quarta-feira, agosto 31, 2005

Eu e a blogosfera- amigos virtuais


















“Desejo também que tenha amigos
que mesmo maus e inconseqüentes
sejam corajosos e fiéis
e que em pelo menos num deles
você possa confiar sem duvidar.
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muito, nem poucos
e que entre eles haja pelo menos um que seja justo
para que você não se sinta demasiado seguro”.
Victor Hugo



Este trecho do poema de Victor Hugo é perfeito para nós aqui na blogolândia-como Flávio diz- temos amigos que nos incensam o que pode nos levar a uma vaidade exagerada, mas é interessante como mesmo não sendo inimigos- não vejo razão para isto- aqui também temos aqueles que vêm nos ver e ler e não se mostram- por que nunca se mostram? por timidez?
Eu às vezes penso sobre o que alguns de vocês me disseram logo no inicio: “as relações aqui são como lá fora”, são, mas aqui é tudo mais rápido, há uma falsa intimidade, cumplicidade, verdadeira sim, com alguns poucos.
Já disse antes e repito, o blog me fez um bem enorme, estava muito isolada, numa cidade que mal conheço, sem nada que me vinculasse à sociedade, não tem sido fácil, as relações criadas aqui me ajudam muito. Passei este último mês por momentos muitoooo difíceis e só aqui no blog com vocês me sentia melhor. Gosto de estar aqui, encontrei e encontro a cada dia pessoas diferentes e interessantes, troco emails com algumas que ficarão para sempre, isto não tem preço. Para não ser injusta, pois posso esquecer alguém, são muitos, vou citar só o email que José Simão me enviou dia 9 de agosto:
” Não fique triste não! Fundo de poço tem mola! Pra cima! Um grande abraço do Ze Simao!”*
Pois é Simão só agora a mola me mandou de volta para cima. Valeu!

Valeu para vocês também.

*Se você não tem acesso a UOL aqui tem Simão.

Leiam o post abaixo é sobre blogs.

Furacão Katrina muda de rumo, vai a Brasília e vira Latrina!!!

29/08/2005
Buemba! Furacão Katrina muda de rumo, vai a Brasília e vira Latrina!!!

Veja o programa em vídeo

Da Redação

Buemba!! Buemba!! A Lillian Witte Fibe tirou uns dias de folga! É que ela criou uma banda de axé e foi fazer uma turnê: Lillian e as Bife-kibes!! E não dá pra trabalhar assim: não teve escândalo no fim-de-semana!! Como é que o Simão vai fazer piada desse jeito?!? Não teve ninguém pra fazer uma denúncia contra o Palocci, do tipo "quando ele era pequeno ele roubou a mesada do primo"!! Se não tem denúncia, então inventa!! O Simão até da uma felação premiada!!!

Ah, mas tem o Furacão Katrina! Olha só o olho do Furacão!!!

Ele parece na verdade a Fernanda Karina!! Que é uma tragédia da Natureza. E o Simão diz que furacão é que nem periquita! Depois que passa leva tudo o que você tem!! E estão dizendo que o furacão mudou de curso e de nome! Está indo pra Brasília e vai se chamar "Furacão Latrina"!!!

Outra notícia é que a moda pegou mesmo!! Pegaram um traficante em Sorocaba com o revólver escondido adivinha onde?! Mas é claro, na CUECA!! Já teve dólar, diamante do índio, ecstasy, e agora tem revólver escondido na cueca!! O Simão continua querendo lançar a campanha para resgatar o uso original da cueca. Serve pra quê, mesmo?! E tem uma amiga do Simão que sacudiu a cueca do marido e não caiu nada, só um pinto morto!!

E o Simão também explica porque vai ter a campanha do desarmamento! Olha só essa placa!!!

"Proibido jogar lixo. Sujeito a tiro!"
Já pensou se a moda pega?!: "Proibido estacionar! Sujeito a tiro!"; "Proibido urinar nesta parede! Sujeito a tiro!"
E o Brasil mudou: antigamente tinha gente que entregava a sogra na campanha do desarmamento! Agora os brasileiros vão entregar o título de eleitor! Não vão querer ficar com essa bomba em casa!!! É mole? É mole, mas sobe!!

O Simão recebeu mais duas charges ótimas sobre Brasília!!

"Os sacadores mais rápidos do Centro-oeste! PTB, PT, PL e PP."
O Simão acha que faroeste no Brasil é assim: "Vamos ver quem saca mais rápido!" "Ok, em que banco?!"

E o Severino está em "esquentamento":

"Severino lá... 'Já que você não está fazendo nada mesmo, segura o prego que eu martelo'".
O único problema, caso o Severino vire presidente, é que, pra ministro da Cultura, ele vai colocar o Tiririca no lugar do Gilberto Gil!!! E vai colocar na Casa Civil o Agnaldo Timóteo, que é vereador em São Paulo, mas não sabe nem onde fica o Jabaquara!!!

Ilustrada, o melhor da Internet
A frota presidencial vai ser renovada. Mas só vai ter esses dois modelos:

Ka e Gol. KaGol. Versão 2005. E as compras serão sempre conjugadas!!

Antitucanês, a missão patriótica do Simão

"Sakana Sushi Bar"
Fica em Brasília. O Gushiken freqüenta o happy hour lá. E vai junto com aquele outro que emprestou dinheiro pro Lula, o Paulo Okamoto! O esquema é assim: faz um saque e depois passa lá pra tomar um saquê!!!

Cartilha do Lula, o óbvio lulante

Alvejante: companheiro alvejado pela revista Veja!

Vai indo que eu não vou. Ou vou, pingar um litro do colírio alucinógeno!!

Seus blogs favoritos

Internautas indicam seus blogs favoritos para concurso internacional
da Folha Online

Os internautas de todo o mundo devem se empenhar nas próximas semanas em
divulgar seus blogs (diários on-line) favoritos. A partir desta
quinta-feira, eles podem indicar os melhores endereços da blogosfera
para o concurso internacional The BOBs (The Best Of The Blogs).

A competição organizada pela Deutsche Welle, que no Brasil conta com a
colaboração da Folha Online, está em sua segunda edição.

A etapa de inscrição dos sites vai de 1º de setembro a 23 de outubro --
podem concorrer as páginas escritas em português, alemão, inglês,
francês, espanhol, russo, chinês, persa e árabe.

Os blogs devem se encaixar em uma das 13 categorias pré-estabelecidas:
weblog, blog multimídia, podcast, Repórteres sem Fronteira (para aqueles
engajados na liberdade de expressão) e weblog jornalístico. Esta última
categoria é subdividida em nove itens, para premiar páginas escritas em
cada uma das línguas participantes.

No ano passado, o site chinês The Dog Newspaper (o jornal do cachorro),
que fala sobre os aspectos curiosos do "mundo cão", levou o prêmio de
melhor weblog. Neste ano, o vencedor dessa categoria ganha um iBook G4,
da Apple.

Escolha

Um júri internacional formado por 12 jornalistas, pesquisadores de mídia
e especialistas em blogs deve analisar, entre 24 de outubro e 20 de
novembro, os nomeados de cada categoria. Durante o período, os
internautas também podem fazer sua escolha no site do The BOBs. O
resultado sai no dia 21 de novembro.

O representante brasileiro desse grupo internacional é André Lemos,
diretor do Centro Internacional de Estudos Avançados e Pesquisa em
Cibercultura, na Universidade Federal da Bahia.

Para decidir quais os melhores blogs, o júri considera a qualidade de
conteúdo das páginas, qualidade lingüística, mensagem gráfica,
apresentação, interação e inteligibilidade do site, entre outros itens.

Entre aqui.

terça-feira, agosto 30, 2005

Mini conto: O marido que não perdoava erros

O marido que não perdoava erros


Era um marido exigente, implacável, daqueles que não suportam uma almofada fora do lugar, seu armário não podia ser aberto, descobria se o abrissem, se o almoço atrasasse era um escândalo.
Começou a voltar do trabalho mais tarde, não dava desculpas, nem admitia perguntas, ai de quem perguntasse onde estava até aquela hora, ficava uma fera. Fazia o que queria, era o homem da casa, os outros que obedecessem, era o provedor, deviam dar graças à Deus. Os filhos o temiam, tudo era feio e proibido.
Adoeceu, uma diarréia o consumiu, precisou ser internado e na terceira internação com tuberculose ficou no hospital para sempre.
Um dia no quarto do hospital a mulher- a esposa- fazia sua higiene quando uma enfermeira entrou e gritou:
-Não pegue nele sem luvas!
-Por que não? disse assustada a mulher.
-Porque tem AIDS!
Saiu enlouquecida atrás da médica responsável.
-Como você não me avisou, sua irresponsável? me expôs e até aos netos à esta doença maldita!
Ele contraiu a gripe* em encontros de sexo promíscuo em grupos, ela agora sabia.
Como dizer aos filhos adultos que o pai deles os enganara uma vida toda? O filho se desesperou quando a mãe contou, andava como bicho enjaulado desesperado: “Como mamãe? como ele fez isto conosco?” A filha só aceitou ver o pai momentos antes de morrer, depois de muita insistência da mãe: “Está morrendo, minha filha, o perdoe fará bem a você”.
Cuidou dele até o fim, ficou um trapinho, leve, aquele homem bonito, alto e forte desapareceu. Cuidou dele com resignação até o fim, morreu no seu colo como um bebê. Tinha 51 anos.

*gripe=AIDS no meio gay.
Esta história é verdadeira, eu conheço esta mulher fantástica que depois de tudo que passou continuou a vida com dignidade e força. Um exemplo para mim e todas que a conhecemos, atualmente está estudando espanhol, fazendo revisões de português, nada todos os dias. É uma figura inesquecível e hoje é o aniversário dela. Não vou mandar hoje este texto porque hoje é dia de festa e eu mesma me comovi lendo o que escrevi lembrando do sofrimento dela.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Mini conto: O filho de Rita


















O filho de Rita
.

A menstruação atrasou, só pensava nisto, no filho tão desejado. Não sabia como ele reagiria, não se importava, que se danasse, esperou sete anos a separação dele, sete-número cabalístico, hora de mudar. Agora ele seria pai, queira ou não. Manteve silêncio, dizia que estava engordando, comendo mais. Um dia ele a viu de perfil e disse empalidecendo:
-Você está grávida!
-Estou.
Ele colocou as mãos na cabeça num gesto desesperado. O primeiro pensamento foi para a mulher, faria um escândalo, ele não suportaria tanta pressão. Como esconder um filho?
Passou a vê-la menos, quando vinha perguntava se estava tudo bem. Não a desejava mais. Não lhe faltaria recursos para sustentar o filho, faltaria amor, um amor que Rita sabia agora nunca existiu.

domingo, agosto 28, 2005

Um delírio que não é meu.














Eu sempre gostei dos secos & molhados, mas conheço pouco, tudo em música eu conheço pouco, gosto muito, mas prefiro o silêncio quando estou só e como fico muito só...Com os meninos ouço rock, já contei que só gostam de rock. Menos mal, criados com a mãe... Um dia o Luc era pequeno, devia ter uns sete anos e alguém perguntou do que ele gostava de música, respondeu:" ópera, jazz e rock." Eu disse: "felizmente acrescentou o rock", seria um caso sério de falso self como Winnicott tão bem teorizou hihihi
Ano passado ganhei uma agenda linda de uma amiga, agenda opinião, conhecem? agendaopiniao@yahoo.com.br, ela traz imagens e poemas, pequenos textos, encontro lá preciosidades. Hoje achei este lindo poema que é a letra da música "Delírio" de João Ricardo e Apolinário. Pesquisando no google achei "Rosa de Hiroshima" que é um lindo poema também. Nossos letristas são ótimos.
Queria mostrar esta foto que achei demais.

Delírio

Não vou buscar
A esperança
Na linha do horizonte
Nem saciar
A sede do futuro
Da fonte do passado
Nada espero
E tudo quero
Sou quem toca
Sou quem dança
Quem na orquestra
Desafina

Quem delira
Sem ter febre

Sou o par
E o parceiro
Das verdades
À desconfiança




Rosa de Hiroshima

Pense nas crianças mudas,
telepáticas
Pense nas meninas cegas
inexatas
Pense nas mulheres, rotas
alteradas
Pense nas feridas como rosas
cálida
Mas! Não se esqueça da
rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa
hereditária
A rosa radioativa, estúpida
inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa
atômica
Sem cor, sem perfume, sem

sexta-feira, agosto 26, 2005

Lembranças.

Esta manhã estive procurando uma foto minha que lembra muito Denise e achei estas outras, acabei viajando pela Bahia com Fernando Bento meu ex namorado, aliás a foto que estamos na praia é em Recife, Ilha das Cobras, ainda estará deserta?? Faz tempo, deu saudades de Fernando, fez aniversário agora dia 20, atualmente mora em São Paulo,mas é lá de Cabo Frio. Fernando me ensinou a ser mais simples, a ver melhor os detalhes da natureza, a andar descalça, a ser mais descontraída. Foi um encontro muito importante.





























A foto atual está aqui.


Bom lembrar de uma fase tão gostosa, esta viagem foi ótima, foi em 78, eu acho, fomos muito bem recebidos por amigos em Recife e Aracaju, namoramos mais de três anos, bons tempos. Ficamos amigos, mas não o vejo há alguns anos, uns quatro, ficou um homem muito bonito com os cabelos grisalhos.
E o meu cabelo? viram? na foto da praia parece um ninho, agora uso curto como convém a uma senhora elegante hehehe
Bom dia!

quinta-feira, agosto 25, 2005

Mini conto: O médico de Esperanza















Picasso


Esperanza foi ao médico relutando, há dias não saia de casa, não queria, pensava em que ele poderia ajudá-la.
À primeira pergunta do doutor pôs-se a falar de sua tristeza, da sua nostalgia. Emagrecera, suas roupas agora folgadas no corpo precisam de um cinto para não caírem.
Depois de quinze minutos de fala ansiosa o médico perguntou:
-E fora a alma, com vai o corpo?
A mulher a sua frente desabou a chorar, não havia nada errado com seu corpo, definhava porque não queria comer.
O doutor, bom clínico, precisava fazer os exames de praxe, ela respirou fundo e deitou na maca, era obediente.
Ao primeiro toque do médico no seu tornozelo sentiu-se nua, ele veio com as mãos para sua barriga pressionar as vísceras, Esperanza não via a hora de sair dali.
-Agora sente-se e respire fundo, preciso ouvir o seu peito e verificar os reflexos.
Saiu dali com as requisições para os exames de colesterol e triglicerídeos.
Ficarão esquecidos no fundo da bolsa, mas não esquecerá os quinze minutos que o médico auscultou a sua alma.

Descobertas recentes.


Descobri através do Inagaki um site muito interessante Cracatoa simplesmente sumiu. vão conhecer, terão uma boa surpresa como eu tive. Entrem aqui e vejam que barato, adorei este, a música é demais.Além disto o pessoal é super simpático, gente fina, são de Curitiba e Portugal.

No blog da Luci também descobri um site onde ensinam a colocar movimento nas imagens, vocês conhecem?

Na blog da Dalva descobri um site onde você faz puzzle de qualquer imagem, um barato!
Muitos de vocês devem conhecer estes sites, mas sei que outros não conhecem por isso dou a dica.
Divirtam-se!
Ah! a Sheila deu o endereço de um site super legal onde você desenha online, adorei, uma delícia.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Mini conto: L’uomo meno strano

Este conto é aquele que eu disse que sairia no site italiano Domist num Progetto Letterario Internazionale.
Se quiser ler em português está aqui Quero agradecer a tradução de Eliude Santana que o fez gentilmente. Obrigada Eliude

Lei prende il primo bus che sosta in quella fermata, il vento le taglia le labbra. Da giorni non guarda la strada, non vuole.

Il bus è affollato ma le piace l’odore della gente, da tanto non vede nessuno. Ce n’erano dei posti vuoti in fondo, ma sceglie quello dove si trova l’uomo meno strano e si siede, la gamba sfiora quella dell’uomo, non lo guarda nemmeno in faccia, non importa.

La gamba vestita di seta le dà la sensazione di una seconda pelle, scivola, sente piacere nel toccare leggermente la gamba di quello strano, fingendo di sfiorarlo per caso.

Chiude gli occhi, ispira l’aria mescolata di odori.

Finale di giornata, ogni odore una storia, con gli occhi ancora chiusi, indovina che l’uomo al suo fianco ha moglie e figli che l’aspettano.

Fa sempre così, prende un autobus qualsiasi, sceglie le giornate più grigie, quelli in cui intuisce che non sopporterà stare da sola. Così vicina a quell’uomo si sente riscaldata, lui non si ritira anzi, fa pressione nella coscia, coscia aperta contro coscia. Finge di non sentire la mano che sale per la sua gamba, lascia che l’uomo la tocchi, rabbrividisce, non riesce muoversi, bisognerebbe dire di no, apre gli occhi, lui si avvicina e la bacia con violenza, morde, schiaccia, lei non sente piacere, né paura, si sente soltanto viva.

trad. Eliude Santana

terça-feira, agosto 23, 2005

A noite do meu bem
















Foto
Nils UDO1



Hoje acordei lembrando "A noite do meu bem", gostava de ouvir Maysa cantando, depois ouvi na voz de Milton Nascimento e chorei feito uma condenada, hoje lembrando, não ouvi- seria masoquismo- chorei novamente.
Fiquem hoje com esta foto maravilhosa e este poema de Dolores Duran que é de doer.

A NOITE DO MEU BEM

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver

E a primeira estrela que vier

Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero a paz de criança dormindo

E o abandono de flores se abrindo

Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de um barco voltando

Quero a ternura de mãos se encontrando

Para enfeitar a noite do meu bem

Ah! eu quero o amor o amor mais profundo

Eu quero toda beleza do mundo

Para enfeitar a noite do meu bem

Ah! como este bem demorou a chegar

Eu já nem sei se terei no olhar

Toda ternura que eu quero lhe dar.

Dolores Duran

segunda-feira, agosto 22, 2005

Crônica: O marido da vizinha III












Se você não leu O marido da vizinha I e II leia para entender melhor.

Depois que o marido da vizinha desapareceu ela passou a fazer a limpeza do jardim sozinha, todas as vezes que eu abria a varanda cedo ela estava lá com a mangueira lavando as cadeiras do jardim, as calçadas.
Outro dia acordei mais tarde e não a vi, e a casa estava fechada, no dia seguinte também não. Pensei quem sabe está saindo para trabalhar, eu tenho acordado mais tarde.
Betânia chegou e eu lhe disse que a vizinha está desaparecida
-Ih, será que morreu? Ela está cada dia mais magra.
-É verdade, eu a vejo definhando daqui, será que nós duas estamos malucas, imaginando coisas...Já inventamos que o marido morreu, agora que ela não come.
-Mas é verdade, ela só trabalha, vive limpando aquela casa, tão zelosa...
-É mesmo, mas me dá tristeza vê-la agora sozinha, a filha não faz nada.
-Menina criada com manha, a mãe vive trabalhando e ela nem ai.
A vizinha sumiu e apareceu uma placa Vende-se no portão, mas está tudo lá como se a qualquer momento eu pudesse ver o vizinho fumando seu cigarrinho na varanda, estão lá as poltronas de junco, o sofá, as redes, a mesinha de centro, mas faltam dois detalhes que marcavam a presença da mulher-todos os dias ela colocava uma almofada grená na rede pequena, não está lá, e as duas espreguiçadeiras da piscina estão desalinhadas há dias, se eu pudesse ia alinhá-las.
Depois do anúncio de venda, a filha apareceu namorando no sofá algumas vezes e as luzes da varanda ficam acesas até mais tarde. Vi a faxineira cruzando o jardim, mas ninguém cuida do jardim, a piscina está começando a sujar.
A vizinha desapareceu, mas intuo que não morreu.
Sábado o rapaz da entrega do mercadinho me disse:
-A senhora soube o que houve com a vizinha da frente?
-Não, respondi assustada e curiosa.
-Foi embora, o marido morreu e ela disse que não tem mais nada para fazer aqui, veio por causa dele lá de São Paulo.
-Puxa, você está confirmando o que eu adivinhara, coitada da vizinha...
O estranho é que a casa está exatamente como antes, apenas sem vida, como se tivessem saído às pressas.

domingo, agosto 21, 2005

A semana da retirada.













Como será o futuro deste menino?
Esta semana começou a retirada dos israelitas da Faixa de Gaza, sofrem judeus e palestinos, uma semana difícil para todos.
Vemos pela TV a resistência dos judeus, principalmente os jovens e é comovente, em desespero jogam ácido nos soldados, resistem até o fim. Difícil tomar partido, eu simpatizo com a causa dos dois lados, talvez por não me dizer respeito, sei lá,fica mais fácil assim, sem paixão.
Vi um entrevista de um jornalista judeu na Globo News, Ariel Fingerman , conhecia o lado dos judeus e resolver ir até a Palestina e Faixa de Gaza para sentir melhor o conflito, disse que sofreu por causa do nome, mas que consegue ver as razões dos palestinos, Escreveu um livro sobre o que viveu e sentiu sobre o assunto “ Retratos de uma Guerra”, entrevistou figuras interessantes, pessoas desconhecidas, judeus e palestinos, deve ser um bom livro.
Lembro vocês do livro que já falei aqui mais de uma vez que é
“Contra o fanatismo” de Amós Oz


Fiquei chocada quando li esta noticia na quinta feira de que uma mãe em Guiné foi surpreendida comendo o cérebro de dois filhos, Deus do céu, que loucura! Imagino o grau de loucura dela, só uma louca faria isto, pobre mulher...


Palocci
é denunciado por ex assessor. Este assessor foi demitido por corrupção... é melhor esperar as provas dos fatos, mas como disse outro dia, não será surpresa. Este denuncismo quero ver se vai chegar nos outros governos, ai eu quero ver Antonio Carlos Magalhães se explicando, ou qualquer outro... tudo farinha do mesmo saco.

Levei um susto quando peguei um livro ao acaso de Adélia Prado e li uma dedicatória para mim, eu não lembrava dela ter me dado o autógrafo, lembrei aos poucos, foi em 87, ano que conheci meu ex, ano que morreu o Drummond, por que não lembrava? Agora lembro, ela muito simples, sem pintura. Escreveu para mim: “A poesia nos salva. Me queira bem. O carinho de Adélia Prado” Adélia dizendo "me queira bem" é comovente, como não lembrava? Lembrei que fui com Paula, uma amiga que adora os poemas de Adélia, eu não gosto muito, é religiosa demais, me incomoda. Talvez por isso tenha esquecido. Foi na livraria Timbre, o lançamento, lá eu conheci também a Lya Luft quando estava casada com o Hélio Pellegrino, grande figura do nosso meu psicanalítico. De Lya eu lembro muito bem, até do que falamos. Foi em junho de 87, estranho... Este esquecimento me perturbou, eu ando me sentindo cansada, deprimida, fiquei pior. Tirei uma foto para um documento que me assustou também, que horror, como a gente fica horrorosa nestas fotos 3x4! Rasguei todas as que sobraram, mas a imagem eu não esqueci, eu não quero ser aquela mulher, há que reagir, não é? Reaja! Ah fui rapidinho fazer minha hidroginástica e cortar o cabelo, estou me sentindo melhor.


Estamos em fase de lua cheia, vamos ver a lua. Esta foto recebi por email de meu amigo Wilton e a mensagem diz que não é foto montagem, o fotógrafo esperou horas até a lua se colocar ai e já estava amanhecendo.

sábado, agosto 20, 2005

Mini conto. A jardineira de gerânios

A jardineira de gerânios


Eram amantes há dezessete anos, todo final de tarde ele vinha, trazia um chocolate, uma flor, algo que ela gostasse. Amavam-se até a hora marcada, já estavam acostumados às despedidas e tudo fluía com serenidade.
Um dia a mulher cansada com seu silêncio e descaso pediu o divórcio, ele refutou, argumentou que perderiam em status, teriam que vender o apartamento de 300 metros quadrados. Ela não cedeu, queria refazer a vida, estava voltando a estudar.
Ele levou um susto, sentiu-se inseguro, aquela foi a mulher com quem casou há trinta anos, foi a primeira paixão, como viver sem ela?
A amante o esperava, estranhava as desculpas, quando vinha ficava calado, sentado como visita, passou a ter um olhar inquisitivo que desconhecia.
Ele pensava no quanto ela envelhecera nestes dezesete anos, estranhava suas palavras simples, seus gestos espontâneos. Ela adivinhando o abandono começou a se fechar, não queria mais sair, arranjou uma licença médica de três meses. O telefone não mais tocava. Um dia fechou as janelas, tirou a jardineiras com flores. Estavam murchas.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Mini conto. A mulher que não dançava














Chagall


A mulher que não dançava


Chamou-a para dançar, não quis.
Acordou de madrugada com ele beijando-a, cheirava a bebida e cigarros. Queria continuar dormindo. As mãos ágeis dele desciam pelas suas pernas abrindo caminho. Beijou seu ventre enquanto as mãos teciam carinhos íntimos.
Ela não queria acordar e desejava acabar logo com aquilo. Fingiu gozar, sabia o quanto ele se orgulhava com seu gozo, então ele a cobriu com seu corpo forte penetrando o sexo morno. Ela receptiva facilitava os movimentos, colaborava, queria voltar a dormir.
Ele fingia estar tudo bem, ela fingia gostar, logo voltou a dormir.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Millôr- uma mente brilhante.

Está passando o depoimento de Delúbio Soares, triste cena, o cara está grogue de cansaço e remédio, sei lá, mente como sempre. A figura de Ibrahim Abi-Akel é patética como arauto da moralidade. Que tristeza...Não sei o que dá mais nojo, francamente...

Leiam a entrevista genial de Millôr, eu assinaria embaixo. Seria cômico se não fosse trágico.



MILLÔR



14/08/2005

Eu esculhambo, tu esculhambas...

E assim publicitários, políticos, homens da mala e secretárias assaltam o País e vão dando razão à máxima de Millôr: o ser humano é inviável

Laura Greenhalg e Sérgio Augusto


Enquanto a crise política continua provocando estados de comoção e desapontamento, Millôr Fernandes, 82 anos, afirma de boca cheia: "Sou indecentemente feliz". Alienado? Jamais. Está de olhos e ouvidos atentos a tudo - em particular aos tropeços e contradições dos que freqüentam as salas das CPIs ou o púlpito dos comunicados oficiais. Entre delcídios e delúbios, o "guru do Méier" se esbalda. "Lula não tem consciência da própria ignorância", analisa. "Chávez é um patife", assume sem medo de ser atrevido. "Jefferson ainda vai entrar para a História", avisa. "A esculhambação no País é geraaaal", diz expandindo a vogal, num exagero calculado.


O olhar fixo na CPI começa cedo, ou melhor, começa assim que um amigo do peito faz soar o lembrete pelo telefone: "Já começou o depoimento da Zilmar. Vai lá, liga a tevê". No ateliê em Ipanema, onde Millôr trabalha todos os dias, as questões de ordem de Brasília começam a provocar o mestre. A cada uma daquelas afirmações que não passariam pelo detector de mentiras, Millôr rebate que a canalhice é imensa, a ignorância não tem limites e o ser humano é inviável. Dispara palavrões com sua balística demolidora e confirma-se no posto de temível observador (ou seria dissecador?) da cena política nacional.

Por que se sente "indecentemente feliz"?

"Porque não vivo para comprar iate e tenho dinheiro para pagar minhas contas", explica o jornalista, escritor, dramaturgo, ilustrador e requintado tradutor dos clássicos, que não gosta de ser chamado de erudito. "Sou um oligofrênico topográfico. Me perco até em porta giratória", caçoa. Ateu confesso, carrega na alma amuletos contra o politicamente correto. Odeia certinhos ("e o ACM Neto com aquelas roupinhas, hein?") e amaldiçoa a publicidade ("ela vende mentiras"). Entre os cacoetes que cultiva, sente um prazer incomensurável de dizer que "Hitler era veado". Tiradas assim recheiam a coletânea Todo Homem é Minha Caça, que a editora Record acaba de relançar. É livro de 1981, que não perdeu nem o viço nem a verve do autor.

Nesta entrevista exclusiva para o Aliás, Millôr pede que seus palavrões não sejam substituídos pelo "eufemismo dos três pontinhos". E a primeira pergunta, leitores, é do entrevistado: "Vamos começar a entrevista assim: Freud era um gênio ou um bobalhão?".

Tudo bem, Millôr, podemos começar por aí. Gênio ou bobalhão?

Nem uma coisa nem outra. Lembra as brigas que Freud tinha com o Jung? No fundo, era briga de duas bichas-loucas. Uma historiadora italiana conta uma passagem ótima com o neto do Freud. O neto pergunta: "Vovô, mulher tem perna?". Faz sentido. Freud nunca viu perna de mulher e fez sua obra girar em torno do sexo. Na época dele, as pessoas iam para a cama e nem tiravam a roupa, a relação era um extra. Em compensação hoje chegamos a um ponto que, se você quiser viver um pouco mais calmo, tem de evitar o sexo, porque a transa é fácil, é imediata. Quando Freud foi para os Estados Unidos com Jung, o reitor de uma universidade quis homenageá-lo, afinal, os americanos se curvavam à psicanálise como ciência. Como sempre, Freud "medrou" e não foi à cerimônia. Jung foi. O reitor fez as apresentações e no final errou. Pediu uma salva de palmas para o doutor Sigmund Freud. É assim que se faz: as pessoas jogam sua crença numa coisa científica e depois votam no Lula.

Pronto, entramos na política. Você tem acompanhado as CPIs?

Acompanho tudo. E alguém consegue deixar de ver? Que país maravilhoso é esse Brasil, que acontece essa esculhambação homérica e até agora não tem ninguém preso... Os contestados, os ameaçados, todos falam de dedo em riste!

Tempos atrás você teria dito que o Brasil é ingovernável. É mesmo?

Não disse que o Brasil é ingovernável. Não diria isso até porque o problema não é o Brasil. Veja o que aconteceu na Espanha pós-Franco. Era uma roubalheira desenfreada com o González. Aquela gente roubava dinheiro em parceria com o ETA! Era dinheiro para dar armas, dinheiro para tirar armas... Na Inglaterra, o filho da senhora Thatcher meteu a mão. O filho do Kofi Annan também, e o pai se faz de distraído.

Ou seja, roubalheira não é coisa nossa?

O que eu acho é que roubalheira, no Brasil, é algo desumano. A corrupção na época de Henrique VIII era briga de foice. O papado, aquela coisa sórdida de tirar dinheiro de todo mundo. Você tinha os pecadores, os pecaminosos e os puros. O negócio das indulgências prosperou porque as pessoas queriam morrer em pureza. Acabaram por descobrir a pureza absoluta, que é a do Cristo, e assim inauguraram o Banco Central das indulgências. O sujeito era considerado louco, tísico ou leproso se não desse a grana. Já no século 18, quando a burocracia foi criada, aí despejaram veneno no mundo. O burocrata é o fim de linha. É o cara que fica na ante-sala e não deixa você falar com quem decide.

A mala é o símbolo dessa crise. Mala para caixa dois, para recolher dízimo dos fiéis, para empréstimo... Reedita-se a antiga figura do "homem da mala", o sujeito que paga tudo, que arca com as despesas...

Um momento. Quando eu vi a mala com que os agentes da Abin grampearam aquele cara, não acreditei. Eles compraram aquela coisa de um contrabandista do Paraguai, só pode ser. Hoje você filma o sujeito com uma microcâmera instalada no relógio de pulso, e a imagem é digital, o som, perfeito... O que era aquela mala da Abin?!

Pois o presidente jura que não tem nada a ver com isso tudo.

As pessoas não gostam quando falo isso, mas 95% da humanidade é absolutamente idiota, e os outros 5% são discutíveis. O Lula veio de baixo, é um homem de origem humilde, mas o partido dele tem 25 anos. Se não foi no primeiro, no segundo ou no terceiro ano, em algum momento ele passou a receber dinheiro, até como forma de salário do PT. Ora, Lula tem 59 anos. Há 25 anos, tinha 34. Com essa idade ainda se pode ir para o colégio. Passei mais fome do que ele, a diferença é que eu era carioca. Meu pai morreu quando eu tinha 1 ano, minha mãe, quando eu tinha 10, nós descemos de classe média para proletariado e depois para lumpesinato. Não havia literalmente o que comer, e nem por isso fiquei me queixando. Quando passei de 100 para 300 réis de salário, ia para o curso do Liceu de Artes e Ofícios e pagava para estudar. Não fiquei esperando o Estado bancar.

Você acha que o presidente tem essa mágoa não resolvida, a mágoa da miséria?

Hitler também veio de baixo. Era um filho da puta no meio daquela Áustria cheia de milionários. Agora fica essa conversa de que a elite não engole o Lula. Acabei de escrever uma nota para a Veja com a relação de lucros dos seis ou sete maiores bancos do País. A lista da elite. O que menos lucrou declarou ganhos da ordem de R$ 1,5 bilhão! Daí escrevi: enquanto isso, um bando de vagabundos vai ao Banco Central de Fortaleza e rouba R$ 160 milhões. Mas já se disse: "O que é um assalto ao banco diante de um banco?".

Não há mesmo jeito de acabar com a corrupção?

Corrupção é câncer que não se extirpa. O pessoal se recolhe por um tempo, mas depois volta a meter a mão. Tenho uma idéia: o Brasil deveria instituir o voto contra. Não tem o voto a favor? Então, quero votar contra o Maluf, por exemplo. Duvido que o Garotinho se eleja para alguma coisa.

O que você diz das promessas de faxina ética, das manifestações populares, das convocações pela internet? Vem aí uma onda patriótica?

Tem esse movimento pedindo paz, que coisa linda, e os caras lá do morro vendo tudo e dando risada. Conhece aquela frase? "O patriotismo é o último refúgio do canalha." E eu acrescentaria: no Brasil, é o primeiro. Agora tem a denúncia de que pagaram despesas do presidente no valor de R$ 29 mil. Não é nada na escala da roubalheira. Mas, como o salário mínimo é R$ 300, R$ 29 mil equivalem a oito anos de trabalho de uma pessoa que vive com essa mixaria!

Você teve problemas com o ex-ministro Aldo Rebelo?

Escrevi alguma coisa quando ele fez a tal lei proibindo estrangeirismos. Ora, quando os portugueses chegaram a este país trouxeram a língua deles, e pronto. Se não, até hoje estaríamos falando nhangatu, na base do "nós não sabe falar português".

Mas de onde veio a bronca do ministro?

Ele baixou a tal lei e eu escrevi que aquilo era idioletice (sistema lingüístico de um indivíduo). O homem se sentiu ofendido e me processou. As pessoas não têm obrigação de saber o que é idioletice, mas o ministro tem. Ele pediu uma indenização de R$ 30.200, já quantificando o que queria receber! Não disse que ele é um idiota, mas pergunto: no politicamente correto não se pode dizer que um sujeito é idiota? Esse pessoal do governo não sabe que existe poesia, prosa e língua falada. Você escreve poesia. Você escreve prosa. Mas você fala a língua. Fala e vai modificando a língua.

O ministro foi mexer justo com você, um tremendo frasista.

Gosto da precisão da frase. Sartre diz: "O inferno são os outros". Certo, mas eu completo: "E o céu também". Há o dito popular: "Cão que ladra não morde". Eu acrescento: "Enquanto ladra". A igreja prega que "o dinheiro não é tudo". Não é mesmo, dinheiro não compra a juventude, o vigor físico, a inteligência, a felicidade, etc., etc. Então eu diria assim: "Tudo é a falta de dinheiro".

Como ficou o processo?

Respondi com um arrazoado para o ministro, queria ver advogado fazer algo parecido. Mostrei o que é idioletice, fiz um histórico da palavra em várias línguas, fui chamando o sujeito de ignorante de alto a baixo. Entreguei o arrazoado para o departamento jurídico do jornal e esqueci o caso. Mas veja a truculência do método: se eu escrevi um artigo e fui processado, o que dizer da imprensa? Ela pode ser intimidada por esses caras. Eles não sabem que sou uma pessoa honesta por imposição do mercado.

Como assim?

Toda vez que me disponho a ser corrompido, não chegam no meu preço. Quando me dão 5 mil, pode ter certeza que eu tinha pensado em 10 mil. Daí vem um sujeito e me oferece 20 mil, eu que não estou acostumado já vou logo perguntando: o que é que você está pensando de mim?! Vou contar uma piada. O camarada embarca num avião e vai para Nova York com uma mulher linda na poltrona ao lado. Viaja horas entusiasmado, louco para puxar conversa com aquele mulherão. Faltando uma hora para terminar o vôo, toma coragem e diz: "Olha, estamos chegando, você é linda, maravilhosa, se eu lhe oferecer US$ 100 mil, você passa uma noite comigo?". A mulher olha para ele, pensa e acaba aceitando, afinal, são US$ 100 mil. Passa meia hora e o sujeito abre o jogo: "Estou perdido de encanto por você, mas na verdade eu só posso oferecer US$ 10 mil". A mulher pensa, pensa, vá lá, está bem. Quase na hora da chegada, o sujeito diz que está em dificuldades financeiras, que pode apenas oferecer US$ 1.000 dólares pela noite. A mulher reage: "O quê?! Está pensando que eu sou uma prostituta?". Ao que o sujeito responde: "Isso ficou estabelecido na primeira conversa. Agora estamos apenas discutindo o preço".

Millôr, você que é tradutor de mão cheia, que tem interesse pelas palavras, como se sente assistindo às CPIs? A língua tem sido maltratada?

Completamente. Não só pelos depoentes como pelos interrogadores. Eles não batem "lé" com "cré", não há preposição no lugar certo, não tem plural, não tem verbo no tempo adequado... Sabe o que escrevi sobre essa turma? "Estão convencidos de que a regência acabou com a proclamação da República". Este país é incrível... Daí vêm os gays e começam a bancar apostas para saber quem é o mais gostosão da CPI. Parece que o Delcídio está ganhando, com algo em torno de 53% dos votos, contra Antonio Carlos Magalhães Neto, que teria 38%. Ah, o ACM Neto, com aquelas roupinhas... Deve estar furioso.

O que você acha das metáforas do presidente?

Futebolísticas. Antes mesmo que ele chegasse ao poder supremo, eu disse do Lula: "A ignorância subiu-lhe à cabeça". Isso não é piada! O homem popular é "endeusável" enquanto está no popular. Quando está, por exemplo, no botequim. Mas não se deve tirá-lo do botequim para discutir na Academia Brasileira de Letras, porque um mínimo de coisas esse sujeito tem de saber. Tem de saber que houve gregos, romanos, a Renascença. Tem de saber!

O que é cultura, Millôr?

Vou lhe dizer. Estou lendo o novo livro do Stephen Hawking, aquele cientista todo aleijadinho. Só um idiota vai achar que se pode ler esse livro de ponta a ponta. Então leio cinco páginas hoje, dez amanhã e, quando terminar, se tiver compreendido 20%, será muito. Cultura é isso: entender a extensão da própria ignorância. Lula não tem consciência da sua ignorância.

Seria o "endeusamento" do homem popular?

É o que estou dizendo. Quando ele começou a falar para platéias estrangeiras percebendo que não precisaria saber inglês, francês ou alemão, porque contava com a tradução simultânea, quando se deu conta de que Bush só fala bushismos e que o Chirac só está a fim de falar francês, daí relaxou. Sentiu-se bem entre os monoglotas do poder. O que o Lula não sabe é que todo império é monoglota - sempre. Os portugueses chegaram dominando pela língua. Lula é fronteiriço.

O que é ser fronteiriço?

Quando está no meio dele, usando metáforas futebolísticas, ele se sai bem. Quando o meio é outro, ele se perturba. Pelos discursos que faz, o que se nota é a falta de coerência. Por exemplo: o caso do filho dele, acusado de ter montado uma empresa com favorecimentos. Numa hora, Lula discursa e diz que é preciso apurar tudo. Meia hora depois, reaparece dizendo que a família está sendo atacada. E fala, fala, ininterruptamente! É fronteiriço, não sabe o que está lhe acontecendo.

Como uma derrocada do Lula vai bater no povão? O self-made man à brasileira é um projeto que não deu certo?

Espera aí, self-made man é outra coisa, não é o sujeito que chega no topo de qualquer maneira. Você pode me dizer: Millôr, você é um preconceituoso. Não sou. A vida é normativa, como a própria Presidência. Por exemplo, o sujeito não pode ser presidente com menos de 35 anos. Isso é um critério. Você não operaria seu cérebro com um médico sem diploma. Nem voaria num avião conduzido por um sujeito que não é piloto. Imagina só: o piloto não aparece e a companhia aérea recruta um faxineiro do PT que estava ali, dando sopa. Você embarcaria? O povão tem o direito de eleger quem quiser e pode fazer burrada. No caso do Lula, não foi só o povão, não. Fomos todos nós.

Você está dizendo que o "povão" vota mal?

Vota por questões sensoriais. Não é só aqui. Na Alemanha de hoje, um candidato neonazista pode não ganhar, mas vai ter uma boa votação. O cara não precisa nem ter aquele bigodinho, aquele cabelinho de veado que o Hitler tinha. Aliás, abre parêntese: Berlim tem 3 milhões de habitantes. Sabe quantos são os gays confessos? Uns 300 mil, fora os que estão no armário, os que não saíram do bunker. Hoje, em certas partes da Europa, como já não se estigmatiza ninguém, o sujeito deve declarar sua opção preferencial ao ocupar um cargo público. Pergunto: se o camarada diz que é, mas não é, seria falsidade ideológica? Fecha parêntese.

A crise política pode dar margem ao aparecimento de um novo Collor?

Não tem dúvida. Aqui no Brasil, quando se passa por um período de esculhambação generalizada, a sociedade cobra lei e ordem. Daí pode pintar um tipo desses, sim. É o perigo. Até hoje na Itália fala-se com saudade que, na época do Mussolini, os trens chegavam na hora. A verdade é que o mundo sempre fez acordo com a hipocrisia e a canalhice é imensa. Se não tivessem tirado o pão da boca do Pedro Collor, ele não teria falado. E o Roberto Jefferson? Quando percebeu que a bomba ia explodir em cima dele, resolveu falar. E se converteu numa figura histórica.

Você acredita que Jefferson passará para a História?

Claro, ele derrubou a República e acabou com o PT!

O que você achou do pronunciamento que o presidente fez à Nação, na sexta-feira?

Resultado da ignorância dele e dos "intelectuais" que o assessoram. Como é que ele fala no "partido que eu fiz"? Isso não se diz assim, na primeira pessoa. O uso do "nós"é um aprendizado cultural que Lula não teve. E aquele grupo de ministros que assistia ao pronunciamento? Lamentável. Eu até fiz uns versinhos. Chama-se "Poema em ão". É assim: Se ele sabe do mensalão/é charlatão./Se ele não sabe/é um boçalão. Eu me senti ofendido com o pronunciamento.

Por que ofendido?

Porque é muita ignorância. Não adianta, livro é livro e essa gente não leu nada, não escreveu nada. Até a bicha-louca do Hitler escreveu um livro na cadeia, que, convenhamos, até fez certo sucesso. "Vão ter de me engolir", diz Lula parodiando Zagallo, que não é lá o meu filósofo predileto. Daí avisei: ele agora vai aprofundar mais e citar o Chacrinha. Prefiro ficar com a minha filósofa, Dercy Gonçalves, que aos 98 anos anda dizendo o seguinte: "Hoje puta é status". Fernanda Karina, a secretária, acusou e já foi se preparando para sair nua na Playboy. Ao que parece, o material não foi aprovado. Uma coisa que humilha a gente é ouvir "não quero posar nua, quero ser reconhecida pelo meu trabalho". Eu não quero ser reconhecido pelo meu talento, quero sair nu na Playboy!!

Certa vez Paulo Francis atribuiu a seguinte frase a você: "Se o Lula for eleito, o Brasil vai virar uma Romênia". Você de fato disse isso?

Não me recordo. Disse alguma coisa parecida em relação ao João Amazonas, o velho comunista. Escrevi o seguinte: "Revelado. João Amazonas tem uma conta na Albânia". E vou adiante. "José Dirceu tem uma conta em Cuba. Marcos Valério tem uma conta em Las Vegas." E o jantar que o Lula teve com o Chávez, sem avisar o Itamaraty? É ou não é a prova de que é fronteiriço? Este Chávez, que é um patife um pouco mais esperto, vem aqui para tirar uma castanha qualquer da brasa. A esculhambação geral vai dar num ridículo atroz.

É o fim do sonho socialista?

Olha aqui, a idéia do socialismo é maravilhosa. Como a idéia do cristianismo. Mas, na minha vida toda, eu nunca encontrei um cristão e um comunista de verdade. Sou um humanista ateu. No entanto, sou mais comunista e mais cristão que muita gente. Eu me responsabilizo pelas empregadas que me atendem. Não vou abandoná-las jamais. A idéia do socialismo é incrível, mas está fadada a não dar certo. Porque o ser humano não é isso. Ele é capitalista na essência. Quando desabou a União Soviética, fiquei surpreso com o tamanho do rombo econômico, mas a máfia já estava lá. Já tinha milionário, já tinha carrão na porta do restaurante. Tudo bem, sempre se pode colocar todas as contas na internet, fazer pressão, protestar na rua, mas, quando o "partido da pureza" chega ao poder imitando o modelo mexicano, daí não dá! Olha aqui, não vejo como o mundo possa se salvar.

Hoje dois publicitários estão no epicentro do escândalo - Marcos Valério e Duda Mendonça.

Não é por acaso. O jornalismo é uma profissão cujo objetivo "filosófico" é trazer à tona certas coisas que as pessoas não sabem. Tem um compromisso com a verdade. Agora, qual é o objetivo "filosófico" da publicidade? A mentira. É mentir sobre o sabonete, a maionese, a margarina, o político. Fazer anúncio sobre seguro médico é uma ofensa. Fico envergonhado ao ver que os bancos estão tomando dinheiro dos velhinhos e os atores da Globo anunciam isso. Os velhinhos pegam o dinheiro e pagam juro antecipado! É uma indecência. E por que o Estado tem de fazer publicidade? O que o Ministério da Saúde precisa é divulgar o calendário das vacinas, coisas assim. Não tenho respeito pela publicidade. Os caras ficam aí se gabando de que sabem fazer slogans e passam anos para criar coisas como "Coca-cola. É isso aí". De quantos slogans precisam? Faço dez agora.

Você poderia fazer algumas das suas "definições apertadinhas"?

Vamos lá. Deixa pegar meus óculos. Não sei fazer definição sem eles.



Cueca.

Banco de dados. Afinal, todo o dinheiro que o sujeito levava era dado.



Mensalão.

Estupro econômico-social que não ousa dizer seu nome.



Repilo.

Poderia ser marca de repelente.



Campo Majoritário.

Maracanã.



Sujeito vertical.

Indivíduo que se curva ao menor vento contrário.



Opportunity.

A melhor tradução seria: Daniel Dantas.



Banco Rural.

Como diz a publicidade, nem parece um banco.



Lobista.

Praga para matar com "repilente".



Salário mínimo.

Salário máximo pago a um pobre diabo.



Comissão de Ética.

Ética que já vem com preço.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Um poeminha.














Despertar.

Minhas mãos
mansamente te percorrem
descobrindo tua pele quente,
revelando tua forma
que se modifica.

Teu corpo imóvel
lentamente desperta
e sonolento se aproxima.

Maio 81

terça-feira, agosto 16, 2005

Mini conto- O jantar fresco.

Ela dormia pesado quando ele chegou de madrugada, queria comida fresca e quente. Sonada levantou, encheu a panela com água, colocou no fogão, e voltou a cochilar no sofá, enquanto a água fervia, o molho era só aquecer.
Ele, quando a viu dormindo, foi até a cozinha, pegou a lata de óleo e despejou na sua cabeça.
- "Sua vaca, levante!"
Ela obedeceu em silêncio e chorando baixinho entrou no chuveiro quente, levou tempo para tirar o óleo, o ódio e o medo.
Quando saiu ele já havia comido e estava à sua espera, pronto.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Raduan Nassar e "Lavoura Arcaica"- o filme.
















Hoje eu pretendia colocar um conto aqui, mas uma notícia me fez feliz e merece ser trazida para vocês. O filme “Lavoura Arcaica” de Luiz Fernando Carvalho estará disponível em DVD a partir de 13 de Setembro. Maravilha!
"Lavoura Arcaica" foi um dos melhores filmes que já vi, é uma produção cuidadosa, os atores foram preparados especialmente, eles passaram quatro meses no interior,numa fazenda, para que entrassem no clima do livro e conseguiram, o que acho uma proeza, conseguir levar para a tela o clima denso do livro de Raduan Nassar. Luiz Fernando Carvalho conseguiu, fez um filme belíssimo, uma preciosidade. baseado no livro homônimo de Raduan Nassar. Luiz Fernando teve conversas intermináveis com Raduan e fizeram juntos uma viagem para o Líbano para sentirem a cultura libanesa- que inveja! Os atores estão perfeitos, Selton Melo está maravilhoso, você esquece o ator e só vê o personagem, Raul Cortez, está num dos seus melhores papéis como o pai libanês rígido e ao mesmo tempo sábio. Vejam e depois me digam se não estou certa.
Vocês sabem que sou fã de Raduan, o meu segundo post foi um conto dele e já coloquei outros aqui, para mim Raduan é o maior escritor brasileiro do nosso tempo, alguns dizem que é Guimarães Rosa, outros Rubem Fonseca, eu fico com Raduan, acredito que é uma escolha subjetiva acima de tudo, porque tudo que ele escreveu eu gostei, tudo. Ele escreveu poucos livros e não quer escrever mais. O Caderno de Literatura do Instituto Moreira Salles sobre Raduan é excelente, se você quer conhecer mais o brasileiro-libanês compre o Caderno, é ótimo.

Conheço Raduan há anos, meus meninos eram pequenos. Nosso primeiro contato foi muito engraçado, eu havia feito um trabalho de psicanálise em cima do “Um copo de cólera”, uma amiga me disse que a irmã havia conhecido Raduan porque estava a fim de fazer uma peça de teatro baseada no conto "Ventre seco" e que ele foi muito simpático, recebeu-a na casa dele. Pedi o endereço para mandar meu texto, mas esta amiga é muito desligada, ou desinteressada, como queiram, e não pegava nunca o endereço. Estávamos no Rio, ele em São Paulo. Um dia eu desliguei o telefone acabando de falar com ela e liguei 102, pedi o telefone de Raduan, me deram, eu liguei pensando que uma secretária atenderia, aquelas coisas, ele atendeu. Eu não sabia o que dizer, disse que não esperava que ele atendesse e, ansiosa, me apresentei e comecei a falar que havia feito um trabalho etc e tal. Depois de certo tempo ele me diz pausadamente, com aquela voz de paulista:
”Estamos conversando há quinze minutos e você não disse seu nome.”
Foi nosso primeiro contato e falamos uns cinqüenta minutos, a ligação era interurbana, eu não queria desligar nunca, imaginem minha emoção. A partir daí passamos a nos falar sempre, pelo menos uma vez por mês. Uns dois anos depois, um dia ele me disse:
“Ficarei velhinho e você não virá me conhecer”.
Foi a senha para que eu fosse.

O primeiro encontro foi na casa dele e Raduan me fez falar, me perguntou TUDO sobre minha vida e minha família. Ficamos até uma da manhã conversando, aliás, ele me ouvindo, então me levou para a casa de meus amigos, onde eu estava hospedada. Ficamos de almoçar juntos no dia seguinte, eu voltaria para o Rio à tarde, mas no dia seguinte ele ligou dizendo que havia esquecido que era aniversário de sua mulher, hoje ex., que ficaria para a próxima vez.

Depois nos vimos no Rio num encontro que ele teve com Chico Buarque onde fizeram leituras de trechos de seus livros, Raduan leu Chico, Chico leu Raduan- já contei aqui que Chico se engasgou e quase chorou lendo “Hoje de madrugada”.
Não voltamos a nos ver. Ele gostaria de vir ao nordeste, mas anda com probleminhas de saúde, adiou a viagem que seria em fevereiro, quer vir visitar Ariano Suassuna também de quem é amigo.

Acabo de falar com ele, fica contente pelo filme, mas disse suspirando que está tão distante disto tudo...Diz que o chateiam para dar entrevistas, acho que quem quiser saber mais sobre Raduan deve ler o Caderno e devem respeitar seu silêncio, ele concordou quando eu disse isto, as pessoas insistem, querem descobrir o porquê do silêncio. Meu Deus! se alguém pede silêncio, respeitem. O que vale é a obra maravilhosa dele, se parou de escrever, é isto ai, “É um fato”, ele disse, “e ponto final”. Concordo. Há dias em que ligo e ele está muito quieto, então eu digo:” Não quer falar hoje, não é?” “Não é com você, você sabe.” Eu sei, eu o respeito e vou amar este homem sempre, mesmo no seu silêncio: “Homem maduro, coração duro”*, eu digo, ai ele cai numa gargalhada que me faz feliz, ele ri comigo, isto é o que me basta. Vida longa para meu querido amigo Raduan!









Mergulho em Raduan Nassar conduz a pequena obra-prima

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Uma parábola de ressonâncias bíblicas escrita por um homem de nosso tempo, vale dizer, por alguém que, entre outras coisas, leu Freud e tem consciência de que o modo de contar uma história é tão importante quanto a história em si. Assim pode ser definido, de modo sumário e um tanto selvagem, o pequeno grande romance "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar.
Conta-se ali, numa prosa ao mesmo tempo delicada e furiosa, intrincada e encantatória, a tragédia do filho desgarrado de uma família de imigrantes libaneses no interior brasileiro. A dicção elevada do texto, a maestria na criação de um universo literário quase atemporal, a abordagem de temas espinhosos como o incesto e o ódio filial, tudo isso fazia do livro um desafio aparentemente intransponível para uma adaptação ao cinema.
Foi justamente com esse livro infilmável que Luiz Fernando Carvalho, já respeitado por seu trabalho de diretor na televisão, resolveu estrear no longa-metragem de cinema.
"Lavoura Arcaica" (2001), o filme, foi o resultado de uma imersão radical de seu realizador, do elenco e da equipe de produção no universo do livro. É uma daquelas obras cujo processo de realização é tão rico e interessante quanto seu resultado.
Para ter uma idéia, o elenco e parte da equipe passaram quatro meses vivendo na fazenda do interior de Minas Gerais onde o filme seria rodado. Ordenharam vacas, repararam cercas, costuraram roupas, ao mesmo tempo que estudavam o texto, aprendiam danças, ouviam músicas relacionadas ao tema etc.
Além do filme propriamente dito -uma obra cujo valor só tem aumentado diante da pobreza estética do cinema atual-, o DVD agora lançado traz um precioso documentário sobre esse processo coletivo de criação.
Dirigido por Raquel Couto, que trabalhou como pesquisadora de elenco do longa, é um substancioso making of, com depoimentos dos principais atores e membros da equipe, sobrepostos a imagens de filmagens, preparação e bastidores.
Da diretora de arte (Yurika Yamasaki) ao compositor da trilha (Marco Antônio Guimarães), da figurinista (Beth Filipecki) ao diretor de fotografia (Walter Carvalho), todos falam das minúcias do trabalho de buscar uma tradução audiovisual para o livro, ou antes, para a leitura que Luiz Fernando Carvalho fazia do livro. Todos, aparentemente, contaminados pela febre criadora do diretor.
"Lavoura Arcaica", o deslumbrante fruto dessa entrega, contém ao menos quatro seqüências antológicas: a de abertura, em que o extraviado André (Selton Mello) se masturba num quarto de pensão; as duas danças festivas, a primeira de pura alegria e sensualidade telúrica, a segunda tingida por um erotismo diabólico; e o diálogo final entre André e o pai (Raul Cortez).
Completa o DVD uma dispensável conversa entre o cineasta Fernando Solanas e o curador André Paquet, do Festival de Montréal. Falando diretamente a Carvalho, eles se desmancham em elogios a seu filme, em algo que beira a adulação.











Trecho de “Lavoura arcaica”
“... e embora caído numa sanha de possesso vi que meu irmão, assombrado pelo impacto do meu vento, cobria o rosto com as mãos, era impossível adivinhar que ríctus lhe trincava o tijolo requeimado da cara, que faísca de pedra lhe partia quem sabe os olhos, estava claro que ele tateava à procura de um bordão, buscava com certeza a terra sólida e dura, eu podia até escutar seus gemidos gritando por socorro, mas vendo-lhe a postura profundamente súbita e quieta (era o meu pai) me ocorreu também que era talvez num exercício de paciência que ele se recolhia, consultando no escuro o texto dos mais velhos, a página nobre e ancestral, a palma chamando à calma, mas na corrente do meu transe já não contava a sua dor misturada ao respeito pela letra dos antigos, eu tinha que gritar em furor que a minha loucura era mais sábia do que a sabedoria do pai, que a minha enfermidade me era mais conforme que a saúde da família, que os meus remédios não foram jamais inscritos nos compêndios, mas que existia uma outra medicina (a minha!), e que fora de mim eu não reconhecia qualquer ciência, e que era tudo só uma questão de perspectiva, e o que valia era o meu e só o meu ponto de vista, e que era um requinte de saciados testar a virtude da paciência com a fome de terceiros, e dizer tudo isso num acesso verbal, espasmódico, obsessivo, virando a mesa dos sermões num revertério, destruindo travas, ferrolhos e amarras, tirando não obstante o nível, atento ao prumo, erguendo um outro equilíbrio, e pondo força, subindo sempre em altura, retesando sobretudo meus músculos clandestinos, redescobrindo sem demora em mim todo o animal, cascos, mandíbulas e esporas, deixando que um sebo oleoso cobrisse minha escultura enquanto eu cavalgasse fazendo minhas crinas voarem como se fossem plumas, amassando com minhas patas sagitárias o ventre mole deste mundo, consumindo neste pasto um grão de trigo e uma gorda fatia de cólera embebida em vinho"...

“Estamos indo sempre para casa” Raduan em de Lavoura Arcaica.

"O Estado de São Paulo" fez uma grande reportagem sobre o filme no dia 06/08/05, não consegui acessar, é só para assinantes, se você tem o jornal ai dê uma olhada que vale a pena.
Bom dia.

domingo, agosto 14, 2005

Que semana!

Esta semana foi no mínimo emocionante, triste também.
O nave Discocery pousou depois de muita emoção e expectativas.




Nagasaki lembrou os 60 anos da explosão da bomba com cenas emocionantes, comove ver aqueles velhinhos imaginando, mas nunca alcançando o sofrimento deles, terrível. o que







Uma semana movimentada nos depoimentos das CPIs, o depoimento de Cristiano Paz e Duda Mendonça assisti com muita atenção, não me surpreendi, quem não sabe que existe caixa dois e remessas para o exterior está muito fora da nossa realidade há muitos anos. Eu atendia empresários e sabia que é prática comum, caixa dois e remessas para fora, é muito fácil basta ter uma certa quantia, há um limite mínimo.
Agora ver Duda Mendonça querendo salvar a pele é tão asqueroso quanto ver o Roberto Jefferson dando uma de salvador da pátria.

Fechando a semana vem a morte de Miguel Arraes, homem que admirei sempre pela sua coerência. A cena mais comovente de hoje foi o povo cantando no seu velório, canta espontaneamente uma canção que não conheço, foi lindo.

E caiu um avião lá na Grécia, houve um problema no sistema de pressurização e climatização. Chocante saber que morreram congelados, um passageiro passou uma mensagem ao primo por telefone dizendo que o piloto e co-piloto estavam congelados, não é terrível isto?

Melhor acabar com o Millôr hoje, vão lá dar uma lida para distrair.





Papais, feliz dia dos pais para vocês!

sábado, agosto 13, 2005







Quero deixar claro que não sou a favor de impeachment, acho que não é a hora, desestabilizaria todo o Governo, mas sou pela Justiça, que sejam punidos todos os envolvidos e que haja logo a reforma eleitoral.
E não nos esqueçamos do casal Garotinho, entrem no site do Basta!Rio contra o caos.

Crônica: O professor cego


















O Colégio era estadual, um prédio enorme, cimento armado, cinzento, frio, estilo moderno- década de sessenta- salas grandes, varandas para o mar, muito vento.
Eu vinha de Curitiba, colégio de freiras francesas, era ma mére pra lá e pra cá, estranhei a desorganização do colégio público, nem sei como fui parar lá, deve ter sido minha escolha, pois eu detestava as freiras arrogantes com roupas que cheiravam a suor, lembro do cheiro até hoje. Ali no colégio estadual era tudo diferente, mas humano.
Havia um professor cego, Feliciano, dava aulas de português , era estranho, um homem alto, forte, usava paletó surrado, camisa branca surrada, óculos escuros grandes. Dava as aulas caminhando pela sala e tocando nas alunas, alisando os ombros: ”Quem é você? ah, é a fulana, não é”? Ele queria beijar as meninas, dava beijos melados em algumas. Eu fugia, desviava, ia para a varanda, nós nos divertíamos fugindo do professor cego. A aula era divertida, ele não parava na mesa do professor.
Cursei um semestre neste colégio, voltei para Curitiba, desta vez para um outro colégio, também de freiras, mas desta vez freiras de outra congregação. Fui morar com minha avó materna, foi um dos piores momentos da minha vida, depois dizem que avó é sempre boa, a minha me infernizou, conto outro dia.

sexta-feira, agosto 12, 2005

O violinista do Titanic.















Hoje não consigo escrever, estou esperando o Lula falar, não consigo me concentrar.
Mas gostaria de dizer que eu não estou chocada nem surpresa com o que está acontecendo, depois do caso Waldomiro eu já esperava qualquer coisa e nunca acreditei que o Lula, ou qualquer outro politico, consiga chegar ao poder sem se sujar, é um mundo podre, eu vi de longe, naturalmente há pessoas decentes lá, mas nunca chegarão ao podium. Esta corrupção veio à tona agora por que? por que antes não vinha? é um caso a pensar, a elite tucana sabia lidar melhor com este jogo sujo? o PT enfiou o pé na jaca, sorry periferia ( desenterrei esta de Ibraim Sued, não é? nossa há quanto tempo não ouço falar nele). Se Lula se der mal hoje ao falar acredito que não terá mais chance, ou consegue se explicar ou dança, eu torço para que o circo não pegue fogo, todos seremos prejudicados, mas ele tem que acabar com esta farsa. Mas fiquem sabendo que ele na verdade pode saber muito pouco, este tipo de serviço é feito pelos subalternos, eles não sujam as mãos, fingem que não vêem.










Vocês sabem qual é a frase da semana que escolhi?
" O presidente Lula está que nem o violinista do Titanic" de José Simão no Monkey News.



Foto publicada no blog de Angelo Carella Garbarino



Os novos super-heróis da burguesia

Por Emir Sader

Quem a Associação Comercial de São Paulo convida para falar aos grandes empresários do comércio? A um economista, para falar dos saldos da balança comercial, que mal escondem nossa reconversão para uma economia primário exportadora? Nada disso. Optou mesmo por Roberto Jefferson.

“A burguesia não tem heróis”
Bertold Brecht

Pobre Brecht! Não sobreviveu para conhecer os super-heróis da burguesia brasileira.

A quem a Associação Comercial de São Paulo convida para falar aos grandes empresários do comércio? A um economista, para falar dos saldos da balança comercial, que mal escondem nossa reconversão para uma economia primário exportadora? Ou sobre a estreiteza do mercado interno de consumo? Ou então sobre a taxa de juros, que inibe o consumo e o investimento?

Foram convidados Luis Gonzaga Belluzzo? Ou João Sayad? Ou Maria da Conceição Tavares?

Nada disso. Roberto Jefferson. Exatamente. O escroque Roberto Jefferson, com quem essa burguesia se havia relacionado tão estreitamente no governo Collor, que eles haviam eleito e promovido a seu mais novo super-herói – junto com a quase totalidade da mídia.

Falando muito à vontade, sentindo-se em casa. Com razão! Afinal ele estava na Avenida Paulista, notabilizada por abrigar a 101 agências bancárias! Por ser o coração do Estado governado pelo novo candidatinho da burguesia neoliberal – o picolé de chuchu, como o chama muito propriamente o Zé Simão, pela consistência e o saber forte que o caracterizam, um nada de nada, mas com privatizações daquele tamanho.

Este é o novo herói na galeria dos super-heróis da burguesia brasileira, que vem se somar a Severino Cavalcanti e ao candidato dos ilustrados jardins paulistanos, o weberiano FHC. E a Fernando Collor, aposta de toda a burguesia brasileira, incluídos os tucanos, de Tasso Jereissati a FHC, da Rede Globo aos dos “liberais” brasileiros.

E aos ditadores militares, todos eles consagrados nas ruas das nossas cidades e nas linhas da imprensa “liberal” brasileira como “presidentes” – de Castelo Branco a João Figueiredo, de Costa e Silva a Garrastazu Médici, passando por Ernesto Geisel – e não “ditadores” – epíteto reservado para Fidel – e nunca para Musharaf ou para os xeiques árabes – como diria Foster Dulles, “ditadores, mas os nossos ditadores e, portanto, presidentes”.

Bela burguesia liberal, que conviveu alegremente com a escravidão, a monarquia, a primeira “república”, a ditadura militar, o governo Collor, as mamatas da privatização do governo FHC, e agora goza e se representa em Roberto Jefferson.

Das suas mãos poderemos esperar o melhor para o Brazil, com ministros de relações exteriores que tiram subservientemente os sapatos nos aeroportos dos EUA, com presidentes que conchavam contra a América Latina em Washington, com ex-ministros da Educação que vivem de assessorias a entidades privadas de educação que sua gestão promoveu. E sempre escribas na imprensa, dispostos à bajulação dos poderosos de plantão

Aleluia! A burguesia tem super-heróis! Pobre país que precisa de uma burguesia assim!

Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".
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Simão- Monkey news

quinta-feira, agosto 11, 2005

Bartleby por Contardo Calligaris.


Leiam o texto do Calligaris da Folha de hoje, eu resolvi copiar para vocês porque a maioria não tem tem como ler on-line. Calligaris fala do livro "Bartleby, o Escrivão", eu ainda não li, deve ser ótimo. Há um outro livro "Bartleby e companhia" de um autor espanhol Enrique Vila-Matas, editora CosacNaify, onde ele fala da Síndrome de Bartleby, seria a negativa do sujeito, recusa, em fazer coisas das quais se encontra apto a fazer.O Nemo nox escreveu sobre isto lá no Pulsão Negativa também. Como ando falando dos maluquinhos da vida, hoje leiam sobre mais uma das esquisitices humanas. Salinger e Raduan Nassar seriam exemplos de escritores que se recusam a escrever sendo reconhecidos como grandes escritores, Raduan eu sei que não escreve, mas Salinger parece que escreve, mas se recusa a aparecer e publicar. E sabem que Raduan diz que se divertia muito escrevendo? ria muito ao escrever. Acredito que fazer muito sucesso pode provocar este tipo de bloqueio, esta recusa. Mas leiam o Calligaris que como sempre está ótimo. Esta ilustração não é a do livro, coloquei pela foto do Melville.

Bartleby
"Bartleby, o Escrivão", de Herman Melville (o autor de "Moby Dick"), está se tornando um pequeno best-seller. O fato é que a editora, CosacNaify, criou um maravilhoso livro-objeto, que reproduz materialmente o espírito do próprio Bartleby: fechado e costurado, resistente.
Bartleby é um escrivão, aparentemente zeloso, que um belo dia começa a recusar, com monótona e tranqüila determinação, as tarefas que lhe são propostas. "Acho melhor não": essa frase é tudo o que ele diz. Seu empregador (o narrador da novela) não consegue acesso algum à história de vida de Bartleby e às razões pelas quais ele não aceita ordens e serviços. Bartleby não vai embora, não se irrita nem esbraveja, apenas se recusa. Exasperador, não é?
Bartleby já foi explicado de mil maneiras: um Cristo moderno, um proletário revoltado, um precursor das personagens das peças de Samuel Beckett. Como ele não fala nada (segue silencioso, achando melhor não), permito-me sugerir minhas duas maeiras de ler a novela.
1) Não sou um perito em Melville. Li uma boa biografia ("Melville, a Biography", de Laurie Robertson-Lorent) e sempre leio prefácios e posfácios. Basta-me para saber o que segue. Melville escreveu uma boa parte de suas ficções curtas entre 1853 e 1856. "Moby Dick", o romance do qual ele esperava fama e fundos, tinha sido um fracasso de vendas, em 1851. Em 1849 nascera Malcolm, seu primeiro filho, que Melville recebeu atormentado pelo medo de não conseguir sustentar sua família. Malcolm devia ter quatro ou cinco anos quando Melville escreveu "Bartleby".
Ora, não consigo me desgrudar desta idéia: o escrivão, que não sai do escritório, não quer falar dele mesmo e se recusa a cumprir tarefas e pedidos, é curiosamente parecido com uma criança que resiste obstinadamente aos pais, não diz nada (porque não pode ou não quer) sobre as razões de sua oposição e, claro, não tem como sair de casa.
Muitos pais reconhecerão, no "acho melhor não" de Bartleby, o antagonismo surdo de filhos que, apesar de mil perguntas dos adultos, mantêm-se obstinadamente hostis, silenciosos e enigmáticos. Esse negativismo fechado, sem conversa, cresce à medida que ele enfurece os adultos. Se não for encontrado um jeito de trocar palavras e afetos, o prognóstico é delicado. Malcolm, o primeiro filho de Melville, suicidou-se com um tiro na cabeça, aos 18 anos.
2) Psiquiatras, psicanalistas e críticos se debruçaram sobre a personalidade de Bartleby, que já foi diagnosticado como esquizofrênico, anoréxico etc. Mas há um transtorno da personalidade pelo qual a leitura da novela de Melville vale mais que uma monografia patológica. O "DSM IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais", da American Psychiatric Association, descreve o "transtorno de personalidade agressiva-passiva" como um padrão de atitudes negativas e de resistência passiva diante dos pedidos de produzir um desempenho adequado. O sujeito se recusa, passivamente, a cumprir tanto sua rotina social quanto suas tarefas ocupacionais. A monografia mais recente sobre esse quadro é "Passive-Aggression: a Guide for the Therapist, the Patient and the Victim" (agressão-passiva: um guia para o terapeuta, o paciente e a vítima), de Martin Kantor.
A personalidade agressiva-passiva é tipicamente masculina. Nas brigas de casais, o homem agressivo-passivo é a parede contra a qual jogam a louça de casa mulheres enlouquecidas pela fria compostura de seus companheiros.
Os psiquiatras podem discordar quanto às causas do transtorno, que se encontram na vida pregressa do sujeito, mas todos parecem concordar quanto ao seguinte: o agressivo-passivo é cheio de ódio e ressentimento. Talvez ele se limite a resistir passivamente para não soltar uma agressão que, sem isso, seria explosiva e mortífera além da conta.
Pois bem, o que me impressiona, ao ler e reler "Bartleby", é que essa novela de menos de 40 páginas, em que não aprendemos nada sobre a vida do escrivão ou sobre seus pensamentos, é muito, mas muito mais rica em sabedoria (inclusive clínica) do que o livro de Kantor (que, aliás, é um bom livro).
Em outras palavras, o que me impressiona é sobretudo o milagre da literatura, sua inexplicável capacidade de nos dar acesso à experiência humana. Misteriosamente, os silêncios de Melville me aproximam de Bartleby mais que as 232 páginas de Kantor.

No fim da coluna da semana passada, mencionei uma idéia segundo a qual a mediocridade das "elites" seria o efeito inevitável de uma mobilidade social acelerada. Nesse caso, as "elites" econômicas ou políticas se constituiriam sem ter a chance de crescer culturalmente. Alguns leitores me responderam que nossas elites já são carregadas de MBAs e coisas que os valham. Há um mal-entendido: a cultura não são as coisas que sabemos, a cultura é nossa capacidade de compreender (não só entender) a estranha diversidade de nossa espécie. É uma coisa que se encontra nas salas de cinema, nos teatros e ao abrir, sempre que der, as páginas de uma obra de ficção. Bartleby, por exemplo.

quarta-feira, agosto 10, 2005

O andarilho
















Picasso


O andarilho


Passa os dias caminhando pela pequena cidade que conhece tão bem, seco pela magreza e pelo sol. Menino se destacou pela inteligência, depois pela estranheza até o internarem num hospício estadual, um hospital colônia, onde ficou mais de quinze anos. Saiu assim seco, desdentado, carcomido, velho.
Um dia ao sair de casa, quase esbarro nele, devia estar à espreita, fez questão de me acompanhar, eu dizia que preferia ir só, que ele bêbedo não era companhia para ninguém, insistiu e foi comigo até a Rodoviária, eu estava indo para o Rio. Eu o conheço desde menino, foi vizinho, apanhava da mãe, uma mulher muito estranha, era amigo do meu irmão mais velho, gostava de conversar, dizer poemas de Clarice, Fernando Pessoa.
No caminho quis me beijar, eu desviava, o empurrava, cheirava a álcool,cigarro, suor, dizia: “Ir para o Rio que nada, vamos lá na praia, tomar um banho de mar, beijar, lá é a minha casa”. Ria alto.
Foi assim até a Rodoviária, uns quinze minutos de caminhada. Comprei rapidamente a passagem, ele atrás: “Assuma que é uma coroa gostosa, me dê um beijo”. Eu envergonhada e apressada, queria fugir aquela figura estranha descalça, bêbeda, tentando me agarrar. Entrei no ônibus, estava quase vazio, naquele horário poucos viajavam. Sentei, peguei o jornal tentando desviar a atenção dele que estava do lado de fora, esperando o ônibus partir. De repente ele entra, joga no meu colo a garrafinha de água mineral com conhaque que trazia e diz: ”Para você beber na viagem”.
Vou até a porta do ônibus, jogo a garrafinha de volta e pergunto para o motorista como o deixou entrar:“Ele disse que era seu irmão e queria lhe entregar água”.

Esta história é real, sem por nem tirar, eu depois ri muito, mas na hora foi um sufoco fugir dele, desviar. Depois disso eu disse que não queria mais papo com ele, me pediu desculpas e disse que me entendia. Não insistiu mais, só cumprimentava. Eu tinha receio porque ele não é normal e poderia um dia me pegar de verdade, eu até aquele dia desconhecia o desejo dele por mim.

terça-feira, agosto 09, 2005

A comandante do Discovery e a Sra Garotinho.




















Hoje vou fazer um post diferente. Há coisas que não se pode ignorar.
Ontem recebi um email de uma amiga e quero divulgar aqui, porque acho importante fazermos alguma coisa. Um dia coloquei desenho do Basta! Rio contra o caos e não fiz mais nada, agora está na hora de mandar emails para os juizes, quem achar que deve, copie aqui e mande.
Basta! chega de impunidade, vamos mudar.
O email que recebi:
"Amigos
A preocupante crise em Brasília não deve nos distrair da gravidade do que acontece em nosso Estado. Nos próximos dias será julgada a sentença da juíza Denise Appolinária pela inelegibilidade do casal Garotinho.

É chegada a hora de se fazer justiça contra estes abusos cometidos por esse casal de políticos.

É preciso manifestar aos juízes que julgarão essa sentença o desejo da Sociedade Civil, que está acompanhando o processo e clama para que os desmandos cometidos sejam punidos.

É importante lembrar que a crise em Brasília cria um terreno fértil para o populismo. Não podemos permitir que o Garotismo seja exportado para todo Brasil.

Para facilitar, enviamos uma sugestão de carta. Se preferirem redijam o seu próprio texto. O importante é que todos se manifestem!
[ Sugestão de Carta ]:

Excelentíssimo Sr. Juiz,

Nós, cidadãos, acompanhamos confiantes o trabalho de Vs. Excelência e temos
esperança de ver confirmada a sentença da juíza Denise Appolinário pela
inelegibilidade do casal Garotinho. A Sociedade Civil deseja dar um fim
na impunidade e à imoralidade política.

Cordialmente
(nome)


E-mails dos Juízes:

Antonio Jayme Boente, boente@tj.gov.br; Ivan Luís Nunes Ferreira, ivan@infadvogados.adv.br; Jacqueline Lima Montenegro,chgralato@tj.rj.gov.br;
Marcio Aloísio Pacheco de Mello, snunes@tre-rj.gov.br ; Marlan de Morais Marinho, marlan@tj.rj.gov.br ;Paulo César Morais Espírito Santo, gabes@trf2.gov.br ;Roberto Wider, wider@tj.rj.gov.br ;

Enviem para todos os seus conhecidos essa mensagem. Vamos mobilizar toda
a cidadania carioca pela INELEGIBILIDADE, JÁ! "
Os não cariocas também podem participar, afinal o Rio é o cartão postal do Brasil. Vamos lá, gente, é fácil.


O Discovery é comandado por uma mulher.


Vejam que história fantástica, vai dar filme, com certeza. Todos já vimos que o Discovery é comandado por uma mulher, mas poucos conhecem a história dela.
"Collins foi criada em Elmira, Nova York. Seus pais se separaram quando ela tinha 9 anos. Ela viveu em abrigos públicos e não tinha dinheiro para luxos como as aulas de vôo com que sonhava.
"Desde criança eu ficava olhando os planadores", disse Collins. "Elmira, com o Harris Hill, é a capital dos planadores dos Estados Unidos, e tive muita sorte de crescer naquela região".
"Acho que meu desejo de voar só cresceu", contou. "Ajudei a satisfazê-lo lendo".
Aos 16 anos, Collins fazia bicos e guardava as economias. Aos 19, tinha economizado 1.000 dólares.
"Levei aquele dinheiro ao aeroporto local ... e pedi que eles me ensinassem a pilotar", disse Collins. Ela pilotou sozinha depois de apenas oito horas de aulas. Ganhou bolsas de estudo e fez empréstimos para entrar numa faculdade comunitária e depois se transferir para a Universidade Syracuse, onde se formou em matemática e economia.
Ao se formar, Collins entrou na Força Aérea e se formou em 1979".
Eu fico a pensar como uma menina pobre e praticamente abandonada tem esta garra, o que a fez lutar e chegar onde chegou. Viram que guardava dinheiro? é incrível a força de vontade dela. Leiam no link, é casada e tem dois filhos. Os filhos terão orgulho da mãe, têm, com certeza.
Eu não gosto dos americanos em geral, mas reconheço os méritos, sou justa. Esta mulher merece ser lembrada.
E a Sra Garotinho deve ser esquecida assim como todos estes outros políticos que estão nos envergonhando. Xô.

Para acabar e melhorar nosso humor entrem no Simão, está hilário, eu ri muito, como vocês sabem eu adoro o Simão, além do mais ele é gente fina, um sujeito generoso, eu amo o Simão. Se todos aqui fossem como o Simão eu tenho certeza que não haveria espaço para depressão. Valeu Simão, meu macaquito preferido.

CPI também é cultura! Veja a charge do Frank



E mais, tenho um apartamento em Ipanema para alugar, dois quartos e garagem, na Rua Nascimento Silva, se souber de alguém interressado por favor mande um email para laura.4@terra.com.br Tks.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Ligações perigosas.































Ontem vi " Ligações Perigosas" ( Les Liaisons Dangereuses) em nova adaptação do livro de Choderlos de Laclos. O filme de Stephen Frears com John Malkovich e Glenn Close eu detestei, sei que muitos de vocês adoram o filme, eu não gosto nem de Glenn Close nem de John Malkovich, apesar de achar que são bons atores.
O filme que vi foi o da diretora francesa Josée Dayan de 2003 e se passa na década de 60. Catherine Deneuve é Madame de Merteuil, Rupert Everett faz Valmont, Nastassja Kinski é Marie e Leelee Sobieski faz a jovem Cécile. Parece que foi feito para a televisão, mas não perdeu, é longo, mas gostei bastante. Catherine Deneuve está como sempre linda, veste Jean Paul Gaultier e como não tem muita expressão dramática faz bem a mulher racional que o papel exige. Todos estão bem, demorei para identificar Nastassja Kinski, está linda e delicada, eu não vi muitos filmes com ela e lembrava da jovem e bela Tess e de "Paris Texas", já a vi em outros filmes, mas não lembro.Ela está muito bem no papel da inocente Marie.
A história se passa na França, Saint Tropez. França e Côte d'Azur me lembram o meu amigo Jean Guillaume, morro de saudades, ele viveu lá nesta época, depois foi para Cabo Frio, terei saudades de Jean sempre, ele já morreu há 20 anos, mas está muito presente na minha vida.
Incrível como o jogo da sedução é assustador e fascinante. É um jogo de cartas marcadas, fiquei pensando com meus botões como é fácil seduzir se você faz isto como um jogo, de forma racional, muitos o fazem por insegurança, pelo simples desejo de serem amados por todos. Já falamos aqui sobre as relações virtuais e a sedução, do quanto desejamos ser amados, mas eu falo de um jogo mais perigoso, mais cruel, o de seduzir e descartar.Estamos rodeados por sedutores de toda espécie, manipuladores e frios, não só na vida afetiva como na política.
É um bom filme, vocês já viram? Vale a pena. Sabiam que é a quinta filmagem baseada no livro? Foi filmado previamente como As Ligações Amorosas (1959), Ligações Perigosas (1988), Valmont - Uma História de Seduções (1989) e Segundas Intenções (1999). Gostaria de ver a versão de Roger Vadim de 1959 com Jeanne Moreau,
Gérard Philipe e Jean-Louis Trintignant ainda não vi.







A bela Nastassjia.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Meu blog e os filmes que vi ontem.




















É estranho como o blog vai mudando, como tenho tido leitores que gostam dos meus contos eu tendo a escrever mais contos, o que é bom, me obriga a escrever, mas me tira um pouco a espontaneidade original, eu me sentia mais entre amigos, agora não, talvez um pouco pela descoberta de alguns leitores indesejáveis, sei lá, ou porque não ando muito animada com nada.
Ontem resolvi ficar vendo filmes e vi estes quatro filmes, um atrás do outro, coisa que há anos não fazia.

"ADEUS, LENIN!"
Good Bye, Lenin! Alemanha 2003 de Wolfgang Becker com Katrin Sass, Daniel Bruhl e Chulpan Khamatova
Adorei o filme, fazia tempo que queria ver. É comovente e original. A história acontece no período da queda do muro de Berlin. A mãe do personagem principal sofre um infarto e fica desacordada oito meses, neste período o muro cai e muda tudo, mas ele quer mantê-la sem saber o que aconteceu, pois a mãe era atuante política e fã ardorosa do sistema. Acontecem coisas incríveis, ele faz coisas mirabolantes para manter a mãe sem saber o que realmente acontece. Inventa um canal de TV onde ele coma ajuda de um amigo dão noticias de um mundo que já não existe mais. Troca rótulos de alimentos...É engraçado e comovente, uma bela história de amor. É bom ver o regime caindo, as mudanças, o que vem com o capitalismo. Há a questão da mentira, ele mente para a mãe todo o tempo, a irmã e a namorada não querem mais manter a farsa, ele não deixa. No fim a mãe confessa uma mentira, uma grande mentira que poderia , se evitada, mudar a vida de todos, não vou contar. Um filme imperdível.


The Rising Place de 2001. EUA. Direção: Tom Rice. Elenco: Laurel Holloman, Elise Neal, Mark Webber, Gary Cole, Tess Harper, Frances Fisher
Durante a II Guerra Mundial, numa cidadezinha nos Estados Unidos, uma jovem classe média engravida de um jovem piloto que é convocado, ai começa o drama da mocinha. É um belo filme sobre amizade, preconceitos, luta contra o preconceito racial, religioso, social. A amizade entre uma moça branca e uma negra levanta várias questões. Um filmezinho bom de se ver, nada de especial, mas também nada que o comprometa. Lembrei de “Tomates verdes fritos” , tem semelhanças, a amizade das duas, a história contada pela personagem já velha, várias semelhanças, “Tomates verdes fritos” é melhor, mais denso, mais dramático.


“O Sorriso de Mona Lisa” é um filme de 2003
Dirigido por Mike Newell (Donnie Brasco) e com Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles e Marcia Gay Harden no elenco.
É 1953 e Julia Roberts faz uma professora de história da arte que subverte as alunas de um colégio conservador(Wellesly College) com suas idéias liberais. Eu não fazia questão nenhuma de ver este filme, não gosto muito da Julia Roberts, já havia visto na locadora muitas vezes, mas ontem estava sem vontade de fazer nada e resolvi ver na HBO. Vi com interesse e lembrei demais de uma ex cliente, que viu quando foi lançado, e me dizia que eu devia ver, que a Julia, a personagem, é parecida comigo, conclui com meus botões que era coisa de cliente e nem quis ver o filme. Ontem chorei muito vendo o filme porque me vi ali, acabou o filme e eu fiquei chorando, ainda por cima a música final é Smile de C. Chaplin.Foi difícil me recuperar, passei o dia mal.

Depois para relaxar vi “O casamento Grego”,( My Big Fat Greek Wedding) (EUA,2002. Direção de Joel Zwick.
A atriz principal, Nia Vardalos (Fotoula "Toula" Portokalos), fazia a peça quando foi descoberta pela mulher de Tom Hanks que topou produzir o filme com ela no papel original.
O par amoroso é John Corbett um galante e guapo rapaz. É uma comédia romântica, onde uma moça já considerada solteirona dá a volta por cima, se livra das garras do pai e arranja um belo namorado.O difícil e engraçado é convencer o pai a aceitar que se case com um não grego. Uma comédia gostos de ver, além do mais não tem caras conhecidas, o que acho ótimo também.













Espero que hoje meu dia seja melhor, pois ontem estava com uma nuvem negra sobre a cabeça. Argh
Bom dia a todos.