sábado, agosto 13, 2005

Crônica: O professor cego


















O Colégio era estadual, um prédio enorme, cimento armado, cinzento, frio, estilo moderno- década de sessenta- salas grandes, varandas para o mar, muito vento.
Eu vinha de Curitiba, colégio de freiras francesas, era ma mére pra lá e pra cá, estranhei a desorganização do colégio público, nem sei como fui parar lá, deve ter sido minha escolha, pois eu detestava as freiras arrogantes com roupas que cheiravam a suor, lembro do cheiro até hoje. Ali no colégio estadual era tudo diferente, mas humano.
Havia um professor cego, Feliciano, dava aulas de português , era estranho, um homem alto, forte, usava paletó surrado, camisa branca surrada, óculos escuros grandes. Dava as aulas caminhando pela sala e tocando nas alunas, alisando os ombros: ”Quem é você? ah, é a fulana, não é”? Ele queria beijar as meninas, dava beijos melados em algumas. Eu fugia, desviava, ia para a varanda, nós nos divertíamos fugindo do professor cego. A aula era divertida, ele não parava na mesa do professor.
Cursei um semestre neste colégio, voltei para Curitiba, desta vez para um outro colégio, também de freiras, mas desta vez freiras de outra congregação. Fui morar com minha avó materna, foi um dos piores momentos da minha vida, depois dizem que avó é sempre boa, a minha me infernizou, conto outro dia.

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