domingo, julho 30, 2006

Leonilson. Arquivo.
























Leonilson me comove e ando pensando nele há dias. Tenho um desenho "O Jardim" de L. está no meu quarto, olho com atenção as peças do jardim, ganhei do meu amigo Thomas, marchand e galerista- vão conhecer a Galeria Thomas Cohn aí em São Paulo, fica na Av. Europa, conheçam a Myriam, sempre gentil, tenho saudade de nossos papos, digam que fui eu quem recomendei, tomem um cafezinho :), vale a pena visitá-la, foi lá que conheci Leonilson em 83, sua delicadeza, sua sensibilidade.
Impossível não se emocionar com o trabalho dele. Vi três exposições, a última bem no finalzinho, quando a vida se esvaia e Leonilson denunciava através dos paninhos bordados o preconceito com a Aids e o homossexualismo, sua dor.
Cearense, magrinho, mostrou uma arte que é impossível desvincular da sua vida. Depois que fez uma transfusão de sangue, colocou num paninho uma gota de sangue e a partir dali fez o mais dramático e comovente trabalho de arte que eu vi. Escreveu palavras nos paninhos, como nome de flores, tudo singelo e cruel. Leonilson me lembra o Bispo do Rosário, lembra Ana Cristina César, Billie Holliday, Artaud, Nijinsky , Isadora Duncan, Van Gogh, Genet...e outros, mas não muitos. Todos me comovem, me tocam profundamente.
O vídeo "Com o oceano inteiro para Nadar" é fantástico, vi na Tv num daqueles acasos maravilhosos. é impressionante ouvir Leonilson. Se vocês tiverem acesso ao UOL, vejam, é triste saber que morreu tão cedo, era tão sensível, eu me entristeço.
Ele cita em ingles:
"Ele se machucou bastante
mas ninguém nunca soube,
com exceção,
claro,
do seu travesseiro,
para quem ele contou seus problemas,
o rei do sono"

poema de Duane Michaels. Acabo de copiar da revista Bravo de 2003.
Adriano Pedrosa, crítico de arte, foi amigo íntimo de Leonilson e escreveu este texto, leiam que vale a pena, é comovente, uma bela declaração de amor.
A vida nos dá alguns presentes como este que Thomas me deu, talvez eu só muito mais tarde descobrisse o Leonilson, depois tive um cliente que era amigo de Adriano, a gente vai "vivendo" muitas vidas, observando...muitos dos meus contos são lembranças fortes que clientes me deixaram.
Leonilson foi talvez o maior artista plástico da geração dele e um dos maiores brasileiros de todos os tempos, assim como o Bispo do Rosário, sujeitos simples, que sofreram preconceitos, peças raras. 
Aqui vocês leem o que escrevi sobre o Bispo há algum tempo.






sábado, julho 29, 2006

Di Cavalcanti




















Di Cavalcanti, ficou famoso pelas mulatas, mas ele não pintou só mulatas, foi um cronista do Rio. Vejam aqui

Mais aqui ou aqui. Eu lembro de Marina Montini, linda nas exposições, glamurosa, depois passou a viver no 'Retiro dos artistas' vindo a morrer este ano, leiam aqui
A vida é estranha...
mais? aqui



sexta-feira, julho 28, 2006

Preciosidade.


















Este mundo virtual me surpreende às vezes, vejam o que achei no blog de uma amiga virtual, uma brasileira que vive no México.

Ela assina Jardinière e tem um outro espaço, só seu 'Jardim das delícias' confira aqui. A minha mãe tinha um livro que tinha este nome, não sei se era de Tagore ou outro, eu sabia uns poeminhas daqueles de cor, era adolescente, adorava, copiava, taí deve ser por isso que gosto de textos curtos.


Fragmento 1 (ela)

Sobre a calçada, uma mulher espalha seus baldes de flores. Há rosas amarelas. Você sabe que sempre gostei dessas. Não creio nas flores como mensagem, ou não poderia nunca querer receber de você essas rosas amarelas. Dizem que são as piores. Inveja. Rancor. Talvez mais obstinadamente, por isso mesmo, as quero. Como um desafio às linguagens estabelecidas deste mundo. Como uma linguagem nossa, própria. Nosso mundo. Mas que mundo? O amor é exílio. Nos arranca do 'mundo'. 'Deste mundo'. Quero falar com você com uma voz de rosas amarelas.


Fragmento 1 (ele)

Sobre a calçada, uma mulher espalhou seus baldes de flores. Vejo que há rosas amarelas e penso que, se você passasse por aqui, certamente iria notá-las: sei que esperando que eu te desse rosas amarelas. Eu nunca te dei flores. Não creio nas flores como mensagem. E, ainda assim, hoje queria te dar essas rosas amarelas. Fazer com que elas te falassem com a minha voz. Fazer chover rosas amarelas sobre você - pétalas, talos, folhas; os espinhos, não. Mentira. Os espinhos também. Sobretudo os espinhos. Quero falar com você do meu rancor sob a forma de rosas amarelas.

Escrito por jardinière el vineri, iunie 30, 2006 a las 2:15 PM

PS: Eu quis dizer' Jardim das carícias' e não das delícias :) é um texto áraba, sim, eu acho, de autoria desconhecida, são lindos os textos, vou ver se acho para colocar aqui alguns.

O mergulho.

























Será que um dia eu mergulho?
Este mergulho foi flagrado pelo Fernando, meu querido amigo fotógrafo.
Está amanhecendo ou anoitecendo? Fernando responda, sim.

quinta-feira, julho 27, 2006

Hoje é dia de Contardo.













Foto Rene Burri
Mais aqui

Segurança, melancolia e inércia

Contardo Calligaris.

A visão melancólica do país e de nós mesmos nos torna inertes e um pouco covardes

NA FOLHA de 16 de julho, Marcelo Beraba, ombudsman do jornal, observou que a imprensa não soube se servir da crise paulista das últimas semanas para comparar e questionar as propostas de segurança pública dos candidatos ao governo do Estado e à Presidência. Talvez, segundo ele, a imprensa não dispusesse de "quadros com bons conhecimentos" na área.
Nestes dias, o "Observatório da Imprensa", de Alberto Dines, propôs uma pergunta aos internautas: "O combate à violência pode entrar na disputa eleitoral? Sim ou não?". A grande maioria (80%) optou pelo sim. Faz sentido: afinal, a segurança pública é uma preocupação crucial dos cidadãos.
Ora, no domingo passado, a Folha publicou uma comparação das opiniões sobre segurança pública de Serra, Mercadante e Quércia. A reportagem, de Lilian Christofoletti, tentava diferenciar as propostas, mas, à vista das respostas dos candidatos, a conclusão era que, em matéria de segurança pública, os três pensam de maneira parecida.
É lógico que seja assim. Há 15 anos, participo de encontros e congressos sobre segurança urbana. Escutei enfoques diferentes e discordâncias quanto à ordem das prioridades. Mas, no conjunto, chega-se, de qualquer modo, a uma lista com a qual todos concordam e que é mais que conhecida. A ponto que talvez o silêncio dos "experts" (do qual se queixa Beraba) seja, sobretudo, sinal de cansaço.
Hoje, em matéria de segurança pública, o problema não é inventar o que fazer. O problema é fazer o que sabemos que deve ser feito. A segurança pública não é (ou não é mais) um problema político. Os secretários de Segurança, estaduais e federais, não precisam mudar segundo as fortunas dos partidos; eles poderiam ser escolhidos por sua competência e mantidos no cargo como "técnicos", encarregados de implementar as medidas com as quais todos concordam. Por isso, aliás, na pesquisa do "Observatório", optei pelo "não".
Pergunta: se sabemos o que fazer, por que não acontece quase nada? Proponho mais uma explicação. A lista das ações necessárias para melhorar a segurança pública no país é sempre encabeçada por uma declaração geral do tipo: "A sociedade brasileira deveria se tornar menos desigual e, com isso, não produzir nem reproduzir exclusão social".
Não há quem discorde. Mas essa recomendação inaugural, fundamental e justa, regularmente lembrada quando é proposta uma ação concreta qualquer, acarreta consigo a sensação de um destino nefasto: injustiça e desigualdade são a herança que nos constitui, o nosso DNA. De repente, as outras recomendações da lista parecem esparadrapos cosméticos sobre uma ferida que não sara.
É um tipo de armadilha freqüente na nossa vida cotidiana: "Tenho 40 anos, não completei o colégio e não tenho futuro", "Tenho 60, e meu casamento de 30 anos está sem graça, agora é tarde", "Nasci no lugar e no momento errados", "Com os pais que eu tive, não adianta". Qualquer terapeuta sabe que, diante desses autodiagnósticos radicais, "totais", a primeira tarefa é a de decompor a massa amorfa do desespero até encontrar seus elementos e organizá-los no tempo e no espaço.
Na vida política não é diferente: uma visão global negativa desqualifica os esforços para mudar, que parecem fúteis esparadrapos. Somos fascinados pelas autodefinições (sobretudo pejorativas: "O Brasil é assim mesmo") e, com isso, preguiçosos na análise dos detalhes e na ação para alterá-los. Essa atitude melancólica exerce um forte charme, pois ela dá sentido aos nossos males e nos dispensa de pensar e agir: nossa dificuldade é inevitável, ela é nossa essência. A autodepreciação nos revela quem somos; ela nos resume e nos define. Com isso, ela também nos apazigua: por que lutar contra nosso "ser"? Melhor fazer de nossa vida um longo lamento.
À primeira vista, a queixa radical contra a história e o "espírito do povo" parece mais séria do que o trabalho de formiga de quem tenta alterar o que pode ser alterado. Mas a eterna reclamação de que "o buraco é muito mais em baixo" acaba nos tornando inertes e um pouco covardes.
PS. Boa notícia: vários leitores da coluna da semana retrasada me comunicaram que há duas (ótimas) naturezas-mortas de Morandi no MAC da USP, doações de Francisco Matarazzo e Yolanda Penteado.

PS2:O grifo é meu(Laura)
Contardo está certo, é mais fácil deixar como está, não lutar contra a "nossa essência", mais comodo, já conhecemos o caminho.
Vade retro! quero mudar, vou começar fazendo campanha para um político decente, além de otras cositas más na vida pessoal, que eu só conto depois que acontecerem, né?
Bom dia para vocês.




quarta-feira, julho 26, 2006

"Nem que seja só, pra dizer adeus..."
















Mini conto sem título.


Despertou, lembrou do dia anterior, pensou nele, distante, ausente. Quis voltar a dormir, tem fome, dói o estômago.
Queria não precisar levantar, nem comer. Queria que o corpo não o desejasse. Ou não desejasse, simplesmente.



Ouçam:

Esta música é lindaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, ouçam que vale a pena, é uma das mais bonitas músicas de amor, "vem, nem que seja só pra dizer adeus" tem coisa mais verdadeira?
ai ai

Ouça aqui

Prá Dizer Adeus


Edu Lobo/Torquato Neto

Adeus
Vou prá não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinha
Tão sózinha amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Deste meu caminho

Ah! Pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto, eu queria dizer

Vem
Eu só sei dizer
Vem
Nem que seja só
Prá dizer adeus

PS: Torquato se matou jovem ainda, muito triste, eu o via no Atelier do Wagner (Dzi Croquetes), vivia drogado, caído por lá, uma tristeza, a letra deve ser dele, a música de Edu.

Vejam só quem está ai. Maravilha!!!!!


















Clique na imagem que aumenta e você vê melhor.

terça-feira, julho 25, 2006

“A gente vai acordar e dizer... Fudeu!”



















Ferréz* avisa: “A gente vai acordar e dizer... Fudeu!”


Revista Trip:

"O pior sono é o de quem não quer acordar, justamente o que a sociedade brasileira parece experimentar nestes tempos de muitas mazelas e pouca reação. Conheça a insônia incômoda de Reginaldo Ferreira da Silva, um jovem escritor que, do coração do Capão Redondo, periferia barra-pesada de São Paulo, vem tentando acordar uma multidão de sonâmbulos para a realidade insustentável que vivemos. O primeiro alarme desse perigoso despertador imaginário foi a recente onda de ataques do PCC ao Estado paulista. Mas, como o próprio Ferréz diz, parece não ter sido alto o bastante. Já o próximo..."
Por Paulo Lima e Cassiano Elek Machado

O pior é que acho que ele está coberto de razão, infelizmente, já estamos passando da hora de fazer algo.

*link para o blog de Férrez.

segunda-feira, julho 24, 2006

Os filmes da minha vida. Seriam estes?
















John Gavin*

O 'Café filosófico' com a Daniela Thomas ontem foi ótimo, ela é super simpática, tem humor é inteligente-eu já sabia.

Contardo estava mais à vontade também, devem ser amigos, foi muito gostoso de se ver.

Daniela fala dos filmes que fizeram parte da vida dela- que mais tarde viu que tinham a ver com a história que construía de vida- citou 'My fair lady', 'Nosferatu', Navio fantasma', 'Dr Jivago', 'Casablanca'.

Interessante quando ela pensa sobre o impacto que teve o cinema no psiquismo das pessoas, nos leitores dos livros, o cinema mostra o personagem com fisionomia, projeta na tela aquilo que imaginamos lendo, há uma 'projeção' , projetamos nos personagens, no teatro o ator está ali, sente o mal estar, a receptividade dos espectadores, pode reagir, se quiser, parar a peça, no cinema, não, tudo se passa dentro de nós. Nos identificamos com os personagens, saímos dali transtornados muitas vezes, mexidos, levamos horas para voltar ao normal- assim com num sonho noturno forte.

Daniela fala dela, do jogar-se na vida meio suicida, no escuro, dos medos todos que passou e sobreviveu na relação com Thomas, futuro obscuro, ai diz que saiu melhor que ele da relação-sacanagem com Thomas:) eu o teria poupado, sei lá...ela realmente cresceu muito com ele e levantou vôo. Atualmente está com outro amor mais claro, luminoso.

"Amamos o mistério, é o que excita, estar perto do abismo, da morte” , ela diz, concordo.

O cinema construiu nossa forma de amar, como diz o Contardo, no gestual- aprendemos a fumar com Humphrey Bogard-a pegar a amante nos braços- as expressões amorosas foram ensinadas pelo cinema, o olhar, o tempo.

No cinema vimos que é possível amar mais de uma pessoa- Daniela diz que vem de uma família de mulheres cornudas e homens que sofrem de priapismo( será que eu ouvi bem?) Que passou a entender melhor o pai depois de alguns filmes( Jivago). Bom o pai dela jurava que nunca broxou :) e ficou casado a vida toda com a mesma mulher numa época em que havia uma liberdade sexual enorme, afinal eles viviam ali na zona sul do Rio onde tudo acontecia, Ziraldo era do 'Pasquim', imaginem...mas nunca se sabe o que se passa com um casal, eu sempre digo isto. Mas Ziraldo é mineiro e eu sou muito cabreira com mineiros- comem quieto, sempre. O meu ex é mineiro, mas não comia quieto, era escancarado. :)mas era preconceituoso, com Drummond também era, não perguntem por que senão não saio daqui hoje. Já fiz post falando disto.

Bom, ai eu fui deitar e fiquei pensando nos filmes que me marcaram, me delinearam, ai ai os faroestes americanos foram os filmes que eu mais vi em menina e adolescente, eu ia com meu pai e meus irmãos ver num salão paroquial toda semana mais de um filminho daqueles vagabundos americanos, eu adorava, imaginem, ia só com o pai de mãos dadas, minha mãe, intelectualizada como era, não ia :) Shane indo embora, a briga e os cavalos, são imagens inesquecíveis.

Depois foram os filmes de Chaplin, também com o pai, ele adorava o Chaplin, tinha algo chapliniano, se comovia à toa, tinha um olhar para as crianças meio 'O vagabundo', se identificava com as crianças, eu acho, foi muito pobre quando criança, envelheceu se comovendo com crianças e animais, era exagerado nisto, parava para ver as crianças na rua, os bichinhos, gostava de animais de pelúcia, tinha no quarto depois de velho, era triste e engraçado ver isto, adorava estes bichinhos de pelúcia, achava lindos, tinha quase 90 anos, morreu aos 91.

Eu aprendi a amar platonicamente com Chaplin, pensei ontem, ou com meu pai?



Luzes da Ribalta

de Charle Chaplin.

Ouça aqui
com Maria Bethânia



Vidas que se acabam a sorrir
Luzes que se apagam, nada mais
É sonhar em vão tentar aos outros iludir
Se o que se foi pra nós
Não voltará jamais
Para que chorar o que passou
Lamentar perdidas ilusões
Se o ideal que sempre nos acalentou
Renascerá em outros corações...



Eu choro quando ouço esta música, pode?



Depois aos 16, por ai, eu vi um filme com John Gavin onde ele tinha uma amante, eu me apaixonei por ele, andava com uma foto dele no meio dos livros da escola, colocava em cima da carteira, lembro bem, uma foto em preto e branco, devo ter no meio das fotos, ele era lindoooooooo. Vi que é possível amar mais de uma pessoa, eu achava que este filme era “Suave é a noite”, mas não sei não achei nada, ele era amante de uma mulher que eu acho que era a Vera Miles, só me interessava ele.

Outro filme que mexeu muito comigo e me comove quando vejo é “Tarde Demais Para Esquecer”('An Affair To Remember'), o encontro que não acontece, ou é adiado ai ai, a música é linda, me lembra uma cena quando eu saia do apartamento do meu primeiro namorado, eu enamoradíssima, e ele terminou comigo, era tarde demais para esquecer, levei dois anos obsessivamente apaixonada, até encontrar um sósia de Robert Redford com quem tive um caso e esqueci o outro. Também, o homem era lindo e um doce, amoroso, não rolou mais, era mergulhador, fazia caça submarina, completamente diferente de mim.

Depois vieram “Casablanca”, ”Jules e Jim” que já falei aqui, os filmes de Bergman, aquela solidão, aquela tristeza, “Cenas de um casamento” foi o filme em que mais chorei até hoje, chorei o filme todo, e olhe que eu tinha uns 20 e poucos anos quando vi, pode? Me identifiquei com o casal em separação.

"Último tango em Paris” um dos meus preferidos é sobre solidão e morte. “Morte em Veneza", maravilhoso, sobre amor impossível e morte, e ai vai.

“Noites de Cabíria” não podia deixar de ser, a personagem de Giulietta Masina comovente, é de doer.

Bom, foram filmes de amores platônicos, impossíveis, adiados, amores com conflito, mais de um amor. Neste mosaico só poderia dar numa figura como eu, sempre em busca de um amor maior, pleno, de um encontro outro, impossível, imaginário.
ai ai chega de alugar vocês com estas minhas viagens.

O programa foi bom, me fez lembrar deste caminho todo, aposto como esqueci algum filme super importante para mim, Freud explica. "Dodeskaden" de Kurosawa eu adorei, vi 7 vezes, me identificava com o personagem que deu o título, quem viu vai saber, ele era desiquilibrado, sonhava em ser uma locomotiva, andava num trilho imaginário dizendo:"Do des ka den" todo filme me comove,nem é o melhor do cineasta japonês, meu preferido, mas eu adorei este filme, por que? ainda não pensei sobre isto, só agora rapidamente. Este programa mexeu comigo, valeu uma sessão de psicanálise :)
fiquei pensando nisto, nos filmes.

Meus atores preferidos foram Gary Cooper, Humphey Bogard, John Gavin, Marlon Brando, Mastroiani, Ives Montand, Jean-Louis Trintignant e outros. Adorava Audrey e Catherina Hepburn, Grace Kelly, Sofia Loren, G. Masina, Liv Ullmann, Ingrid Bergman, tantas outras. Não gostava de Bardot, nem de Marilyn, nem morro de amores por C. Deneuve, Gosto de um rosto como Anne Bancroft, Anna Mangnani, Ava Gardner, todas Anas :) chega fico aqui nas mais antigas.

* O John Gavin virou senador, depois perdi de vista :)

domingo, julho 23, 2006

Amar no cinema e otras cositas más.














Hoje no Café filosófico tem Daniela Thomas falando sobre "Amar no cinema - uma visão feminina".
Leiam a sinopse:

Amar no cinema - uma visão feminina

Daniela Thomas

'Quem já não amou no cinema? As histórias de amor vividas pelos personagens na tela passam a ser nossas próprias histórias. Há mais de cem anos o cinema contou os encontros e desencontros amorosos em todas as suas nuances. Este grande corpo de narrativas torna-se então referência para nossa vida e nossas vivências amorosas. Neste programa, é o cinema quem oferece o imaginário no qual mergulhamos para viver o amor. A cineasta, cenógrafa e diretora teatral Daniela Thomas fala de suas próprias experiências e de como o cinema faz parte delas. Nessa jornada, imagens e vida real se mesclam. E nos faz perceber que também temos os “filmes de nossa vida”, com os quais nos identificamos e que marcaram histórias de amor".

Daniela para quem não sabe é filha de Ziraldo e ex de Geraldo Thomas,nasceu no Rio de Janeiro em 1959.
Fui conferir e achei isto:
"Estudou cinema em Londres e foi artista residente no Teatro Experimental La Mama, em Nova York. Dramaturga, cenógrafa e figurinista, estreou na direção em parceria com Walter Salles em 'Terra Estrangeira' (1996), filme do qual foi co-roteirista.(adoro este filme). Também dividiu os créditos com Salles em O Primeiro Dia (1998, 23a. Mostra) e nos curtas Uma Pequena Mensagem do Brasil – ou a Saga de Castanha e Caju contra o Encouraçado Titanic (2002, 26a. Mostra) e Armas e Paz (2002). Fez diálogos adicionais em outro trabalho de Salles, Abril Despedaçado (2002). Atualmente, trabalha com ele no projeto de filme coletivo Paris, Je T´Aime, sobre a cidade de Paris, com estréia prevista para 2005".
Vale a pena ver o programa hoje, e tem também- este mês ele é o curador- o Contardo Calligaris falando sobre o tema.


Ontem tive um dia legal, almoçamos na casa de minha mãe, os meninos e eu e dois irmãos que moram com ela, um deles o pai da minha sobrinha, foi um papo legal, nada de stress, vi a Marieta no Teatro Poeira dela e de Andréa Beltrão numa entrevista com Angélica- nunca vejo este programa. Deve ser maravilhoso ser ator e dono de teatro, mas já vi a Teresa Raquel aos prantos em entrevistas dedindo socorro para o Teatro dela, uma pena, vi muitas peças maravilhosas lá. Vi Gal, "Cemitério de automóveis" e muitos outros. Houve uma época que virou Igreja evangélica o espaço, pode? parece que ela conseguiu retomar, vou conferir, mas se ficar conversando com vocês aqui não faço mais nada, né? :) tem um solzinho legallá fora.

Trouxe para ouvir um CD que estou adorando "Música em Pessoa" músicas baseadas em textos de Fernando Pessoa,ainda não ouvi tudo, mas é fantástico ouvir um texto de F Pessoa com música de Sueli Costa na voz da Nana Caymmi, linda. Músicas na voz de Tom Jobim, é uma delícia. É do Biscoito Fino, que aliás só tem o 'crème de la crème'. Leiam aqui


À noite conheci a Mani, amiga virtual, foi ótimo, conversamos muito, ela é diferente do que eu imaginava, pensei que fosse mais tímida, no blog escreve pouco, mas é divertida, falante, simpática, quando me ligou disse que encontrou uma livraria que gostou muito, era a mesma que eu freqüento no Praia Shopping, aliás, o único lugar que freqüento aqui :) tomamos café, bebemos uma cervejinha e colocamos o papo em dia. Foi a segunda amiga virtual que conheci, tem sido muito bom, eu sei escolher, né? só me aproximo de gente que eu sei que não vai me desapontar, de boba não tenho nada, pena que a maioria esteja em Sampa, mas um dia eu vou até lá, deixe passar o friuuuu uiiiiii que friuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, aqui está sempre quentinho, hoje está chovendo, pena porque a Mani está com as filhas, querem passear. O sol está saindo de novo, que bom! Ah! e me deu um creme para as mãos delicioso, super cheiroso, já usei.

E Chico Buarque prepara a turnê do disco "Carioca" Será que vem aqui? duvidoodó, mas deve ir à Recife, quem sabe não vou lá, mas sou preguiçosa... Salvador? ai que saudades eu tenho da Bahia, bons tempos, eu com cabelo à la Gal Costa, vestido longo de crepe, destes que estão na moda de novo- hippie chic e de namorado à tiracolo, namorando muitoooooo, foi bom ai ai ainda bem que tenho o que contar, é um leve consolo. Preciso retomar a vida aqui fora, reajirrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr, senão envelheço só tendo vocês aqui para falar, o que não é pouco, eu sei, pero... quero maisssssssssssssssssssssssssssssssss
Aqui tem mais sobre a turnê do Chico.




















O Miguel Paiva avisa que está com um blog, vão conferir. Teve gente que não gostou desta charge dele, pode? hã... tsc tsc tsc
ué, o cara é cartunista tem que pegar estes comportamentos e exagerar nas cores, faz parte. Achei ótima a charge, infelizmente é quase isto. ai ai














Copacabana linda e interessantíssima como sempre aos olhos de Jôka, vão conferir, tem mais fotos lá,ótimas.

12º Congresso Nacional de Jovens Lideranças Empresariais

Leiam aqui
sobre o 12º Congresso Nacional de Jovens Lideranças Empresariais.

sexta-feira, julho 21, 2006

Ah! os vulcões, os terremotos, as guerras...






















"Rios de lava descem do vulcão Tungurahua, localizado a 180 quilômetros ao sul de Quito, no Equador"
Tsunami na Indonésia, Guerra no Oriente Médio, violência em todo lugar. Sabe que quando eu tinha 15 anos eu dizia que não queria filhos neste mundo tão assustador? hahaha eu já tinha as antenas ligadíssimas, mas assim mesmo bateu o desejo de ter filhos e não me arrependo porque os dois gostam de viver, são felizes, isto é bom. Também, são tão amados... isto dá força para viver, eu sei. Mesmo num mundo assustador é possível estar bem, sabemos que o homem se adapta fácil, faz parte da condição humana.

De palmadas à moda.

















"Saia justa" no canal GNT está reprisando o programa sobre "O que as mulheres querem" , é divertido, bem diverso, achei confuso, mas tenho amigos que gostaram por isso, a virginiana aqui queria botar ordem no pedaço, mas eles editaram, diminuiram, tiraram as bobagens, ficou mais enxuto. Contardo Calligaris fala um pouco sobre o tema.
HORÁRIOS:
Sex 21/07 10:00h
Sáb 22/07 23:00h
Dom 23/07 05:00h
Dom 23/07 10:30h

Domingo tem o "Café filosófico" cujo tema é amor ainda, tem sido bastante bom, vale a pena conferir, é na Tv Cultura.

Achei um artigo sobre palmadas em crianças, coloquei aqui no 'Oriente-se'

Vocês viram os desfiles do São Paulo Fashion Week? tem umas coisas lindas, veja aqui


Marcelo Coelho aqui
conta de uma cena de Raul Cortez inesquecível de turbante azul. Eu também o vi em 'Amadeus' maravilhoso.
Quem ainda não viu o filme 'Lavoura arcaica' veja, ele faz um pai libanês, durão, está excelente. Este filme eu não me canso de recomendar, um dos melhores que já vi. Fiz posts sobre ele, vocês já leram, não é?

Hoje uma amiga me mandou este site onde encontrei a resenha deste livro: "Amanhã, na batalha, pense em mim" de Javier Marías
"Quando Marta, a amante de Víctor, morre em seus braços, ele tenta se livrar
das provas desse relacionamento. Mas suas pertubações o aproximam da famíia
dela".
Eu gosto muitoooo do Javier Marias, eu o descobri há muitos anos na Folha, ele escrevia artigos e dividia o espaço com o Calligaris e outros autores, li "Coração tão branco" que é excelente, quem gosta de literatura vai gostar muito, o personagem é um tradutor, pensa como um tradutor, tem suspense, é muito bem delineado. Eu, cá entre nós, acho que Chico Buarque o lê, quando leio o Chico lembro dele. É um livro para se reler, estou precisando reler, tem cenas que não esqueci, como a da personagem andando na calçada em frente, quando fiz um conto onde a mulher andava pra lá e pra cá, lembrei desta cena, livros bons fazem isto, passam a fazer parte de nosso imaginário.
Neste "Amanhã, na batalha pense em mim" a cena dela nos braços dele morrendo, sem ele se dar conta, é impressionante, inesquecível. Acontece no primeiro encontro deles, ele mal a conhece e a tem morta nos braços, o filho muito pequeno dela o vê ali, só ele sabe que ele existe, o que fazer? o livro gira em torno disto.
Gostei mais do "Coração tão branco", me identifiquei mais com o personagem que era um cara acostumado a estar só, que estranha a casa depois que se casa. Nos dois a morte é no início do livro, ou morte no início e depois se desenrola a história em torno disto. Leiam.

Raul Cortez hoje no "Conexão Roberto D'Avila.

O "Conexão Roberto D´Ávila" desta sexta presta homenagem ao ator Raul Cortez. O programa, exibido às 22 h, na TVE, mostra uma entrevista realizada em 1996. A segunda parte da entrevista com João Bosco, que iria ao ar neste dia, será apresentada na próxima sexta-feira, dia 28.

quinta-feira, julho 20, 2006

Hoje é dia de Contardo. Palmas para ele.

Assinaria embaixo deste texto, por isso gosto tanto dele, este texto diz o que eu penso, não só sobre São Paulo, mas sobre nós brasileiros. Ele é italiano e fala como um de nós, sinto vergonha, juro.


Cadê os cidadãos de São Paulo?


Contardo Calligaris

O crime conta com a falta de espírito cívico. Seria boa oportunidade para desmenti-lo

NESTES DIAS de violência (que continuam em surdina), houve e há um grande ausente: nós, o povo de São Paulo. Claro, pedimos políticas e intervenções públicas à altura; segundo nossa inclinação, insistimos nos direitos da população carcerária ou na necessidade de uma repressão severa, mas tanto faz: em ambos os casos (que, aliás, não são contraditórios), ficamos em casa esperando que Deus nos acuda. Você perguntará: "Fazer o quê?".
Pois é, espanta-me que as grandes organizações da sociedade civil, os sindicatos, as igrejas, os partidos (indistintamente), as associações corporativas etc. não tenham convocado (nem planejem convocar, aparentemente) uma manifestação de massa, silenciosa, sem palanques, só para afirmar que, seja qual for a convicção política de cada um, as ruas da cidade são nossas, não da barbárie.
Somos capazes de fechar bancos, repartições e comércios para assistir a um jogo da Copa ou por medo do crime. Será que não saberíamos parar a cidade para proclamar que ela nos pertence?
Não seria um gesto retórico, sem conseqüência efetiva. Pergunte-se: o que o crime organizado espera de nós?
Assassinaram policiais e agentes penitenciários. Destruíram ônibus, caminhões da coleta do lixo, uma ambulância, agências de banco, lojas. Mas evitaram produzir a morte indiscriminada de cidadãos quaisquer. Duvido que haja, atrás dessa estratégia, uma preocupação com nossas vidas. Mas talvez haja, isso sim, uma tentativa de ganhar ou de não perder nossa "cumplicidade". É uma palavra forte?
Na quinta-feira passada, alguns usuários, irritados pela ausência de ônibus nas ruas, tentaram queimar os poucos que circulavam ("Se não há transporte, não há para ninguém", diziam). É a reação esperada pelo crime, uma reação que confirmaria nossa incapacidade de entender o seguinte: o que é "público" é nosso, as ambulâncias e os caminhões do lixo são nossos, os ônibus são privados, mas seu serviço é nosso, e o mesmo vale para bancos e lojas.
Quanto aos policiais e aos agentes carcerários, eles são, literalmente, "os nossos". Na noite de quinta-feira passada, passei de carro na frente do posto da PM da rua Jesuíno Arruda, no Itaim Bibi. Sete ou oito cones de plástico forçavam os motoristas a se afastar um pouco (dois metros) da calçada.
Fora isso, tudo como sempre. O edifício não tinha sido transformado em bunker fortificado com policiais armadíssimos espreitando pelas frestas de portas e janelas fechadas: três homens fardados estavam de pé, perto da entrada, atentos, mas tranqüilos naquele momento, sorridentes. Apenas carregavam suas armas ordinárias e vestiam o habitual colete à prova de balas.
Imprudência? Pode ser, mas eu fui tocado pela declaração de força e coragem, implícita na decisão de assegurar o plantão de sempre. O posto estava normalmente aberto para o serviço dos cidadãos de São Paulo.
Teria gostado que crianças estivessem comigo naquele momento, para que pudesse lhes mostrar os gestos, grandes e pequenos, que tornam e mantêm "habitável" nossa cidade, para que sentissem orgulho de "sua" polícia.
Na minha São Paulo ideal, aliás, uma outra coisa já teria acontecido. Com a ajuda dos grandes cotidianos e da mídia do Estado, o governador teria lançado uma subscrição pública para constituir um fundo de indenização para as famílias de policiais e agentes assassinados ou feridos.
Ele teria convocado um conselho de probos para administrar o fundo e distribuir rapidamente as indenizações. A imprensa publicaria a cada dia, em destaque, o valor acumulado pelas doações dos paulistas. O governo federal quer ajudar? Que uma medida provisória torne imediatamente dedutíveis do imposto (não do imponível, do imposto) as doações a esse fundo.
Como você acha que o crime organizado se sentiria num Estado e numa cidade em que milhões de cidadãos desfilassem pelas ruas afirmando sua vontade de viver sem medo? E num Estado e numa cidade em que os próprios cidadãos mostrassem sua gratidão cuidando das famílias dos que morrem no serviço da comunidade?
Os momentos de crise podem ser ocasiões de mudanças decisivas. Não tanto de legislação, mas, sobretudo, de espírito. E muitos de nossos males têm sua origem numa falta endêmica de espírito cívico. O crime conta com essa falta. Seria uma boa oportunidade para desmenti-lo.

quarta-feira, julho 19, 2006

Mini conto.












Com o coração acelerado disca o número. Toca uma, duas, três, quatro, cinco vezes, de repente uma voz na máquina diz:
"Após o sinal deixe seu recado". Ainda se mantém alguns segundos com o aparelho na mão. Desliga. Não há nada para dizer. Quer uma voz materializada, diversa dos caracteres visíveis na tela, quer mais.

terça-feira, julho 18, 2006

3° Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística – Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Entre aqui e saiba mais.

Adeus Raul Cortez


Adeus Raul. Posted by Picasa



Que pena! ai que pena, gostava tanto dele... Sonhei estes dias que Fernanda namoraria ele, estava viúva tsc tsc tsc a última vez que o vi foi no Teatro Laura Alvim lá em Ipa numa peça com textos de Lorca e Fernando Pessoa, adorei, fui só, bom ter ido.
Fará falta, muita. O teatro e o meio artistico em geral ficou mais pobre e menos charmoso, com certeza. Para mim ele era um dos maiores atores brasileiroa ao lado de Paulo Autran.
Adeus Raul.

Veja o site que bonito. Chic como ele.

Mini conto. Oferenda.

Oferenda.

A coberta não bastava, o frio no estômago a fazia encolher-se, cobrir a cabeça, febril sem febre. O rosto dele a perseguia. Foi longe demais. Sabia. E agora?
O rosto amargo no espelho, ontem, não era o rosto que ofereceria a ele.
Como resgatar a face doce que quer lhe dar em oferenda?


PS: é para Lili, minha leitora fiel, mandou um email dizendo que sente falta dos meus continhos. Para você, querida.

Mulheres fiéis.

















Segunda de noite:
Acabo de ver "Menina de ouro" uauu que filme bom! Quem não viu, veja, imaginem que eu só vi hoje, não tenho pressa, mudei muito, quando vivia no Rio ia na primeira semana sempre, agora vejo em vídeo, perco em emoção, mas acho que é isto que eu quero, deixar um pouco a emoção de lado, eu vi o filme e interrompi nas horas mais densas, ai ai fui tomar café. Meninos cruzaram a sala, fazer o que? moro num apê pequeno e não dá para impedir os meninos de se movimentarem, fazem silêncio pelo menos :)
O trio de atores principais está perfeito: Clint Eastwood, Hilary Swank, Morgan Freeman, há uma tensão no ar constante, uma emoção contida, uma dor. Ela está extraordinária, ganhou premio de melhor atriz, justíssimo, leiam aqui sobre o filme, Morgan também ganhou, é excelente sempre.
É um filme imperdível que fala de desejo, de vida e morte. Não vou falar sobre o tema abordado no final, deve ter gente ai que não viu.
Clint faz o papel que lhe fica bem, de homem travado, trancado, eu implicava com ele, agora não implico mais. Ficou um senhor charmoso, e eu gosto dos senhores charmosos. :)
Vi também "O jardineiro fiel" é um bom filme, mas não gostei muito, não é o tipo de história que me agrada, nem vou ficar falando. Gostei da atriz- Rachel Weisz - não gosto do Fiennes, bonitinho, mas não me convence, o cara é outro contido.
O que mais gostei do filme? do diretor, aliás, este Fernando Meirelles é bom diretor e uma simpatia, tem cara de gente conhecida, lembra muito um amigo mineiro, eu o vi falando deste filme há meses e ele contou que os atores foram super gente fina, que ele( Fiennes) é simplíssimo, anda de ônibus em Londres, despediu-s ede Meirelles e entrou num ônibus, imaginem... Conhecer um pouquinho a África também foi bom. E tem imagens de lugares lindos.

Hoje, terça, dia seguinte, eu acordei e lembrei dos dois filmes e saquei que os dois têm temas semelhantes, falam de ideais, de desejo, nos dois filmes as personagens femininas lutam para mudar, a lutadora não desiste em momento nenhum do seu sonho e a outra luta para mudar o que está estabelecido, luta contra todos, ambas de forma suicida, de certa forma. Os personagens masculinos, não pretendiam mudar nada, queriam continuar naquele lugar, sem ideal nenhum, o de Clint é um homem amargo, solitário, que se recusa a se dar e a receber afeto, durão, o outro um bobão, que só cuidava bem das plantinhas, se fazendo de cego para não precisar mudar nada- já viram que impliquei com o personagem do Finnes, um fraco.






segunda-feira, julho 17, 2006

Agora somos todos paulistas. Gabeira.

Agora somos todos paulistas


autor
Fernando Gabeira


Mergulhado nas tarefas cotidianas na CPI dos sanguessugas, meu coração está em São Paulo. Sinto-me responsável por tudo isto que acontece. Sou um dos poucos políticos brasileiros que já foram prisioneiros e conhecem o cotidiano das cadeias, seja pela experiência vivida, seja pelos testemunhos das crises no sistema.

Há dois anos, procurei Nilmário Miranda, quando era Secretário de Direitos Humanos, e propus um projeto para prevenir e reduzir motins nos presídios. Voltei ao tema num encontro com o governador Cláudio Lembo.

Minha proposta era simples. Começaria instalando uma rede de computadores nos presídios. Formularia um questionário com perguntas a ser respondidas todos os dias. Um centro de inteligência analisaria 20 variáveis e teria condições de prevenir um motim, interferindo nas condições que potencialmente o produziriam.

Por exemplo: se estivéssemos trabalhando com denúncias constantes da presença de vidro na comida, evitaríamos a tensão produzida por essa variável. Gastaríamos algum dinheiro, é verdade, mas muito menos que o dinheiro gasto, por exemplo, em Mato Grosso e São Paulo, para reformar presídios destruídos.

Uma das muitas fragilidades da minha proposta era a ausência de prática e teoria sobre esse controle situacional das cadeias. As pessoas perguntavam de onde havia tirado isso, e, sinceramente, respondia: da minha cabeça.

Com a explosão da nova onda de violência, num dos raros momentos em que reencontrei minha pequena biblioteca, no Rio, fui salvo mais uma vez por ela. Achei, ainda intocado, o livro de Richard Wortley sobre prevenção de crimes na cadeia. Ele contém a prática e a teoria que poderiam fortalecer minha proposta.

Os crimes que os estudos de Wortley busca prevenir são estupro e assassinato. Mas a tese é válida para motins.

Tanto ele como eu reconhecemos as limitações do método. Um controle situacional das prisões é escandalosamente limitado, na medida em que, revertida a situação, o perigo volta a existir com a mesma intensidade. Ele não visa mudanças nos prisioneiros nem aspira convertê-los por meio de algum processo de salvação psicológica. Parte-se apenas da modesta conclusão de que os criminosos continuam criminosos, mas a mudança de situação pode inibir sua atividade destrutiva.

O livro de Wortley, publicado na série de Estudos de Criminologia de Cambridge, traduzido em sabedoria popular, confere com o ditado: às vezes, a ocasião faz o ladrão.

Uma das críticas que o próprio Worley menciona à sua tese é a de que o conjunto de estudos e medidas proposto para a prevenção de crimes na cadeia aumenta o controle sobre a vida dos presos, tornando o Estado uma espécie de impiedoso "big brother", vasculhando todos os detalhes da vida carcerária.

Não é preciso ler Foucault para saber que a prisão já é uma situação de controle e que, no caso de um plano para prevenir motins, o caráter provisório é evidente. Não há projetos idênticos nos países do Norte, porque as condições básicas foram mudadas e registraram-se raros motins nas últimas décadas.

Quando formulei a proposta, resolvi usar os verbos prevenir e reduzir porque, nas circunstâncias brasileiras, é difícil acabar com os motins. Quando os presos colocam condições imorais ou ilegais, a situação em que vivem não pode ser mudada. Mesmo no caso da existência inevitável do motim, esse controle por um centro de inteligência poderia anexar mapas do prédio, indicações sobre os registros de água, estudos sobre possíveis rotas de fuga, contatos com eventuais associações de familiares dos presos, perfis psicológicos dos líderes.

Prefiro evitar debater esse tema com a inútil clivagem linha dura/liberais. Uma política unicamente repressiva conduz a enormes prejuízos financeiros, e isso já é um dado importante para considerar alternativas. Muitos dirão: com o controle que os líderes têm sobre os outros presos, fazem motins na prisão que quiserem, na hora que escolherem. Aí entram minhas dúvidas. Os líderes não são onipotentes. Trabalham com as pequenas frustrações cotidianas. Num simples raciocínio de custo benefício, muitos podem negar apoio aos motins.

Posso estar equivocado. Gostaria de verificar isso num processo de discussão com as pessoas que têm alguma experiência de cadeia. A ausência desse processo é também de minha responsabilidade. São Paulo dói, e, mais do que nunca, é hora de nos declararmos paulistas.

Aqui você troca idéias com Gabeira.

Paisagem e amor em paz.
















Acordei com esta música "Paz do meu amor" no meu radinho subjetivo. Só achei aqui na voz de Cauby e Daniel, escolha :) quem cantava antigamente era Hebe Camargo, tem uma bela voz, sabia?
Cauby é dramático, engraçado, mas não me comove. A letra é um pouco cafona, mas em amor tudo é meio cafona, né?

Paz do meu amor

(Luiz Flavio Vieira)

Você é isso
Uma beleza imensa
Toda a recompensa
De um amor sem fim
Você é isso
Uma nuvem calma
No céu de minh'alma
É ternura em mim
Você é isso
Estrela matutina
Luz que descortina
Um mundo encantador
Você é isso
Um parto de ternura
Lágrima que é pura
Paz do meu amor
Você é isso
Uma beleza imensa
Toda a recompensa
De um amor sem fim
Você é isso
Uma nuvem calma
No céu de minh'alma
É ternura em mim
Você é isso
Estrela matutina
Luz que descortina
Um mundo encantador
Você é isso
Um parto de ternura
Lágrima que é pura
Paz do meu amor
Você é isso
Um parto de ternura
Lágrima que é pura
Paz do meu amor
Espiem e ouçam aqui. Marlene Dietrich cantando 'Luar do sertão' em português, pode? Inesquecível! Vão adorar.

domingo, julho 16, 2006

Eu e as Fernandas.















Interessante que sonhei que estava em Paris, era 14 julho, não lembrei da data, de tarde ouvi alguém dizendo na TV, engraçado... ai agora entrei aqui e Teresa conta da festa linda que fizeram lá.
Esta noite sonhei que conversava com Fernanda Montenegro e Fernandinha, falávamos de cheiros, Fernanda dizia que a casa dela estava com um cheiro ruim, havia ficado viúva há pouco tempo, eu digo que o cheiro vem dos remédios, que também a casa do meu pai ficou com cheiro ruim, cheiro de iodo, ranço, meus olhos se enchiam de lágrimas.
Eu digo para Fernanda que ela está muito bonita que quero ver quem ela vai namorar, ela me olha com ar de mistério e sorri. Depois estou eu e Fernandinha e ela diz que acha que é o Raul Cortez, eu digo que havia pensado nele.
Ontem passamos pelo cemitério onde meu pai está enterrado, minha irmã disse que minha mãe quer ir até lá, nunca foi, ela disse não entender o que ela quer fazer lá, afinal nem se falavam... respondi que era para se despedir dele.
No almoço alguém falou em Raul Cortez, minha mãe disse que era uma pena ele ter câncer, meu irmão diz:"Teve câncer, e não tem câncer." Ele a corrige o dia todo. Detesta os comentários negativos dela, brigam por isso.
Raul Cortez é um dos homens mais charmosos da geração dele, se não o mais- que eu conheça.
Eu não vi este filme da foto, "O outro lado da rua", mas vi "Lavoura arcaica", maravilhoso, não canso de dizer, vejam.

Sonho carioca. Arnaldo Bloch.

















Foto do Blog do Jôka
Pois é, o Arnaldo diz o que todo carioca que tem um olhar sensível vê no Rio.
Nesta esquina eu tive meu último consultório num prédio velho, exatamente ai, de frente à Pizzaria Guanabara, eu não curtia, era muito agitado ali, prefiro Ipa, vocês sabem.
A Letras e Expressões era onde eu ia tomar café olhar os livros, meus filhos aprenderam a gostar de livrarias ali, no fundo tem um mesão onde as crianças podem manusear os livros livremente, era muito bom. Agora continuo meu hábito de freqüentar livrarias aqui na A & S, não tem o charme de Ipanema, mas é o lugar que mais vou.
E aqui também vejo a lua, o pôr do sol, as nuvens deslizando no céu- estou me sentindo melhor aqui, não é?

Sonho carioca

Arnaldo Bloch

Parecia sonho mas não era: na esquina da Aristides, bem em frente ao Diagonal (aquele bar-restaurante cujas paredes têm reproduções do desenhista francês Jano), um rapaz e uma moça, muito jovens, tocavam “Carta ao Tom 74”. Semanas antes, quando os vi pela primeira vez, a flautista ainda errava muito, estava era estudando como fazem tantos diletantes pelas praças e metrôs do mundo, viola de Romeu sustentando compasso de Julieta. Agora, da segunda vez que os via, eram raras as notas que batiam na trave, e já tinha pessoal em volta cantando junto, tudo garotada meio zona-sulista, meio verde, sem muito sambalanço, algo constrangida de estar bossanovando diante da azaração mais roquenrol da Pizzaria Guanabara defronte, ou do fervilhar do B.B Lanches, point de todo um Riô profond que passa pelo Leblon. Mas continuava, tímida obstinada, a bossinha juvenil, ao abrigo da zoeira, à sombra também do tétrico espigão na esquina do lado oposto, triturador oficial da memória do Real (Astória).

Aqui você lê até o fim.

Paris no sonho.











Fotos aqui

Sonhei que estava em Paris, acabara de chegar, estava num lugar ao ar livre com alguém, uns rapazes olhavam de longe, tive medo de ser roubada, coloco meu dinheiro na cintura nas costas- como alguns colocam armas. Depois encontro minha amiga Syl e ela fica surpresa por me ver ali, porque não a avisei que iria, me abraça amorosa, efusiva. Depois diz que vai casar daqui a 15 dias.
Peço para que me dê endereços de brechós, antiquários. Digo que tudo que vi até ali lembra qualquer cidade grande, eu havia visto só uma grande avenida e uma galeria de lojas de luxo. A mãe dela era dona de uma loja. Eu ficaria na cidade mais tempo, meus filhos voltariam antes para o Brasil.
Gostei do sonho, quero muito conhecer Paris, e me vi com minha amiga querida. Syl é muito querida, mas não nos falamos quase nunca, preciso ligar um dia, ela não escreve, mas quando escreve é super amorosa e confidencia muito, gosto disto, da cumplicidade. Nos conhecemos no Rio, ela veio para o Brasil com o marido músico brasileiro, ficou alguns anos, mas quis voltar, estava mal com o marido, ele foi junto, mas voltou, ela ficou em Paris. É artista plástica, finíssima, o pai é arquiteto, estava casada na última vez que nos falamos com um africano. Syl só usava preto, super elegante- linda. Tenho muitas saudades, ela foi embora o Luc tinha 1 ano, por ai, eu estava casada.
Minha tia foi roubada na última vez que foi `a Paris, no primeiro dia, no café da manhã no hotel- a bolsa estava embaixo da cadeira. Esta tia está indo para Curitiba agora de tarde, vou me despedir daqui a pouco, esto indo. Adoro viajar.
Ontem, na piscina, havia uma vizinha com um italiano, disse que vai casar no mês que vem, me mostrou o anel de brilhante e alianças, foi para a Itália há seis meses, conheceu o italiano e está a se casar. É feia, vulgar, fala mal, gorda, cheia de celulites- juro- 48 anos que parecem muito mais, ele bonitinho, 58 anos, trabalhava na Renault- não sei nada dele, deve combinar com ela :) Ela disse tudo isto sem eu fazer uma pergunta, é uma mulher muito simples, do interior, evangélica, agora. Disse que ia levá-lo à Igreja à noite. Eu disse: "O que o amor faz..." Ela sorriu feliz e traduziu para ele o que eu disse. Prefiro não dizer o que penso. Ele está enamorado, eu vi, a colocava nos braços na piscina, ela só "amore" para cá, "amore" pra lá. Ah! ela está procurando casa para comprar, ele virá morar aqui, não gosta do frio da Europa.
Pois é... ai sonhei que estava em Paris, mas estava sem um francês ou italiano hahahahaha só rindo.

sábado, julho 15, 2006

sexta-feira, julho 14, 2006

A refém no sonho e em São Paulo.

















Acordei ainda estava escuro, havia sonhado que estava numa sala com outras pessoas, não sei bem quem, minha irmã, meus filhos, não sei, entraram 3 homens na sala e eu vi que um deles estava com uma arma, vi quando guardou a arma na cintura, queria avisar as outras pessoas. Dois deles saíram da sala , foram para cima do prédio, imaginei que seria um seqüestro. Depois senta do meu lado um outro homem, que acabara de chegar, negro, é todo simpático, olha para mim fala comigo, eu dura, com medo, acho o rosto dele conhecido, talvez lembre o Lázaro Ramos, (que eu disse um dia que acho bonito, está feio nesta novela, mas eu o acho bonito sim).
De repente entram crianças - muitas- como se tivesse acabado uma aula, uma sessão de cinema e enchem a sala, entra um outro homem e me entrega um pacote que é uma bomba caseira rudimentar e diz para eu segurar, ele está se retirando dali, eu digo que não quero ficar com aquilo e passa pela minha cabeça no sonho, como me livrar daquilo, penso em jogar pela janela, mas penso que lá embaixo há pessoas passando, fico sem ação, ele me obrigando a ficar com aquilo nas mãos, sinto angústia, penso nas crianças todas ali, que ele fez isto para atingir a todos nós, dai acordo. Ufa!
Dormi de novo e acordei com a Dai me telefonando pedindo desculpas por ter me acordado, já era mais de 8:30 hs, hora de levantar, eu já havia acordado, pensado que era sexta, que Dan está na casa de minha irmã, o que fazer de almoço, lembrei de alguém que eu amo, o coração dói apertado de saudades, de que faz dias não faço exercícios na piscina, hoje não teria que sair pela manhã- detesto.
Voltei para a cama depois de falar com a Dai e fiquei lembrando deste sonho.
Eu estou muito impressionada com o que ocorre em São Paulo, é assustador! uma cidade da importância de Sampa nas mãos de bandidos nojentos, sanguinários, é terrível. O que fazer? eu não sei.
Tenho amigos que amo muito lá, pessoas especiais, vários amigos, meu irmão chegou ontem de lá, foi para um congresso. No sonho eu era refém de bandidos, como eu vejo a cidade, não li muito sobre isto ontem, saí o dia todo, até de noite, mas sei o que acontece, imagino o medo. Eu era refém no sonho, eu já me senti assim antes, não vou contar porque não quero. Eu via a arma e os outros não viam, por que eu? acho que eu sou mais atenta que a maioria das pessoas, tenho antenas sempre ligadas, é bom para se defender, mas é ruim porque fico mais sensível a tudo.
No sonho algumas meninas estavam de saia, mas sem blusa- ontem minha tia tirou fotos de minha sobrinha e ela quis tirar sem blusa :) tem 4 anos ainda, é autoritária, as pessoas fazem o que ela diz, comigo é um anjo, fica mansinha, me obedece que é uma maravilha, nós nunca temos problemas- até própolis ela tomou outro dia comigo e disse que era bom hihihi coloquei gotas no chá mate gelado com mel, não ficou ruim mesmo. Está sempre com dor de garganta, não enxuga os cabelos- não quer tsc tsc tsc se fosse minha filha...

Aqui tem notícias de Sampa. Vejam os alvos que os infelizes atingiram, são uns cretinos, a gente acha que é um horror o que acontece em Jerusalém, tem pena dos pobres coitados do Oriente Médio, mas estamos caminhando para algo bastante difícil de se resolver, e olhe que faz tempo que eu venho dizendo isto, desde o fim de 70, eu via na rua os meninos crescendo e dizia: "Que futuro teremos?" está ai, pena que eu não fiz nada também, como nenhum de nós fez. Agora...







Vocês conhecem o Museu da Língua Portuguesa?
Maravilhoso!







Meu irmão foi conhecer e disse que eu vou adorar, irei qualquer hora, deixe passar o frio, que vou lá conhecer.
Aqui no Estadão fala sobre.
Estas fotos são da expo sobre Guimarães Rosa.
Nem tudo está perdido - Museu da Língua Portuguesa

quinta-feira, julho 13, 2006

Hoje é dia de Contardo Calligaris.




















As garrafas de Morandi


Aqueles que enxergam mais que a realidade podem perder o trem da história

GIORGIO MORANDI
(1890-1964) é um dos maiores pintores do século 20.
Que eu saiba, não há obras dele nas coleções públicas brasileiras, mas os paulistanos se lembram da exposição que o Masp lhe consagrou em 1997.
Morandi foi um excelente gravurista e pintou retratos e paisagens, mas a maior (de longe) parte sua produção é uma série infinita (e só aparentemente repetitiva) de naturezas-mortas, que "representam" (mas seria melhor dizer: revelam) caixas, vasos e, sobretudo, garrafas.
Ele passeava por Bolonha (onde viveu a vida toda), procurando objetos, que acumulava e pintava no seu quarto (um espaço exíguo, que lhe servia também de ateliê). As naturezas-mortas de Morandi são ideais para entender o ensaio de Martin Heidegger, "A Origem da Obra de Arte". O filósofo alemão, comentando um quadro de Van Gogh que representa um par de sapatos, descobria a função da obra de arte na sua capacidade de nos revelar a presença dos objetos além (ou aquém) de seu uso, que os torna, de alguma forma, invisíveis.
Um exemplo: depois do enterro de meu pai, fui para a sua casa, deserta. No banheiro, ao lado da pia, estavam, lado a lado, um barbeador, uma taça de zinco com um fundo de sabão sólido e um pincel, dilatado pelo uso. Eram objetos quaisquer, invisíveis até então, mas, naquele momento, sua presença se tornou avassaladora: a suspensão definitiva de seu uso fazia com que, para mim, eles estivessem presentes no mundo com uma densidade de história e de significação tão insondável quanto minha dor e minha lembrança.
Para Heidegger, a obra de arte produziria este mesmo efeito, de tornar o mundo "presente" aos nosso olhos. É difícil abordar nessa linha a pintura narrativa dos grandes ciclos de afrescos da Renascença, a arte sacra e por aí vai, sem contar a arte não-figurativa. Mas, para entender a pintura de Morandi, Heidegger é perfeito; ou, como disse, Morandi é perfeito para entender o ensaio de Heidegger.
Até recentemente, a imagem do pintor bolonhês era a de um eremita, que nunca casou, viveu com as irmãs, recluso em seu quartinho-ateliê, totalmente tomado pela tarefa de enxergar e mostrar, no cotidiano, o invisível. Como ele viveu uma boa parte de sua vida durante o fascismo e a guerra, acrescentava-se que seu isolamento era uma recusa da feiúra do mundo, uma atitude moral.
Um dos princípios éticos básicos, enunciado por Kant, diz que os homens podem ser fins de uma ação, mas nunca meios. Numa época de horror, Morandi parecia ter dedicado a vida a estender esse princípio até as coisas, transformando suas humildes garrafas em fins: objetos presentes e merecedores de nosso olhar, independentes de seu uso possível.
Ora, acabo de ler (saiu em 2004) "Giorgio Morandi: The Art of Silence" (a arte do silêncio), de Janet Abramowicz. Nessa excelente monografia, descobre-se que Morandi foi muito ativo na promoção de sua carreira (muito mais do que se imaginasse) e, sobretudo, que ele se envolveu seriamente com o fascismo. Continuo gostando de Morandi. Assim como continuei lendo Heidegger quando se soube que ele tinha sido francamente nazista. Mas é curioso que ambos, Morandi e Heidegger, tenham feito escolhas políticas barbaramente erradas.
Virgínia Figueiredo, num bonito artigo sobre a estética de Heidegger, ("Isto É um Cachimbo", em "Kriterion: Revista de Filosofia", vol. 46, nº 112, dezembro de 2005, ótima revista de filosofia publicada em Belo Horizonte), escreve em conclusão: "Certamente, em Heidegger, há uma espécie de glorificação e exaltação da arte, cuja contrapartida é um inevitável desprezo pela realidade". A observação é certeira. É como se (sempre, aliás) o esforço para enxergar o invisível (que seja a própria presença do mundo, o mistério de seu e de nosso estar aqui, os labirintos de nossos desejos, tanto faz) corresse o risco de nos fazer perder o trem da história ou de nos mandar escolher o trem errado.
Inversamente, é fácil subir no trem da história deixando de pensar. Ou seja, é fácil viver na ação e na técnica sem enxergar garrafas, sapatos e barbeadores. Falando em trem, um conselho: se você for para Bolonha, não deixe de visitar o museu Morandi, onde é reconstruído o quarto do pintor, mas, imperativamente, na viagem, passe também pela estação de trem da cidade e medite um pouco diante da lápide que lembra os 85 mortos de uma bomba fascista, em 1980.




Museu Morandi aqui

terça-feira, julho 11, 2006

No límite.





























Acabo de ver "Crash- no limite" ufa! que filme... dói saber que todos nós 'no limite' somos capazes de repetir os atos daqueles sujeitos. Gostei muito. Inteligente, enxuto, faz pensar, é dos filmes que gosto. Esta questão do preconceito é seríssima, nós temos o preconceito entranhado, é preciso exercícios para não sermos preconceituosos, eu converso muito com os meninos aqui, e eles algumas vezes me dizem:"Mãe, isto é preconceito" e é. Difícil não achar que já sabemos como os outros são, se comportam- acontece muito com empregadas domésticas: "São todas iguais" , é frase corriqueira.
Três cenas me emocionaram: aquela em que o policial que havia alisado de forma abusiva a mulher, tenta salvá-la heroicamente; a cena da mãe dizendo ao filho que não o quer perto, enganando-se em relação ao filho morto; a da personagem de Sandra Bullock abraçando a empregada numa solidão que eu conheço.
Houve um momento da minha vida que eu me senti 'no límite'. Mas eu consegui forças, descobri que há uma força em mim que eu desconhecia. Não sou frágil como pareço algumas vezes. Depois de transpor 'o limite' me sinto melhor, passei a ver o mundo com olhos mais tolerantes, sentir a morte mais perto, vê-la com certa tranqüilidade, eu acho que eu não tenho medo da morte, será que me engano? No ano passado eu tive uma dor de cabeça tão forte que pensei que estava morrendo, estava só, melhor, teria assustado os meninos, fui até a cozinha tomei uma aspirina e deitei, foi uma dor aguda, acreditei estar tendo um aneurisma, a dor passou, no dia seguinte fui ao médico- neuro- fez um exame completo, me fez caminhar na sala, andar de olhos fechados, sei lá, nem lembro, fiz uma tomografia também e não havia nada errado comigo, ainda bem. Mas que dor.
Linda a cena do filme onde o pai coloca uma capa imaginária na menininha tão linda, lembrei de minha sobrinha, ontem passou a tarde comigo, é uma graça, quando chegou eu estava no meu quarto, ela sentou na cama e olhando para um quadro disse:
"De quem é este quadro, tia?" "Volpi", respondi. Ela:" Eu conheço, estou estudando ele, mas o que eu conheço é diferente deste, tem amarelo, roxo..."
Depois ela disse:'Tia, o gato dorme de olhos abertos?" Respondi que não, ela:"Então dorme de olhos fechados como os humanos."
É uma graça, adoro, tem quatro anos, faz cinco em novembro. Fiz massa de modelar para brincarmos, eu faço com farinha, brincamos de cozinhar, fazer bolos, espetinhos, ela fez espetos de coração de boi :) Muito linda, ficou com formato de coração, na hora ela disse: " É coração este, tia". Amo de paixão, e é tão linda, uma boneca, não coloco aqui porque não gosto muito de fotos aqui, sei lá...A mãe dela é linda, lembra muito Cláudia Cardinale e o pai também é uma graça, meu irmão querido, é bem mais jovem que eu, e eu ajudei a criar, aquelas coisas...

" O que se passa na cama". Arquivo.


Encontro amoroso. Posted by Hello

Um dia em 83 recebi um envelope com este poema. Era um poema de Drummond, trouxe de presente em retribuição ao desenho que lhe dei, já contei aqui no blog. Fiquei ansiosa sem saber o que fazer, um amigo me disse :” Ora, ligue para ele”, liguei, ele disse que era um presente. Eu havia pensado que fosse para eu ilustrá-lo, pois havia dito que eu poderia ilustrar seus poemas eróticos, disse que se quisesse ilustrar ele aceitaria. Eu vivia um momento muito especial, estava em fase de seleção para entrar na SPYD , sociedade de psicanálise, tinha que estudar muito e ainda por cima estava apaixonadíssima, estava difícil me concentrar. A partir deste dia ficamos amigos, eu lhe telefonava para dizer que ainda não havia feito o desenho que estava estudando, contei da paixão- um dia eu conto o que ele me escreveu sobre isto, tenho uma cartinha dele falando do amor, mostro a carta aqui.
Eu gosto muito deste poema, e vocês ?
Cliquem em cima do poema que aparece maior.
O desenho é meu.


Poema Drummond Posted by Hello


O que se passa na cama

(O que se passa na cama

é segredo de quem ama.)



É segredo de quem ama

não conhecer pela rama

gozo que seja profundo,

elaborado na terra

e tão fora deste mundo

que o corpo, encontrando o corpo

e por ele navegando,

atinge a paz de outro horto,

noutro mundo: paz de morto,

nirvana, sono do pênis.



Ai, cama canção de cuna,

dorme, menina, nanana,

dorme onça suçuarana,

dorme cândida vagina,

dorme a última sirena

ou a penúltima… O pênis

dorme, puma, americana

fera exausta. Dorme, fulva

grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,

entre lençol e cortina

ainda úmidos de sêmen,

estes segredos de cama.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, julho 10, 2006

Domingo sem parque, com pingüins.

























Vejam que delícia aqui

Domingo difícil com dor de cabeça insistente. Almoço com família, tia, mãe, irmãos.
Filminho a tarde- "A marcha dos pingüins", quanto sofrimento passam os bichinhos.
À noite jantar num restaurante tailandês. Cheguei exatamente às 22 hs, liguei a Tv e estava começando o Café filosófico.

Sinopse do programa:
"Amor canção

Arthur Nestrovski e Ná Ozzeti
Música e idéias se misturam neste programa apresentado pelo músico e crítico da Folha de S. Paulo, Arthur Nestrovski. Para debater o tema “Amor Canção”, Nestrovski trouxe ao palco do Café Filosófico a cantora Na Ozzetti. Juntos eles passeiam por momentos inspirados da música popular brasileira, detendo-se em momentos-chave e, principalmente, tendo em vista a forte presença do amor nas letras das canções."

Foi muitooo interessante, Arthur Nestrovski, falou da relação da música com o amor, como é mais fácil dizer o seu amor através música, começou com "Eu sei que vou te amar" que eu adoro e choro quando ouço hihihi Ele tocou violão e Ná Ozzetti cantou, com uma bela voz, muito limpa, mostrou como também nas composições a resolução fica em suspenso até um final exuberante, mostrou isto nas músicas de Tom Jobim e outros. O amor, a entrega, em suspenso.
Não sei se eles reprisam, não achei esta informação, deveriam repetir, foi muito bom. Contardo Calligaris, que é o curador da série, falou sobre amor, respondeu três perguntas que a Clarice Lispector fez para Tom Jobim nesta entrevista:
Qual é a coisa mais importante do mundo? Qual é a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo? E o que é o amor?*
Contardo respondeu na primeira e segunda pergunta: " A experiência"
Na terceira respondeu que o amor é uma ilusão, mas que é legal. Ele já havia dito que o outro vê em você algo que você não é e te ama, que você se esforça para parecer o que o outro espera de você, por isso o amor nos faz melhores. Se não foi isto que disse, é por ai.


Zapeando encontro o Luiz Schwarcz em "Provocações" aquele programa meio doido do Antonio Abujamra, o rapaz é tímido, diz coisas inteligentes, gostei dele.
No 'Manhattan Connection' a Lucia Guimarães falou de um jornal online- 'Slate', que era da Microsoft e agora é do Washinghton Post- que está inovando porque começa a publicar propagandas on line e ganhando muita grana, não me perguntem mais, vão saber por ai, é só uma dica, eu já estava com sono. Leila deve saber tudinho.
Fui dormir exausta, vocês sabem que sou caseira, quando sio muito fico arriada hihihi


* Respostas de Tom Jobim nesta entrevista, leiam aqui:
- A coisa mais importante do mundo é o amor. Segunda pergunta: a integridade da lama, mesmo que no exterior ela pareça suja. Quando ela diz que sim, é sim, quando ela diz que não, é não. E durma-se com um barulho desses. Apesar de todos os santos, apesar de todos os dólares. Quanto ao que é o amor, amor é se dar, se dar, se dar. Dar-se não de acordo com o seu eu - muita gente pensa que está se dando e não está dando nada - mas de acordo com o eu do ente amado. Quem não se dá, a si próprio detesta, e a si próprio se castra. Amor sozinho é besteira.

domingo, julho 09, 2006

Um dia feliz.


















Ontem tive um dia ótimo. Dai, a minha única amiga virtual que conheço está aqui e saímos para almoçar num restaurante chinês.
Depois de horas de papo ali, fomos até a Praia de Ponta Negra continuar o papo e ver o mar. Estava lindo, havia dois pescadores tecendo rede, ela comentou que é um trabalho em extinção, tão bonito os homens ali entre dois barcos a vela- seriam jangadas? o mar ao fundo. Por acaso encontrei meu irmão e minha querida sobrinhazinha lá. Eu amo a menina. Caminhamos, observamos a decadência do lugar- cheio de prostitutas e gringos- vimos a lua quase cheia se aproximando da duna, enquadrada entre coqueiros, pena que não tenho uma máquina boa. Acabamos o papo num restaurante japonês.
Dia cheio e gostoso. Eu não estou acostumada a sair o dia todo, fico muito em casa.
O que tanto falávamos? imaginem... blogs, amigos virtuais, amores impossíveis, amores possíveis, rompimentos, projetos...
Fiquei impressionada com o número de pessoas que eu conheço na blogosfera.
Gosto muito dela, é uma pessoa especial e nos parecemos no não convencional. Interessante que tenho quase o dobro da idade dela e nos damos super bem. Minha idade varia de 20 à 50, já disse outro dia a Vanessa, eu concordo, há momentos em que sou extremamente madura, vivida, noutros sou uma adolescente cheia de fantasias impossíveis- ou não?
Foi ótimo também porque eu dirigi mais, estou com carro há uma semana e circulei só por perto, ontem fui mais longe e enfrentei transito maior, ui, dá medo, mas tudo bem, enfrentei, tem que ser assim. Dai ajudou. Eu já dirigia, mas faz muito tempo que não pegava num carro, anos.

Sonhei com Gigi da novela, PPRangel, que eu jantava na casa dele, mas ele não me dava muita atenção, ele jantava antes de mim e se retira hahaha havia um bife mal passado, eu comia pouco por ser carne quase crua, ele esperava uns sobrinhos que chegariam mais tarde

Outro dia quando eu disse:"Ah, o PPRangel me mandou um email, foi tão gentil" quando ele apareceu na tela, minha mãe deu com os ombros, desdenhando, pode? Minha família não sabe da minha vida paralela, virtual, porque não se interessam, o que eu acho até bom, assim fico mais à vontade. Ontem a Dai disse para o meu irmão quando apresentei:" A Laura é famosa escritora na internet" hihihihi achei ótimo, não que eu seja isto tudo, mas foi bom ele ouvir isto, outro dia um outro irmão quando eu disse para uma moça escritora quando ele me apresentou que escrevia aqui e tinha muitos leitores, ele riu debochando, aquele sorrisinho de desdém, nem ligo. E saibam que eu sou levada à sério na família, sou 'A sensata', acho que deixei de fazer muita coisa por causa disto.
Eu gostei de ver o PP no fim da novela cantando, tem uma voz tão gostosa. Sonhei também que encontrava Beth S., amiga virtual, ela era diferente do que eu imaginava, mas querida. Estes dias ela contou da felicidade de um banho de banheira, que basta pouco para ser feliz, comentei com a Dai isto ontem, eu também não preciso muito para ser feliz, basta conforto e tranqüilidade. Ontem eu tive um dia bastante feliz. Tks, Dai.

sábado, julho 08, 2006

Mini conto.: Um amor sem face




Esta semana não o entrou na internet, é a primeira vez que desaparece. Fica horas em frente da tela e nada.
Se correspondem há três anos. Logo notou que ele sabia escrever, gostava das palavras que usava. Acabaram amigos virtuais, amantes clandestinos.
Não sabe quase nada dele, apenas que é engenheiro, vive com dois filhos. Nunca falou da mulher, nem ela perguntou. Uma vez, ela disse: “Irei até ai estes dias, tenho que fazer uma compra”. Ele não manifestou desejo de vê-la, ela não disse nada.
Nunca se viram nem em foto. Algumas vezes teclam uns minutos e ele diz: "Preciso te ouvir hoje". Só ele telefona.
Está se mudando para perto dele, desta vez ele disse: "Quem sabe nos encontramos?". Ela tem calafrios só de pensar num encontro. Talvez fiquem assim, se amando de longe, um amor sem face.
Todas as semanas ela se arruma como se fosse encontrá-lo, não sai de casa, apenas o espera em frente à tela e pensa:
"Quem sabe ele não virá neste fim de semana?"
Espera que ele adivinhe o seu desejo.

sexta-feira, julho 07, 2006

Vamos ceder enfim à tentação...















Acordei com esta música na cabeça, tenho sempre um fundo musical interior, estranho isto, não sei quando começou, agora com o blog eu percebo melhor e fico intrigada, mas acho que sempre tive este rádio interno.

Vocês sabem que esta música foi feita para a peça 'Calabar' e para uma personagem feminina?

Bárbara

Acho que fica melhor na voz do Chico, prefiro. Aqui ( Juntos & Ao Vivo) ele canta com Caetano, fica lindo.

Chico Buarque - Ruy Guerra

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar

O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar

Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar
Bárbara


Aqui vocês ouvem na voz de Bethânia, ou Chico sozinho.

Aqui vocês encontram as outras músicas da peça, 'Calabar', são lindas.
O livro vocês acham aqui.

quinta-feira, julho 06, 2006

Hoje é dia de Contardo Calligaris.


















Contardo responde algumas questões que não ficaram claras para alguns no post de segunda, acredito que este artigo está ótimo, claro.
Mani e Beth S. desta vez irão concordar, não é? :)
Leiam e me digam o que acharam.


O que faz um casal?

CONTARDO CALLIGARIS


Para existir, um par precisa inventar e compartilhar uma longa aventura

AS HISTÓRIAS protagonizadas por um casal (sejam elas literárias, cinematográficas, teatrais ou televisivas) podem ser divididas em duas categorias. Há as histórias ditas "de amor", de "Cinderela" a "Romeu e Julieta". Na maioria dessas histórias, trata-se do primeiro encontro dos amantes e das dificuldades nas quais eles esbarram para se juntar. As coisas podem acabar mal ("Romeu e Julieta"), mas, quando acabam bem, a narração termina na hora em que os amantes começariam a "viver felizes para sempre" ("Cinderela"). Ou seja, quando o amor deveria ser o tema principal, o que é narrado são os transtornos iniciais (com mais ou menos meleca sentimental) ou, às vezes, o trágico desfecho. A prática cotidiana do amor é, em geral, apenas objeto de farsas e comédias: risível. A segunda categoria é a das histórias em que um casal vive uma aventura que, aparentemente, não tem nada a ver com seu amor: procuram juntos desvendar um crime, assaltar um banco, roubar um quadro, ganhar uma guerra ou encontrar o Santo Graal. Ao longo dessas façanhas, eles se amam e têm ou não o tempo de se beijar e de transar (nos filmes, esse efeito colateral nos vale cinco minutos de rins, umbigos, pernas e lábios, que não têm nada a ver com a ação e permitem dar um pulo no saguão do cinema para renovar a pipoca). Ora, para mim, os verdadeiros filmes de amor são esses, os da segunda categoria, os filmes "de aventura". Por quê? A maioria desses filmes parece afastada de nossa experiência cotidiana. Com ou sem minha companheira, é raro que eu assalte bancos, roube quadros ou solva enigmas policiais. Mas essas proezas valem como exemplos de um "fazer juntos", que, na prática do amor, é um ideal mais útil do que os meandros dos primeiros encontros, propostos pelos "filmes de amor". Ou seja, os filmes de amor me dizem que, do amor, vale a pena ser narrado apenas o momento do apaixonamento (supõe-se, imagino, que, depois disso, aos poucos, a coisa vire uma lástima). Os filmes de aventura me dizem que existe a possibilidade de uma experiência comum, de uma aventura dos dois (que, claro, não precisa ser tão mirabolante quanto o que acontece na tela). Em suma, concordo com a citação proverbial de Antoine de Saint-Exupéry (o autor de "O Pequeno Príncipe"): "Amar não significa se olhar um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção" (se me lembro direito, a frase está em "Terra dos Homens", livro de memórias e reflexões que acaba de ser publicado em português pela Nova Fronteira). Fica a pergunta: o que é "olhar juntos na mesma direção"? Na falta de fortalezas para expugnar, fazer o quê? A forma clássica de olhar juntos na mesma direção é criar filhos. Isso não significa que um casal deva agüentar um inferno conjugal para que pai e mãe fiquem com seus rebentos até eles crescerem. Significa apenas que a tarefa comum de criar os filhos é uma prática possível do amor. Já foi a mais comum, aliás. Num artigo publicado no caderno Mais!, da Folha de domingo passado, Gianni Vattimo nota que a reprodução sexual implica, de uma maneira ou de outra, a vontade de manter e reproduzir o mesmo. O homem do antigo regime previa que seus filhos teriam seu mesmo status num mundo que se manteria igual; nós, homens modernos, sonhamos que nossos filhos nos ultrapassem, mas dentro de um quadro que tendemos a reproduzir (muitos desejam um filho médico, mas poucos gostariam que esse médico fosse Che Guevara). Talvez por essa razão, criar filhos deixe de ser, hoje, a experiência comum dominante na qual prospera o amor de um casal. Há traços da subjetividade moderna que exigem dos casais outras escolhas: a sede de renovação constante (reproduzir e se reproduzir não é mais suficiente para preencher nossa vida) e, sobretudo, a vontade de capitalizar experiência por conta própria (sonhar, por procuração, com a experiência futura dos filhos não nos basta mais). Essa é, portanto, a dificuldade: fora criar filhos, o que é, hoje, para um casal, "olhar na mesma direção"? Alguns praticam o amor lendo poesia em voz alta, outros estudam juntos, outros exercem a mesma profissão ou adotam ambos uma nova religião, outros ainda se dedicam a práticas sexuais "diferentes". Tanto faz. O que importa é que, para existir, um casal precisa inventar e compartilhar uma (longa) aventura.

Leiam o que a Dai escreveu sobre amor aqui. Está ótimo. Vão conferir.