quinta-feira, abril 28, 2005

O jogo da causalidade.


Foto Fernando numero 12. Posted by Hello

Hoje eu queria pensar o blog, o mundo virtual, os meandros que desconheço, mas como estou meio tonta ainda, abri o Barthes, como fazem os crentes, então leiam.
Quem não gostar do texto dele, pule, e veja o site que linkei abaixo, maravilhoso.

“O karma é o encadeamento (desastroso) das ações (de suas causas e efeitos).
O budista quer se retirar do karma, quer suspender o jogo da causalidade; quer ausentar os signos, ignorar a questão prática: que fazer? Quanto a mim não paro de me colocá-la ao mesmo tempo que suspiro por essa suspensão do karma que é o nirvana. Do mesmo modo, as situações que, por sorte, não me impõem nenhuma responsabilidade de conduta, por mais dolorosas que sejam, são recebidas numa espécie de paz; sofro, mas pelo menos nada tenho que decidir: nesse caso, a maquina amorosa (imaginaria) anda sozinha, sem mim; como um operário da idade eletrônica, ou como o péssimo aluno do fundo da sala, só tenho que estar lá: o karma (a maquina, a aula) faz barulho diante de mim, mas sem mim. Na própria infelicidade, posso, por um rápido instante, me arranjar um cantinho de preguiça”.
Rolland Barthes.

Ontem fui dormir com uma lua linda, emoldurada por nuvens densas, agradeço estar viva e saber olhar o céu.
Amanheceu um sol maravilhoso com chuvisco. Diga se não vale a pena estar viva, testemunha de tanta beleza...Será isto nirvâna?
Coloco para vocês este site maravilhoso sobre o Rio de Janeiro, cliquem onde quiserem, eu fiquei entre o posto 8 e 9 que foi meu pedaço na praia durante 30 anos, me senti ali, vendo o por do sol de Ipanema, aplaudido tantas vezes.
Fernando, muito obrigada pela foto linda com pegadas.
Bom dia!
Namastê.

quarta-feira, abril 27, 2005

Em busca da imagem perdida.


Memória "colada". Posted by Hello


Cecilia Meirelles
escreveu:


Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?"

Maravilhosa, Cecília!

Em que espelho ficou perdida a minha face?
Por que buscamos esta face perdida no tempo?
Por que não aceitamos as transformações que o tempo implacavelmente faz. Por que implacavelmente? Não seria natural?
Achamos graça quando não nos lembramos de algo: "é a idade", dizemos, mas a flacidez do rosto, as marcas indeléveis do tempo nos entristecem e não é motivo de graça. Nos entristece, nos perturba, perturba tanto que muitos aceitam passar por processos torturantes para tentar segurar aquele corpo que jamais será o mesmo. Desejaríamos magicamente voltar a ter aquele rosto congelado numa imagem especular. Aquele era o nosso rosto, aquele era o nosso corpo. “Colamos” esta imagem no nosso imaginário, a imagem que um dia capturamos num olhar amado.

É trágico. O homem é um ser trágico. Trágico porque nada disto importa, nada disto é relevante. Nós nos amamos através dos olhos do outro, e este outro nos ama, não pelo rosto ou belo corpo mas por algo que nem ele sabe porquê. O outro nos deseja por outros caminhos ou registros. Que bom se nos fosse possível alcançar isto, é preciso muita sabedoria, muita dor, muitos anos de estrada, muito divã psicanalítico para descobrirmos.
Será que a imagem que buscamos ficou colada por ter sido uma imagem especial, ou simplesmente porque foi a imagem que repetiu-se mais vezes no nosso espelho? Nossos traços fisionômicos durantes longos anos não se modificam muito- da adolescência até uns 40, por aí, depois disto passamos a perceber a rapidez da transformação, e isto nos escapa, provocando pânico, ou um questionamento maior em relação à vida, ao nosso modo de viver.
Viver é estar em constante mutação, é preciso aceitar as transformações que o tempo nos traz. E viver o hoje. haverá amanhã? não sei...
Ah! este pânico é provocado pela evidência da morte, o envelhecer nos leva à morte, nossa cultura esquece que desde o momento do nascimento estamos caminhando para a morte, é nossa única certeza, então vivamos em paz.

Eu fiz uns versos sobre este assunto há anos:

Mansamente como o crepúsculo
mesclando ouro e lilás
também meu rosto se modifica.
Há movimento
e como o sol que cai no horizonte
sem a certeza da cor matinal
um calafrio me percorre
na dúvida de uma vida inteira.

Somos todos invisíveis?


Magritte. Posted by Hello

Falei sobre a sensação de ser invisível para os homens a partir de um certo momento, vários comentários acrescentaram novas questões, é um tema que devemos voltar a pensar.
Mulheres grávidas passam a ser invisíveis, mulheres feias, gordas, magras demais, todas que estiverem fora do padrão não são vistas.
Pois é, mas será que só as mulheres são invisíveis?
Há uma trabalho de um psicólogo brasileiro que se misturou entre garis e percorria os corredores da universidade onde estudava como um servente, cruzando com colegas e professores e descobriu que ficou invisível. Ninguém o identificou, ninguém olhou para ele.
A pobreza é invisível porque nos dói, então é mais fácil não vê-la, a dor do outro...
Calligaris tem um belo artigo sobre isto, uma vez foi abordado por uma mulher que pedia dinheiro, ele estava no telefone, curvado, sofrendo com o que ouvia e ela continuou, insistindo sem vê-lo.
Portanto, não só os pobres, as mulheres fora do padrão da mídia, são invisíveis.
O que aconteceu com o nosso olhar? Olhamos com pré-conceitos, não aceitamos as diferenças, somos intolerantes, tememos o diferente, excluímos. Nosso olhar é impenetrável e cruel.
Que mundo estamos deixando para nossos filhos e netos?

Voltarei ao tema falando das relações entre homens e mulheres. Hoje ainda estou esquisita, muito dispersa.
Prefiro hoje deixar que vocês falem mais.


Bom dia!

Namastê.

terça-feira, abril 26, 2005

Mulheres invisíveis


Beleza e maturidade. Posted by Hello

Ainda me sinto esquisita, portanto se escrever besteira considerem que devo estar febril.
Há dias penso em comentar a entrevista de Marilia Gabriela com Maitê Proença no programa de entrevistas de Gabi-não pela intimidade, mas porque é mais fácil não sou intima do teclado.
Maitê é linda, divinamente bela, nasceu com sorte, isto é para poucos. Escrevi sorte e lembrei da tragédia familiar que sofreu, não vou falar disto aqui, não gosto, mas é barra pesada.
A tragédia a faz melhor ainda, superou o drama e está aí para que todos a vejam, bela e formosa. Tem quantos anos? não sei, não importa.
Os belos, muitos, têm cara de bobinhos e Maitê não foge a regra, mas diz coisas interessantes, inclusive disse que muitas vezes os bonitos demais precisam se fazer de humildes e desentendidos para não parecerem arrogantes, faz sentido.
Eu quero comentar sobre o que ela disse sobre uma senhora que é sua amiga e tem 70 anos-eu não tenho isto, não, viu? que a sra. se sente hoje muito mais confortável porque não é preciso estar sempre alerta e precisando seduzir os homens. Concordo, não que eu tivesse que seduzir todos os homens- sempre fui seletiva- mas havia um desejo de não ser desagradável, de que aquela pessoa te achasse uma mulher legal. Não sei se estou conseguindo passar o que quero, acho difícil. Eu continuo sempre de baton, arrumadinha, passando cremes, fazendo meus exercícios, mas homens não são mais tão interessantes quanto eram antes, não que não haja desejo, há, mas valerá a pena? acho que este é o ponto, o conforto de estar só, de não ter que dar satisfação, a cama só para você, os horários feitos apenas por você, é muito bom.
E tem mais, depois de uma certa idade você passa a ser invisível para os homens, eles não nos olham mais nas ruas, nos shoppings. Não mesmo, pode discordar quem achar que faz sucesso depois dos 45 anos.Talvez as boazudas...
No Rio os homens paqueravam, olhavam , até um tempo atrás, davam aquela olhada estratégica, depois dos 45 anos, não, a não ser que você esteja de arrasar quarteirão.
Será que o que sinto é defesa contra o olhar invisível dos homens.
Ah! os muito mais jovens se interessam, mas é difícil encarar uma relação com alguém muitooo mais jovem, eu não tenho coragem, para mim seria uma relação edípica, não dá para fugir do Dr. Freud nesta hora, eu não encaro. Marilia Gabriela encarou e foi feliz, ao que parece, muitas têm enfrentado, eu não.
Acho que teria de falar da crise que há entre homens e mulheres, mesmo as mais jovens sofrem com a indiferença dos rapazes, mas isto é papo para outro dia.
E as belas será que são invisíveis? Maitê andou só um tempão, não precisa ser fã ,nem leitora de revistas de fofocas para saber.
Moças digam se concordam comigo, homens digam o que pensam.

segunda-feira, abril 25, 2005

Adoecer...

Adoecer é muito ruim, mesmo. Imagino estas pessoas que ficam anos em camas de hospital. Estou há dois dias de cama com uma virose, já fui tomar soro, um saco
( queria evitar a palavra saco, que é feia, mas cabe bem aqui).
Não dá para escrever, não agüento a tela do PC, portanto me aguardem que voltarei em breve, quem sabe amanhã acordo bem?
Lembro da música do Chico, apesar do apelo político, ela não me sai da cabeça hoje.

RODA VIVA
Chico Buarque (Brasil) - 1967


Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo ...

Eu gosto de colocar as músicas que gosto, e que a garotada não conhece aqui, tenho leitores jovens, os mais velhos me perdoem.

Bom dia a todos e espero que não peguem esta virose que é das brabas.
Namastê.

sábado, abril 23, 2005


Aprisionada. Posted by Hello

Peguei a gripe braba do meu filho, portanto estou um trapo, felizmente a palestra foi adiada por causa do feriado.
Copiei uns versinhos que fiz há anos, estou precisando renovar os versos, ando sem inspiração, só escrevo quando estou apaixonada, e como diz o Raduan: “homem maduro , coração duro”, ando assim, difícil alguém me capturar.


Canto me amor em versos
Você silencia.
Mas teu corpo fala,
o coração emocionado pulsa,
teu peito vibra.
E você silencia.
Meus olhos curiosos
te decifram.
Meu coração emocionado transborda.


Camisa de força.

Teu corpo contido vibra
E me faz contida.
Aprisionado
Meu corpo silencia.
Apenas aos olhos é permitido ver
Mas teus olhos fogem dos meus
E adivinho teu desejo maior,
E adivinho que a você só é permitido ouvir.
Quem é o carrasco?


Estes versos têm uma historinha engraçada, eu em apaixonei por uma pessoa- amor a primeira vista- eu sabia que não tinha futuro, estava recém separada e precisava desviar a emoção, o afeto. O homem fazia o maior charme, me seduzia, mas nada, não rolava nada. Quando nos víamos ele parecia sempre muito emocionado, envolvido, mas nada, não rolou nunca nada. Depois fiquei sabendo que ele tinha uma doença que lhe dava taquicardia, a emoção era a tal taquicardia, não sei bem porquê. Não é divertido? pelo menos serviu para eu fazer os poemas, fiz muitos. Agora nem o meu coração pulsa emocionado...

Bom dia!
Namaste.

quinta-feira, abril 21, 2005


Rio e Eros. Posted by Hello

Hoje coloquei esta foto do Rio porque não resisti, é muito linda e tem uma forma erotizada.
Acordei com Dan ardendo de febre e dor de garganta, estou às voltas com ele, gargarejo, remédio, pano molhado na testa, não consigo me concentrar aqui, resolvi, então, colocar este texto de Ana Cristina Reis, é reis, não césar, vejam, que tirei do jornal uma vez por achar engraçado e verdadeiro.

Parecer hétero é...
Ana Cristina Reis.

Afinal, o que caracterizaria um hétero padrão?

1) Usar roupas confortáveis, na visão dele; e constrangedoramente bagunçadas, na visão da namorada. “Poxa, ele podia ter se arrumado um pouco mais” é o pensamento recorrente entre as mulheres.

2) Fingir que se interessa pelo que as mulheres falam.

3) Trocar a companhia feminina por um jogo de futebol.

4) Trocar a companhia feminina pela companhia dos amigos.

5) Achar que sabe tudo sobre carros.

6) Não pedir informação na estrada.

7) Nunca admitir que está perdido.

8) Não gostar de experimentar roupa.

9) Sempre adiar para amanhã trocar a lâmpada.

10) Não se sentir à vontade entre muitas mulheres.

11) Não ajeitar as almofadas do sofá.

12) Competir. Se um homem diz que o dele é bom, o outro revida que o dele é melhor. Qualquer que seja o assunto.

Claro que o homem é muito mais complexo que isso. Tão complexo que é capaz até de se aproximar de uma heterossexual padrão. Nessas horas, ele deve saber o que o espera. A heterossexual padrão:

1) Está sempre dizendo que precisa voltar à taróloga.

2) Pergunta qual é o seu signo.

3) Fala demais.

4) Arruma as almofadas do sofá.

5) Gosta de fazer compras.

6) Acredita na força de um batom.

7) Demora para se arrumar.

8) Derrete-se com o cheirinho de um bebê recém-saído do banho.

9) Acredita na força de um par de sapatos.

10) Sente-se à vontade entre muitos homens.

11) É mandona, mesmo sem precisar.

12) Sonha em ter um homem ao lado.

Claro que a mulher é muito mais complexa que isso. Tão complexa que chega até a se juntar a um homem que não liga para roupas, vasos de flores ou almofadas e com certeza não gosta de longas conversas ao telefone. Fazer o quê? Ligar para o amigo gay.

**********

Eu havia pensado sobre este tema e escrito isto uma vez para levar para um grupo de pessoas no SPA onde trabalhei, sem pretender um ensaio psicanalítico, apenas algumas observações que podem levar a conclusão que sou um tanto pré-conceituosa, mas acho que vale para a gente brincar um pouco, dêem suas colaborações, eu peguei o meu texto hoje, não aperfeiçoei, outro dia volto a falar disto, analisando o que esta aqui hoje, vocês podem colaborar.

Diferenças entre homens e mulheres e homens.

Subjetividade x objetividade

Fluência verbal x dificuldades para verbalizar

Necessidade premente de expor o que sente x nenhum desejo de se expor

Desejo de carinho constante x poucas manifestações de afeto

Ciúmes do afeto plural do parceiro x indiferença afeto plural da parceira.

Sexo como complemento amoroso x sexo fundamental

Mais afeto, menos malabarismo no sexo x menos afeto, mais malabarismos e fantasias sexuais

Desejo de menos freqüência nas relações sexuais x maior número de relações sexuais.

Conversar após o sexo x dormir após o sexo

Desejo de ouvir “eu te amo” como reafirmação do amor x indiferença ou mesmo muitos sentem-se cobrados diante do “eu te amo”

Filhos como prioridade, sexo vem depois x desejo sexual mais forte (quando os filhos são muito pequenos, principalmente)

Maior preocupação com a aparência x menor preocupação (mudando bastante atualmente, vide metrossexual)

Agora vocês digam o que pensam, sei que muitos homens são diferentes destes padronizados aqui, podem reclamar.

Amanhã farei palestra de manhã, talvez só coloque meu texto aqui à tarde. Estou ansiosa com esta palestra, será a primeira no Colégio Marista e a priemeira onde a platéia será predominantemente masculina, geralmente predominam as mulheres.Não tenho medo, apenas ansiedade, na hora passa, espero.
Bom dia!

Drummond, Nava e eu




Drummond e eu, marcávamos encontro sempre na esquina das ruas Vinicius de Moraes com rua Nascimento Silva, onde eu morava. Ele vinha da casa da namorada que ficava na rua Barão de Jaguaribe, eu estava num dos meus intervalos do consultório, nunca gostei de trabalhar direto, saía para dar uma volta, tomar um café, ir à uma livraria, encontrar um amigo para um encontro rápido.
Neste dia eu estava levando um cartão desenhado por mim, um flor estilizada, era um cartão especial. Não lembro o que escrevi, mas era um bonito e curto texto sobre amizade e perda. Pedro Nava, amigo de Drummond de uma vida inteira havia se matado naqueles dias. Havia um grupo de intelectuais que se reunia aos sábados na casa de Plínio Doyle, nos chamados sabadoyles- Nava e Drummond se encontravam lá, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino. Por que eu não pedi para ir um sábado? Vivia nas nuvens naquela época, enamorada.
A morte de Nava foi um choque para todos os amigos e nós que o acompanhávamos de longe por sabê-lo amigo de tantos daquela geração. Estava com 80 anos, sofreu dura chantagem, não suportou e deu um tiro na cabeça. Drummond não se conformava, até aquele momento não se sabia o que havia provocado o gesto desesperado, depois soube-se que havia algo a ver com homossexualismo.
Imaginem como Drummond devia estar se sentindo? Péssimo. Acredito que estes gestos devem nos deixar completamente impotentes e amargurados: Como não percebi? Por que não me confiou? Por que o nossa amizade não bastou?
Ele gostou muito do meu cartão e a partir daquele dia, um dia de maio de 84, nos aproximamos mais. A dor da morte de Pedro Nava fez com que o poeta me quisesse mais perto.
Outro dia conto mais, hoje é feriado.

Bom dia, curta o seu dia livre, vá passear ao ar livre. Divirta-se!

terça-feira, abril 19, 2005

A casa invisível.


A casa das mil portas. Posted by Hello

Escrever os posts, escrevo numa boa, mas colocar as imagens... esta casa aí em cima teima em não ficar à direita do blog, era ali que eu queria que ficasse, consegui achar o lugar, mas a infeliz quer me chatear e ficar invisível lá, e aparecer aqui. Como a gente não pode lutar contra o invisível, ela ficará aqui mesmo, assim vocês ficarão sabendo melhor que são os donos da dita cuja. A casa das mil portas.
Nemo Nox, como muitos de vocês sabem, ganhou o premio do melhor blog do mundo, o que é interessante, pois o blog dele é em português apesar de morar nos Estados Unidos há anos. Nemo está divulgando uma série de micro contos, são, acho, dezenove os participantes da coletânea, um deles o nosso conhecido Inagaki, vão ler os micro contos, é divertido e interessante. Eu nunca havia visto contos micros, conhecia poemas micros, vale a pena conferir. Em maio ele fará nova seleção, vou ver se consigo enxugar os mini contos que fiz, vocês que gostam de escrever também coloquem a cabeça para pensar, é divertido, contar uma história com 50 letras, diverte. Talvez eu não consiga, até que sei ser enxuta quando preciso, mas nem tanto, 50 letras...
Hoje eu pensei em contar uma historia de Drummond que todos vão adorar, queria comentar a entrevista de Gabriela com Maitê, falar dos 50 anos, da sexualidade da mulher madura, mas a casa se impôs, perdi o clima, o rebolado, fiquei irritada, como não consigo fazer isto? Quem puder me ajude, quero colocar a imagem da casa aí do lado.
Uma amiga querida me mandou um email, e sugeriu que divulgasse o texto que a Cora Ronai postou ontem, ou ante ontem, vão ler, é sobre a indignação que temos quanto aos nossos políticos, há algo a fazer, vão ler como.
Sábado farei palestra no Colégio Marista daqui de Natal, será sobre educação de filhos, já tenho pronta, mas gosto de reescrever, pela primeira vez terei mais homens que mulheres assistindo, vai ser bom, mas dá um certo receio porque o nordestino é muito machista e eu vou mexer com isto, mexo sempre, aqui homem não ajuda mulher em nada, é cultural, as mulheres têm que fazer todo o trabalho doméstico, e educam os meninos assim também, como eu faço diferente, meu filho Dan, diz sempre, por que a gente tem que fazer se os meninos todos que conhecemos não fazem nada?
Tenho observado, há algum tempo que os pais são completamente dominados pelos filhos, conheço meninos grandes aqui, 12, 13 anos que nunca comeram uma fruta, ou uma verdura, porque não querem experimentar, pense uma coisa que me irrita, é isto, (esta expressão muito usada aqui em Natal é divertida e boa). Pense um homem bonito...
Adoro fazer palestras, se eu soubesse que era tão bom havia entrado nesta seara no Rio onde há mais espaços, poderia ganhar mais dinheiro, mas psicanalista é uma classe elitista, arrogante muitas vezes, palestra não é coisa que psicanalista faça, estou me referindo a este tipo de palestras, para pessoas normais, palestras informativas, mas se for para se exibir para os pares pode, repetir o óbvio ululante é aplaudido. Ando resistente ao pessoal psi, aliás, sempre fui, não há espaço para espontaneidade no meio psi, por isso eu era meio peixe fora d’água, com muito prazer no meu nado solo.
Amanhã, se não houver imprevisto, vou contar do Drummond, já está na hora de mais uma historinha do nosso querido poeta.
Bom dia!
Namastê.

Cartinha de amor do Pimenta.


Árvore solitária.Van Gogh. Posted by Hello


A cabeça dói, para não escrever bobagens, vou copiar uma cartinha do Pimenta para mim. Como prometi no inicio do blog, vou mostrar para vocês algumas cartas dele, vale a pena, são lindas.


Niterói, 08 de abril de 1976.

Lian querida:

Estava lendo:
”são vendedores ambulantes
De flores, frutas, flanelas,
doces, beijus, vassouras,
jornais e todo um extravagante
acervo de bugigangas”.
Fiquei pensando se não sou um deles, um vendedor de bugigangas, que tempo a fora sobrevive, subsiste, para apenas ver o tempo maquinalmente passar.
O amor, tecido de impossível, como um alvo móvel, fugidio, tão cultivado- tão sem futuro, ah...
Venham-me dizer eu você perdeu a vida inteira a se fazer de surda, e eu perdi a minha a me fazer de cantor.
Existem muitas formas de se morrer, lembra-se? Uma delas é devagar, mantendo acessa a chama de esperanças tolas, erguendo altares e perfumando leitos.
Uma porta sempre fechada ao final do corredor.
Ora,não há maneira de evitar o dizer que a amo?
Abraços
do seu
~~~
PS: Perdoe-me antigas ironias.


Dói ler esta carta, dói lembrar Pimenta e seu amor por mim não correspondido, e por ironia, me dói o meu amor impossível, aquele que incensei a vida toda e para quem nunca fui prioridade~, apesar de me saber amada.
Para quem ainda não leu os poemas de Pim no blog, vá ler, é ótimo, foi um amigo querido que morreu antes dos 30 anos.
Chega, hoje acabei triste. A dor de cabeça continua, outra dor maior exposta.
Bom dia!

segunda-feira, abril 18, 2005

Gravidez precoce.


Gravidez. Posted by Hello

Ontem vi o programa da GNT com a Sue Johanson no Brasil, foi muito gostoso, ela é muito viva, rápida nas respostas, inteligente. Durante o programa do Serginho Grossman a Sue ficou espantada ao saber que as jovens apesar de informadas, saberem que é preciso se prevenir contra a gravidez, muitas engravidam. Sue ficou com cara de espanto, quando o Serginho perguntou para a platéia se conheciam alguma jovem adolescente que tenha engravidado, praticamente todos conheciam.
O que acontece? Por que nossos jovens apesar de informados não usam camisinha ou outro tipo de cuidado?
Vou copiar aqui o trecho de uma palestra que faço para pais de adolescentes. Como é uma palestra para pessoas de todos os níveis sociais eu escrevo e falo numa linguagem acessível a todos.


Gravidez precoce.


Uma mocinha que engravida aos 13/14 anos, na maior parte das vezes, não acreditava que ficaria grávida.
Vocês se lembram dos seus pais dizendo : “cuidado com a bicicleta” ou cuidado para não cair e você estar certo de que o pai ou a mãe estava exagerando, pois tinha certeza que não ia acontecer nada. Muitas vezes, não aconteceu, mas noutras aconteceu. O mesmo se dá com a gravidez, a jovem não acredita que aquela relação vá levá-la à gravidez, ou pensa que com ela não irá acontecer, este pensamento nós chamamos de mágico, onipotente, só porque pensa não irá acontecer, é assim que o jovem pensa. O rapaz geralmente não está nem aí, para ele o problema é dela. Ele está errado porque no caso de uma gravidez ele também será responsabilizado, mas a sociedade coloca o problema maior para a mulher, quem não se preveniu foi ela, quem foi leviana foi ela, mas ela não estava fazendo sexo sozinha.
Muitas vezes a moça fica grávida na primeira relação, que é uma relação difícil para os dois, uma relação tensa, cheia de ansiedades, na maior parte das vezes. Ele sem querer usar camisinha para não falhar e ela ansiosa, não quer fazer nada que possa aborrecê-lo, também não quer parecer mais experiente que ele- “viu a safadinha, já sabia usar camisinha...” ou para mostrar que o quer de qualquer forma mesmo correndo risco. Adolescente gosta de desafios e jogar com a possibilidade de engravidar ou não, pode ser uma jogada inconsciente na sorte.
Quantos de vocês devem ter tido a primeira relação atrapalhada, apressada, às vezes em lugares impróprios.
Como resolver esta questão? Não é fácil, mas também não é impossível, tudo se resolve.
Quando acontece a gravidez geralmente fica escondida até não poder mais, tentam coisas para abortar, pulam,tomam aspirinas, coisas que as amigas ensinam.
As jovens não têm coragem de falar com os pai o que ocorre, até que fique tão evidente que não há mais como esconder. Então o que os pais devem fazer?
Tentar não se desesperar nem fazer escândalo, tudo tem saída.
Os pais geralmente gritam, esperneiam até verem que não há outra saída a não ser tentar ser razoável.
Vem a culpa, “a culpa é tua, devia ter falado com ela!” “é tua, sempre distante, não toma conhecimento com os filhos!” e por aí vai...
Não adianta tentar encontrar os culpados, é hora de conversar, o que não foi conversado antes, procurar ajuda de gente mais esclarecida, mais madura e procurar um médico.
O pai do futuro bebê já sabe? Precisa saber, precisa ser responsável também, no caso do seu filho ser o homem, o pai, precisa assumir a paternidade, ser responsável. Se não se amam é melhor que não oficializem a relação, são muito jovens, terão outras relações amorosas.
Se a moça não quer o filho será necessário o apoio de um psicólogo/a, um médico para orientar.
Os avós serão sempre avós, não devem assumir o neto/a como se fosse seu filho, isto trará problemas futuros, os jovens precisam assumir suas responsabilidades, aos pais cabe ajudar no que for preciso, mas não assumir completamente a criança.
Aceitar as mudanças na vida é fundamental e todo adolescente nos colocará diante de situações novas. As crises são boas para melhorarmos, para crescermos, aproveitem as crises e se renovem.



Como vocês vêm eu não falei em aborto, nem educação sexual, deixo para outro dia.
Aborto é um tema que preciso abordar com cuidado nas palestras, nesta última palestra que fiz no dia 7 de abril, 90% da cidade era de evangélicos, tenho que ser cuidadosa ao abordar estes temas, mesmo camisinha, mas camisinha eu abro o jogo, falo que é preciso usar, que há risco de doenças, etc e tal. As funcionárias da Camanor me disseram que o pastor não recomenda que vão às palestras, ele sabe que falarei de sexo, faz restrições. A moça inclusive me disse que por eu ser psicanalista assusta mais, pode? pode.
Deus do céu, socorro!
Bom dia!

domingo, abril 17, 2005

A alerta e o sorriso do Chico


Estorvo. Posted by Hello

Hoje acordei cansada e triste, sem vontade de escrever aqui, pensando em compromissos, vontade de não fazer absolutamente nada, com saudades dos amigos...
Quando abri minha correspondência encontrei o meu querido amigo argentino, que andava sumido, me resgatou da possível fossa-acho que ninguém mais usa esta expressão, mas acho muito boa.
Escrevi estes versos há algum tempo, catei hoje.


Alerta


Há em mim um cansaço que temo
Há em mim um cansaço frio e mortal
Está sob minha pele
Não o deixo vir à tona
Permaneço em constante alerta.


Ontem vi o Dvd “Cidades” de Chico Buarque, sempre acho que não é necessário dizer que estou falando do Buarque, mas alguns jovens me lêem e que podem pensar no outro Chico, o deles, que é o Science. Eu havia visto o show no Canecão, em 2000, eu acho, como vocês sabem eu não perco nada do Chico, e este eu nunca tive coragem de abordar, ele diz no DVd que anda de uma forma que ninguém aborrece, rapidíssimo, quando a gente se refaz do susto ele já está longe.
Uma vez eu subia a rua Farme de Amoedo e cruzei com ele, parei e me voltei, fiquei parada, ele de costas seguindo, aí ele se voltou, não foi a força do meu olhar, não, foi porque mudou de direção, procurava um endereço, aí fiquei com vergonha e entrei em um bar para comprar um chiclete, ele deve estar acostumadíssimo com esta situação, impossível não parar, como? até sonho com ele, tal a minha fantasia!... é lógico que sei que eu sonho com o que ele representa para mim, etc e tal, existem outros chicos na minha vida, mais importantes do que o Buarque- Bethânia só o chama de Buarque.
O DVD é uma beleza, uma delícia ver o Chico no Mirante do Leblon falando de Vinicius, conversando na praia- onde foi flagrado anos depois com a morena- rindo solto quando perguntam o porquê do titulo “cidades”- "sei lá porquê"- na Mangueira, conversando com Bethânia, lendo os livros dele, além das músicas, é claro.
Quando ele lançou “Benjamim” Raduan me convidou para ir assistir a apresentação do livro no auditório do Jornal O Globo. Raduan leria um trecho do livro do Chico, e Chico leria um trecho de um conto do Raduan- leu “Hoje de madrugada”, eu já contei antes aqui, ele se emocionou tanto que engasgou, na conseguia prosseguir, então deu um tapinha no ombro do Raduan e disse qualquer coisa como “você é demais”. Eu estava tão emocionada ali sentada na primeira fila, na frente dos meus dois ídolos-para mim eles são os maiores, ninguém é melhor que Chico ou Raduan- foi uma tarde muito especial. Chico tem os olhos mais impressionantes que eu vi, não dá para descrever, só quem já viu sabe do que estou falando, Danusa Leão diz que tem olhos cor de ardósia mas bonitos do planeta, não sei a cor da ardósia mas os olhos impressionam, o que acho estranho é que no vídeo os olhos ficam esverdeados, e são azuiiiiiisssssssss muiiitoooo azuis, ele já disse que as pessoas falam dos olhos verdes dele, a gente lê na mídia.
Quando acabou a apresentação, um bando de mocinhas atacaram o Chico, outras o Raduan, eu queria muito um autógrafo de Chico, mas como competir com as moçoilas gritando e pedindo fotos, ele sempre gentil. Quando surgiu uma brecha eu estiquei a mão com o livro “Estorvo”, ele me viu e pegou, eu disse:”sou sua fã desde “Estorvo”, ganhei o sorriso mais lindo que já vi, ele se abriu num sorriso maravilhoso, inesquecível!
Gosto do Chico escritor, não é leitura fácil, não há romantismo, é árido, angustiante às vezes, mas gosto, me lembra os textos de Raduan, Joyce, Javier Marias, se você vai atrás do Chico letrista, vai ficar desapontado. Ele diz que é mais o escritor do que o compositor.
Eu levei três amigas comigo, duas saíram rapidamente, fiquei com Paula, chamei-a para sentarmos em algum lugar, não quis, não entendi, depois me contou que chorou durante três horas de emoção, tão forte foi o impacto da leitura e do encontro, ela não conhecia o texto do Raduan e o conto lido pelo Chico mexeu demais com ela.
Eu não chorei, fiquei extremamente feliz, foi um dia muito especial para Raduan, que é fã de Chico, para Chico, que é fã de Raduan e para mim que sou fã dos dois.
Que lembrança boa, por isto gosto do blog, não pelos possíveis louros.

Aleluia!!!!

sábado, abril 16, 2005


Omar Sharif Posted by Hello

Dia difícil ontem, dor de cabeça constante, fui dormir com dor, acordei exausta. Para completar meus filhos adolescentes foram ao show do grupo de rock de Hermes e Renato, quem tem adolescentes deve saber do que estou falando, são uns irreverentes doidos que fazem muito sucesso na MTV, são bons na música. Debochados ao extremo, se fantasiam de roqueiros e se dão super bem. Eu só consegui dormir depois que chegaram, pouco antes das duas, estavam eufóricos, falaram com os caras, pediram autógrafos, acabam de acordar felizes da vida, fico feliz também.
Como a programação da tv aberta está um horror, fico zapeando na SKY, na TVE vi uma entrevista de Roberto d'Avila com Omar Sharif deliciosa, no Conexão Roberto d'Avila. Os mais jovens não devem saber de quem estou falando, é um ator egípcio famoso que levou milhares de mulheres aos prantos no filme Dr Jivago. Eu não sou fã dele, acho bonito e só, mas vendo ontem, vi o quanto é charmoso, irônico, inteligente e sedutor. Viveu pelo mundo afora, vivia em hotéis, jogou muito-parou de jogar há dois anos- e apesar dos 73 anos está um charme, aliás acredito que charme não se perde com a idade, talvez se ganhe, não é? Omar Sharif falou de Deus com inteligência e graça, acaba de interpretar São Pedro no cinema, brincou com a existência do céu e inferno, falou de política no oriente, de Nasser, da política sempre equivocada dos americanos...
Gostei quando disse com ironia que está escrito nos livros sagrados que os que foram felizes dificilmente chegarão ao reino dos céus. Lembra que os paises pobres estão ao sol, os ricos nos paises frios, que pelo menos nisto Deus foi generoso com os pobres. Pois é...
Domingo, amanhã, tem reprise, como é na TvE todos poderão ver se quiserem, às 20 horas, ótima opção.
Amanhã também tem Sue Johanson com o Artur Dapieve e Marcelo Madureira, às 21 hs no Sem Controle no GNT, eu não gosto do Marcelo, pega pesado, é grosseiro, como todos dizem, o humor fica no limiar da grosseria, ele passa do limite, acho desagradável, mas como estará ciceroniano a Sue, deve pegar leve.
Para quem está no Rio: vejam a exposição do Henfil no Centro Cultural do Banco do Brasil. Serão mais de trezentos originais entre livros, revistas e vídeos do artista que estarão expostos a partir de 18 de abril. Toda a obra de Henfil ainda é muito atual: sinal de que, no Brasil, a fome, o descaso dos políticos com a população, a violência e a corrupção ainda são temas que assombram os brasileiros. Vá conferir.

Bom sábado para vocês.

sexta-feira, abril 15, 2005

Eu, dois gaúchos, uma carioca e a galinha ruiva.


A galinha ruiva. Posted by Hello

Ontem, lá por meio dia um amigo gaúcho que mora aqui há uns 15 anos, perguntou se eu queria assistir uma palestra sobre educação em escolas cooperativas, meu filho Dan estuda na escola que os filhos deste um amigo estudam, eu o conheci ali.
Não entendo nada de cooperativas, apenas intuo que é o melhor caminho não só para a educação.
Chegamos cedo, ele ia para um Workshop, me deixou no salão de entrada do Hotel. Chega um homem e diz:”que friuu que está lá dentro”. Pergunto se é do sul, é, eu também sou gaúcha, nasci lá, etc e tal e engrenamos no papo. O homem é bom de papo, eu também, rapidinho encontramos afinidades, falamos de “Mar adentro”, blogs, amores virtuais, psicanálise, etc. Depois de um tempo de papo ele disse que era o palestrante, fiquei satisfeita, pois tinha receio que fosse uma palestra enfadonha, não seria, com certeza, o homem é articulado. Na apresentação, antes da palestra, a mestre de cerimônia- chic o nome, não é? disse que ele é doutor em sociologia por uma Universidade européia, juro que esqueci, não era França, acho que era Bélgica.
Ele esteve em Natal há 35 anos, não conhece mais a cidade e voltaria para o sul hoje às sete da manhã, é uma pena, uma pessoa vem daquele friuuu para este clima daqui, fantástico para uma prainha e nem pode pisar na areia- deve ter ido à noite, o hotel fica praticamente na praia.
Antes da palestra os rapazes do som colocaram um DVD no telão, adorei, era o musical do Oscar, com o Ray Charles do Jamie Foxx, Nora Jones e Steve Wonder cantando, mesmo que a palestra fosse mais ou menos já havia gostado de sair de casa.
A palestra foi boa, ele é professor e tem carisma. Começou contando a estória da “Galinha ruiva”, aquela que pede ajuda para cultivar o trigo e ninguém quer ajudar, mas na hora de comer o bolo todos vieram animados para comer, mas ela come sozinha, não divide. Ele diz que a galinha é uma safada, ordinária- termo do sul- e provoca a platéia para que discuta o porquê chama a galinha de ordinária e safada. A resposta dele é porque a galinha é incompetente, não faz nenhum movimento para entender a lógica dos outros, e também não quer dividir o seu conhecimento sobre o plantio do trigo, afinal ela fez tudo sozinha, sabia bem como funcionava, é incompetente e má. Ele falou até em Winnicott, Roger, além de Paulo freire, Freinet... Gostei da palestra, também acredito que a saída é a economia informal, cooperativas, redes de produção.
Quando a palestra acabou eu estava gelada, o salão era geladíssimo, houve o lanche- coffee break- antipatizo com estes termos em inglês, depois haveria outra palestra, mas não quis assistir, estava gelada, meu amigo gaúcho viria depois das 17:30h quando acabaria o curso dele. Durante o cafezinho encontrei com o palestrante trocamos umas palavrinhas e ele foi tomar seu café, me trouxe depois um chato de galocha que já tinha me abordado antes com um discurso anti Tv, que eu desconfiei fosse religioso, o gaúcho achou que seria bom eu conhecer alguém que trabalhasse com jovens. Depois eu vi o gaúcho conversando com outras pessoas animadamente, ele é muito simpático, lembra muito o meu amigo gaúcho que morreu recentemente, de quem falei nos primeiros posts do blog. Também conversei com uma carioca super gente fina, era a moça que apresentava os palestrantes, voz tipo Íris Lettiere- para quem não sabe quem é a Íris, é aquela voz dos aeroportos, foi uma jornalista famosa há anos. Ana, a moça que conheci, está aqui há anos, adora morar em Natal, eu também gosto, mas ainda não me enturmei aqui, talvez a culpa seja minha, ela me deu a dica dos programas culturais que acontecem na Casa da Ribeira, eu já fiz até campanha, via emails pelo não fechamento da Casa da Ribeira e, pasmem, nunca fui até lá.
As pessoas voltaram ao salão de conferências e eu fiquei no salão da entrada, fazendo hora para Orildo chegar, ainda faltavam uns 40 minutos. Na hora combinada comecei a ligar para o celular dele que estava na caixa postal- coisa desagradável esta tal de caixa postal, desligo na hora. O palestrante passou bem na hora que eu me olhava no espelhinho da bolsa, é o tipo de flagrante que nós, mulheres, detestamos, disse que descobriu que o chato era religioso, bingo, eu disse que o mar era quente que fosse até a praia, ele disse que faria isto, além de comprar artesanato, senão pensariam que não esteve aqui e sumiu.
Aqui eu me senti desconfortável, senti que havia falado mais do que deveria, que fui espontânea demais, o demais do Barthes bateu em mim, ainda mais a preocupação com o espelho... me senti ridícula.
Raduan quando me conheceu disse que eu tenho uma espontaneidade cativante, cativante para ele, mas para muitos homens é assustadora.
Orildo não chegava e eu ali, o gaúcho palestrante veio de novo na minha direção, mas entrou antes num corredor, ai eu pensei “o homem pensa que estou aqui cercando ele”, as pessoas da palestra saiam, pegavam seus carros e nada do Orildo. Como não tenho intimidade com ele, pensei que talvez tivesse me deixado lá, fui atrás de um funcionário do Hotel para chamar um táxi. Enquanto isto eu via de longe o gaúcho palestrante num vai e vem lá dentro do Hotel, eu estava neste momento do lado de fora, e já me sentia extremamente desconfortável.
Escrevo isto rindo, pois é tudo uma grande besteira, mas que me senti assim, me senti. Coisas de Laura. Ah! e eu estava me sentindo muito bem ontem, estava vestida como gosto, de preto, branco e vermelho, a calça comprida que não usava faz tempo, entrou folgada, havia feito um post que me satisfez, imaginem se estivesse num daqueles dias péssimos?
Estava no táxi há uns minutos quando o celular tocou, era Orildo, me chamou de apressada, e fomos nos encontrar na cafeteria do Praia Shopping para tomar uma café. Eu lhe contei da minha historia com o gaúcho palestrante, da carioca e da galinha ruiva. Rimos muito.


Bom dia!

quarta-feira, abril 13, 2005

Imprevisto.

Estava cheia de idéias para o blog hoje, mas fui obrigada a sair, problemas familiares.
Estou na casa de minha mãe, e para que os meus leitores queridos não fiquem desapontados, copio um poema de uma escritora nordestina, excelente poeta.
Zila Mamede nasceu na Paraiba em 1928, viveu em Natal onde morreu em 85, tinha como fã até Carlos Drummond.

Vejam que lindo poema:

Antecolheita.

Zila Mamede.

Ah te saber distante, embora a chuva
amareça em frutos a colheita
não tarde. Já meus dedos se presentam
como instrumento à terra matinal.

Ausentes os teus braços, a charrua
se nega à lida, caminhança e bois;
o cata- vento remudece as hastes
que calentavam cedo anoitecer.
Não sei que faça dos celeiros. Vem:
setembro amadurece nos folhados
deixando-se nascentes para o estilo.

Vem que me entrego o apascentar das ramas
e minhas mãos, de frágeis, agonizam
nessa visão de lavras, de eira e sol.

Boa tarde!
Namastê.

terça-feira, abril 12, 2005

“Dá-me uma de tuas mãos”...


Miró."Pelo que falta na lua em má fase..." Posted by Hello


“Cinco poemas despretensiosos”
ou
“Dá-me uma de tuas mãos”

I

Pelo que falta na lua em má fase;
pelo que falta na terra (aventuras de se fugir- astronave?)
e por temores meus de noites longas
nos momentos raros de conjunções,
juro que te quero- eu digo que te quero verde-
pois não importa o branco do teu rosto
e não me irrita mais a tua circunvida:
sei que na dor estou aqui, perenemente,
um silo, um barco, um rumo. Eu teu amigo.

II

Se te chamo Lian...me atendes?
O meu grito no escuro da mais sutil madrugada,
o primido em volutas de tormenta
de gosto de angústias...escutas?
E o sussurro de pazes, envolto
em ternura à toa,
carinhos na tua ausência ... entendes?
Assim, teu nome é Lian.

III

Um dia se ouvirão estórias.
Eu, velho de guerra, lembrando:
Lian, nome ou sonho?

IV

A distância me consome e desvanece.
Creio que o amor se perde no caminho
e o jornaleiro só lhe entrega restos
de uma soberba mensagem...

V

Fosse o meu ser- estradas!
Aberto em rosa- de – ventos
meu corpo te guiaria.
Mas estou quase mortifixo
nas minhas insubstâncias:
sou rampa de lançamentos.

Querida Lian: são versos; que te digam qualquer amor,
qualquer paz, que te não sejam consolo mas arrimo, que levem longe as dores e fique um saldo bom de otimismo. Sabemos esperar-é a nossa profissão, lembra-se? Meu benzinho, larga de banda essas tristezinhas- de- tostão, compre um dia claro e me diga se não vale a pena estar viva-júri de tanta beleza;
apesar da nossa Dor e o lugar comum do que lhe proponho e digo, amo-te o bastante para pedir: seja feliz.

José Geraldo Pimenta


É impossível não me emocionar e sentir falta deste amigo querido. Morreu em 70 e não sei quanto, e até hoje quando vejo um carteiro lembro dele, me escrevia quase todos os dias e as cartas eram belíssimas.
Deve ter me salvado, eu vivia “na fossa”, era tristeza pura e ele era meu cúmplice na dor. Quando leio hoje, me comovo, já chorei muito lendo Pimenta. Atualmente compro sempre um dia de sol, não deixo a tristeza me invadir, tristeza habitua, sabiam? É difícil nos livrarmos dela, é como um vício.


Bom dia! Um dia claro para vocês!

segunda-feira, abril 11, 2005

“Todo homem feio tem direito à mentira amorosa”.


Xico Sá. Posted by Hello

Há dias estou querendo trazer novamente o Xico Sá
para vocês, conheço pouco, mas o que li me fez fã dele, os primeiros textos que li acho que foi na revista MTV ou Trip, não sei- já disse que não confiem em ninguém com mais de 50 anos.
“Modos de Macho e Modinhas de Fêmea” é um livro de crônicas muito engraçado.
É escrito com humor e inteligência, copiei abaixo um trecho para vocês
Aí, ontem à noite fui ver a Gabi no GNT e me deparo com dois cronistas conhecidos sendo entrevistados: Joaquim Ferreira dos Santos e Tutty Vasques. Nunca havia visto o Tutty, nem em fotos, o Joaquim coloca a foto dele por ai, lembro dele na Revista de Domingo do Jornal do Brasil/ Rio. Agora escreve para "O Globo" assim como todos os jornalistas bons que eram do JB. Joaquim é muito feinho, narigudo, calvo. Tutty é um homem de 50 anos, grisalho, mas gracioso. Tem charme. Fez propaganda dele mesmo, disse, com ênfase, que está só- cara de pau, além de charmoso. Sorria de satisfação ao dizer isto, sabe que tem poder com as mulheres.
Meu filho passou pela TV e disse: “Este você deve achar bonito, tem um jeito do Chico Buarque e de Caetano”. Tive que concordar, ele geralmente implica terrivelmente com os homens que eu digo que são bonitos ou charmosos, adora dizer que são feios, gays, etc e tal, já virou graça, nem ligo.
Acordei de madrugada e havia sonhado com um outro charmoso, conhecido, que não é lindo, mas um charme, eu o vejo de vez em quando na GNT ou GNews, em entrevistas, tem um dentinho sobre o outro na arcada dentária inferior, que traz mais charme ao sorriso, talvez se o dentinho não viesse no pacote do charme do sorriso, ficasse feio, mas não, fica um charme. Caí na asneira de lhe dizer isto num daqueles meus rompantes de espontaneidade, ele respondeu com graça e espontaneidade também, me atrapalhei toda, não disse coisa com coisa e o homem não quer mais falar comigo. Ele confirma que recebe minhas poucas mensagens, mas fica em silêncio. Eu acho muito engraçado, agora, no inicio fiquei constrangida. Como eu, tão responsável, uma mulher madura, fiz tal besteira? Mas não fiz nada de mais, só disse que era um charme, tentei consertar quando ele respondeu que se surpreendeu com a minha transparência, mas ele não quer mais saber, deve ter medo, há muita gente doida por aí, e eu me comportei de forma esquisita. Fico com pena, ele escreve sobre mulheres, eu gosto do assunto, conheço muito as mulheres-e os homens também-afinal escutei atentamente homens e mulheres no meu divã durante mais de 25 anos, e os 50 anos de vida servem para alguma coisa. Acho que um dia ele vai perder o medo de falar comigo.
O engraçado é que através do blog eu conquistei algumas pessoas interessantes, mas fico querendo que algumas que considero especiais me leiam, é... queremos ser reconhecidos e amados por mais de dez pessoas.
Amos Óz em “Contra o fanatismo”, livro que todos deveríamos ler, diz que se tivermos sorte seremos amados por dez pessoas e dez nos amarão, certíssimo.
Acho que já ganhei a minha cota, fui amada e amei muito. Ou fui premiada e ganharei de brinde mais amores? Duvido.

Leiam o Xico Sá, vale a pena.

“Todo homem feio tem direito à mentira amorosa”.

“Só os feios têm direito a pulha, ao plágio, às elipses que escondem o jogo, ao macaqueamento sem culpa, à picaretagem-do-bem, aos manuais do blefe e às citações de ocasião. O bonito, creia, já nasceu uma mentira; o feio, um dia bonito lhe parece”.

Muito bom, não é?

Bom dia! Namastê.

domingo, abril 10, 2005

Conversando com vocês sobre a palestra.


Transparência, sempre! Posted by Hello

Conversando com vocês sobre a palestra.

Os comentários de Henrique, Mani e Lucia me fizeram voltar à palestra hoje.
Lucia, eu falo a mesma linguagem que uso aqui com você, é incrível, se você leu meu artigo sobre adolescentes aqui abaixo, viu que eu escrevo e falo com clareza, sou completamente natural ao falar, por isso detesto microfone, acredito que perderia a espontaneidade. Eu falo como escrevo, ou escrevo como falo, quero que me entendam, e não parecer inteligente ou dona do saber. Eu apenas falo mais de conceitos, quando falo na Universidade. Vou dar um exemplo, eu posso falar de Complexo de Édipo- do amor do filho pela mãe ou da filha pelo pai, e vice versa dos pais para com os filhos- no meio universitário, supõe-se que eles já tenham ouvido falar em Édipo, então eu me refiro ao Complexo de Édipo e digo o que é, nas palestras para o publico em geral, eu não me refiro ao conceito “Complexo de Édipo”, mas falo dele da mesma forma.
Quando digo que evitem fazer sexo na frente das crianças mesmo se acreditarem que estão dormindo, me refiro a “fantasia da cena primária”, conceito freudiano. Digo que as crianças que ouvem a relação acreditam que a mãe está sendo machucada pelo pai, isto pode trazer problemas sexuais mais tarde, a moça no futuro poderá ter dificuldades com orgasmo, medo de sexo, por exemplo. Além de despertar a sexualidade das crianças precocemente. Na universidade eu dou “nome aos bois”, em outro ambiente não dou.
Existem muitos, na minha área, principalmente, que falam difícil, usam uma linguagem tão difícil que até nós, temos dificuldade de entender. Outro dia eu estava com meu filho, que está no pré vestibular, e víamos uma entrevista, eu não conseguia entender, fiquei em silêncio para ver se captava, mas não deu, perguntei se estava entendendo e ele também não entendia, é demais! Se não consegue ser compreensível, fique calado. Acho que era aquele programa de entrevistas “Diálogos impertinentes”, impertinente era o tal sujeito. O programa geralmente é muito bom, fico sempre querendo mais.
Nas palestras a minha satisfação é enorme porque no final sempre dizem que eu esclareci muitas de suas dúvidas, e todas as vezes vem alguém falar em particular, tirar uma dúvida, ou apenas contar uma história, fico feliz por ter sentido confiança e desejo de falar mais.
E o homossexualismo? Já que falei ontem quero voltar para deixar bem claro o que penso. Eu não sou especialista neste tema, tive vários clientes homossexuais e para mim eles são gente como a gente, nunca questionei a sexualidade deles, os problemas eram os mesmos de todos nós, relacionamentos, abandonos, amores possíveis e impossíveis. Leiam o Jurandir Freire, ele coloca o conceito de homoerotismo, retoma, é um conceito antigo. Concordo com Jurandir, não sei porque alguém passa a ser homoerótico assim como não sei porque eu gosto de homens. Há estudos psicanalíticos sobre o tema, Jurandir não quis falar sobre isto, eu desconfio que tem a ver com a relação com a mãe, todos os homossexuais que conheci tinham uma mãe forte e um pai menos presente, talvez tenham tido dificuldade em se identificar com o pai, mas e daí? Prova ou muda alguma coisa? Não. Quantos de nós tivemos ou temos uma situação semelhante e somos heterossexuais, ou heteroeróticos? Seria narcisismo? amor imaginário? Não importa como foi que o sujeito passou a escolher um parceiro do mesmo sexo, eu penso como a Lucia, sexo tem a ver com intimidade, não importa aos outros. “O que se passa na cama é segredo de quem ama” disse nosso poeta mor.
Mas, penso também como Simão que é preciso que se fale de sexo, para que as pessoas se sintam mais confortáveis com o sexo. Pareço contraditória? Acho que não, é preciso esclarecer e não se imiscuir na intimidade dos outros.
Escolha sexual só diz respeito ao próprio sujeito, não há como questionar. Nas palestras eu digo que a gente tem que aceitar e respeitar a escolha sexual de nossos filhos, engolir sapos, se for necessário, mas respeitar. Homoerotismo não é pecado nem perversão, é uma escolha como o heteroerotismo também é, uma escolha muitas vezes involuntária, o sujeito não chega no mercado de sexo e escolhe, ele é levado a fazer esta escolha, independente da vontade dele. Tive um cliente que dizia sempre: ”se eu pudesse seria hetero, mas não posso, seria tudo tão mais fácil, teria mulher e filhos, não viveria só como vivo”. Isto não é pecado, nem neurose, nem perversão, é a vida. E a vida nos traz muitas surpresas, algumas nós gostamos, outras não, mas “c’est la vie”...
Prefiro conviver com homoeróticos, que tiveram a coragem de viver as suas escolhas, do que conviver com pessoas enrustidas, neuróticas, maldosas...
Precisamos de um mundo mais tolerante, menos hipócrita. Precisamos estar atentos às garras da intolerância sorrateira-vide Estados Unidos da América-onde cresce o preconceito.
Quanto à prostituição, acredito que uma pessoa adulta pode escolher ser prostituta, esta é uma escolha voluntária, mas quando uma criança é levada à prostituição, isto sim, é crime. Crime que conta muitas vezes com a conivência dos pais. Terrível, uma mãe que leva a filha de oito anos a se prostituir, como vemos por aí, muitas vezes, merece cadeia!

Digam o que pensam sobre o que escrevi.
Corrijam meus erros de português, please.

Bom domingo!
Namastê.

sábado, abril 09, 2005

Conversando com pais em Porto do Mangue.


O mangue vive. Posted by Hello

Depois de mais de três horas de viagem, numa reta interminável, chegamos a Porto do Mangue. É um lugar pequeno, 4000 habitantes, a Empresa Camanor oferece uma média de 300 empregos, há outra empresa de cultura de camarão atuando ali também.
Deixamos a bagagem na pousada- simples, mas limpinha- o que vocês sabem que é fundamental para mim- fomos ao salão onde seria a palestra. Fica na praça principal. A cidade tem uma praça com uma igreja católica e três evangélicas em volta-pode? A população é 90 % evangélica, isto é assunto interessante para outro post, o porquê do crescimento de evangélicos nestes lugares tão carentes. Quando cheguei no salão achei muito engraçado, estava arrumado como se fosse para um culto evangélico, as cadeira de madeira de um lado, as de ferro dobrável do outro, tudo muito certinho, vocês já sabem que eu sou um tanto obsessiva, mas nas palestras eu gosto das pessoas perto de mim, não gosto de microfone- tive que convencê-los que não havia necessidade do microfone, e nem -pasmem- de um auto falante na porta para que a cidade inteira ouvisse a palestra. Conversei com jeitinho com as moças que estavam arrumando o salão, expliquei que fica melhor quando fazemos um círculo. Fizemos o círculo, e à medida que chegavam eu ia perguntando quantos filhos tinham, quais eram as dificuldades maiores com eles, etc e tal.
Quando o salão estava praticamente cheio comecei a falar, sempre começo fazendo com que pensem na adolescência deles, falo da adolescência, mais ou menos como o artigo que postei estes dias, depois vou falando de problemas que temos com os adolescentes e filhos em geral. Começo com a mudança de comportamento do nosso filho, muitas vezes um dócil menino se transforma num jovem rebelde e difícil. Vou escrever sobre estes itens aos poucos aqui. Vou desde a mudança do corpo, do comportamento, passando pelas reivindicações dos jovens, pela sexualidade, violência, tenho um roteiro, mas vou mudando de acordo com o que for surgindo durante a palestra.
Aqui no nordeste há muita prostituição, vocês já sabem, mas o que me surpreende é que um lugar daquele tamanho - só tem um posto de saúde, não tem nem hospital, muitos pescadores que vivem da pesca, tenha tantas meninas se prostituindo. Talvez eu tenha uma idéia romântica das aldeias de pescadores.
Algumas mães me pediram orientação quanto ao comportamento de suas filhas meninas, que querem andar, aos 9, 12, 14 anos como mulheres sensuais. As roupas são as mesmas de qualquer centro urbano, calças com nesgas, rasgões para evidenciar melhor o corpo, cintura baixa, mini blusas... uma das mães queixou-se que a filha rasgou a calça, para que a bunda aparecesse, deve ser aquele trechinho do final da coxa e inicio da bunda, imagino, a mocinha tem 14 anos. Outra mãe disse que não sabe o que fazer com a filha de 9 anos, que é grande e bonita, trouxe a menina para eu conhecer, uma bela menina, mesmo, mas não tão grande, ainda uma menina. Talvez a mãe a veja mulher...
Há também vários travestis no lugar, fiquei surpresa, há um salão de cabeleireiros com 4 travestis, a pessoa que nos serviu o café da manhã na pousada era um travesti, também, a barba, mais que corpo, o deniunciava. Uma das funcionárias disse que há bastante homossexualismo, mas visto com preconceito.
Há uma erotização precoce nas meninas, principalmente.
O divertimento nos fins de semana fica por conta de uma Discoteca, custa 1 real a entrada, sem restrição de idade, até 2 hs da manhã. Difícil para as mães- havia apenas três homens na platéia- segurar os filhos. Juiz de menores? cadê?
Há bastante tolerância em relação à prostituição, afinal traz alguns ganhos materiais para a família. Falo sobre a prostituição fazendo com que pensem à respeito, será que são ambivalentes em relação a isto? Tento mostrar que este caminho, algumas vezes parece mais fácil, mas que leva muitas vezes à droga, álcool, violência, etc e tal. Cito o mercado de mulheres. Ali não há turistas, apenas os homens que vêm de fora a trabalho, os funcionários das empresas.
Abordo o álcool com ênfase, mais do que outras drogas, há muito alcoolismo em todos os lugares e a sociedade estimula o uso do álcool. Vocês já viram festinha sem álcool?
Foi muito bom estar lá falando para aquelas pessoas simples e extremamente interessadas. Espero ter deixado sementinhas, para mim isto basta.

Bom dia!
Namastê.

quinta-feira, abril 07, 2005

Conversando sobre adolescentes.

Hoje vou a Porto do Mangue, aqui no litoral do Rio Grande do Norte, lá no norte, mesmo, fica a mais de 200 km. Fui convidada para fazer palestras pela empresa Camanor, de um suiço, que possui três fazendas de camarão aqui no RN. O motorista da empresa me leva, o que é um conforto.
Fico ansiosa com viagens, qualquer viagem.
Falarei de adolescentes e filhos em geral. Deixo aqui hoje uma amostra do que eu falo, falo muito, de todos os problemas possíveis vividos por adolescentes, surgem da platéia alguns temas, é muito estimulante. Amanhã volto, quando chegar conto como foi.
Bom dia! Namastê.


Adolescência. O que é a adolescência?


Vamos tentar lembrar como foi a adolescência de cada um, fica mais fácil lidar com nossos filhos se nós nos lembrarmos como foi a nossa vida na adolescência. É difícil esquecer uma época com tantas mudanças.Você foi um adolescente com dificuldades com seus pais? Como eram seus pais? Você acha que eles foram bons pais? Eles eram muito duros com você ? Eram amorosos? Você conseguia conversar com eles as suas dificuldades, falar de seus desejos? Reclamar do que achava injusto?

Vamos imaginar que seu filho está pensando nestas questões neste momento da vida dele e que vocês também estão se perguntando se têm sido bons pais (bom pai, boa mãe).

Quando nossos filhos são ainda crianças eles nos amam sem questionar nada, acreditam em tudo que dizemos, temos autoridade diante deles. Mas o que acontece lá pelos 10/11 anos quando começam a entrar na adolescência?

Os pais não são mais maravilhosos, os filhos ficam “do contra”, implicam com a mãe, com o pai, com os outros irmãos ...Se você diz algo que não concorda ficam com muita raiva , explodem às vezes de raiva e nós ficamos surpresos e assustados com aquele filho que até pouco tempo não dava trabalho nenhum, era tão amoroso... Por que esta mudança tão radical?

Vamos entender o que acontece com um adolescente:

1. O que é ser adolescente?

O adolescente é aquela pessoa que não é mais criança, mas também não é ainda adulto, está dividido entre estes dois mundos: o mundo da criança e o mundo dos adultos. O mundo da criança era seguro, os pais cuidavam dele, não exigiam muito além daquilo que se espera de uma criança: que seja obediente, vá bem na escola, durma na hora certa...cada família tem seu jeito de criar as crianças e elas não questionam. O adolescente em alguns momentos é tratado como adulto, em outros como criança pelos pais, p ara algumas coisas já tem idade, para outras ainda não têm idade. Os pais ficam confusos e o adolescente também. No mundo dos adultos é preciso ter responsabilidades, compromissos, seriedade, e o adolescente está neste meio termo, precisa ser mais responsável mas muitas vezes ainda não está maduro para assumir compromissos. Alguns jovens passam da infância para o mundo adulto sem serem adolescentes, isto acontece quando são obrigados a assumir responsabilidades muito cedo, quando precisam trabalhar, quando casam muito cedo.

As crianças entram na adolescência geralmente depois dos 10/11 anos, fase que chamaos de puberdade, as meninas antes dos meninos.

O que faz com que uma criança deixe de ser criança para ser adolescente?

As mudanças em seu corpo, em seu pensamento. Todos vemos como o corpo dos adolescentes se modifica rapidamente, mas o por que esta mudança tão grande? Aparecem pelos onde não havia, as meninas têm a primeira menstruação, crescem seios, o sexo se modifica, ficam bem mais altos. Tudo isto vem dos hormônios sexuais que o corpo passa a fabricar. Estes hormônios deixam os jovens preparados para serem pais ou mães. Nos meninos os testículos aumentam e fabricam os espermatozóides e nas meninas os ovários guardam os óvulos. Quando se une o óvulo com o espermatozóide temos um futuro bebê. A partir da adolescência os jovens estão prontos fisicamente para serem pais.

Estas mudanças, às vezes, são tão grandes e tão rápidas que. os pais estranham o próprio filho e então começam os problemas.

Não é possível ditar regras de como lidar com os adolescentes, mas é possível mostrar para vocês que vocês mesmos são capazes de lidar com seu filho adolescente mesmo numa situação difícil. Toda dificuldade deve ser superada.

O adolescente sofre lutos: pelo corpo infantil, pelos pais infantis, pelo mundo infantil, onde os jogos, as brincadeiras tinham um espaço maior. Ele não sabe como ficará o seu corpo,até onde irá crescer, precisa deixar seus bonecos para aprender a se relacionar com um/a namorada. Há uma enorme exigência quanto ao físico, os estudos, o trabalho. Até o pensamento do adolescente muda, passará a questionar tudo e todos. Entrará no mundo da subjetividade.

Lembre-se sempre que seu filho está precisando se afirmar como gente, deixar de ser criança , ser diferente dos pais , por isso ele é assim tão difícil, ele sofre mais do que vocês , com certeza .

segunda-feira, abril 04, 2005

Falando de sexo com Sue e Gabi ll.

Vocês sabem que ando tateando ainda aqui na blogosfera, estranho o nome, é tudo novo ainda.
Ontem comentei a entrevista que Gabi fez com a Sue, pensei que fossem chover comentários, mas me enganei, foram poucos, como gostaria muito de escrever sobre sexualidade, de forma regular, vou insistir, hoje vou apenas deixar este comentário. Tenho certeza que sexualidade interessa a todos, exceto algum velhinho/a que não queira nem lembrar que sexo existe, que não era o caso do nosso querido Drummond. (não esqueci que estão à espera de mais historinhas dele, brevemente postarei, já escrevi).
Se não quiser comentar aqui, escreva para mim.
Nemo nox diz que há leitores para todo tipo de blog, é uma questão de tempo, como eu sou uma quase velhinha, (estou exagerando, viu?), que odora falar de sexo, vou insistir neste assunto, tenho mais questões para colocar em discussão. Além do mais a Sue disse que por ser mais velha as pessoas sentem-se melhor falando com ela, não haveria o perigo de se sentirem seduzidos, isto colocarei em discussão outro dia, sexualidade e idade. Tchan, tchan, tchan, tchan...
Quem não leu o que postei ontem, please, leia.
Bom dia!




Sue e Gabi. Posted by Hello


Ontem vi a entrevista de Marília Gabriela com a Sue Johanson, e gostaria de colocar alguns pontos aqui para discutirmos.
Sexo é sempre assunto que dá pano pra manga, então vamos lá:
Sue afirma que é importante que fantasiemos ao fazer sexo, que é a coisa mais natural e deve ser estimulada.

Esta questão não é simples. Quando Sue Johanson esteve no Brasil na entrevista a Marilia Gabriela ela afirma que é importante que fantasiemos ao fazer sexo, que é a coisa mais natural e deve ser estimulada.
Este é um ponto delicado e talvez não seja fácil escrever a respeito e ser entendida.
Acredito que a fantasia faz parte da nossa vida sexual, nosso imaginário é repleto de fantasias, conscientes ou não. Vem de nossas memórias mais arcaicas. Na cama somos muitos, além do casal, as figuras parentais estariam ali presentes, numa verdadeira suruba imaginária. OK. Tudo no mundo imaginário.
Sue falava de fantasias com Richard Gere, por exemplo, ela o citou como uma boa fantasia sexual que ela usou muitas vezes. Será este o caminho?
Aqui eu discordo, no encontro de um casal, seja homoerótico ou hetero, eu acredito que é um encontro acima de tudo sensorial. É preciso olhar, cheirar, tocar, beijar o outro, aquele que está ali, não o outro que está na imaginação, é preciso sentir prazer em ser tocada, beijada por esta pessoa, gostar de tocá-la, beijá-la...sentir prazer, desejar que o outro tenha prazer, e nesta entrega, encontrar o caminho do gozo.
Acho esta colocação de Sue sobre fantasiar equivocada, você deve descobrir em você o que te dá prazer, evitar o que te dá desprazer, e sentir, sentir o toque na pele, sentir a sua mão tocando o outro, o caminho é este. Muitos de nós não sabem tocar no outro, e se entregam ao sexo apressadamente. Mas, se acontecer de alguma fantasia te perseguir, tudo bem, mas que não vire um exercício constante, seria um buraco sem fundo.
Um casal que fantasia com o casal vizinho, por exemplo, este pode ser um jogo amoroso deles, mas se um dia vierem a realizar a fantasia numa relação, será que se sentirá bem quando encontrá-los no elevador no dia seguinte? ai está a complicação, fantasiar é uma coisa, levar às vias de fato é outra bem diferente. Mas se este casal só consegue fazer "amor", sexo, imaginando outras figuras entre eles, não sei se não seria a hora de repensar esta relação, as relações não duram para sempre, sabemos disso.
Há outro tipo de fantasia que é de jogos eróticos entre o casal, fetiches de todo tipo, se não há impedimento de uma das partes, acredito que cada casal deve decidir, um jogo entre quatro paredes que não lesa ninguém, entra quem quer, não é?

Há um livro “O orgasmo múltiplo do homem” da Ed. Objetiva, é muito bom, ele traz este assunto até esgotar, é escrito por médicos e um excelente manual sobre o sexo, ele fala de orgasmos múltiplos, você não precisa ler em busca de sexo tântrico, apenas como um bom livro sobre sexo.
Tenho certeza que se você se concentrar no sexo, no que está sentindo, vai encontrar prazer.
Eu não vou esgotar estas questões aqui, mas quero deixar este canal aberto para que possamos trocar idéias.

domingo, abril 03, 2005

Só passei aqui para lembrá-los que hoje na GNT às 22 hs no programa "Marilia Gabriela Entrevista" a Sue Johanson será entrevistada. O programa da Sue :"Falando de sexo com Sue Johanson" é apresentado pela GNT às 23:45h.
Quem não a conhece, procure conhecer, a não ser que você não goste de sexo, aí, desligue a TV porque ela fala de sexo, dá orientação sexual, como se ensinasse a fazer pão, com a maior naturalidade do mundo. Aí, vocês pensam, e daí? sexo não é natural? é, mas vocês precisam escutar as perguntas que ela ouve na maior fleuma. Eu vi vários programas com muita atenção na expressão dela, e é um barato, ela não é preconceituosa, fala com todos de tudo na maior naturalidade, mesmo. Tem uns bonequinhos, um homem e uma mulher, que usa para mostrar as posições possíveis-outro dia uma mulher queria saber como poderia transar com dois homens ao mesmo tempo, só que ela queria os dois penetrados em sua vagina ao mesmo tempo. Parece complicado, não é? Pois a Sue, arranjou uma posição possível. Sempre procura saber se há desejo, ou se é uma concessão para satisfazer o/a parceira/o. Fazem perguntas estranhas, às vezes penso que talvez sejam para incrementar o programa, mas quem sabe? “de perto ninguém é normal”, já disse o mano Caetano e o Freud há muito tempo...
A maioria das perguntas que ouvi, são sobre sexo anal, sexo entre gays, sexo oral, dúvidas sobre cheiros estranhos, fluídos, fantasias sexuais, virgindade, quando transar, etc e tal.
Vejam que ela é muito interessante, eu quero ficar uma velhinha assim. Ah! Ela também tem a sessão dos “sex toys” mostra muita coisa engraçada, aí ela faz graça, liga os apetrechos, solta na mesa, é hilário. Ela tem uma equipe que experimenta os brinquedinhos eróticos e dão notas de 1 à 5.
Sue faz uma campanha pelo sexo seguro, toda vez que tem oportunidade diz que o sexo bom é o sexo seguro.
Vida longa para a Sue!

sábado, abril 02, 2005

Como era charmoso o meu francês- revisado por mim



Jean e Vânia



Outro dia disse aqui que não tinha certeza se alguma vez desejei realmente viver com alguém, por isso lembrei de Jean Guillaume- o francês que mudou a minha vida.

Jean escolheu Cabo Frio para viver a partir de 1961, eu o conheci no final da década de 60, “morava” com Vânia Penafiel, uma mulher requintadíssima, parecia uma boneca de porcelana. Vânia tinha três filhos, e eu era amiga de Consuelo, que era mais ou menos de minha idade. Nos reuníamos na casa dele antes de sairmos para a noite, que obrigatoriamente seria numa boate chamada “Monjolo”, ponto de encontro de todos.

Cabo Frio era um lindo balneário, sofisticado, havia acabado de ser descoberto por intelectuais, artistas do Rio de Janeiro.

Havia um hotel apenas, o "Colonial", portanto só os que possuíam casa de praia freqüentavam, e os amigos desta tribo chic e bonita. Como havia gente bonita!

Voltando ao Jean, eu ia para sua casa lá por onze da noite. Estavam sempre acabando de jantar, Jean, educado e sedutor, me oferecia um licor ou um sequinho, whisky sem gelo, que eu aceitava com prazer.

Havia sempre convidados, poderia ser Aluisio Magalhães, artista conhecido que desenhou algumas de nossas cédulas, Tânia Sherr, atriz, Ionita Salles- ex Guinle, Sérgio Braga, César Thedin, Werneck, Paraíso, um arquiteto muito simpático etc. Muita gente famosa. Ali era uma espécie de 'consulado', sempre com estrangeiros, falavam francês. Eu me deliciava. Aluísio estava sempre por lá e cantava uma música que jamais esqueci, mas não saberia repetir, dizia: “A letra A quer dizer amor ardente... a letra B, beijo...” não sei mais, perguntei para um conhecido de Recife, mas não conhecia, é do folclore nordestino.

Eu, desde o dia em que vi Jean pela primeira vez, fiquei encantada, ele era da idade de meu pai- posso dizer que foi meu amor edípico- e foi o homem mais encantador e charmoso que jamais conheci. Acho que nem Chico Buarque ganha, com sotaque francês ainda por cima!... Era um misto de Gary Cooper e Humphrey Bogard, pode? Pode. Era lindo como um Gary Cooper, olhos azuis, um metro e oitenta, por aí, e tinha um cinismo e um charme como o de Humphrey Bogard.
Irresistível. Mas ele não prestava atenção em moçoilas e eu naquela época era muito tímida, não conseguia aparecer, ficava quieta, não dizia nada, só ouvia- sempre gostei de observar-  daí a psicanálise como escolha profissional e que eu gosto tanto.

Jean tinha três casas. Comprou o terreno até a rua de trás. A da frente, com entrada numa rua, havia o quarto das crianças - Ricardo, Consuelo, Cláudia- e outro de casal- o quarto de Vânia; no centro do terreno, o atelier, onde dormia e recebia os amigos. Na porta de entrada havia uma placa pendurada onde dizia: “não perturbe”. Abria a porta depois das cinco- “open house”. Ali havia um jardim coberto por conchas com um barco,- você poderia sonhar estar na praia-, e uma sala deliciosa envidraçada no atelier...
Eu o visitava quase todos os dias, ligava na hora que eu acordava- lá por onze da manhã, imaginem- e perguntava se ele estaria em casa mais tarde, "Oui, mon amour", ouvia do outro lado da linha.

Depois da praia, no final do dia, eu ia para lá- morávamos muito perto. Eu o observava pintar, não abria a boca, só ouvia, ele falava pouco, mas contava suas aventuras. Muito jovem fugiu de casa, fez o pai assinar um papel sem saber que o autorizava viajar. Foi para a África como marinheiro, pintava o navio, começou a pintar aquarelas para ganhar um dinheirinho a mais, também. Esteve na guerra na Indochina, fugiu de campos de refugiados, viveu na Côte d’Azur, foi amigo de pintores famosos, amou muitas mulheres- dizia que as chinesas são as melhores amantes do mundo.

Vocês acham que eu ia abrir a boca e falar dos meus problemas, que aquela altura eram "gigantescos"- eu vivia deprimida-  para um homem que eu achava o máximo e que havia vivido tudo aquilo e me contava sorrindo? Meus problemas viravam 'umbigo puro'.

Depois de minha mudança para o Rio, eu o via nos fins de semana, todas as vezes que ia à Cabo Frio, bebia “pastisse” preparado pela fiel escudeira dele, a Anúsia.

Minha vida havia mudado muito, muitas coisas aconteciam, mas eu não contava ao Jean. Tinha amores e desamores, mas só falava da faculdade, livros, mas pouco. Nesta época eu já havia começado a desenhar, mas demorei muitos anos para tomar coragem e mostrar para ele. Um dia estavam Jean e Carlos Scliar juntos e mostrei os desenhos, eu, muito envergonhada. Eles disseram em coro que eu era a Jean Cocteau brasileira. Imagine...
Eu já havia ouvido falar em Cocteau, minha mãe falava, mas não conhecia nada dele, sabia que era um intelectual, associava a Marais, cinema e mais nada. Quando vi, bem mais tarde um desenho dele, me assustei, é muito semelhante ao meu, traço contínuo, figuras de perfil... Scliar disse que eu poderia fazer ilustrações, fiz uma vez, apenas, para uma revista de psicanálise, uma caricatura de um psicanalista argentino, acho, esqueci o nome. A revista sumiu- estava na estante do consultório.

Eu penso que a vida me deu oportunidades e eu perdi por preguiça, timidez ou melancolia, sei lá. Nunca fui atrás de nada. Por isso digo que a gente deveria ter outra chance, como disse o Vittorio Gassman, viver primeiro com ensaio, como acontece no teatro, depois para valer.




Sabem qual é o meu cheiro preferido? De atelier. Adoro cheiro de tinta óleo, acrílico, qualquer cheiro que lembre aquele francês especial.
Depois dos trinta, Jean me descobriu. Dizia que eu era o “caso impossível” dele, nós nos amamos, mas nunca houve nada além de beijos rápidos na despedida, eu adorava quando ele me pegava forte e me puxava contra o corpo dele e me beijava, adorava aquele toque nos meus lábios. No atelier, antes, ficávamos "namorando", nos tocávamos muito, mas nada erótico em excesso, ele estava com mais de sessenta, chegando nos setenta, e eu sempre tinha uma outra “paixão”. Ele estava com muitos problemas de saúde, não gostava de falar sobre isto, sorria apenas, continuou bebendo whisky puro até o fim, e fumando. Dizia que dos prazeres estes eram os únicos restantes.

Ele era um artista completo, tudo transformava em arte, gostava mais dos quadros surrealistas e os guardava num quarto separado e só os 'escolhidos' tinham acesso. O atelier também só era frequentado pelos escolhidos. Era numa sala, da casa de trás que recebia a todos, muitos mineiros- Cabo Frio foi invadida por mineiros. Nas paredes havia uma quantidade de pequenos quadros, ele dizia brincando que era Anúsia quem os pintara, fazia para sobreviver, vendia facilmente, eram baratos.
Numa das paredes, havia um buraco para o "Nobody" passar, era um vira lata muito simpático, que circulava com liberdade.

Mas por que lembrei de Jean? Porque dizia, e eu acredito, que se você quer viver uma paixão, conservar um amor, não more junto. Ele sempre manteve duas casas. Vânia chegou de surpresa com os três filhos e passou a viver em Cabo Frio com ele- eram namorados no Rio, onde moraram.

Jean morreu em 1985, depois da morte dele passei a não querer mais voltar à Cabo Frio, não havia mais razão para ir, a cidade perdeu completamente o charme com a morte de Jean, nunca será mais a mesma.

PS: Conheci, há algum tempo, outro homem charmoso como Jean, Olivier Anquier, não por acaso francês. Mas, este, só conheço de longe :)
Ontem uma amiga me disse que eu vivi lá em outra encarnação, deve ser. Se existe...

sexta-feira, abril 01, 2005


Amor intocável Posted by Hello

Hoje eu ia contar uma historinha do Drummond, mas como eu disse aqui desde o inicio, vou postar sempre um poema do meu poeta, aquele que escreveu para mim, o meu querido amigo Pimenta.Está na hora de mostrar mais um poema dele.
Pim morreu muito cedo, tinha vinte e poucos anos, parece que de Doença de Chagas depois de uma temporada em Recife- com estas novas noticias sobre a Doença, em sucos, fico a pensar que deve ter sido algo assim. Morreu vinte dias depois de ter chegado de Recife, isto na década de 70.

Mas vamos ao poema.
Não tem titulo, é numerado.

1

Você tem voz de menina assustada
e palavras de mulher moderna;
eu não sou adaptável,
nota-se bem- eis a minha confusão
(exposta como o corpo nu)
e seus corolários de medo.
Você tem um macio sorriso
e fossas homéricos –dantescas;
eu não vou ficar na frente
da locomotiva e mil vagões,
porque o amor não espera
até morrer covardemente:
ele sai por aí, fantasiado,
“palhaço das perdidas ilusões”.

2

Quando me vir na rua
No meio da multidão
Diga ao próximo passante
Lá vai o meu amigo
Que me ama diletamente
Na enxurrada de vida
Mas não se esquece de mim
Lá vai com sua poesia
Quase –menino ainda
Tenho tanto dentro dele
Que nem me importa esse medo
Que nem me importa...

3

Many ways to love.
Você deve saber. De muitos modos próprios.
(Os homens barbudos bocejam no mar).
Algum amor nos dói: desatinos,
a incrível mania de complicar tudo,
e certas franquezas intimas -etc.
Mas há também dos bons; eu sei.
Você não sabe.
Quero dizer que não sabe. Não viu nada.
Ficou parada no quarto fechado,
nas noites insones e dias dormidos?
Não, ano pode saber. Amor tem manhãs...
Tem “te-encontro-cedo-logo-amorzinho”.
Alguém te disse amorzinho? Ah- ah, taí;
Tenho guardada comigo certa palavra doce
no canto de toda minha confusão,
no limpo de minhas vergonhas e rubores,
para um dia –manhãzinha em que acorde,
e eu lhe diga mansamente:
querida, oi.

Jose Geraldo Pimenta -o meu poeta jamais esquecido. Não é um lindo poema e linda declaraçào de amor?
Pimenta me leva às lagrimas, éramos confidentes, trocávamos cartas. Ele vivia em Niterói, fazia engenharia, eu vivia em Ipanema, fazia psicologia na PUC. Nesta época nos víamos pouco, era muito longe, ele era muito duro, vivia numa pensão - um dia posto as cartas dele falando da pensão, do confinamento, dos delírios de amor. Havíamos convivido durante alguns anos na escola, ele fez comigo o científico. Eu era a única mulher na sala de aula, estudávamos à noite. Isto em Cabo Frio, Pimenta era de lá, era considerado o Gênio pelos professores e conhecidos, era precoce, só tirava dez, estudávamos Integral, Derivadas... não esqueço, comendo pipocas. Eram cadernos e mais cadernos de exercícios, eu gostava, aliás, gosto de matemática até hoje, quando estudo com meu filho mais novo parece que estou jogando.
Pimenta era timido, muito, nunca se declarou pessoalmente. Quando estava em Recife, me ligou e disse que a distância era tanta que ousava dizer que me amava. Eu, como sempre, disse que eu era uma fantasia dele, que criara esta Lian para ser sua musa, etc e tal, disse que não, que eu existia e ele me amava. Prometi que conversaríamos pessoalmente assim que chegasse, nunca mais nos vimos, ele morreu. Felizmente eu como sempre fui delicada, jamais fui grosseira com alguém que me amasse, real ou imaginariamente. Amor é afeto precioso, nunca deve ser descartado.
Eu cliniquei muitos anos em psicanálise e conheci muitas pessoas incapazes de se apaixonar, para mim estar apaixonada era vital, eu só vivia assim, mas conheci pessoas secas, áridas, algumas despertaram com a análise, outras não, mantiveram-se sempre alerta. Não é fácil atender pessoas extremamente defendidas. O Pimenta, no poema fala do meu medo de amar, mas não era assim, eu me atirava cegamente, nesta época, 70, era apaixonada por um lindo portuguezinho, namoramos quase 4 anos, mas é história para outro post, eu não amava o Pimenta como ele me amava, apenas como o meu querido amigo poeta.



Bom dia!
Namastê.