O marido que não perdoava erros
Era um marido exigente, implacável, daqueles que não suportam uma almofada fora do lugar, seu armário não podia ser aberto, descobria se o abrissem, se o almoço atrasasse era um escândalo.
Começou a voltar do trabalho mais tarde, não dava desculpas, nem admitia perguntas, ai de quem perguntasse onde estava até aquela hora, ficava uma fera. Fazia o que queria, era o homem da casa, os outros que obedecessem, era o provedor, deviam dar graças à Deus. Os filhos o temiam, tudo era feio e proibido.
Adoeceu, uma diarréia o consumiu, precisou ser internado e na terceira internação com tuberculose ficou no hospital para sempre.
Um dia no quarto do hospital a mulher- a esposa- fazia sua higiene quando uma enfermeira entrou e gritou:
-Não pegue nele sem luvas!
-Por que não? disse assustada a mulher.
-Porque tem AIDS!
Saiu enlouquecida atrás da médica responsável.
-Como você não me avisou, sua irresponsável? me expôs e até aos netos à esta doença maldita!
Ele contraiu a gripe* em encontros de sexo promíscuo em grupos, ela agora sabia.
Como dizer aos filhos adultos que o pai deles os enganara uma vida toda? O filho se desesperou quando a mãe contou, andava como bicho enjaulado desesperado: “Como mamãe? como ele fez isto conosco?” A filha só aceitou ver o pai momentos antes de morrer, depois de muita insistência da mãe: “Está morrendo, minha filha, o perdoe fará bem a você”.
Cuidou dele até o fim, ficou um trapinho, leve, aquele homem bonito, alto e forte desapareceu. Cuidou dele com resignação até o fim, morreu no seu colo como um bebê. Tinha 51 anos.
*gripe=AIDS no meio gay.
Esta história é verdadeira, eu conheço esta mulher fantástica que depois de tudo que passou continuou a vida com dignidade e força. Um exemplo para mim e todas que a conhecemos, atualmente está estudando espanhol, fazendo revisões de português, nada todos os dias. É uma figura inesquecível e hoje é o aniversário dela. Não vou mandar hoje este texto porque hoje é dia de festa e eu mesma me comovi lendo o que escrevi lembrando do sofrimento dela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário