quinta-feira, agosto 25, 2005

Mini conto: O médico de Esperanza















Picasso


Esperanza foi ao médico relutando, há dias não saia de casa, não queria, pensava em que ele poderia ajudá-la.
À primeira pergunta do doutor pôs-se a falar de sua tristeza, da sua nostalgia. Emagrecera, suas roupas agora folgadas no corpo precisam de um cinto para não caírem.
Depois de quinze minutos de fala ansiosa o médico perguntou:
-E fora a alma, com vai o corpo?
A mulher a sua frente desabou a chorar, não havia nada errado com seu corpo, definhava porque não queria comer.
O doutor, bom clínico, precisava fazer os exames de praxe, ela respirou fundo e deitou na maca, era obediente.
Ao primeiro toque do médico no seu tornozelo sentiu-se nua, ele veio com as mãos para sua barriga pressionar as vísceras, Esperanza não via a hora de sair dali.
-Agora sente-se e respire fundo, preciso ouvir o seu peito e verificar os reflexos.
Saiu dali com as requisições para os exames de colesterol e triglicerídeos.
Ficarão esquecidos no fundo da bolsa, mas não esquecerá os quinze minutos que o médico auscultou a sua alma.

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