sexta-feira, março 31, 2006
Mini conto. Sobrevivente.
Foto Fernando
Sobrevivente.
O pai deixou-a na casa do avô:
“Pegue para você ou mate, eu não a quero”.
Vida difícil, aos 14 anos engravidou acreditando estar salva.
Na véspera do casamento encontrou um bilhete do futuro marido com quem já vivia:
“Não a suporto, vai ser uma cruz na minha vida”, escreveu ele ao irmão.
Ela não desistiu, sabia que ia ser melhor do que na casa dos avós, iria conquistá-lo aos poucos, sabia, faria tudo que ele pedisse sem pudor.
Não adiantou, espancada de todas as formas e por tudo, acabou encontrando outro homem que se dizia amigo.
Foi com ele, o outro deu graças à Deus. Um filho nos braços e a esperança de um homem que cuidasse dela e do filho.
Este começou a se drogar, a bater nela, um dia a surra foi tamanha que precisou ser atendida num pronto socorro com o braço quebrado.
Ela ainda voltou, não tinha para onde ir.
No dia em que ele, alucinado, pegou-a pelo pescoço ameaçando estrangulá-la saiu e não mais voltou.
Sobrevivente, agradece a Deus estar viva.
O filho moço que foi embora de vergonha, voltou, ela tenta reconstruir a vida no encontro com outro homem.
Desta vez acredita que estará salva.
O eclipse em vídeo.
Foto nationalgeographic.com
Aqui tem um vídeo do eclipse, maravilha. Vejam, demora pouco para iniciar.
quinta-feira, março 30, 2006
Hoje é dia de Contardo Calligaris.
O discurso dos políticos
CONTARDO CALLIGARIS
Acaba de sair "Renda Básica de Cidadania" (L&PM), de Eduardo Suplicy. O senador de São Paulo explica o projeto que ele defende e promove há anos.
A idéia é simples: uma renda mínima (suficiente para evitar a miséria) para todos os cidadãos, TODOS, indiscriminadamente.
Alguém dirá: o que vai fazer o presidente da Fiesp com, sei lá, R$ 300 por mês? Não seria melhor reforçar os programas de assistência, ou seja, oferecer R$ 600 a uma família em apuros e nada a quem não precisa?
Quando meu filho nasceu, em Paris, em 1981, fui beneficiado por um programa de alocações distribuídas a todas as gestantes que passassem pelos exames pré-natais recomendados. Ao receber o primeiro cheque (devia ser o equivalente de R$ 200), ficamos perplexos. O valor era inferior ao de nossas contribuições mensais (obrigatórias) ao próprio sistema do qual nos tornávamos beneficiários. Então, por quê?
Argumenta-se, por exemplo e com razão, que a distribuição de uma renda básica para todos evitaria o custo burocrático necessário para estabelecer quem precisa mesmo de ajuda.
Mas o verdadeiro interesse do projeto está no próprio princípio de uma renda que todos receberiam, simplesmente por serem cidadãos. As conseqüências mais relevantes são, ao meu ver, psicológicas.
1) Quem precisa de ajuda não deverá comprovar sua indigência, ele não estará recorrendo à "generosidade" social, apenas desfrutando de um direito. Será ajudado não por ser pobre, mas por ser cidadão.
2) O direito de todos a uma renda básica mudaria nossa maneira de conceber a comunidade na qual vivemos. Aquém das diferenças sociais e econômicas, mesmo extremas, nossa comunidade nos apareceria como um empreendimento comum, que reverte seus dividendos para todos.
Trata-se de uma prática política que afirma com força a dignidade de todos e, sobretudo, que instila em cada um a convicção de que existe uma coisa pública.
O programa valeria como uma terapia comportamental em que, mudando os atos, tenta-se modificar o estado de espírito do paciente: no caso, seriam modificados nosso entendimento e nossa experiência da coletividade. Não seria nada mal.
Somos expostos a uma massa de discursos de campanha. São palavras, logicamente, que querem nos seduzir, ou seja, são exercícios retóricos, em que o que importa é a arte da persuasão.
Uma das formas da persuasão consiste em invocar um princípio que os outros são compelidos a compartilhar. Se falo "em nome de tudo o que é sagrado e bonito...", por exemplo, sugiro que, ao discordar de mim, você estará desprezando o sagrado e o bonito. Claro, a gente não cai em qualquer armadilha, mas a persuasão trabalha às escondidas.
Ora, poucos dos discursos políticos que estamos ouvindo invocam, como princípio comum, a existência e a dignidade da coisa pública.
Há o discurso (sempre presente) que invoca genericamente a esperança: "Amanhã o Sol se despertará cantando".
Há o discurso paternalista, que invoca o amor pela autoridade de nossa infância: "Terão um pai bondoso que cuidará de vocês, meus pequenos". Em sua versão populista, ele invoca a generosidade para com o "povo sofrido". Ao ouvi-lo, sempre me lembro de uma inscrição que apareceu, em 1968, na fachada da universidade de Milão. Na época, existia um grupo "revolucionário" que se chamava "Servire il popolo" (servir ao povo). A inscrição dizia: "Eu não sirvo a ninguém, que o povo se sirva sozinho".
Há os discursos fracionários, que invocam o partido ou a classe acima do interesse público. Por exemplo, a deputada Angela Guadagnin não fez um discurso, mas dá na mesma: celebrou com passes de samba a impunidade de um colega de partido que trapaceou na contabilidade dos fundos de campanha (ela acaba de inventar, aliás, uma nova figura do Carnaval: a "trapassista").
Há os discursos que fazem apelo a princípios morais, fés religiosas, valores "tradicionais" etc. A relação disso com a gestão da coisa pública é um enigma.
Há o discurso nacionalista, que parece fazer apelo à nação como bem comum, mas, de fato, só esquenta identificações: "Ganharemos a Copa, o biocombustível é nosso, e Santos-Dumont foi o primeiro". Mas o que isso tem que ver com a gestão da coisa pública?
A ausência de uma retórica republicana é responsável, ao menos em parte, pela estranha situação atual, em que o caixa dois e o uso de fundos públicos para partido e campanha parecem "naturais" -inclusive aos olhos da gente.
Na quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, espanta-me, além do abuso de poder, a suposição que a motivou: o caseiro só poderia ter sido pago por alguém. Aparentemente, nem Palocci nem seus assessores consideraram que um cidadão pudesse testemunhar por dever cívico, em nome da coisa pública.
A ausência da retórica republicana é crônica no Brasil, talvez com a exceção da Primeira República (o livro de Luiz Felipe D'Avila, "Os Virtuosos", que estou lendo, confirma essa tese).
Mas não é proibido mudar: afinal, quem está com o controle remoto na mão somos nós. Agora, cuidado: a retórica da coisa pública é chata, não dá jingle nem samba para passista.
Sobre o livro tem mais aqui.
Siciliano: Renda Básica De Cidadania
Eduardo Matarazzo Suplicy
ISBN: 8525414794
Editora: LPM
Número de páginas: 120
Encadernação: Brochura
Edição: 2006
LANÇAMENTO
CONTARDO CALLIGARIS
Acaba de sair "Renda Básica de Cidadania" (L&PM), de Eduardo Suplicy. O senador de São Paulo explica o projeto que ele defende e promove há anos.
A idéia é simples: uma renda mínima (suficiente para evitar a miséria) para todos os cidadãos, TODOS, indiscriminadamente.
Alguém dirá: o que vai fazer o presidente da Fiesp com, sei lá, R$ 300 por mês? Não seria melhor reforçar os programas de assistência, ou seja, oferecer R$ 600 a uma família em apuros e nada a quem não precisa?
Quando meu filho nasceu, em Paris, em 1981, fui beneficiado por um programa de alocações distribuídas a todas as gestantes que passassem pelos exames pré-natais recomendados. Ao receber o primeiro cheque (devia ser o equivalente de R$ 200), ficamos perplexos. O valor era inferior ao de nossas contribuições mensais (obrigatórias) ao próprio sistema do qual nos tornávamos beneficiários. Então, por quê?
Argumenta-se, por exemplo e com razão, que a distribuição de uma renda básica para todos evitaria o custo burocrático necessário para estabelecer quem precisa mesmo de ajuda.
Mas o verdadeiro interesse do projeto está no próprio princípio de uma renda que todos receberiam, simplesmente por serem cidadãos. As conseqüências mais relevantes são, ao meu ver, psicológicas.
1) Quem precisa de ajuda não deverá comprovar sua indigência, ele não estará recorrendo à "generosidade" social, apenas desfrutando de um direito. Será ajudado não por ser pobre, mas por ser cidadão.
2) O direito de todos a uma renda básica mudaria nossa maneira de conceber a comunidade na qual vivemos. Aquém das diferenças sociais e econômicas, mesmo extremas, nossa comunidade nos apareceria como um empreendimento comum, que reverte seus dividendos para todos.
Trata-se de uma prática política que afirma com força a dignidade de todos e, sobretudo, que instila em cada um a convicção de que existe uma coisa pública.
O programa valeria como uma terapia comportamental em que, mudando os atos, tenta-se modificar o estado de espírito do paciente: no caso, seriam modificados nosso entendimento e nossa experiência da coletividade. Não seria nada mal.
Somos expostos a uma massa de discursos de campanha. São palavras, logicamente, que querem nos seduzir, ou seja, são exercícios retóricos, em que o que importa é a arte da persuasão.
Uma das formas da persuasão consiste em invocar um princípio que os outros são compelidos a compartilhar. Se falo "em nome de tudo o que é sagrado e bonito...", por exemplo, sugiro que, ao discordar de mim, você estará desprezando o sagrado e o bonito. Claro, a gente não cai em qualquer armadilha, mas a persuasão trabalha às escondidas.
Ora, poucos dos discursos políticos que estamos ouvindo invocam, como princípio comum, a existência e a dignidade da coisa pública.
Há o discurso (sempre presente) que invoca genericamente a esperança: "Amanhã o Sol se despertará cantando".
Há o discurso paternalista, que invoca o amor pela autoridade de nossa infância: "Terão um pai bondoso que cuidará de vocês, meus pequenos". Em sua versão populista, ele invoca a generosidade para com o "povo sofrido". Ao ouvi-lo, sempre me lembro de uma inscrição que apareceu, em 1968, na fachada da universidade de Milão. Na época, existia um grupo "revolucionário" que se chamava "Servire il popolo" (servir ao povo). A inscrição dizia: "Eu não sirvo a ninguém, que o povo se sirva sozinho".
Há os discursos fracionários, que invocam o partido ou a classe acima do interesse público. Por exemplo, a deputada Angela Guadagnin não fez um discurso, mas dá na mesma: celebrou com passes de samba a impunidade de um colega de partido que trapaceou na contabilidade dos fundos de campanha (ela acaba de inventar, aliás, uma nova figura do Carnaval: a "trapassista").
Há os discursos que fazem apelo a princípios morais, fés religiosas, valores "tradicionais" etc. A relação disso com a gestão da coisa pública é um enigma.
Há o discurso nacionalista, que parece fazer apelo à nação como bem comum, mas, de fato, só esquenta identificações: "Ganharemos a Copa, o biocombustível é nosso, e Santos-Dumont foi o primeiro". Mas o que isso tem que ver com a gestão da coisa pública?
A ausência de uma retórica republicana é responsável, ao menos em parte, pela estranha situação atual, em que o caixa dois e o uso de fundos públicos para partido e campanha parecem "naturais" -inclusive aos olhos da gente.
Na quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, espanta-me, além do abuso de poder, a suposição que a motivou: o caseiro só poderia ter sido pago por alguém. Aparentemente, nem Palocci nem seus assessores consideraram que um cidadão pudesse testemunhar por dever cívico, em nome da coisa pública.
A ausência da retórica republicana é crônica no Brasil, talvez com a exceção da Primeira República (o livro de Luiz Felipe D'Avila, "Os Virtuosos", que estou lendo, confirma essa tese).
Mas não é proibido mudar: afinal, quem está com o controle remoto na mão somos nós. Agora, cuidado: a retórica da coisa pública é chata, não dá jingle nem samba para passista.
Sobre o livro tem mais aqui.
Siciliano: Renda Básica De Cidadania
Eduardo Matarazzo Suplicy
ISBN: 8525414794
Editora: LPM
Número de páginas: 120
Encadernação: Brochura
Edição: 2006
LANÇAMENTO
quarta-feira, março 29, 2006
José Simão. Imperdível!
JOSÉ SIMÃO
Ueba! Vou contratar o Palófi pra caseiro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! A casa caiu! O Palófi foi pro espaço mais rápido que o astronauta. E eu já sei o que eu vou fazer com o Palófi: vou contratar o Palófi pra caseiro. Rarará! Vem pra Caseiro Você Também! Ou então, ele podia aproveitar aquela língua plesa e fazer o comercial do sabonete Dove: "Pague 11 e leve DOVE!". Rarará!
E agora é Guido Mantega! Oba! Com Mantega é mais rápido. Slogan econômico do PT: "Com Mantega, é mais fácil". Qualquer medida dura: passa Mantega! Mas não é Mantega que se pronuncia, é Mântega. Ele é italiano de Gênova. O quê? Italiano? O Lula quer tanto fazer uma pizza que nomeou um italiano. Um PIZZAIOLO pra Fazenda! E agora quando você for ao mercadinho tem que pedir: cem gramas de MÂNTEGA!
E os Irmãos Bacalhau falaram que o Lula está com novo café da manhã: Mantega da Fazenda. Mas diz que o Guido é light. Então tem que mudar o nome dele pra Guido Doriana! E já tão dizendo que o Mantega é a cara do Cacá Rosset! Rarará! E o escândalo da Caixa Econômica? Já demitiram tantos que o slogan agora é: "Saia da Caixa Você Também".
E diz que a Caixa Econômica está com um novo serviço: o novo serviço de conveniência ao correntista é poder ler o extrato na revista. Rarará! Faça como o caseiro Nildo: leia o seu extrato na revista! Rarará!
MENSALÃO DO CHUCHU! E o Alckmim Picolé de Chuchu com o escândalo da Nossa Caixa? Eu tô achando que o Lula e o Alckmim se enCAIXAM! muito bem. E o Alckmin prometeu um banho de ética, mas tá dando um banho de loja: a dona Lu ganhou 400 vestidos do estilista e só veste Chanel e Valentino! Banho de loja! Rarará!
E eu inventei um novo slogan pra campanha do Alckmin: "Pro Brasil virar uma grande Daslu, vote no Picolé de Chuchu". Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Belo Horizonte tem um inferninho casa de massagem chamado Meninas Gerais. Rarará. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Poço": o dia em que o Lula tomou "poçe". Rarará. O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
No pingolim.
Pra ver se bate no teto!
Ueba! Vou contratar o Palófi pra caseiro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! A casa caiu! O Palófi foi pro espaço mais rápido que o astronauta. E eu já sei o que eu vou fazer com o Palófi: vou contratar o Palófi pra caseiro. Rarará! Vem pra Caseiro Você Também! Ou então, ele podia aproveitar aquela língua plesa e fazer o comercial do sabonete Dove: "Pague 11 e leve DOVE!". Rarará!
E agora é Guido Mantega! Oba! Com Mantega é mais rápido. Slogan econômico do PT: "Com Mantega, é mais fácil". Qualquer medida dura: passa Mantega! Mas não é Mantega que se pronuncia, é Mântega. Ele é italiano de Gênova. O quê? Italiano? O Lula quer tanto fazer uma pizza que nomeou um italiano. Um PIZZAIOLO pra Fazenda! E agora quando você for ao mercadinho tem que pedir: cem gramas de MÂNTEGA!
E os Irmãos Bacalhau falaram que o Lula está com novo café da manhã: Mantega da Fazenda. Mas diz que o Guido é light. Então tem que mudar o nome dele pra Guido Doriana! E já tão dizendo que o Mantega é a cara do Cacá Rosset! Rarará! E o escândalo da Caixa Econômica? Já demitiram tantos que o slogan agora é: "Saia da Caixa Você Também".
E diz que a Caixa Econômica está com um novo serviço: o novo serviço de conveniência ao correntista é poder ler o extrato na revista. Rarará! Faça como o caseiro Nildo: leia o seu extrato na revista! Rarará!
MENSALÃO DO CHUCHU! E o Alckmim Picolé de Chuchu com o escândalo da Nossa Caixa? Eu tô achando que o Lula e o Alckmim se enCAIXAM! muito bem. E o Alckmin prometeu um banho de ética, mas tá dando um banho de loja: a dona Lu ganhou 400 vestidos do estilista e só veste Chanel e Valentino! Banho de loja! Rarará!
E eu inventei um novo slogan pra campanha do Alckmin: "Pro Brasil virar uma grande Daslu, vote no Picolé de Chuchu". Rarará. É mole? É mole, mas sobe!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Belo Horizonte tem um inferninho casa de massagem chamado Meninas Gerais. Rarará. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Poço": o dia em que o Lula tomou "poçe". Rarará. O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
No pingolim.
Pra ver se bate no teto!
Uma manhã incomum.
Esta foto é do Google.
Perdi o eclipse total, levantei pouco depois, vi ainda escuro, mas não vi o sol totalmente coberto, havia nuvens, deu para ver, mas não foi uma maravilha o que vi, Dan ficou muito desapontado, colocou despertador, estava ansioso, fiquei com pena, mas fazer o quê? O vizinho disse que foi lindo, que estava já de dia e a lua cobriu o sol fazendo a noite voltar. Um barato, né? tiraram fotos. Estes fenômenos naturais são impressionantes, não é?
Eu vi esta imagem.
Aqui tem mais fotos da Folha. Fica mais bonito na foto, ao vivo a luz é mais bonita, a atmosfera que existe no ar- mágica.
Maravilhosa era a luz da manhã, uma luz muito especial, o sol encoberto e raios de luz iluminando a terra. Será que é sempre assim e eu é que não vejo?
Realmente temos uma visão privilegiada daqui, tenho um céu aberto na frente, uma delícia!
Flagrantes na piscina.
Cena I
Estava só na piscina e chegam dois menininhos. Imaginei que a mãe viria em seguida, eu estava de saída, esperei uns dez minutos, nada, então disse:
"-Vocês são muito pequenos para ficarem sós na piscina..."
"-Não somos pequenos, não, ele tem sete anos!"
Estas mães... não são só os filhos dos favelados que sofrem abandono, não. Como deixam crianças de cinco, sete anos, até mais, sozinhos numa piscina de adultos? eles não fugiram, não, o administrador disse que vão sempre sós, que a mãe não está nem ai. O condomínio não se responsabiliza, a responsabilidade é dos pais. Sei não...
Cena II
-Qual é seu nome?
- Mariana..
-Quantos anos você tem, Mariana?
- Cinco
-Você chora muito, não é, por que? batem em você?
- Batem.
-Quem bate?
-Minha mãe.
-Por que ela te bate?
- Por que eu sou teimosa.
-Quando ela bater, você vá até a janela e me chame, grite 'Socorrooo' que eu vou lá brigar com ela.
Ela então sorriu, um sorriso de cumplicidade.
Esta menina apanha sempre da mãe e da babá também, outro dia perdi a fleuma e gritei na janela:
"Pare de bater nesta criança que vou chamar a polícia" olhe que eu sou calma, mas não agüentei. Um vizinho foi à janela também e fez sinal para mim.
Ela não deve ter entendido, mas ouviu o meu grito, acho, e parou. No dia seguinte coloquei no escaninho dela um texto:
"Bater em criança agora é crime" e fiz uns comentários. Disse inclusive que se você bate nos filhos na frente dos funcionários- aqui chamam assim- está autorizando-os a baterem também. Coloquei os telefones todos dos conselhos de defesa das crianças.
A mãe só fala gritando com ela. Hoje acordei com ela gritando antes das sete horas, chamava a menina de teimosa, estava escovando os dentes dela. São três crianças, a mais velha é tão quieta que não se ouve.
Estes dias Mariana chegou com a mãe, me viu e sorriu para mim com este sorrisinho cúmplice, uma graça.
Vários vizinhos perceberam o que acontece, eu estou com os telefones para dar queixa, ela não tem batido nela, a gente ouve até a palmada quando bate, vou denunciar, já avisei à sindica. Aqui tivemos um caso de uma mãe que batia, eu não sei quem é, dizem que depois da denúncia passou a vir à casa dela uma assistente social e melhorou muito.
Esta mãe que bate na M. tem uns 30 anos, uma vida 'normal', tem marido, empregada doméstica todos os dias, tem mais de um carro, e não trabalha fora. Não parece nenhuma psicótica. Ela tem um bebê, ele chorava muito quando acordava, muito, demoravam para vir pegá-lo, agora melhorou depois que alguns vizinhos falaram com a síndica, ela percebeu que tem gente de olho nela, a vizinha de cima um dia disse que achou que o bebê estava só em casa, ficou aflita, desceu, mas não teve coragem de bater na porta- eles dormem no ar refrigerado, acho que não ouvem o chora, a vizinha disse que a M. bate no irmãozinho porque ele chora muito de manhã, ai ai é o que ela vê fazerem, aprendeu.
Agora à tarde M. estava brincando de bonecas, suponho, ou com o irmãozinho, e gritava, impressionante a vozinha dela:
"Eu não sou velha, você...", "Você é teimosa" , eu não ouvia bem o que dizia, mas entendi o que acontecia.
Ela repetia o que fazem com ela. É saudável isto.
Ela é uma gracinha.
terça-feira, março 28, 2006
Y tu que has hecho
Omara
Leiam, ouçam, que linda esta canção cubana- um bolero, um belo poema.
É de Eusebio Delfín.
Y tu que has hecho
Ouça aqui com Buena Vista Social Club:
ou só com Omara Portuondo aqui:
Y tu que has hecho
En el tronco de un árbol una niña
grabó su nombre enchida de placer
Y el árbol conmovido allá en su seno
A la niña una flor dejó caer.
Yo soy el árbol conmovido y triste
tu eres la niña que mi tronco hirió
yo guardo siempre tu querido nombre
y tú , que has hecho de mi pobre flor?
Eclipse total do sol será vista aqui em Natal.
Aqui quase não há novidades, espero que o eclipse seja um acontecimento, ainda bem que agora eu acordo cedo :)
Eclipse total do sol pode ser visto no Nordeste nesta quarta-feira
Nesta quarta-feira o dia vai começar com um espetáculo no céu. Depois de cinco anos vai ser possível assistir novamente a um eclipse total do sol. Ele será visível no Litoral nordestino, principalmente em Natal e Fortaleza. Para ter esse privilégio, é preciso acordar bem cedo e torcer muito. Primeiro, porque o fenômeno está previsto para acontecer às 5h39.
A torcida é para que o dia amanheça sem nuvens, como vem acontecendo todos os dias nesta época do ano, que corresponde ao nosso período de chuva. Entre 5h e 6h é o momento do eclipse total do sol previsto nesta quarta. Neste período, a lua, o sol e a terra vão estar alinhados. Por alguns instantes, a lua vai provocar uma sombra total, ao se posicionar entre o sol e o planeta Terra.
A última vez que um eclipse como esse pode ser visto em Fortaleza foi há cinco anos, no dia 21 de junho de 2001. O sol ficou parcialmente coberto pela lua por volta das 7h, durante quase duas horas. De acordo com os especialistas, o fenômeno do eclipse solar costuma se repetir três vezes durante o ano. Mas nem sempre ele é visível em determinadas regiões do planeta. O próximo eclipse será em dois de agosto de 2046.
Tutty e eu fofocando. Que feio, Laura! tsc tsc tsc
Hoje li o Tutty e achei que devia colocar para vocês lerem. Ele diz o que penso.
Leiam a crônica dele aqui.
E estas bobagens que eu tirei daqui, assim a gente se diverte um pouco com as fofocas:
"Coisa de doido
Quem foi a fonoaudióloga de Marília Pêra na minissérie “JK”? Pegou pesado! A família de dona Sarah Kubitscheck deve estar chateada. Ninguém fala daquele jeito! ' Tutty
Gente, o que é aquilo? o que houve com a Marília? ela é boa atriz... está insuportável.
Eu só vi uns pedacinhos, não acompanhei, não gostei desde o primeiro capítulo, achei mal feito, produção ruim, nem parecia da 'Globo' (eu)
"É fogo!
A julgar pelo que Sônia Braga disse no “Fantástico” a respeito dos calores que anda sentindo, a menopausa da atriz deve estar agravando o processo de aquecimento global. " Tutty
Vocês viram como a Sônia Braga feia ficou feia com a plástica? preferia ao natural, era só botar um batonzinho, não é? até a fala está estranha. o que é isto??? Pitangui, ela disse, pô, então ele não é mais o mesmo... deve ter sido outro cirurgião.
E dizer que os fogaços da menopausa são ótimos... cá entre nós, eu hein? ficou maluca ou está fazendo gênero. É um horror!!!! eu tomo hormônios desde o primeiro calor, é horrível, tira o sono, dá irritação, insuportável.
Ela gosta de fazer gênero, tipo desligada, 'não tô nem ai', tá bom... (eu)
segunda-feira, março 27, 2006
"As Charges de Maomé e a Liberdade de Expressão"
EVENTO
Palestra fala de charges e liberdade
Hoje, às 18h30, na Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, centro), haverá uma palestra gratuita sobre "As Charges de Maomé e a Liberdade de Expressão", sobre os protestos ocorridos após a publicação de charges que retratavam o profeta Maomé por um jornal dinamarquês. O colunista da Folha Contardo Calligaris faz uma conferência, e há um debate com o também colunista da Folha Demétrio Magnoli, Murched Taha, do Instituto de Cultura Árabe, e Reinaldo Azevedo, da revista "Primeira Leitura".
Palestra fala de charges e liberdade
Hoje, às 18h30, na Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, centro), haverá uma palestra gratuita sobre "As Charges de Maomé e a Liberdade de Expressão", sobre os protestos ocorridos após a publicação de charges que retratavam o profeta Maomé por um jornal dinamarquês. O colunista da Folha Contardo Calligaris faz uma conferência, e há um debate com o também colunista da Folha Demétrio Magnoli, Murched Taha, do Instituto de Cultura Árabe, e Reinaldo Azevedo, da revista "Primeira Leitura".
Bem Querer Mulher.
Entrem no blog da Flávia para entrar no link da campanha contra a violência às mulheres.
Vocês sabiam que a cada 4 minutos, uma mulher é agredida em seu próprio lar por uma pessoa com quem mantém relação de afeto?
domingo, março 26, 2006
O Brasil do futuro chegou. Você sabia?
"Isto é"
REVISTA: ENTREVISTA 29/03/2006
MV Bill
A voz do morro
O rapper conta como filmou o contundente
documentário sobre os meninos do tráfico
Por Francisco Alves Filho
Ao longo de oito anos, o rapper carioca MV Bill, 31 anos, e o dirigente da Central Única de Favelas Celso Athayde, 43, documentaram em vídeo o dia-a-dia dos jovens que vigiam o morro para os traficantes. Das 90 horas filmadas, resultou o filme Falcão – os meninos do tráfico. “O nosso objetivo é discutir essa questão de forma aberta, dando voz a todos. Ou fazemos isso ou não haverá futuro”, diz MV Bill. Ele recebeu ISTOÉ na favela da Cidade de Deus, onde mora, para falar sobre os bastidores da produção do documentário e a sua repercussão após ser exibido, numa edição compacta, pela Rede Globo. Com o documentário, MV Bill espera produzir “uma comoção que salve novos jovens do mesmo genocídio que está em curso nas comunidades pobres”. O genocídio é a guerra do tráfico, feita de batalhas travadas com a polícia e de confrontos entre as quadrilhas dos próprios traficantes.
MV Bill admite ter tratado com os chefes do tráfico por onde passou para conseguir filmar. “Sem isso, é impossível desenvolver qualquer projeto na favela”, diz ele. Para fazer Falcão – os meninos do tráfico, o rapper e Athayde se expuseram a riscos. E se emocionaram com as histórias e sonhos de seus personagens reais. Essas histórias estão no livro homônimo ao documentário que acaba de desembarcar nas livrarias (editora Objetiva). Apesar de serem oriundos do hip-hop, Bill e Athayde não pensaram duas vezes em fazer uma parceria com a Rede Globo, muitas vezes criticada pelo movimento. “A vida inteira brigamos por oportunidade e espaços dignos. Não ocupá-los é burrice”, diz o rapper. Um número impressionante confirma o quanto é urgente atacar o problema: dos 17 jovens ouvidos no documentário, somente um ainda está vivo.
ISTOÉ – Como foi circular pelo mundo do tráfico?
MV Bill – Não é que eu tenha conseguido entrar naquele mundo, eu pertenço àquele mundo. A relação com esses jovens não foi uma relação de repórter com entrevistado, mas uma troca de idéias.
ISTOÉ – Eles confiaram?
MV Bill – Eles se sentiram confiantes. Não houve câmera escondida, tive até dificuldade para cobrir os rostos das pessoas porque elas falaram abertamente. Em muitos casos, os jovens viravam os produtores do documentário, até prendendo o microfone de lapela em alguém. Em uma das entrevistas, o microfone de lapela está pendurado em um fuzil, um AK 47.
ISTOÉ – Alguém deu garantias de que nada aconteceria?
MV Bill – Não há segurança de nada. A minha única segurança é a confiança e a convicção de que estou fazendo a coisa certa, benéfica, que vai trazer ajuda para algumas pessoas. Não existe um seguro de vida. Só foi possível fazer isso graças à cumplicidade e ao entendimento daqueles jovens que acharam que esse documentário não é mais um trabalho sensacionalista.
ISTOÉ – Por que eles concordaram com a gravação?
MV Bill – Eles acreditaram que o documentário poderia mudar a vida de algumas pessoas. Eu não assumi essa ideologia há um ano, minha vida toda foi isso. Meus primeiros videoclipes, minhas primeiras aparições sempre foram relacionadas a esse assunto. É o caso de Soldado do morro (videoclipe de 1998 no qual Bill já mostrava os adolescentes que trabalham para o tráfico), que me rendeu um processo por apologia ao crime e ao qual eu ainda respondo.
ISTOÉ – Você teve que procurar os chefes do tráfico para viabilizar o trabalho?
MV Bill – Conversei com todos eles. Quando eu chegava na favela, todo mundo sabia que eu estava lá. Eu trabalho com projeto social, moro numa comunidade, é impossível fazer um trabalho desses em qualquer favela sem falar com o cara do tráfico. Isso não existe. Eu não vejo contradição nenhuma em falar com esses caras. Eu vivo essa realidade, nunca escondi de ninguém.
ISTOÉ – O que achou da repercussão do documentário exibido pela Rede Globo?
MV Bill – Muitas coisas me deixam confuso. Uma das pessoas que falaram logo após a exibição admitiu que desconhecia aquela realidade (refere-se ao autor de novelas Manoel Carlos). O documentário mostrou a distância que existe entre dois mundos. Às vezes não é uma distância geográfica, mas representada apenas por um muro, por uma cerca, por um circuito interno de tevê.
ISTOÉ – O cineasta Cacá Diegues também se manifestou.
MV Bill – O Cacá Diegues traduziu o meu sentimento ao dizer que “não é a favela que é o problema do Brasil, mas o Brasil é que é o problema da favela”.
ISTOÉ – Você passou por situação de risco?
MV Bill – Eu não quis privilegiar as imagens de mais violência, de mais tiro ou de mais ação. Tinha essas imagens, mas não era esse o meu foco. No livro, tive a oportunidade de detalhar, de dividir com o leitor o que sentia em cada local.
ISTOÉ – Como assim?
MV Bill – Teve um momento em que eu estava num prédio, numa comunidade da região Sudeste, um local conhecido como Predinho, que era o lugar onde as pessoas usavam drogas. Nesse lugar eu me dei mal, a polícia me deu cacetada na cabeça, cheguei a ficar com um corte. Na época, eu não tinha tanta visibilidade, não podia nem argumentar com os policiais. Tive que pegar minhas coisas e sair voando, como se fosse bandido também.
Meu caro amigo,
se você desconhecia a realidade da favela, se ficou muito surpreso, você não sabe o que está acontecendo no nosso Brasil, que é muito maior do que a 'aldeia global', é um Brasil sem glamour e cruel.
Vejam que absurdo o Manuel Carlos não sabia... vem cá, o cara mora no Rio e não sabia? vive onde? perai...
Aqui não é diferente, TODA semana Bethânia (faxineira) senta comigo enquanto tomo café e me conta muitas histórias comoventes, onde mães jovens, quase meninas, se drogam, batem nos filhos, os abandonam, são presas, saem e voltam a se drogar.
Onde mulheres são espancadas, crianças fumam crack, gente leva tiro sem mais nem menos, facadas, é demais... é preciso acordarmos, falo de todos nós. Este povo miserável é vítima, vive numa carência terrível, há fome de tudo, abandono total.
Que Brasil estamos deixando para nossos netos????
Que vergonha! Eu era muito na minha mais jovem agora acredito que é urgente, não dá para esperar.
Vamos acordar!
Ainda tem mais esta, leiam aqui.
sexta-feira, março 24, 2006
Mini conto. O sorriso do estrangeiro III
Michal Zaborowski
Não o vê há dias. Aconteceu antes de sumir, mas nunca por tanto tempo. O jornaleiro disse que não se despediu, sempre antes de viajar avisa:
-" Estarei fora uns dias, volto dia tal".
Parece que vive só.
O pai era apaixonado por ópera, "regia" com uma batuta imaginária, ela, menina, imitava, cantava os altos acordes de Aída, da Traviata.
Os discos de ópera em vinil estão hoje mofados num canto do quarto.
O pai a amava, nunca disse, mas ela sabia. Depois que ele morreu não soube mais o que é um olhar enamorado. No espelho o olhar que encontra é o olhar de uma mulher desconhecida, esquecida.
Cada dia sem vê-lo a faz mais triste. A mulher que se esqueceu de si mesma, busca o sorriso do desconhecido como o náufrago busca a margem.
Ouça aqui a Traviata
Este continho tem a ver com o que o Contardo Calligaris diz aqui embaixo, não tem? só que é a mulher que quer ser só, ele fala dos homens, poderia ter falado das mulheres...
South Park se vinga de Isaac Hayes
Este desenho é muito divertido e inteligente, eu gosto, é lógico que tem escatologia nojenta, mas gosto da irreverência deles. hihihi Vi os autores, diretores, os faz tudo do desenho, no David Letterman, são dois jovens simpáticos e bonitos, devem estar muito ricos. Estão entrando na décima temporada, fazem 14 episódios por anos, disseram que fazem em 6 dias. Leiam ai embaixo a notícia. Hihihi
23/03/2006 - 10h53
South Park se vinga de Isaac Hayes e mata Chef
da BBC, em Londres
Os criadores do desenho South Park se vingaram do cantor Isaac Hayes, que abandonou o seriado e deixou de fazer a voz de Chef, matando seu personagem de forma cruel após transformá-lo em um pedófilo.
Hayes, um membro da Cientologia, abandonou o seriado em protesto contra um episódio que satirizava a seita. Ele participava de South Park desde seu início, em 1997.
O novo episódio, o primeiro da 10ª série, foi exibido na quarta-feira nos Estados Unidos e mostra Chef recebendo uma lavagem cerebral do “Super Clube de Aventuras” – uma referência velada à Cientologia.
quinta-feira, março 23, 2006
Sem medo de ser feliz.
Hoje(ontem, escrevi a noitinha) comecei meu dia na dentista que é um doce, eu a adoro, mas eu sempre saio de lá querendo me presentear, ai ai
fiquei quase duas horas de boca aberta.
Houve um momento que ela me deu um espelhinho cor de rosa para eu olhar o dente-parecia espelhinho de menina moça-acho divertido olhar o rosto com aquela luz toda, espelhinho na mão. Ai fiquei me vendo com aquele algodão na boca e lembrei de mortos.
Gente, juro que não fiquei triste, nem estranha, eu vi com naturalidade, eu acho que a gente devia aceitar melhor a morte, não acham? quando era mocinha, meninota, achava que ia morrer com 18 anos, não sei o porquê dos 18, mas era o que eu "pressentia" na minha maluquice, eu já contei que era muito triste, acho que queria acabar com a tristeza, fantasiando uma morte precoce. Juro que viver até os 50 era inimaginável, como?
Eu acredito que já vivi bastante, meus filhos estão formados, são rapazes com ética, fiz o possível para sempre dar o melhor de mim para eles, dei sempre bom exemplo, fui melhor do que sou, é verdade. Olha, eu não estou deprimida, viu? estou ótima hoje.
Vou contar, hoje sai da dentista e fui comprar uma bolsa na Arezzo, comprei uma sandália também, comprei coisas para os meninos, bonés, cuecas, havaianas, tinta para a impressora, fiz uma porção de comprinhas que precisava e adiava-tive que ir ao shopping que não gosto, mas como era cedo e dia de semana estava super tranqüilo.
Antes das compras sentei num restaurante japonês e comi sushis e sashimis, me deliciei, eu adoro comida japonesa, hummm fazia tempo que não ia, estava dura e como sempre estou com os meninos e comida japonesa para adolescentes tem que ser muita, não é? hahaha
hoje fui só e tive um enorme prazer em comer escondido deles- se souberem vão me encher( como você foi e não levou a gente?????), é uma mentirinha saudável, ou melhor uma omissão, não precisam saber, né?
Depois fui a outro shopping menor- o meu preferido- fui ao Correio mandar um cartão para um amigo querido e tomar um café expresso com bolo numa cafeteira com nome italiano cuja máquina se chama "RIMINI" ( a cidade natal de Fellini, lembram?), ao redor italianos conversando.
Tem dia melhor? Faltou um cineminha, mas esta semana não vai dar, tenho que estudar hihihi está difícil concentrar. : )
Para completar, meu irmão preferido faz aniversário e acaba de me chamar para comer lula na casa dele, ele vai fazer hummmmm hoje já comi bastante, vou ter que manerar, é assim que mantenho a forma, vou tomar um vinhozinho esperto hummmm
Como vêem, a morte não me assusta, nunca tive medo de morrer, agora escrevendo penso, será que é algo premonitório? Mas não, juro que não tenho medo, talvez se eu estivesse com algum problema sério me assustasse, mas nunca tive nada sério-uma vez antes dos 30 anos um imbecil de um médico me disse que o problema que eu tinha de prolactina em excesso podia ser tumor no cérebro, assim na lata, eu nem liguei, fiz outro exame de sangue e não deu nada, nunca mais voltei no cara, e se eu fosse apavorada? ia ficar doida com o que ele disse! o cara era famoso lá no Rio. Tratei com acupuntura o distúrbio hormonal, acho que era desejo de engravidar que eu não saquei na época :) saia leite do meu peito quando o médico apertava. :)
Aqui começou o inverno- é vero- quando chove sem parar chamam inverno, começou, chove e para, chove e para, o dia todo.
O artigo de Contardo Calligaris hoje, dia 23 está uma delícia, adorei, gosto demais quando ele fala de relacionamentos, amor, gente, ou da gente :)
Está aqui abaixo, leiam, vale a pena. Eu não sabia que o Steve martin era escritor também, vivendo e aprendendo. :)
Hoje é dia de Contardo Calligaris.
A garota da vitrine
Dois tipos de homem solitário.
Contardo Calligaris
Reagindo à minha coluna da semana passada, Álvaro de Campos, um leitor com quem dialogo com freqüência, notou que, ao escrever sobre percalços amorosos, eu me ocupo raramente daquela "maioria que não está mesmo casada e que nem por isso deixa de sofrer por amor".
Por sorte, acaba de estrear "A Garota da Vitrine", de Anand Tucker, que traz para o cinema "A Balconista" (Record), um breve e excelente romance de Steve Martin, mais conhecido como ator.
"A Garota da Vitrine" é um filme divertido e tocante. Só me atrapalharam um pouco as (raras) intervenções da voz em off do narrador; é como se Steve Martin (que assina também o roteiro) quisesse esclarecer a moral da história. É uma pena, pois a história tem mais "moral" do que cabe na voz em off do narrador. A literatura e o cinema são livres matrizes de sonhos, pesadelos e reflexões sobre nossa vida, e sempre acho chatos os cineastas e os romancistas que nos dizem o que deveríamos pensar dos acontecimentos que eles nos contam.
"A Garota da Vitrine" é a história da jovem Mirabelle, dividida entre o charme de Ray Porter, um homem que poderia ser seu pai (só que bem mais rico do que o dito pai), e as investidas de Jeremy, um rapaz muito desajeitado. Mas o filme é também o drama de Ray Porter, dividido entre seu amor por Mirabelle e suas "razões" para continuar solteiro.
Ora, existem várias categorias de homens solitários; destaco as duas mais gerais.
Há os que decidiram que a vida divertida é a do beija-flor e vão esvoaçando de parceira em parceira. Aqui, aparentemente, nenhum drama, apenas a comédia das juras falsas e das mentiras que têm as pernas curtas.
E há os que se apaixonam, amam, mas não conseguem se engajar numa relação e ainda menos numa convivência. Eles são (e se vivem como) personagens trágicos, num conflito insolúvel entre sua paixão amorosa e a necessidade de preservar a solidão da qual, literalmente, adoram sofrer.
Os primeiros invocam, às vezes, como razão de sua escolha, a "fraqueza" (ou seja, a força) da carne: declaram-se incapazes de resistir às tentações de uma aventura. Na verdade, seu santo protetor é Dom Juan, cujo objeto de cobiça não eram as mulheres, mas os sinais de que sua sedução funcionava: "Uma vez confirmado que a outra me deseja, não preciso levá-la até a cama, já posso inscrevê-la no meu catálogo das conquistas; é isso que importa e me dá prazer". Por causa dessa paixão pelo desejo do outro (e não pelo outro), Jean-Pierre Winter, num bonito livro de psicanálise, "Os Errantes da Carne", faz de Dom Juan um protótipo de histeria masculina.
Os segundos -os que amam, mas não se engajam- não sabem direito qual razão invocar para explicar sua conduta. Genuinamente apaixonados e amados pela parceira, eles continuam sozinhos. Ray Porter é um desses.
Por que ele não faz de Mirabelle sua companheira? Esqueça a diferença de idade, que é a racionalização da qual ele se serve para justificar seu celibato. O que sobra, em contraponto aos encontros prazerosos do casal, são as imagens de uma solidão que é, ao mesmo tempo, sofrida (com uma certa complacência com a dor produzida pela falta do outro) e esplendorosa, cinematográfica e, portanto, desejável. No filme, propositadamente, a solidão de Ray é um clichê: sozinho no seu avião particular, Ray contempla o pôr-do-sol pensando em Mirabelle ou, então, sozinho na beira da piscina de sua casa vazia, Ray olha para as estrelas e, claro, pensa em Mirabelle.
A solidão pode ser um clichê cinematográfico porque a visão de nós mesmos (nós homens) sozinhos é uma grande utopia -uma utopia cultural e subjetiva.
Em 1970, Paul Slater publicou "The Pursuit of Loneliness" (a procura da solidão). Era uma análise impiedosa dos valores da cultura moderna que transformam a solidão em ideal: autonomia, independência, vontade de preservar as potencialidades futuras, liberdade para se transformar em outra pessoa etc.
Era também um panfleto profético, que previa um mundo urbano (o dos anos 80 e 90) de "yuppies" enclausurados em apartamentos desenhados por decoradores, espaços que não tolerariam a intrusão caótica de mais um ser humano.
O livro de Slater continua valendo, mas a psicanálise pode acrescentar algo para explicar o drama dos Ray Porters e a comédia dos dom-juans. Ambos devem sua aparente e solitária "liberdade" a uma extraordinária fidelidade ao primeiríssimo amor de sua vida.
Os dom-juans, tentando seduzir todas as mulheres, reconhecem e proclamam que, de fato, só uma lhes importa, a que nunca estará no seu catálogo, por ela ser irremediavelmente a mulher de um outro: a mãe.
Os Ray Porters escolhem um caminho diferente, mas que leva para o mesmo lugar: "Visto que não posso ter a única que me importa, não terei nenhuma. E aposto que a mãe se enternecerá diante da imagem sublime de minha solidão, que é dolorosa, mas heróica por ser a prova de minha eterna fidelidade".
Sofrer de solidão pode se tornar, assim, mais prazeroso do que trocar carícias, tapas e beijos.
terça-feira, março 21, 2006
Poema de Patricia (Ticcia)
Esta foto está no blog de Patrícia, vão até lá conhecer melhor, vale a pena.
Patricia Antoniete foi uma das primeiras pessoas que descobri sozinha aqui na internet, quase não a visito, mas sempre que vou encontro poemas preciosos lá, este eu adorei, eu gostaria de ter escrito. Hoje fui até lá e é aniversário do 'Não discuto', faz mais de 3 anos, mesmo sem a conhecer, ficam o meus votos para que o espaço dela tenha vida longa.
Poema de Patricia (Ticcia)
19.01.2006
Desde sempre, desde o início, dos primórdios, desde antes de qualquer outra coisa, amei tuas mãos. Essas mãos de promessas insuspeitas, cada uma um hemisfério, um território, um continente, um oceano onde vivem peixes e moréias, anêmonas e corais. Amei tuas mãos e sua cor de canela, seu toque de lã, seus gestos de força, sua vocação de ninho e afago, suas vontades secretas reconfigurando meus relevos, se enchendo dos meus cabelos, umedecendo em meus lábios. Amei tuas mãos sobre as minhas, conchas da minha pele, laços dos meus dedos, grandes pássaros cheirando às viagens que fizeram. Amei tuas mãos cheias de memórias de outros corpos, que voltaram para casa quando tocaram o meu.
Escrito por Ticcia às 12:56 de 19.01.2006.
Amor sem fantasia.
Amor e dor.
Para não ficar só no ego, viagem narcísica, ai vai uma musiquinha linda que me comove muito.
Sem Fantasia
Ouça com Chico e Bethânia. Aqui:
Chico Buarque
Vem, meu menino vadio, vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos, vou te envolver nos cabelos,
Vem perde-te em meus braços pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco, vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero to...do meu
Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender, só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar, eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus, e agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus
Músicas e letras de Chico aqui.
Mulheres artesãs. Fotos de Lena.
Fotos lindas de Lena Trindade, minha conhecida lá de Cabo Frio, ela é da terrinha, é amiga da família, muito boa fotógrafa, é casada com Abel Silva.
Faz tempo não a vejo, morava em Ipanema também.
Vejam as fotos todas aqui, vale a pena, o projeto é bonito, mulheres artesãs, um barato, gostei muito.
segunda-feira, março 20, 2006
A semana da lua cheia- plena.
A semana passada foi cheia de emoções.
Semana de lua cheia, céu lindo, dias muito quentes.
Minha sobrinha querida pegou uma virose braba e teve que ser internada com vômitos e diarréia, fiquei apreensiva, tem apenas 4 anos, mas felizmente já saiu, está bem. Fiz comidinha para ela, fico feliz por cuidar dela, eu a vejo pouco, é inteligente e linda, espertíssima. Ontem fiz com ela um jogo de memória com cartões postais que ela tem, ela adora, vou fazer com o jogo de dominó, eu fazia em casa quando meus irmãos eram meninos, é uma delícia, pega-se duas revistas iguais e cola-se as figuras no dominó, a gente escolhe o que quer, melhor que estes comprados.
Uma pessoa que eu gosto muito e não me dá muita bola me mandou um email legal, dizia apenas:"torcendo" foi o que bastou para me alegrar.
Estou conseguindo estudar Lacan, que é muito difícil e chato, eu que enxugo tudo, detesto o estilo dele, mas fazer o quê? preciso ler, estou lendo. Começo nesta semana um seminário sobre dois textos dele.
Vou trabalhar como voluntária num projeto social "Projeto Olimpia" vinculado a Camanor, empresa de cultivo de camarões e ao Instituto Marie Jost, escola suiça. Neste projeto as crianças de comunidades pobres têm acesso à ginástica olímpica, depois falo mais do projeto, coloco links.
Fui a uma reunião de budistas, são extremanente simpáticos e receptivos, é muito bom, ainda tenho dúvidas sobre o budismo deste grupo, seguem Nitiren Daishonin, eu conhecia , de longe, o Zen budismo, este tem um sutra que recitamos:
' Nam-myoho-rengue-kyo ', eu me sinto pouco à vontade recitando, me estranho, eu gosto de silêncio, de OUMMMMMMMMM, estas coisas, mas as o que leio sobre a Soka Gaakai é muito interessante, é uma ONG em prol da não violência, paz, educação, cultura, tudo que eu gosto e acho importante. Eles também têm ações sociais, difere do Zen que é mais introspectivo, aqui eles atual nas comunidades, fazem visitas, estou de namoro, tudo que leio eu gosto, estou conhecendo, sou muito resistente, mas eu faço uma leitura que eu gosto. Por exemplo, eles dizem que nós somos responsáveis por nossos atos, nada vem de cima, eu concordo- Lei da causa e efeito. Ih...Acabo de ler um artigo metendo o pau no Ikeda, será verdade? eu não quero entrar de gaiata, detesto fanatismo, estas coisas, de repente fico na minha, faço o meu budismo, eu acho estranho algumas coisas, não posso ficar escrevendo aqui, tenho que estudar Lacan, ai ai...
Consegui ter notícias de um amigo querido que está se recuperando de um câncer, foi ótimo ouvir a voz dele, voz normal, a última vez estava péssima. Fico feliz por ele, passou maus momentos na quimioterapia, tenho muita pena, teve muita angústia, medo de morrer, pânico, é uma pena. Está voltando à vida normal, a trabalhar.
Um amigo argentino me enviou um email que adorei, ele agradeceu as fotos de Buenos Aires que lhe mandei dizendo: "Gracias pelas fotos, gracias por existires", eu respondi e contei que estava freqüentando reuniões de budistas, ele me respondeu que ficou com lágrimas nos olhos ao ler- é budista. Uma outra vez ele colocou como título do email esta frase: "Me comovem os emails de Laura", vocês acreditam? existem homens assim, é surpreendente. Eu gosto demais dele, pena que está tão longe, nos conhecemos no Spa, lembram? fiz um post sobre ele- José Antonio.
Eu sinto muita falta de amigos como ele por perto, gente como Patrício, que mora no Caribe, também tão amoroso comigo, ai que saudades dos meus amigos queridos. Queria tanto um abraço...ai ai semana de lua cheia é mais difícil.:)
Chega, estou ficando nostálgica.
E continuem torcendo por mim, viu?
Bom dia para vocês.
Acrescentado às 18;10 hs:
Blogueiros leiam este post da Denise de hoje, está ótimo, fala de nós. Vão até lá, Denise é a rainha das blogueiras, sabe o que faz e o que diz, é muito divertida e inteligente. hihihi
sexta-feira, março 17, 2006
A vida já valeu a pena.
No 'Saia justa' especial Contardo Calligaris disse uma frase que ficou na cabeça de quem assistiu, tanto que nesta semana voltaram a colocar o trecho da fala novamente. Contardo disse:
" Não importa se somos felizes ou não, isto é irrelevante, temos que ter vidas interessantes, a gente sempre acha que nossa vida não é feliz, poderia ser melhor, mas a vida tem que ser interessante" , não é 'ipsis literis', mas quase.
Ele diz algo que eu não havia pensado ainda, mas intuía, ser feliz é mais um apelo que vem de fora, assim como ser belo, ser rico e, atualmente, ser famoso. É preciso viver bem e viver bem nem sempre vem junto com felicidade.
No texto de ontem ele fala do triângulo amoroso, quem o vê, ou quem o vive geralmente se diz infeliz. Por que? porque o amor tem que ser incondicional, único, com posse, se eu te amo, eu te desejo e você é meu. Está feita a equação.
É impossível para a maioria dos mortais que alguém seja feliz, ou viva bem, se está vivendo uma relação à três. Se alguém acredita amar mais de uma pessoa, amar dois, por exemplo, é volúvel, cínico, mal caráter.
Por que?
É possível, sim, amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo- tem gente que acha que amor é um só na vida, alma gêmea, estas coisas, criadas para iludir, é o que a Igreja faz, faz o casalzinho enamorado jurar que amará para sempre, como garantir que meu amor será eterno? não seria melhor " que seja infinito enquanto dure" do nosso amante mor, Vinicius de Moraes? Mas as razões da Igreja todos sabemos, são conveniências conhecidas.
O meu afeto é enorme por mais de um homem, meus amores são idealizados, eu preciso admirar aquele que eu amo, mas qual não é? são mais platônicos que físicos, eu sou generosa :), pode ser que meu coração caiba mais de um, seja espaçoso.
Lembrei de Drummond que me deu uma crônica chamada "Coração imobiliário", fez para mim, ele diz ali que a personagem ama mais de um por isso o imobiliário. Engraçado, mas ele também amava duas. Era homem, homem pode, não é? hãmmm.
Nesta época da crônica, lá por 83, eu amava uma pessoa, mas era complicado, ele tinha outra que ele também amava. Então eu conheci um violinista americano e ele ia tomar café da manhã comigo, tivemos um flerte no inicio, mas acabamos amigos, não houve química entre nós. Contei para Drummond do violinista- do outro ele já sabia desde que me conheceu- ele ficou enciumado, falava que eu tinha dois namorados e não era verdade, o americano nunca foi um namorado. :)
Este artigo de Contardo de ontem tem muitos pontos para a gente discutir.
Ele diz que há " mentira em todo triângulo amoroso: "Minto quando escondo minha paixão por outro ou por outra? Ou, então, a verdadeira mentira é o casamento que vivo e a insatisfação que escondo?".
Eu sempre achei que viver uma relação assim, insatisfeita, por comodidade, medo de mudar, medo de tentar uma nova relação era uma situação doentia. Existem muitas razões para se manter um casamento que não satisfaz mais, todos vocês sabem, eu acredito que estar mal numa relação, com hostilidade, raiva, adoece, tenho certeza disto, vejo isto. Mas muitos não querem arriscar um rompimento e uma nova aventura- sim, é uma aventura, sair do certo, mesmo que não seja bom, para algo que poderá vir a ser ruim também, é uma aventura e tanto, dá medo, não dá?
Há casamentos, acho que a maioria, onde o amor acabou mas ficou uma cumplicidade, foram anos onde dividiram alegrias e dores, difícil sair fora, tentar uma nova relação. Outros têm a desculpa financeira ou dos filhos, o que o Contardo fala ali, o casal não tinha estes problemas no filme.
Meus pais se separaram com 36 anos de casados! minha mãe quis, fez bem, tinham uma relação hostil, nem se falavam mais, era triste ver, ela refez a vida, foi fazer faculdade, casou, descasou, pelo menos tentou, viveu uma outra história, vocês sabem como era esta geração casavam virgens, quando o sonho acabava ficavam amargando terem vivido com um homem apenas. Meu pai ficou só, mas muito bem, curou a enxaqueca crônica, fazia o que queria, era feliz, muito, curtia a natureza, foi morar no mato, ele gostava, minha mãe não.
Às vezes penso que é melhor não amar ninguém, viver amorfa, sem grandes desejos, nem temores, mas ai a vida me surpreende e quando vejo estou com o coração acelerado de emoção e paixão, me sinto mais viva, eu aprendi desde os sete anos de idade a estar apaixonada, mesmo que este amor seja platônico, existe em mim, não no outro, amamos aquilo que criamos. E eu crio belos amores, eles me instigam à escrever, a desenhar, a ser mais generosa.
Que viva o amor! Imaginário ou não, aliás é sempre imaginário, né?
Ah, ontem foi aniversário de duas pessoas por quem estive apaixonada, Juarez Machado,quando eu tinha 15 anos, amor platônico, durou pouco, eu me apaixonei pelo artista, foi bom passei a desenhar mais tarde, e o outro, este de 1980 e tantos, foi um amor que me deixou marcas profundas de afeto, tem gente que tem marcas de dor apenas, eu tenho marcas de amor também, até hoje resgato aquele amor para escrever.
É ele que vem e me pega quando preciso, mesmo em sonho. Até que um novo amor se materialize, preciso dele quando quero lembrar como é ser amada.
A vida já valeu a pena, podem crer. O que vier é lucro.
Meu chão.
quinta-feira, março 16, 2006
Hoje é dia de Contardo Calligaris.
Fotos de Rupert Everett
"Mentiras Sinceras"
Contardo Calligaris.
Espero que "Mentiras Sinceras", de Julian Fellowes, continue em cartaz e que os amantes e os amados (casados ou não, heterossexuais ou homossexuais, tanto faz) tenham o tempo de assistir ao filme, em massa.
O título original é "Separate Lies", mentiras separadas, mas gostei da tradução brasileira. "Mentiras Sinceras" evoca o estranho balé de verdade e mentira em todo triângulo amoroso: "Minto quando escondo minha paixão por outro ou por outra? Ou, então, a verdadeira mentira é o casamento que vivo e a insatisfação que escondo?".
Ser sempre sincero não é fácil. No filme, Anne (Emily Watson) tenta ser sincera com o marido, James (Tom Wilkinson), e também com seu próprio desejo. Mas a verdade não é simples: Anne, por exemplo, não sabe bem o que a joga nos braços de William (Rupert Everett), seu amante. Quando explica ao marido o que lhe acontece, ela não invoca o amor ou a paixão; apenas consegue dizer que não sabe renunciar a William porque os encontros com ele são "easy", fáceis: o amante não lhe pede nada ou quase.
Talvez a maioria dos relacionamentos amorosos adoeçam e morram por causa disto: não porque o parceiro deixou crescer uma barriga displicente nem porque a gente estaria cansado da mesmice e a fim de novidades, mas porque, ao vivermos juntos, aos poucos, perdemos a generosidade. E a generosidade é (ou, melhor, deveria ser) o próprio do amor; ela está quase sempre presente, aliás, quando a gente se apaixona. Explico.
O amor que nasce idealiza o amado, mas essa idealização é contemplativa, não é normativa. Ou seja, pedimos, eventualmente, que o amado ou a amada estejam perto de nós, mas não que mudem e ainda menos que renunciem a serem quem eles são.
Claro, enxergamos neles algo que eles podem não ser, mas o encanto amoroso é justamente esse engano: "Seja como você é, pois é assim que descubro em você tudo o que quero, mesmo que talvez você não seja nada disso". Em suma, o amor, inicialmente, é respeitoso. Se você não é bem o que vejo em você, o engano é meu; amar consiste em querer e saber continuar se enganando.
As coisas mudam quando começamos a medir a distância entre o ser amado e o ideal que lhe penduramos nas costas. De repente, o engano nos parece ser uma artimanha do outro; é ele que deveria se emendar para voltar a ser o ideal que inspirava nosso amor.
O encanto do começo se transforma, assim, numa lista inesgotável de pequenas ou grandes exigências. Tudo o que pedimos ao ser amado (que ele ganhe mais, que seja simpático com nossos amigos, que nos acolha com um sorriso, que pare de roncar no nosso ouvido, que leia Goethe em alemão, que não coma com as mãos, que não caminhe na nossa frente na rua, que esteja em casa na hora certa) é apenas um derivativo. O que queremos é a volta do que nós mesmos perdemos: o encanto pelo qual enxergávamos nosso ideal no ser amado. Esse encanto impunha o respeito, ou seja, permitia que deixássemos o amado e a amada serem, simplesmente, eles mesmos.
A trama de "Mentiras Sinceras" é a de sempre quando, num casal, um dos dois se interessa por um terceiro. Anne ama James e James ama Anne. Mas Anne encontra William, que não tem nada de especial, mas é "easy", e ela quer viver esse amor. James sofre. Anne também sofre. Não se sabe bem como a história de Anne e James terminará (minha hipótese é que o casal resistirá).
A história acontece numa sólida burguesia (ou mesmo aristocracia) inglesa, em que a dificuldade do triângulo amoroso não é parasitada por problemas financeiros ("Se nos separarmos, quem ficará com o quê?"). Anne e James não têm filhos e não devem se preocupar com os efeitos de seus atos e sentimentos nas crianças ("Como ficarão? O que pensarão? Quanto anos de análise tudo isso lhes custará?"). O triângulo amoroso, em suma, é reduzido ao essencial.
É também graças a essa redução ao essencial que o filme pode oferecer uma extraordinária lição de amor. Anne é exemplar por ela não saber as razões de seu amor por William e por continuar amando James. James é exemplar porque sofre, mas trabalha com afinco para evitar transformar seu sofrimento em mais uma cobrança ciumenta. Ao contrário, James se serve da ocasião para reinventar sua capacidade de amar Anne com a generosidade e o respeito do amor que nasce, ou seja, sem lhe pedir que ela seja diferente do que ela é.
A lição que James aprende (e nós com ele) é que o amor, quando não é atravessado e deformado pelas piores exigências neuróticas e narcisistas, confere ao amante um dever para com o amado, mas nenhum direito sobre ele.
Jacques Lacan, um grande psicanalista francês, disse mais de uma vez (a primeira foi, talvez, em seu seminário de 56/57) que o maior sinal de amor é (deveria ser?) o dom do que a gente não tem. Algo assim: "Ofereço-lhe o que não tenho e que você não quer e não me pede". Seja qual for nossa interpretação desse aforismo, ele é certamente o oposto da miséria amorosa ordinária, em que amar significa pedir ao outro o que a gente quer. Ou, pior ainda, pedir-lhe aquela "coisa" de que a gente precisa.
Jeremy Irons e Rupert Everett se parecem, não acham? explica o porquê da moça cair nos braços dele, não explica? :) são charmosos, ar tristonho, escondem algo, o marido não. O diretor escolheu um ator para o marido (Tom Wilkinson) que não ajuda muito, eu ficaria com o amante hihihi gente, estou brincando, não vi o filme, Contardo viu e acha que ela fica com o marido, sempre é mais fácil não arriscar, não é?
O amor generoso.
Foto Fernando MOPinto
Eu havia colocado esta foto para o texto de Contardo Calligaris, depois mudei para os atores acima.
quarta-feira, março 15, 2006
"Assim é se lhe parece"
Desde sábado estou com uma alergia na pele que está me irritando, acho que foi um creme Nívea que passei (uso há anos!), a pele que estava lisa e bronzeada, agora está irritada, cheia de bolinhas. Ai, que chato...coincidência ou não fiquei meio deprê, há outro motivo também, mas isto me deixa impossibilitada de pegar sol e fazer hidroginástica, que são meus prazeres atuais :) Fui ao médico,mas quando li a bula não tomei o remédio, sou um saco para remédios, detesto tomar, tenho dor de estômago, estas coisas, porque tomo homeopatia desde que comecei a tomar conta da minha vida, faz tempo...estou sem homeopata aqui, vou ter que achar um. Fernandoooo, tenho saudades de você, meu médico preferido.
Fiz aquele continho ontem e falei de Jurema, fiquei me sentindo meio desconfortável, achando que talvez estivesse sendo indiscreta, depois achei que não fazia mal, e coloquei o PS, hoje abro os comentários e Tec lado diz:" Porque você "explica" a sua ótima ficção?" Bateu em mim pra valer. Vou tirar a explicação de lá, eu devo seguir minha intuição, usar mais minha sensibilidade para acertar mais e errar menos, não foi nada de mais, pero...
Bom, ai abro os emails e tem uma série de fotos onde acrescentaram detalhes que alteram completamente o que vemos, lembrei do "Assim é se lhe parece" de Pirandello, escritor maravilhoso, vi esta peça, foi ótima, com Sérgio Brito encabeçando o elenco que tinha Fernanda, e muitos outros.
Vocês viram "O falecido Mathias Pascal"? dele também, excelente, eu li as duas e vi o Mathias Pascal de Marcelo Mastroiani, eu amava o Mastroiani, ai ai :)
Pois é, nem sempre as coisas são como parecem, não é?
Torçam por mim, estou precisando.
terça-feira, março 14, 2006
Mini conto. Neruda, meu amor.
Foto Fernando
Neruda, meu amor.
Ela foi se fechando aos poucos, quando se deu conta não saia mais de casa. Havia sempre uma desculpa, uma dor de cabeça, um trabalho para entregar, o cachorro que não podia ficar só...
A família depois que a mãe morreu esqueceu dela. Não havia mais porquê visitá-la, enquanto a velha estava ali vinham uma vez por semana. Cada um foi para seu lado. Tudo girava em torno da mãe, "Como mamãe está hoje?" , "Mamãe comeu bem hoje?", eram as perguntas que ouvia ao atender o telefone, ninguém queria saber como ela estava, era invisível. Tinha gestos suaves, falava baixo, aprendeu que não deve se fazer chamar atenção, nem ruídos, para não incomodar os outros. Agora não existem "os outros", os vizinhos mesmo que gritasse não a ouviriam pela distância.
Um dia o vizinho notou que há dias a janela estava aberta mesmo na chuva e achou estranho. Bateu na porta e nada, nenhum ruído. Chamou a mulher, perguntou se havia notado a presença da vizinha estes dias, "não, não a via a dias". Com uma escada olharam pela janela e viram as pernas magras no chão, muito brancas.
Há dias o corpo jazia atrás do sofá, ao lado um livro de Neruda e o cão que lambia a boca crispada da morta.
segunda-feira, março 13, 2006
Nudez.
Despertou de madrugada, lembrou do sonho. Não sabe se o sonho a despertou ou o calor. Não havia brisa, estava tudo parado, silêncio total. Teve medo, sentiu frio no estômago. No sonho ele a beijava, mas havia alguém na sala contígua, ela pede para parar, sente medo que a vejam ali despida, desnuda no meio da sala.
O frio tomou conta dela, sentiu medo de morrer, medo da manhã que chegava, medo dele. Por que tanto medo dele? Outras vezes amou e não sentiu tanto medo. Ou terá esquecido do frio nas madrugadas insones? Do pranto até cair de cansaço?
Sente-se desnuda, ele a despe, a leva ao despudor. Agora tem medo. Medo. Está nua, a ele cabe cobrí-la ou tomá-la nos braços.
Foto do canadense Joris Van Daele.
Veja aqui.
ou aqui
domingo, março 12, 2006
Hoje é dia de festa! Oba!
Estas lindas tortas são do blog da Luci
O meu blog fez um ano dia 3 e eu achava que era dia 10, 11 :)
Já contei outras vezes que comecei o blog meio sem saber bem o que queria, pensava em fazer há muito tempo um site de psicologia como o "Oriente-se" (abandonado há um tempinho, tadinho), este 'Caminhar' fiz no impulso, como faço muitas coisas na minha vida, entrei no Nominimo, fui conhecer o 'Síndrome de Estocolmo' porque achei o nome curioso, cliquei no Blogger e pumba, fiz um blog.
Lembrei de Calligaris e coloquei o texto dele , ai fui conhecer o 'Pensar enlouquece', o 'Por um punhado de pixeus' o 'Frankamente', fui pelos nomes curiosos, encontrei esta turma ótima, fui conhecendo os amigos deles, encontrando novos amigos e estou muito feliz por compartilhar minha vida com vocês todos.
Já disse também que o blog me salvou de uma baita depressão, viver numa nova cidade, só, com filhos adolescentes se queixando, se adaptando, o dinheiro curto, as tentativas de trabalho infrutíferas, não é fácil. Depois de três anos começo a encontrar pessoas com quem faço laços de amizade, até o ano passado eu só dei com os 'burros n'água'(esta expressão é tão engraçada...)
Mudou tudo na minha vida, minha rotina, hora de acordar, dormir, tudo, atualmente- pos blog - acordo cedo, eu tinha horror de acordar cedo, minhas amigas me desconhecem hoje. Estou morena de novo como quando era mais jovem, pego sol, coisa que não fazia há anos, uns 20! hahaha estou bem mais leve, acho que estou gostando de viver bem, virei hedonista, tenho fugido da dor. Já disse também que quero ser budista, daí ninguém me segura, não vou mais deixar a dor se instalar. Até a dor de cabeça que eu tinha muitoooo passou a vir só de vez em quando, que bom!!!!!!!
Escrever foi uma descoberta maravilhosa, eu sempre escrevi, desde adolescente, uma professora no ensino médio lia minhas redações para a turma, outra vez ganhei um concurso de contos num hospital psiquiátrico onde trabalhei, era um conto de Natal, lembrei outro dia, ganhei um livro de Tagore de presente. :)
Sempre gostei de ler, sempre li bons livros, se você quer escrever leia muito, leia bons autores, eu sempre fui seletiva, só lia coisa boa, best sellers por ex. li pouquíssimos, não sou 'mariavaicomasoutras' :) No início do blog em março fiz posts sobre os livros que eu gosto, se você quiser saber o que eu li, vá até os arquivos de março, aliás, eu acho que se você quer me conhecer melhor leia os primeiros posts, eu falo bastante de mim, das influências que tive, tem poemas de Pimenta, meu amigo que era apaixonado por mim, lindos poemas. Uma professora de literatura da PUC disse para mim que ele seria um segundo Drummond se não tivesse morrido tão cedo. Lá também tem historinhas do Drummond.
Cruzes! isto é muito narcisismo, não é? :)
Escrevia, mas não de forma regular, só quando estava apaixonada :) e nem sempre eu estava neste estado doentio e delicioso :)
Uso este espaço para mostrar o que gosto, para me mostrar narcisicamente- é vergonhoso às vezes o nosso despudor aqui, ainda bem que é a Laura, né? hihihihi
Eu quero agradecer a cada um de vocês que vem até aqui diariamente, ou esporadicamente, me dar um alô, ler minhas introspecções ou meus continhos, todos vocês, me dão muitas alegrias e fazem com que minha vida seja hoje muitooooo melhor do que era antes. Quero agradecer ao Contardo Calligaris também que toda quinta tem um belo artigo para eu copiar :) e colocar aqui para quem não tem como ler na Folha ou na UOL, o site meter mostra que vêm muitos leitores em busca do nome dele aqui. Legal, né? :) Contardo é referência, é um pensador moderno que eu admiro muitooooo,
Eu não imaginava ao clicar no Blogger que um mundo novo se descortinava a minha frente. Vocês me estimulam a escrever, eu virei uma escritora, meus olhos vêem de forma diferente a vida, tudo eu quero contar para vocês, é muito estranho e gostoso.
O blog alimentou relações fora daqui também, envio para amigos não blogueiros meus textos, isto reforçou laços lá fora também.
Muito obrigada galera. Um beijo especial em cada um de vocês.
Esta fatia é especial para o Thomas que faz aniversário hoje. Feliz aniversário Thomas!!!Vão conhecer a galeria de arte dele aqui
‘Blogs’, a nova mania que dá dinheiro nos EUA. Que tal?
Rio, 12 de março de 2006
‘Blogs’, a nova mania que dá dinheiro nos EUA
Helena Celestino
Correspondente O Globo
NOVA YORK. Como milhares de universitários, Jen Chung, 29 anos, mandava e-mails para seu grupo de colegas no curso de Economia da Columbia University, com histórias interessantes de Nova York, fazendo críticas de restaurantes, listas dos melhores shows de rock, descobrindo bares novos, contando o dia-a-dia da cidade. Já formada e entediada com seu trabalho numa agência de publicidade, criou um blog com seu ex-colega de faculdade, Jacke Dobkin, também de 29 anos. Com a contribuição de milhares de “olheiros” pela cidade, acabaram fazendo um completíssimo serviço de Nova York: “Gothamist” virou uma referência e hoje ocupa o 90 lugar no ranking de 27 milhões de blogs que povoam a internet e chegam a faturar US$ 1,5 milhão por ano.
Jen e Jacke são hoje blogueiros profissionais, ainda uma raridade nesta congestionada nova mídia. Eles têm um escritório no Upper West Side, estão montando uma rede de blogs cobrindo 15 cidades e vêm investindo pesadamente em infra-estrutura e manutenção. “Gothamist” está ligado a centenas de outros blogs, é visitado por 65 mil pessoas por dia, recebe de 1.500 a duas mil contribuições diárias e tem entre seus anunciantes até o poderoso “The New York Times”.
— Vasculhamos as várias mídias e postamos o que achamos interessante. Nos últimos seis meses, nosso público cresceu 20% ao mês — conta Jen, evitando detalhar quanto cobra pela publicidade de restaurantes, hotéis e do mercado imobiliário estampada no seu site .
Eles fazem parte do blog boom , um fenômeno mundial. Tecnologia, sexo, política, fofoca e serviço são as grandes atrações nesse planeta que primeiro popularizou-se como espaço para adolescentes expressarem emoções mas já virou um negócio capaz de fazer novos milionários e mexer com a mídia tradicional. A grande maioria dos blogs é irrelevante, mas no meio de muita bobagem, há um poderoso grupo de blogs Classe A com valor comercial e repercussão na vida nacional, especialmente nos Estados Unidos.
Claro que os números ainda são modestos se comparados a outros ramos da economia, mas o maior negócio já fechado por um blog chegou a US$ 25 milhões, não exatamente uma soma desprezível: foi a compra pela AOL da Weblogs, uma companhia guarda-chuva para vários blogs , cujo carro-chefe é o Engadget, segundo no ranking da blogoesfera, editado pelo skatista punk Peter Rojas, um obsessivo decifrador dos gadgets de nova tecnologia. Ele não conta quanto ganhou nessa transação mas reconhece que tecnicamente não precisa mais trabalhar, embora continue passando 80 horas por semana postando sem parar informações no computador.
— Qualquer um pode começar um blog e fazê-lo crescer, mas é um trabalho infernal. Começo antes do dia nascer e não paro até a hora do jantar — disse à revista “New York”.
Os blogsmais importantes têm audiência equivalente a de revistas e jornais de cidades de médio porte. Conseguem impor aos anunciantes uma tabela de preços que varia muito mas a maioria tem como base o número de leitores.
‘Blogs’, a nova mania que dá dinheiro nos EUA
Helena Celestino
Correspondente O Globo
NOVA YORK. Como milhares de universitários, Jen Chung, 29 anos, mandava e-mails para seu grupo de colegas no curso de Economia da Columbia University, com histórias interessantes de Nova York, fazendo críticas de restaurantes, listas dos melhores shows de rock, descobrindo bares novos, contando o dia-a-dia da cidade. Já formada e entediada com seu trabalho numa agência de publicidade, criou um blog com seu ex-colega de faculdade, Jacke Dobkin, também de 29 anos. Com a contribuição de milhares de “olheiros” pela cidade, acabaram fazendo um completíssimo serviço de Nova York: “Gothamist” virou uma referência e hoje ocupa o 90 lugar no ranking de 27 milhões de blogs que povoam a internet e chegam a faturar US$ 1,5 milhão por ano.
Jen e Jacke são hoje blogueiros profissionais, ainda uma raridade nesta congestionada nova mídia. Eles têm um escritório no Upper West Side, estão montando uma rede de blogs cobrindo 15 cidades e vêm investindo pesadamente em infra-estrutura e manutenção. “Gothamist” está ligado a centenas de outros blogs, é visitado por 65 mil pessoas por dia, recebe de 1.500 a duas mil contribuições diárias e tem entre seus anunciantes até o poderoso “The New York Times”.
— Vasculhamos as várias mídias e postamos o que achamos interessante. Nos últimos seis meses, nosso público cresceu 20% ao mês — conta Jen, evitando detalhar quanto cobra pela publicidade de restaurantes, hotéis e do mercado imobiliário estampada no seu site .
Eles fazem parte do blog boom , um fenômeno mundial. Tecnologia, sexo, política, fofoca e serviço são as grandes atrações nesse planeta que primeiro popularizou-se como espaço para adolescentes expressarem emoções mas já virou um negócio capaz de fazer novos milionários e mexer com a mídia tradicional. A grande maioria dos blogs é irrelevante, mas no meio de muita bobagem, há um poderoso grupo de blogs Classe A com valor comercial e repercussão na vida nacional, especialmente nos Estados Unidos.
Claro que os números ainda são modestos se comparados a outros ramos da economia, mas o maior negócio já fechado por um blog chegou a US$ 25 milhões, não exatamente uma soma desprezível: foi a compra pela AOL da Weblogs, uma companhia guarda-chuva para vários blogs , cujo carro-chefe é o Engadget, segundo no ranking da blogoesfera, editado pelo skatista punk Peter Rojas, um obsessivo decifrador dos gadgets de nova tecnologia. Ele não conta quanto ganhou nessa transação mas reconhece que tecnicamente não precisa mais trabalhar, embora continue passando 80 horas por semana postando sem parar informações no computador.
— Qualquer um pode começar um blog e fazê-lo crescer, mas é um trabalho infernal. Começo antes do dia nascer e não paro até a hora do jantar — disse à revista “New York”.
Os blogsmais importantes têm audiência equivalente a de revistas e jornais de cidades de médio porte. Conseguem impor aos anunciantes uma tabela de preços que varia muito mas a maioria tem como base o número de leitores.
sábado, março 11, 2006
Olhando o umbigo e dicas diversas.
As manias que eu tenho...
Observar atentamente as pessoas nas ruas, lojas, 'shoppings', ficar imaginando como deve ser a vida delas, se são casadas, solteiras, no que trabalham. Adoro adivinhar pela cara o que o sujeito faz, muitas vezes acerto.
Fico imaginando também como ficaria melhor com uma roupa que combinasse mais com o seu físico, corto cabelos, visto roupas diferentes. Eu daria uma boa 'personal stylist'. :)
Ver filmes e seriados que gosto repetidas vezes. ('Seinfeld', 'Everybody love's a Raimond'), ouvir as mesmas músicas até cansar.
Usar um estilo de roupas apenas- casual cuidado(chic?), nas cores preto, branco, vermelho, só. Exceto uns vestidinhos de verão estampados e raras exceções
Andar com echarpes compridas na bolsa, ao sinal de frio- ar refrigerado gelado- é só pegar. Já salvou amigos e filhos em cinemas. :)
Pegar flores nos muros de casas por ande passo e levar para casa. Aqui tem Bougainvilles de todas as cores, lindas, adoro, coloco um ramo para enfeitar a bolsa, se tiver um fecho para segurar.
Implicar com algumas pessoas da mídia, com atores de novelas, por exemplo. Está passando lá na sala o último capítulo de "Alma gêmea, eu ridicularizava o tempo todo, foi muitoooo mal feita, nem parecia padrão Global e fez um sucesso estrondoso com o assunto almas gêmeas, me poupem...impossível ver, e esta que passa às sete, um horror, sem pé nem cabeça, acho um absurdo um canal de Tv como a Globo gastar uma fortuna com tanta bobagem. Dizem que há crise de criatividade, falta de dramaturgos, faz favor...
E as moças do "Saia Justa"*? ai ai era tão bom antes, adorava Rita Lee e as outras interagindo, agora é aquela chata da filósofa, dona da verdade, que se superestima, a linda da Luana fazendo caras e bocas... com as outras duas não implico, simpatizo. Luana eu também acho lindinha, perdôo as bobagens, é muito menina.
Pronto, já impliquei.
*Hoje tem "Saia Justa" às 23 hs no canal GNT e tem o Contardo Calligaris lá também, é um especial com convidados,já vi, adorei vê-lo. É um programa confuso, mas interessante, vejam que vão gostar. É um especial pelo dia das mulheres, falam de mulheres, assunto bom, não é? O que as mulheres querem? Freud se perguntou e até hoje é uma qüestão difícil de ser respondida, não é? Somos muitas. :)
Este post faz parte de uma brincadeira entre blogueiros, devo passar adiante, como sou democrática, abro para quem quiser fazer, é divertido, eu tenho muitoooooo mais manias, mas pedem cinco especiais, então enxuguei até estas cinco.
Saindo do meu umbigo vejam estes links:
Como há muitos viajantes por ai aqui trouxe para vocês um link sobre viagens. Aqui.
Isto é uma brincadeira engraçada e instrutiva, uma moça estranhíssima diz o texto que você escrever na lingua que você escolher, é divertido e tem sotaque :) aqui.
Aqui está cheio de paródias sobre o filme dos caubóis, tem uma com coelhos que Inagaki colocou lá é demais, vejam lá no Ina.
Veja aqui esta paródia hilariante do filme Brokeback Mountain, perfeita, se vc não viu o filme não veja o filmezinho senão estraga.
São apenas 30' roubei lá do meu amigo Inagaki. Se você não conhece o blog dele vá conhecer, gente fina e inteligente, meu japa preferido :)
Divirtam-se!
Bom fim de semana!
Observar atentamente as pessoas nas ruas, lojas, 'shoppings', ficar imaginando como deve ser a vida delas, se são casadas, solteiras, no que trabalham. Adoro adivinhar pela cara o que o sujeito faz, muitas vezes acerto.
Fico imaginando também como ficaria melhor com uma roupa que combinasse mais com o seu físico, corto cabelos, visto roupas diferentes. Eu daria uma boa 'personal stylist'. :)
Ver filmes e seriados que gosto repetidas vezes. ('Seinfeld', 'Everybody love's a Raimond'), ouvir as mesmas músicas até cansar.
Usar um estilo de roupas apenas- casual cuidado(chic?), nas cores preto, branco, vermelho, só. Exceto uns vestidinhos de verão estampados e raras exceções
Andar com echarpes compridas na bolsa, ao sinal de frio- ar refrigerado gelado- é só pegar. Já salvou amigos e filhos em cinemas. :)
Pegar flores nos muros de casas por ande passo e levar para casa. Aqui tem Bougainvilles de todas as cores, lindas, adoro, coloco um ramo para enfeitar a bolsa, se tiver um fecho para segurar.
Implicar com algumas pessoas da mídia, com atores de novelas, por exemplo. Está passando lá na sala o último capítulo de "Alma gêmea, eu ridicularizava o tempo todo, foi muitoooo mal feita, nem parecia padrão Global e fez um sucesso estrondoso com o assunto almas gêmeas, me poupem...impossível ver, e esta que passa às sete, um horror, sem pé nem cabeça, acho um absurdo um canal de Tv como a Globo gastar uma fortuna com tanta bobagem. Dizem que há crise de criatividade, falta de dramaturgos, faz favor...
E as moças do "Saia Justa"*? ai ai era tão bom antes, adorava Rita Lee e as outras interagindo, agora é aquela chata da filósofa, dona da verdade, que se superestima, a linda da Luana fazendo caras e bocas... com as outras duas não implico, simpatizo. Luana eu também acho lindinha, perdôo as bobagens, é muito menina.
Pronto, já impliquei.
*Hoje tem "Saia Justa" às 23 hs no canal GNT e tem o Contardo Calligaris lá também, é um especial com convidados,já vi, adorei vê-lo. É um programa confuso, mas interessante, vejam que vão gostar. É um especial pelo dia das mulheres, falam de mulheres, assunto bom, não é? O que as mulheres querem? Freud se perguntou e até hoje é uma qüestão difícil de ser respondida, não é? Somos muitas. :)
Este post faz parte de uma brincadeira entre blogueiros, devo passar adiante, como sou democrática, abro para quem quiser fazer, é divertido, eu tenho muitoooooo mais manias, mas pedem cinco especiais, então enxuguei até estas cinco.
Saindo do meu umbigo vejam estes links:
Como há muitos viajantes por ai aqui trouxe para vocês um link sobre viagens. Aqui.
Isto é uma brincadeira engraçada e instrutiva, uma moça estranhíssima diz o texto que você escrever na lingua que você escolher, é divertido e tem sotaque :) aqui.
Aqui está cheio de paródias sobre o filme dos caubóis, tem uma com coelhos que Inagaki colocou lá é demais, vejam lá no Ina.
Veja aqui esta paródia hilariante do filme Brokeback Mountain, perfeita, se vc não viu o filme não veja o filmezinho senão estraga.
São apenas 30' roubei lá do meu amigo Inagaki. Se você não conhece o blog dele vá conhecer, gente fina e inteligente, meu japa preferido :)
Divirtam-se!
Bom fim de semana!
quinta-feira, março 09, 2006
Poeminha despretensioso. Oásis.
Foto do canadense Joris Van Daele.
Veja aqui.
ou aqui
Poeminha despretensioso.
Oásis.
As mãos percorrem meu corpo,
não o desperta como suas mãos.
Frescor em tempo de estiagem.
Ouçam:
O Amor em Paz
Ouvi aqui na voz de Gal Costa, é linda.
Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Eu amei,
E amei ai de mim muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você
A razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais,
Nunca mais
Porque o amor
É a coisa mais triste
Quando se desfaz
O amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz
Hoje é dia de Contardo Calligaris.
Os Iks, Kitty Genovese e o Engenho de Dentro
Contardo Calligaris
Na coluna da semana passada, comentei uma reportagem de Elvira Lobato sobre o que aconteceu recentemente numa rua do Engenho de Dentro, bairro de classe média da zona norte carioca.
Numa madrugada, os moradores encontraram um carro com dois cadáveres retalhados; uma das cabeças estava exposta em cima do capô. Provavelmente, tratava-se de uma desova "exemplar" do tráfico. Pois bem, foi uma algazarra de zombarias e fotografias (utilidade comprovada dos celulares com câmara digital).
Propus uma primeira reflexão, que resumo brevemente. Num mundo higienista, a subjetividade é definida pelo corpo, visto que, entre os sonhos que dão sentido à vida, prevalece o ideal do bem-estar físico. É ótimo para a saúde, mas a conseqüência é que a morte do outro não é mais um espetáculo propriamente angustiante; o cadáver nos mostra o que já acreditamos: no fundo, somos apenas alguns quilos de carne e ossos.
Não conseguirei responder a todos os leitores que me escreveram, mas, encorajado pelos comentários, proponho mais duas reflexões suscitadas pelo caso do Engenho de Dentro.
Como entender, além da indiferença, o escárnio dos corpos massacrados?
1) Um antropólogo inglês, Colin Turnbull, viveu três anos (de 1964 a 1967) entre os Iks (leia: iiiks), um povo de caçadores-coletores nas montanhas de Uganda. Em princípio, os caçadores-coletores estão sempre em movimento: os homens caçam e as mulheres colhem produtos espontâneos da natureza (raízes, sementes etc.).
Os Iks eram uma sociedade tradicional com costumes de cooperação tanto na caça como na colheita, mas, a partir dos anos 50, as nações africanas começaram a cuidar de suas fronteiras, criaram parques nacionais etc. Conclusão: os Iks foram aprisionados num território limitado e inóspito.
Em "The Mountain People" (o povo da montanha), de 1972, Turnbull narra a catástrofe cultural dos Iks, assolados por fome e miséria. Foram-se solidariedade e cooperação. Os homens pararam de levar suas presas para as mulheres e as crianças se alimentarem: eles comiam sozinhos, na hora. O mesmo valia para as mulheres em sua colheita. A sociedade se desfazia no "cada um por si". Sobreviver era a tarefa imperativa de cada indivíduo, e o infortúnio do outro passou a ser, justamente, divertido: "Melhor ele do que eu".
2) Em 13 de março de 1964, Kitty Genovese, aos 29 anos, foi assassinada numa rua tranqüila de classe média, no bairro de Queens, em Nova York. Voltando do trabalho, de madrugada, ela foi esfaqueada 17 vezes por um estuprador. Seu martírio durou meia hora; repetidamente, o agressor foi embora e voltou para completar sua "obra". Por que essas interrupções? Os gritos de Kitty acordaram os vizinhos, alguns abriram a janela para apostrofar o assassino: "Deixe aquela moça em paz". Mas, entre as 38 testemunhas desse horror, ninguém desceu na rua e ninguém chamou a polícia.
A morte de Kitty teve várias conseqüências. Para começar, foi instituído um número único e simples (911, em Nova York) para contatar a polícia em caso de urgência e mudou o atendimento: nada de "Quem está falando? Seu RG? Seu CPF?", mas, ao contrário, "Senhora, fique calma, estamos a caminho, só me diga exatamente onde você está".
Os psicólogos sociais americanos se dedicaram a entender o acontecido. Poucos meses depois da morte de Kitty, reuniu-se um simpósio sobre a inércia do espectador urbano. Seis anos e muita pesquisa mais tarde, em 1970, Latané e Darley publicaram "The Unresponsive Bystander: Why Doesn't He Help?" (o espectador inerte: por que não ajuda?), que ainda é uma obra de referência.
Latané e Darley constataram alguns funcionamentos instrutivos: a "abdicação da responsabilidade" ("Isso não é comigo, é com as autoridades, com a polícia") e a "difusão da responsabilidade" ("Não preciso chamar a polícia, pois um outro certamente já se encarregou disso"). Esse segundo funcionamento cria um paradoxo curioso: quanto mais numerosos forem os espectadores, tanto menos cada um deles se sentirá compelido a intervir. Da próxima vez que você for esfaqueado, escolha um lugar com uma ou duas testemunhas no máximo.
Poucas semanas depois da morte de Kitty, Stanley Milgram, outro genial psicólogo social, publicou seu comentário na revista "The Nation". No fim do texto, ele observava que talvez a inércia dos espectadores fosse um efeito da divisão urbana. Nos anos 60, para os nova-iorquinos de classe média que foram acordados pelos gritos de Kitty, a rua e a madrugada eram uma outra cidade, se não um outro país. Uma vez fechada a porta de sua casa e até à manhã seguinte, eles consideravam (e constatavam) que o espaço urbano pertencia a um povo que não tinha nada a ver com eles, um povo de drogados, bêbados, miseráveis e criminosos. Quem circulava naquele espaço não fazia parte de sua comunidade.
É o que podem ter pensado os moradores do Engenho de Dentro: "São cadáveres do tráfico, destinados a intimidar drogados que não pagam suas dívidas. Nada a ver com a gente. Podemos festejar, pois são mortos de uma outra tribo, uma tribo inimiga".
Contardo Calligaris
Na coluna da semana passada, comentei uma reportagem de Elvira Lobato sobre o que aconteceu recentemente numa rua do Engenho de Dentro, bairro de classe média da zona norte carioca.
Numa madrugada, os moradores encontraram um carro com dois cadáveres retalhados; uma das cabeças estava exposta em cima do capô. Provavelmente, tratava-se de uma desova "exemplar" do tráfico. Pois bem, foi uma algazarra de zombarias e fotografias (utilidade comprovada dos celulares com câmara digital).
Propus uma primeira reflexão, que resumo brevemente. Num mundo higienista, a subjetividade é definida pelo corpo, visto que, entre os sonhos que dão sentido à vida, prevalece o ideal do bem-estar físico. É ótimo para a saúde, mas a conseqüência é que a morte do outro não é mais um espetáculo propriamente angustiante; o cadáver nos mostra o que já acreditamos: no fundo, somos apenas alguns quilos de carne e ossos.
Não conseguirei responder a todos os leitores que me escreveram, mas, encorajado pelos comentários, proponho mais duas reflexões suscitadas pelo caso do Engenho de Dentro.
Como entender, além da indiferença, o escárnio dos corpos massacrados?
1) Um antropólogo inglês, Colin Turnbull, viveu três anos (de 1964 a 1967) entre os Iks (leia: iiiks), um povo de caçadores-coletores nas montanhas de Uganda. Em princípio, os caçadores-coletores estão sempre em movimento: os homens caçam e as mulheres colhem produtos espontâneos da natureza (raízes, sementes etc.).
Os Iks eram uma sociedade tradicional com costumes de cooperação tanto na caça como na colheita, mas, a partir dos anos 50, as nações africanas começaram a cuidar de suas fronteiras, criaram parques nacionais etc. Conclusão: os Iks foram aprisionados num território limitado e inóspito.
Em "The Mountain People" (o povo da montanha), de 1972, Turnbull narra a catástrofe cultural dos Iks, assolados por fome e miséria. Foram-se solidariedade e cooperação. Os homens pararam de levar suas presas para as mulheres e as crianças se alimentarem: eles comiam sozinhos, na hora. O mesmo valia para as mulheres em sua colheita. A sociedade se desfazia no "cada um por si". Sobreviver era a tarefa imperativa de cada indivíduo, e o infortúnio do outro passou a ser, justamente, divertido: "Melhor ele do que eu".
2) Em 13 de março de 1964, Kitty Genovese, aos 29 anos, foi assassinada numa rua tranqüila de classe média, no bairro de Queens, em Nova York. Voltando do trabalho, de madrugada, ela foi esfaqueada 17 vezes por um estuprador. Seu martírio durou meia hora; repetidamente, o agressor foi embora e voltou para completar sua "obra". Por que essas interrupções? Os gritos de Kitty acordaram os vizinhos, alguns abriram a janela para apostrofar o assassino: "Deixe aquela moça em paz". Mas, entre as 38 testemunhas desse horror, ninguém desceu na rua e ninguém chamou a polícia.
A morte de Kitty teve várias conseqüências. Para começar, foi instituído um número único e simples (911, em Nova York) para contatar a polícia em caso de urgência e mudou o atendimento: nada de "Quem está falando? Seu RG? Seu CPF?", mas, ao contrário, "Senhora, fique calma, estamos a caminho, só me diga exatamente onde você está".
Os psicólogos sociais americanos se dedicaram a entender o acontecido. Poucos meses depois da morte de Kitty, reuniu-se um simpósio sobre a inércia do espectador urbano. Seis anos e muita pesquisa mais tarde, em 1970, Latané e Darley publicaram "The Unresponsive Bystander: Why Doesn't He Help?" (o espectador inerte: por que não ajuda?), que ainda é uma obra de referência.
Latané e Darley constataram alguns funcionamentos instrutivos: a "abdicação da responsabilidade" ("Isso não é comigo, é com as autoridades, com a polícia") e a "difusão da responsabilidade" ("Não preciso chamar a polícia, pois um outro certamente já se encarregou disso"). Esse segundo funcionamento cria um paradoxo curioso: quanto mais numerosos forem os espectadores, tanto menos cada um deles se sentirá compelido a intervir. Da próxima vez que você for esfaqueado, escolha um lugar com uma ou duas testemunhas no máximo.
Poucas semanas depois da morte de Kitty, Stanley Milgram, outro genial psicólogo social, publicou seu comentário na revista "The Nation". No fim do texto, ele observava que talvez a inércia dos espectadores fosse um efeito da divisão urbana. Nos anos 60, para os nova-iorquinos de classe média que foram acordados pelos gritos de Kitty, a rua e a madrugada eram uma outra cidade, se não um outro país. Uma vez fechada a porta de sua casa e até à manhã seguinte, eles consideravam (e constatavam) que o espaço urbano pertencia a um povo que não tinha nada a ver com eles, um povo de drogados, bêbados, miseráveis e criminosos. Quem circulava naquele espaço não fazia parte de sua comunidade.
É o que podem ter pensado os moradores do Engenho de Dentro: "São cadáveres do tráfico, destinados a intimidar drogados que não pagam suas dívidas. Nada a ver com a gente. Podemos festejar, pois são mortos de uma outra tribo, uma tribo inimiga".
quarta-feira, março 08, 2006
Mulheres e violência.
Esta moça,Marie Trintignant, foi assassinada de forma cruel pelo namorado aos 41 anos.
Dia Internacional da Mulher, dia de blogagem coletiva, Denise está nos convocando e eu não sei bem o que escrever.
A primeira coisa que penso é nas mulheres que sofrem maus tratos dos homens, mulheres com medo, oprimidas, submissas.
Outro dia ouvi alguém dizer que se a mulher apanha é porque gosta. É o tipo de raciocínio estúpido que me incomoda tanto que nem discuto, saio fora, alguém que pensa assim não tem empatia com outras mulheres, prefiro evitar. Minha amiga My (escutou também o comentário) respondeu, tentou argumentar, eu nem argumentei.
Nelson Rodrigues disse que as mulheres normais gostam de apanhar, mas Nelson Rodrigues era dramaturgo podia dizer qualquer coisa.
Estes dias vimos estampada na imprensa a foto de uma moça cheia de hematomas no rosto, é casada com um ator Global conhecido -atualmente em cena numa novela. Não me surpreendi com a grosseria dele, qualquer homem "pode" machucar uma mulher, basta ter mais força que ela. Aí é que pega, como sujeitos bem mais fortes do que as mulheres têm coragem de espancá-las? Ah, estava drogado, fumava maconha (ela disse que ele é usuário). E desde quando maconha faz alguém violento? eu desconheço alguém que tenha fumado maconha e tenha ficado violento, pelo contrário, a maconha deixa mais devagar, mais contemplativo.
Esta história me lembrou a morte da filha de Nadine e Jean Louis Trintignant, Marie, fiquei muito chocada quando soube, (Trintignant era um dos meus atores preferidos). Leiam aqui. O namorado que a matou espancando é um roqueiro famoso francês. Aqui tem mais.
Lembrei de duas pessoas ligadas à fama, pessoas que têm visibilidade, que estão na mídia, e penso nas milhares, milhões, de mulheres invisíveis que sofrem violência em silêncio com medo de serem mortas, com medo de que os trogloditas matem os filhos delas, existe um véu que encobre estas mulheres, e não falo do véu das muçulmanas, não, falo das outras, descobertas, que andam pelas ruas, invisíveis, em silêncio, com medo de denunciar os maridos, amantes, namorados.
Ah! dizem, é fácil, é só ir até a Delegacia das Mulheres... não é fácil, é preciso haver uma evidência de violência e muitas não têm.
Vocês sabem que há homens que batem na cabeça das mulheres porque assim não aparecem hematomas? eu já ouvi isto de um médico.
Não sei porque os homens batem nas mulheres, cada um tem uma razão para isto- como se pudessem ser justificados- mas uns estão sob efeito de álcool, de droga pesada ou são psicóticos- muitos aprenderam em casa com os pais a tratarem as mulheres desta forma, existe uma cultura que ainda persiste que subestima as mulheres.
Ontem liguei a TV Globo lá por 19:30 hs.
Em cena Fernanda Lima numa cama com um ator que não sei o nome, ela dizia que não o queria, estava preocupada com o pai que gemia ali perto-ouvia-se gemidos- não prestei bem atenção até que ele pega um revolver e coloca na cabeça dela dizendo que ela vai deixar ele fazer, ou acabar, o que ele quer, não disse exatamente isto, mas era por ai.
Isto na novela das 19:00hs da Globo, horário que as crianças vêem, aliás esta novela, que é intragável, é cheia de personagens esdrúxulos. provavelmente as crianças gostam, como não tem pé nem cabeça- é um 'Samba do crioulo doido'- crianças se identificam e gostam- Betânia, minha faxineira, diz que não entende, mas ri muito, eu não acho graça, nesta hora geralmente estou aqui no PC lendo vocês. :)
Acredito que o mundo seria melhor se fosse dominado pelas mulheres, somos mais generosas que os homens, prestamos mais atenção ao que há em nossa volta. Outro dia ouvi que somos assim porque desde o Homem primitivo, os homens saiam para caçar e as mulheres tinham que tomar conta dos filhos com muita atenção para que um predador não se aproximasse. Ué, pensei, mas eles caçando não tinham que ficar atentos a tudo também, para não serem surpreendidos nas matas?
Será que faríamos um mundo melhor para nossos filhos?
Será que iríamos tratar nossos homens com violência também? :)
Não existe nada que justifique a violência de qualquer espécie.
Aqui há uma nota sobre discriminação global contra mulheres
Os olhos de Marie estão tão tristes aqui...
terça-feira, março 07, 2006
Mini conto. O enforcado.
O enforcado.
O descobriu ao acaso, clicando no mundo virtual, gostou do que ele dizia, encontrou afinidades, parecia magia, ela pensava. Passou a visitá-lo várias vezes ao dia, acreditava que tudo que ele dizia era endereçado para ela, sentia-se menos só, acordava cedo para ler o que ele tinha para dizer naquele dia.
Vigiava suas amigas nas caixas de comentários, sentia ciúmes das mais íntimas, implicava, ficava feliz quando ele ia até ela e deixava uma frase curta: “Muito bom seu conto”, ‘Homem é assim’, pensava.
Transbordante de amor, confessou o inconfessável. Ele não disse nada, mas sabia que havia lido, dois dias depois disse que não estranhasse o seu silêncio, mas que lia tudo que ela mandava.
Depois veio um silêncio mortal, começou a fantasiar que ele podia estar doente, uma cirurgia talvez e veio o medo de perdê-lo.
Está vivo, voltou para dizer que não espere nada dele, que está equivocada.
Desde aquela manhã sente tonturas ao acordar, ainda vai até ele ler o que diz, mas agora tem certeza que não escreve para ela.
Jogou fora o 'Tarot'. A última carta que tirou foi 'O enforcado', o equívoco.
segunda-feira, março 06, 2006
Samba do grande amor.
Esta música está na minha cabeça estes dias, será mentira? não sei, juro que não sei.
Samba Do Grande Amor
Ouça aqui:
Chico Buarque
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim o grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel o grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua-de-mel em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé no grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Samba Do Grande Amor
Ouça aqui:
Chico Buarque
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim o grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel o grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua-de-mel em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé no grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
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