sábado, agosto 20, 2005

Mini conto. A jardineira de gerânios

A jardineira de gerânios


Eram amantes há dezessete anos, todo final de tarde ele vinha, trazia um chocolate, uma flor, algo que ela gostasse. Amavam-se até a hora marcada, já estavam acostumados às despedidas e tudo fluía com serenidade.
Um dia a mulher cansada com seu silêncio e descaso pediu o divórcio, ele refutou, argumentou que perderiam em status, teriam que vender o apartamento de 300 metros quadrados. Ela não cedeu, queria refazer a vida, estava voltando a estudar.
Ele levou um susto, sentiu-se inseguro, aquela foi a mulher com quem casou há trinta anos, foi a primeira paixão, como viver sem ela?
A amante o esperava, estranhava as desculpas, quando vinha ficava calado, sentado como visita, passou a ter um olhar inquisitivo que desconhecia.
Ele pensava no quanto ela envelhecera nestes dezesete anos, estranhava suas palavras simples, seus gestos espontâneos. Ela adivinhando o abandono começou a se fechar, não queria mais sair, arranjou uma licença médica de três meses. O telefone não mais tocava. Um dia fechou as janelas, tirou a jardineiras com flores. Estavam murchas.

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