar, mas um dia- nestes meus rompantes- eu o parei e disse que queria cumprimentá-lo pelo aniversário. Ele disse qualquer coisa que não lembro- tipo: eu não mereço. Ele costumava dizer estas coisas-dei um abraço e segui cheia de ansiedade em direção ao meu consultório- o pior é segurar a ansiedade sem poder falar com ninguém até encontrar um amigo, não é?
Lembram da piada do cara que está numa ilha deserta com a Sharon Stone? Para os clientes não podia contar.

Continuei mais dois anos, eu acho, só o cumprimentando, até que um dia eu estava mostrando meus desenhos para Creuza- uma atriz que tinha um restaurante de comida caseira na rua Barão da Torre. Lembro que comprou uma aquarela de uma fatia de melância- nunca mais repeti o desenho. Drummond passou, lá pelas 6 da tarde, eu o chamei e disse que queria lhe dar um desenho. Ele olhava e dizia: "Não posso aceitar, são muito lindos. Você poderia fazer ilustração de meus poemas eróticos...”. Argumentei dizendo que ficaria ofendida se ele não aceitasse, que era um prazer lhe dar um de presente... Aceitou, pegou meu endereço e telefone e saiu apressado-mais apressado que ele só o Chico Buarque- este eu não tive a ousadia de parar, nunca, never. O que faria com Chico na frente? Ficaria deslumbrada e infartava!

Dez dias depois recebo pelo correio o poema “O que se passa na cama é segredo de quem ama”. Lindo poema erótico. Fiquei sem saber o que fazer, liguei ansiosa para meu amigo Chico que disse: ”Ligue para ele”. Perguntei ao poeta se o poema era para eu ilustrar ou era simplesmente um presente, respondeu que era um presente, mas que se eu quisesse poderia ilustrar.

Aqui começou uma bela amizade. Eu não ilustrei seus poemas. Ele dizia: “Não vou publicar senão dirão que sou um velhinho tarado”. Tarado não sei, mas sacana era. Drummond me constrangia no telefone, fazia perguntas íntimas cabeludas, eu não queria responder, ele retrucava: “Mas você não é psicanalista?...”
Para não entrar em detalhes, conto uma historinha que ilustra bem isto.

Um dia o encontrei com a filha na rua Farme de Amoedo, em frente à loja Forma que vende móveis importados. Após as apresentações, ele disse: "Minha filha, a Elianne é psicanalista. Elianne me diga o que significa comprar cadeira?" Eu respondi: “Deixe de brincar, Drummond...” Ele, rapidamente emenda: “Comprar cadeira para ficar ereto”.
Uma outra vez me telefona e diz que fez uma crônica para mim, que a personagem da crônica mora numa cobertura, aí diz: ” Você sabe o que é cobertura? É o que os machos fazem com as fêmeas no cio”. Assim era o Drummond que eu conheci com mais de 80 anos, imaginem antes como não seria? Quando comecei a escrever sobre ele aqui hoje, escrevi que nos cruzávamos pelas ruas, fiz de propósito lembrando dele.

Ele me confessou que sentia desejo por mim, apenas o corpo não respondia mais, e disse uma coisa que me faz muito feliz, afinal ele tinha mais de 80 anos: “Você foi um sangue novo em minhas veias”.
Drummond é mais um dos meus casos impossíveis, a diferença de idade era muito grande e eu não o via como objeto de amor.
A vida me deu vários casos impossíveis, o maior talvez o Jean Guillaume, mas é outra história, outro caso.
Devo ter sido uma amante terrível na outra encarnação, vim pagar os pecados, desejando e sendo desejada por homens impossíveis. Grandes e complicados amores. O pior é que não acredito em reencarnação...

Por hoje chega, outro dia continuo a contar minhas histórias com Carlos Drummond de Andrade.

Mais historinhas aqui e aqui

O poema que ele me mandou:


O que se passa na cama


(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.


Faz bem para a alma, não faz?

sábado, agosto 29, 2009

Um desenho meu e Drummond- Arquivo

Um casal.Desenho meu. Posted by Picasa



Um dia o Drummond disse que meus desenhos eram maravilhosos, (exagero dele), e que eu poderia fazer ilustração dos seus poemas eróticos. Fiquei feliz, lógico, mas não tinha coragem de perguntar pelo livro. Um dia perguntei, ele respondeu que não faria senão diriam que era um velhinho tarado. Eu não perguntei mais, nem autógrafo eu não pedia, tinha vergonha.
Um dia eu disse: "Comprei sua 'Obra Completa'".
Ele respondeu: "Por que foi fazer isto? você me superestima..."
Quem tem amigos famosos sabe o que eu digo, é delicado, detesto parecer oportunista, no caso do poeta, eu pensava que ele poderia achar que eu queria me garantir antes que ele morresse. É muito chato isto. Eu tenho dedicatórias dele, espontâneas, ele me deu os livros e escreveu. Uma delas é linda demais:

"Quanta ternura cabe em um abraço?
Receba o meu e conte."

Quem já leu os outros posts sabe, eu já falei disto aqui.
É demais, não? Tenho uma cartinha dele e um bilhete. Um dia coloco aqui, não quero me expor mais ainda, ele fala sobre amor.




Quero

Drummond

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que
[me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.

Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,

a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,

amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.

Se não me disseres urgente repetido
eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas
[de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.



A língua lambe


Drummond

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,

a licorina gruta cabeluda,
e quando mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gemidos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A carne é triste depois da felação

Drummond

A carne é triste depois da felação
Depois do sessenta-e-nove a carne é triste.
É areia, o prazer? Não há mais nada
Após esse tremor? Só esperar
Outra convulsão, outro prazer
tão fundo na aparência mas tão raso
na eletricidade do minuto?
Já dilui o orgasmo na lembrança
E gosma
escorre lentamente de tua vida

segunda-feira, agosto 17, 2009

Leda Nagle entrevista Drummond



Dá saudade vê-lo tão alegrinho e falante, numa agilidade mental incrível.
Nos conhecemos nas ruas de Ipanema. Conheci o pai dos meus filhos no dia do seu enterro, 18 de agosto de 87. Já contei que devo meus filhos ao Drummond. Meu ex é mineiro também, foi homenagear o conterrâneo.
Aqui você lê as historinhas sobre ele, se ainda não leu...

segunda-feira, julho 27, 2009

Na esquina da Vinicius





Drummond e eu, marcávamos encontro sempre na esquina das ruas Vinicius de Moraes com rua Nascimento Silva, onde eu morava. Ele vinha da casa da namorada que ficava na rua Barão de Jaguaribe, eu estava num dos meus intervalos do consultório, nunca gostei de trabalhar direto, saía para dar uma volta, tomar um café, ir à uma livraria, encontrar um amigo para um encontro rápido.

Neste dia eu estava levando um cartão desenhado por mim, um flor estilizada, era um cartão especial. Não lembro o que escrevi, mas era um bonito e curto texto sobre amizade e perda. Pedro Nava, amigo de Drummond de uma vida inteira havia se matado naqueles dias. Havia um grupo de intelectuais que se reunia aos sábados na casa de Plínio Doyle, nos chamados sabadoyles- Nava e Drummond se encontravam lá, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino. Por que eu não pedi para ir um sábado? Vivia nas nuvens naquela época, enamorada.

A morte de Nava foi um choque para todos os amigos e nós que o acompanhávamos de longe por sabê-lo amigo de tantos daquela geração. Estava com 80 anos, sofreu dura chantagem, não suportou e deu um tiro na cabeça. Drummond não se conformava, até aquele momento não se sabia o que havia provocado o gesto desesperado, depois soube-se que havia algo a ver com homossexualismo.

Imaginem como Drummond devia estar se sentindo? Péssimo. Acredito que estes gestos devem nos deixar completamente impotentes e amargurados: Como não percebi? Por que não me confiou? Por que o nossa amizade não bastou?

Ele gostou muito do meu cartão e a partir daquele dia, um dia de maio de 84, nos aproximamos mais. A dor da morte de Pedro Nava fez com que o poeta me quisesse mais perto. E por causa disto minha vida tomou outro rumo. Conto outro dia.

Mais aqui.

terça-feira, junho 23, 2009

"O que se passa na cama é segredo de quem ama"





O poema que Carlos Drummond entregou na porta de minha casa:


O que se passa na cama


(O que se passa na cama segredo de quem ama.)


É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima… O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.

quarta-feira, maio 27, 2009

Um de escorpião e dois geminianos




Drummond entrou realmente na minha vida ao morrer.

Era agosto, meu inferno astral, mês de mau agouro. A TV notícia a morte de Drummond. Fico triste e confusa, não sei se devo ir ao enterro- detesto estas cerimônias.

Dia cinzento, chuva fina, às nove da manhã a imagem do meu amigo no caixão na capela quase vazia me comove, e resolvo ir ao enterro.

Onze horas, hora do enterro, a capela cada vez mais cheia me sufoca. Saio para a varanda do cemitério São João Batista. Ali um homem alto, olhos azuis, de terno de linho azul claro aguarda, como eu, a saída do corpo. Havia outras pessoas: políticos, artistas, gente do povo.

Pergunto a um homem qualquer se há outra saída para o caixão- vi repórteres correndo.
O homem de terno de linho azul claro diz: "Deixe que vou ver". Volta e de longe faz um gesto com a mão para seguí-lo. Diz: "Venha". Fui.

Algum tempo depois eu esperava meu primeiro filho- dele.

Diz um amiga astróloga que quando morre um escorpião nasce outro, no meu caso nasceram dois geminianos.

Devo a Drummond meus dois lindos meninos, hoje homens.

Meus caros amigos, estou festejando estes dias os aniversários dos meus filhos, um dia 30 de maio, o outro dia 01 de junho. Que viva Drummond! Que vivam meus meninos!

Mais 'Drummond e eu' aqui.


Dia 28, maio de 2009

Recebi comentários tão queridos que coloco aqui para vocês lerem. Obrigada amigas, vocês me fazem um bem enorme, nem imaginam.
Madoka, minha querida, feliz aniversário! Por que não contou antes? Você já sabe, mas reforço: te desejo toda felicidade possível, que fique sempre bem, encontre sempre o caminho menos árduo. Você é de uma delicadeza impar, é a minha flor do oriente.

E, vou contar para vocês mais umas coisinhas: meu ex é de escorpião, um daqueles típicos- passional, exagerado. Minha mãe é de gêmeos, difícil... Meu sobrinho- este que está chegando, hoje, para morar aqui, nasceu dia 15 junho. Contardo Calligaris, que me leva a escrever, me cobra isto, fez aniversário esta semana, e não esqueçamos, o 'amor da minha vida' e de muitas de nós, Chico Buarque, que é de 19 de junho, finalzinho de Gêmeos, entrando em Leão- por isso deve ser difícil para ele aparecer tanto como os leoninos gostam. :) Carlos Scliar, que indiretamente desnorteou minha vida- isto não posso contar- era do dia 21 de junho. Enfim, muitos geminianos e alguns escorpiões.
Não sou especialista em horóscopos, quem entende são as Anas Marias ai, a Costa Ribeiro e a minha amiga Barreiros.

sábado, maio 16, 2009

Tertuliano na voz de Drummond




Fiquei surpresa com o sucesso do texto sobre o Drummond, eu até brinquei que se soubesse teria sido o primeiro post. Guinha, nos comentários de ontem, diz que eu o mostro como pessoa comum. Ele era um homem especial, todos sabemos, mas eu mostro um lado dele que poucos conhecem, um lado sacana, sapeca, talvez seja isto. Eu conhecia pouco sua poesia, como a maioria de nós. Conhecia o mito Drummond, impossível não conhecer, mas gostava mesmo era do Neruda. Drummond eu gostava, mas não era paixão. Quem já leu os dois sabe do que estou falando, Neruda é o eterno apaixonado. Mas o encontro com Drummond mudou minha vida mais tarde, radicalmente- outro dia conto.

Ganhei dois livros dele, comprei a “Poesia Completa” e reconheço o mérito dele como O Poeta Brasileiro.

Um dos livros que me deu tem a linda dedicatória:

“Quanta ternura cabe em um abraço?
Receba o meu e conte”

Realmente o homem transpirava poesia. Mas era um homem como os outros homens da geração dele-nasceu em 1902, início do século, mineiro... Quem conhece os mineiros sabe do que estou dizendo, os mineiros se escondem, acostumados à proteção das montanhas continuam a se proteger na vida.

Drummond tinha uma namorada que visitava diariamente há 30 anos, a moça era de boa família, segundo as palavras dele, e deixou a casa dos pais para poder recebê-lo. Manteve o casamento para sempre.
Ao telefone um dia me disse que à noite ele cuidava da mulher e de manhã era ela quem cuidava dele, que dormia tarde, bebia um licorzinho, ouvia música clássica.

Há 18 anos ele morreu e tenho saudades da voz dele, frágil, dizendo poemas engraçados no telefone para mim naqueles dias em que eu me encontrava muito triste.

Lembro apenas deste:

Tertuliano

Tertuliano, frívolo peralta,
Paspalhão desde fedelho,
Incapaz de ouvir um bom conselho;
Tipo que, morto, não faria falta.
Mas um dia deixou de andar à malta.
E indo à casa do pai, honrado e velho,
Mirou-se diante de um espelho,
E à própria imagem disse em voz bem alta:
Tertuliano, és um rapaz formoso,
És rico, és talentoso.
Que na vida se te faz preciso?
O pai, sisudo,
Que por trás da cortina ouvia tudo,
Serenamente respondeu: JUÍZO!...

Autor desconhecido.

Imaginem, este era Drummond.

Mais Drummond aqui.
ou aqui.

Aqui

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

O poeta frugal


Van Gogh Posted by Hello



Chá das quatro com Drummond


Drummond se aproximou mais de mim, não sei exatamente porquê, depois da morte de Pedro Nava. Acho que foi porque fui amorosa com ele, fiz um cartão com um desenho bonito, caminhamos de mãos dadas por Ipanema...Ele sofreu muito com a morte de Nava, não se conformava, dizia: "Por que ele fez aquilo?"
Não sabíamos do drama que Nava vivia na época.

Ele me perguntava, todos os dias, como seria a minha tarde no dia seguinte, e eu lhe dizia que teria um dia de trabalho cheio, às vezes mentia, eu não queria estar a sós com ele. Pode parecer estranho para muitos, mas é verdade, eu tinha receio de criar uma expectativa muito grande e não corresponder, não queria ser culpada por vê-lo infeliz.

Nesta ocasião ele rompeu com a namorada, por uma razão que não lembro, uma bobagem, disse que não a queria mais. Fiquei assustada, eu era muito discreta, não o procurava, esperava que ele se aproximasse.

Eu estava, naquele momento, completamente apaixonada por outro homem, impossível jogar charme a quem fosse, mesmo para o nosso poeta. Eu lhe contava sobre o meu amor, e ele dizia que se eu quisesse manter a paixão deveria viver em casa separadas, como ele fez com a namorada, estavam juntos há trinta anos com amantes.

Um dia eu o convidei para tomar chá comigo. Ele trouxe de presente uma gravura abstrata de Renina Katz, em azul, muito bonita. Elogiou meus desenhos, contou muitas histórias de flertes e namoricos que teve ao longo da vida. Preparei uma bela mesa com chá inglês, geléia dinamarquesa, quindim mineiro, torradas...Tomou chá, disse que a mesa era linda, mas ele era frugal. Todas as vezes que ouço esta palavra lembro dele- frugal- combina com o Carlos. Ele me pedia para chamá-lo assim, eu preferia Drummond, era como o conhecia antes, só quando me corrigia chamava-o pelo primeiro nome.

Tenho saudades de Carlos, o poeta frugal.

Mais Drummond e eu aqui

segunda-feira, agosto 25, 2008

Drummond ganha novos óculos



Vamos ver quanto tempo vai durar. Ô povinho irreverente...
O poeta era tão frágil, tão delicado. Mas, tenho certeza, iria fazer uma piada com isto.