quinta-feira, abril 21, 2005
Drummond, Nava e eu
Drummond e eu, marcávamos encontro sempre na esquina das ruas Vinicius de Moraes com rua Nascimento Silva, onde eu morava. Ele vinha da casa da namorada que ficava na rua Barão de Jaguaribe, eu estava num dos meus intervalos do consultório, nunca gostei de trabalhar direto, saía para dar uma volta, tomar um café, ir à uma livraria, encontrar um amigo para um encontro rápido.
Neste dia eu estava levando um cartão desenhado por mim, um flor estilizada, era um cartão especial. Não lembro o que escrevi, mas era um bonito e curto texto sobre amizade e perda. Pedro Nava, amigo de Drummond de uma vida inteira havia se matado naqueles dias. Havia um grupo de intelectuais que se reunia aos sábados na casa de Plínio Doyle, nos chamados sabadoyles- Nava e Drummond se encontravam lá, Hélio Pellegrino, Fernando Sabino. Por que eu não pedi para ir um sábado? Vivia nas nuvens naquela época, enamorada.
A morte de Nava foi um choque para todos os amigos e nós que o acompanhávamos de longe por sabê-lo amigo de tantos daquela geração. Estava com 80 anos, sofreu dura chantagem, não suportou e deu um tiro na cabeça. Drummond não se conformava, até aquele momento não se sabia o que havia provocado o gesto desesperado, depois soube-se que havia algo a ver com homossexualismo.
Imaginem como Drummond devia estar se sentindo? Péssimo. Acredito que estes gestos devem nos deixar completamente impotentes e amargurados: Como não percebi? Por que não me confiou? Por que o nossa amizade não bastou?
Ele gostou muito do meu cartão e a partir daquele dia, um dia de maio de 84, nos aproximamos mais. A dor da morte de Pedro Nava fez com que o poeta me quisesse mais perto.
Outro dia conto mais, hoje é feriado.
Bom dia, curta o seu dia livre, vá passear ao ar livre. Divirta-se!
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