quarta-feira, fevereiro 04, 2009
O poeta frugal
Van Gogh
Chá das quatro com Drummond
Drummond se aproximou mais de mim, não sei exatamente porquê, depois da morte de Pedro Nava. Acho que foi porque fui amorosa com ele, fiz um cartão com um desenho bonito, caminhamos de mãos dadas por Ipanema...Ele sofreu muito com a morte de Nava, não se conformava, dizia: "Por que ele fez aquilo?"
Não sabíamos do drama que Nava vivia na época.
Ele me perguntava, todos os dias, como seria a minha tarde no dia seguinte, e eu lhe dizia que teria um dia de trabalho cheio, às vezes mentia, eu não queria estar a sós com ele. Pode parecer estranho para muitos, mas é verdade, eu tinha receio de criar uma expectativa muito grande e não corresponder, não queria ser culpada por vê-lo infeliz.
Nesta ocasião ele rompeu com a namorada, por uma razão que não lembro, uma bobagem, disse que não a queria mais. Fiquei assustada, eu era muito discreta, não o procurava, esperava que ele se aproximasse.
Eu estava, naquele momento, completamente apaixonada por outro homem, impossível jogar charme a quem fosse, mesmo para o nosso poeta. Eu lhe contava sobre o meu amor, e ele dizia que se eu quisesse manter a paixão deveria viver em casa separadas, como ele fez com a namorada, estavam juntos há trinta anos com amantes.
Um dia eu o convidei para tomar chá comigo. Ele trouxe de presente uma gravura abstrata de Renina Katz, em azul, muito bonita. Elogiou meus desenhos, contou muitas histórias de flertes e namoricos que teve ao longo da vida. Preparei uma bela mesa com chá inglês, geléia dinamarquesa, quindim mineiro, torradas...Tomou chá, disse que a mesa era linda, mas ele era frugal. Todas as vezes que ouço esta palavra lembro dele- frugal- combina com o Carlos. Ele me pedia para chamá-lo assim, eu preferia Drummond, era como o conhecia antes, só quando me corrigia chamava-o pelo primeiro nome.
Tenho saudades de Carlos, o poeta frugal.
Mais Drummond e eu aqui
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Um comentário:
Eu já tinha lido este texto, mas é sempre bom reler.
abraço
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