sábado, abril 09, 2005
Conversando com pais em Porto do Mangue.
O mangue vive.
Depois de mais de três horas de viagem, numa reta interminável, chegamos a Porto do Mangue. É um lugar pequeno, 4000 habitantes, a Empresa Camanor oferece uma média de 300 empregos, há outra empresa de cultura de camarão atuando ali também.
Deixamos a bagagem na pousada- simples, mas limpinha- o que vocês sabem que é fundamental para mim- fomos ao salão onde seria a palestra. Fica na praça principal. A cidade tem uma praça com uma igreja católica e três evangélicas em volta-pode? A população é 90 % evangélica, isto é assunto interessante para outro post, o porquê do crescimento de evangélicos nestes lugares tão carentes. Quando cheguei no salão achei muito engraçado, estava arrumado como se fosse para um culto evangélico, as cadeira de madeira de um lado, as de ferro dobrável do outro, tudo muito certinho, vocês já sabem que eu sou um tanto obsessiva, mas nas palestras eu gosto das pessoas perto de mim, não gosto de microfone- tive que convencê-los que não havia necessidade do microfone, e nem -pasmem- de um auto falante na porta para que a cidade inteira ouvisse a palestra. Conversei com jeitinho com as moças que estavam arrumando o salão, expliquei que fica melhor quando fazemos um círculo. Fizemos o círculo, e à medida que chegavam eu ia perguntando quantos filhos tinham, quais eram as dificuldades maiores com eles, etc e tal.
Quando o salão estava praticamente cheio comecei a falar, sempre começo fazendo com que pensem na adolescência deles, falo da adolescência, mais ou menos como o artigo que postei estes dias, depois vou falando de problemas que temos com os adolescentes e filhos em geral. Começo com a mudança de comportamento do nosso filho, muitas vezes um dócil menino se transforma num jovem rebelde e difícil. Vou escrever sobre estes itens aos poucos aqui. Vou desde a mudança do corpo, do comportamento, passando pelas reivindicações dos jovens, pela sexualidade, violência, tenho um roteiro, mas vou mudando de acordo com o que for surgindo durante a palestra.
Aqui no nordeste há muita prostituição, vocês já sabem, mas o que me surpreende é que um lugar daquele tamanho - só tem um posto de saúde, não tem nem hospital, muitos pescadores que vivem da pesca, tenha tantas meninas se prostituindo. Talvez eu tenha uma idéia romântica das aldeias de pescadores.
Algumas mães me pediram orientação quanto ao comportamento de suas filhas meninas, que querem andar, aos 9, 12, 14 anos como mulheres sensuais. As roupas são as mesmas de qualquer centro urbano, calças com nesgas, rasgões para evidenciar melhor o corpo, cintura baixa, mini blusas... uma das mães queixou-se que a filha rasgou a calça, para que a bunda aparecesse, deve ser aquele trechinho do final da coxa e inicio da bunda, imagino, a mocinha tem 14 anos. Outra mãe disse que não sabe o que fazer com a filha de 9 anos, que é grande e bonita, trouxe a menina para eu conhecer, uma bela menina, mesmo, mas não tão grande, ainda uma menina. Talvez a mãe a veja mulher...
Há também vários travestis no lugar, fiquei surpresa, há um salão de cabeleireiros com 4 travestis, a pessoa que nos serviu o café da manhã na pousada era um travesti, também, a barba, mais que corpo, o deniunciava. Uma das funcionárias disse que há bastante homossexualismo, mas visto com preconceito.
Há uma erotização precoce nas meninas, principalmente.
O divertimento nos fins de semana fica por conta de uma Discoteca, custa 1 real a entrada, sem restrição de idade, até 2 hs da manhã. Difícil para as mães- havia apenas três homens na platéia- segurar os filhos. Juiz de menores? cadê?
Há bastante tolerância em relação à prostituição, afinal traz alguns ganhos materiais para a família. Falo sobre a prostituição fazendo com que pensem à respeito, será que são ambivalentes em relação a isto? Tento mostrar que este caminho, algumas vezes parece mais fácil, mas que leva muitas vezes à droga, álcool, violência, etc e tal. Cito o mercado de mulheres. Ali não há turistas, apenas os homens que vêm de fora a trabalho, os funcionários das empresas.
Abordo o álcool com ênfase, mais do que outras drogas, há muito alcoolismo em todos os lugares e a sociedade estimula o uso do álcool. Vocês já viram festinha sem álcool?
Foi muito bom estar lá falando para aquelas pessoas simples e extremamente interessadas. Espero ter deixado sementinhas, para mim isto basta.
Bom dia!
Namastê.
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Um comentário:
No dia 5 de Janeiro do corrente ano bem cedinho navegando na net encontrei esse grandioso texto/artigo ao ler atenciosamente comecei a refletir e se essa moça voltasse a Porto hoje? a prostituição aumentou, a corrupção é monstruosa a inoperancia governamental é um negocio pra estudo academico,o erario publico municipal é saqueado por poucos e a maioria da população formando o grande exercito de excluidos/a. Assim é Porto do Mangue hoje e no futuro não sei como vai ser mas uma coisa eu digo, não farei parte do % que rouba a cidadania da população.
Flávio Felipe
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