sexta-feira, março 17, 2006
A vida já valeu a pena.
No 'Saia justa' especial Contardo Calligaris disse uma frase que ficou na cabeça de quem assistiu, tanto que nesta semana voltaram a colocar o trecho da fala novamente. Contardo disse:
" Não importa se somos felizes ou não, isto é irrelevante, temos que ter vidas interessantes, a gente sempre acha que nossa vida não é feliz, poderia ser melhor, mas a vida tem que ser interessante" , não é 'ipsis literis', mas quase.
Ele diz algo que eu não havia pensado ainda, mas intuía, ser feliz é mais um apelo que vem de fora, assim como ser belo, ser rico e, atualmente, ser famoso. É preciso viver bem e viver bem nem sempre vem junto com felicidade.
No texto de ontem ele fala do triângulo amoroso, quem o vê, ou quem o vive geralmente se diz infeliz. Por que? porque o amor tem que ser incondicional, único, com posse, se eu te amo, eu te desejo e você é meu. Está feita a equação.
É impossível para a maioria dos mortais que alguém seja feliz, ou viva bem, se está vivendo uma relação à três. Se alguém acredita amar mais de uma pessoa, amar dois, por exemplo, é volúvel, cínico, mal caráter.
Por que?
É possível, sim, amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo- tem gente que acha que amor é um só na vida, alma gêmea, estas coisas, criadas para iludir, é o que a Igreja faz, faz o casalzinho enamorado jurar que amará para sempre, como garantir que meu amor será eterno? não seria melhor " que seja infinito enquanto dure" do nosso amante mor, Vinicius de Moraes? Mas as razões da Igreja todos sabemos, são conveniências conhecidas.
O meu afeto é enorme por mais de um homem, meus amores são idealizados, eu preciso admirar aquele que eu amo, mas qual não é? são mais platônicos que físicos, eu sou generosa :), pode ser que meu coração caiba mais de um, seja espaçoso.
Lembrei de Drummond que me deu uma crônica chamada "Coração imobiliário", fez para mim, ele diz ali que a personagem ama mais de um por isso o imobiliário. Engraçado, mas ele também amava duas. Era homem, homem pode, não é? hãmmm.
Nesta época da crônica, lá por 83, eu amava uma pessoa, mas era complicado, ele tinha outra que ele também amava. Então eu conheci um violinista americano e ele ia tomar café da manhã comigo, tivemos um flerte no inicio, mas acabamos amigos, não houve química entre nós. Contei para Drummond do violinista- do outro ele já sabia desde que me conheceu- ele ficou enciumado, falava que eu tinha dois namorados e não era verdade, o americano nunca foi um namorado. :)
Este artigo de Contardo de ontem tem muitos pontos para a gente discutir.
Ele diz que há " mentira em todo triângulo amoroso: "Minto quando escondo minha paixão por outro ou por outra? Ou, então, a verdadeira mentira é o casamento que vivo e a insatisfação que escondo?".
Eu sempre achei que viver uma relação assim, insatisfeita, por comodidade, medo de mudar, medo de tentar uma nova relação era uma situação doentia. Existem muitas razões para se manter um casamento que não satisfaz mais, todos vocês sabem, eu acredito que estar mal numa relação, com hostilidade, raiva, adoece, tenho certeza disto, vejo isto. Mas muitos não querem arriscar um rompimento e uma nova aventura- sim, é uma aventura, sair do certo, mesmo que não seja bom, para algo que poderá vir a ser ruim também, é uma aventura e tanto, dá medo, não dá?
Há casamentos, acho que a maioria, onde o amor acabou mas ficou uma cumplicidade, foram anos onde dividiram alegrias e dores, difícil sair fora, tentar uma nova relação. Outros têm a desculpa financeira ou dos filhos, o que o Contardo fala ali, o casal não tinha estes problemas no filme.
Meus pais se separaram com 36 anos de casados! minha mãe quis, fez bem, tinham uma relação hostil, nem se falavam mais, era triste ver, ela refez a vida, foi fazer faculdade, casou, descasou, pelo menos tentou, viveu uma outra história, vocês sabem como era esta geração casavam virgens, quando o sonho acabava ficavam amargando terem vivido com um homem apenas. Meu pai ficou só, mas muito bem, curou a enxaqueca crônica, fazia o que queria, era feliz, muito, curtia a natureza, foi morar no mato, ele gostava, minha mãe não.
Às vezes penso que é melhor não amar ninguém, viver amorfa, sem grandes desejos, nem temores, mas ai a vida me surpreende e quando vejo estou com o coração acelerado de emoção e paixão, me sinto mais viva, eu aprendi desde os sete anos de idade a estar apaixonada, mesmo que este amor seja platônico, existe em mim, não no outro, amamos aquilo que criamos. E eu crio belos amores, eles me instigam à escrever, a desenhar, a ser mais generosa.
Que viva o amor! Imaginário ou não, aliás é sempre imaginário, né?
Ah, ontem foi aniversário de duas pessoas por quem estive apaixonada, Juarez Machado,quando eu tinha 15 anos, amor platônico, durou pouco, eu me apaixonei pelo artista, foi bom passei a desenhar mais tarde, e o outro, este de 1980 e tantos, foi um amor que me deixou marcas profundas de afeto, tem gente que tem marcas de dor apenas, eu tenho marcas de amor também, até hoje resgato aquele amor para escrever.
É ele que vem e me pega quando preciso, mesmo em sonho. Até que um novo amor se materialize, preciso dele quando quero lembrar como é ser amada.
A vida já valeu a pena, podem crer. O que vier é lucro.
Meu chão.
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