sexta-feira, março 24, 2006

Mini conto. O sorriso do estrangeiro III
















Michal Zaborowski


Não o vê há dias. Aconteceu antes de sumir, mas nunca por tanto tempo. O jornaleiro disse que não se despediu, sempre antes de viajar avisa:
-" Estarei fora uns dias, volto dia tal".
Parece que vive só.

O pai era apaixonado por ópera, "regia" com uma batuta imaginária, ela, menina, imitava, cantava os altos acordes de Aída, da Traviata.
Os discos de ópera em vinil estão hoje mofados num canto do quarto.
O pai a amava, nunca disse, mas ela sabia. Depois que ele morreu não soube mais o que é um olhar enamorado. No espelho o olhar que encontra é o olhar de uma mulher desconhecida, esquecida.
Cada dia sem vê-lo a faz mais triste. A mulher que se esqueceu de si mesma, busca o sorriso do desconhecido como o náufrago busca a margem.


Ouça aqui a Traviata

Este continho tem a ver com o que o Contardo Calligaris diz aqui embaixo, não tem? só que é a mulher que quer ser só, ele fala dos homens, poderia ter falado das mulheres...

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