terça-feira, julho 04, 2006

"O amor é uma coisa que se aprende" Atualizado em 4 junho.



















Ontem eu vi um "Cafe´filosófico" com Contardo Calligaris, falava de amor. Ah o amor...

Leiam a sinopse do programa:

O amor é uma coisa que se aprende

Curador | Contardo Calligaris

"Oscar Wilde notou: as pessoas passaram a olhar languidamente para o pôr-do-sol só depois que esse fenômeno natural se tornara objeto das aquarelas de Turner. Era um jeito de dizer que a realidade não nos sugere o que pintar, ao contrário: é a pintura que nos ensina a olhar. No caso do amor, acontece algo parecido. Sempre houve sentimentos amorosos, mas nossa experiência do amor não tem nada (ou quase) de natural: é uma retórica de sentimentos que aprendemos, assim como uma língua.

A cultura moderna produziu um imenso repertório do amor. Aprendemos a amar nos romances, filmes, novelas, letras das músicas populares. O começo do século é um bom momento para fazer uma espécie de balanço, não do que sabemos (sempre muito pouco), mas da variedade do repertório graças ao qual somos amantes.

Neste programa o psicanalista Contardo Calligaris desenvolve a idéia de que “o amor é uma coisa que se aprende”. Calligaris vai buscar nas origens das narrativas amorosas uma verdadeira revolução que gerou o mundo moderno. A partir do século 18, o amor foi o agente ideológico da supremacia do indivíduo contra as regras sociais. Com isso, o sujeito passa a ter que inventar a si mesmo, e nisso as narrativas desempenham papel fundamental. Nós todos aprendemos a amar no mesmo repertório cultural das histórias que contamos, vemos e ouvimos.
"

Contardo, diz que aprendemos a amar nos filmes americanos, acreditamos que o amor maior é o impossível, o intangível.

Filmes com "Shane, os brutos também amam"
e "Casablanca" narram histórias poderosas onde os heróis são idealizados pelas mulheres amadas. Em "Shane" o forasteiro é misterioso, não fala dele, tem um encanto que fascina a todos, ele vai embora, como em todos os filmes de faroeste americano eles vão embora em busca de outro amor impossível.
Em "Casablanca" todos sabem o que acontece, o herói, maravilhoso, generoso, vê a mulher amada ir embora com outro enquanto ele vai em busca de outra aventura, desta vez mais nobre, seria?
Os amantes juntos não teriam mais graça, diz Contardo, os filmes acabam ali, não há narrativas sobre amores no cotidiano, no dia à dia cansativo de deveres, tarefas, tédio.
Amamos o outro mais a medida que está mais distante, mais idealizado, queremos o amado perto, nos lamentamos pela falta, mas nos cansamos da presença dele.

Ai ai.

No final Contardo, como todo psicanalista, fechou dizendo que as paixões são todas edípicas, nos enamoramos pelo impossível como nos enamoramos por nosso pai/ mãe.
Amor impossível e idealizado.

Ele diz que "Na paixão eu me ofereço em sacrifício", fazendo uma diferença entre amor e paixão, há sempre um sacrifício na paixão.

E o amor seria 'não querer estar sem você' o que não significa 'estar com você', junto de você.

E vocês concordam com ele?

Veja aqui cenas do filme, delícia.

Ouça aqui "As time goes by", busquei com outros cantores,mas não achei, estou sem tempo.

Mais Contardo aqui numa entrevista na Trip e na Revista Cláudia aqui.

04 de junho.
Vamos continuar o papo sobre o amor.
Alguns comentários me levam a achar que devo responder aqui.
Primeiro quero dizer que estou cansada hoje, portanto provavelmente não serei clara, mas vamos lá.
Quando Contardo diz:

"Nós todos aprendemos a amar no mesmo repertório cultural das histórias que contamos, vemos e ouvimos."
ele está dizendo que as narrativas sobre o amor nos levou a nos identificarmos com os heróis e protagonistas dos filmes e livros, acabamos acreditando no que vemos, acreditamos ser mais interessante ser o herói que se despede e sai livre, mesmo infeliz, para uma nova aventura, ou aprendemos a ser como a heroína do filme americanos que renuncia o amor idealizado.
Ele diz também ai "das histórias que contamos, vemos e ouvimos." pois é, eu acredito que quem teve ou tem pais que viveram felizes, ou relativamente felizes juntos, quem viveu isto em casa, quem viu o pai e a mãe se amarem, saberão viver melhor em casal. Aposto. Serão mais tolerantes, complacentes. Falta tolerância, generosidade em muitos de nós.
Ele diz também, eu esqueci ontem de dizer, está a no seu livro "Terra de ninguém"* que não adianta pretendermos mudar o outro- verdade- mas que o amor nos modifica, sim, porque como o outro nos vê com olhos idealizados, nós por amor tentaremos ser melhores, é verdade, não é?
Eu estive casada pouco tempo, foi uma relação super difícil, quase impossível, éramos muitooo diferentes, mas foi uma relação que me fez melhor, eu fiquei mais generosa, mais desprendida, não que isto seja fácil para mim, mas eu sei que sou melhor hoje, eu era egoísta, imaginem vivi até os 40 só, fazendo o que me dava na telha, conviver com alguém foi difícil e sai da história de quatro, aos poucos me refiz e sou muito melhor hoje.
Jasmine diz que ele não precisava entrar no Édipo, achei engraçada a forma dela falar, mas ele precisava falar do Édipo, não só os psicanalistas reconhecem que todo amor é edípico, é verdade, não dá para fugir disto. Os nossos primeiros objetos de amor, são nossos pais, a menina ama a mãe, bebê, depois se enamora pelo pai, mais tarde vai se enamorar por um outro homem, mas a referência é o pai, o menino ama a mãe, bebê, e continua enamorado por ela até encontrar outra mulher que substitua a mãe. É assim, alguns não conseguem sair deste esquema, quantos continuam acreditando que a mãe é única, que ninguém ocupará este lugar. Mas ai é caso para outro post.

Ah! ficaria horas aqui escrevendo sobre amor, é bom falar de amor, mas vou fazer meus exercícios na piscina, ando meio enferrujada, fazendo menos, tem chovido aqui, sou friorenta. Hoje faz um dia lindo, vou curtir um solzinho.
Bom dia para vocês.

* "Terra de ninguém" é um livro maravilhoso, comprem, leiam , Contardo é um pensador fantástico, ele fala de quase tudo que você possa imaginar, há um indice de temas, está tudo lá, incrível! e o cara é inteligente, fala claro, muito gostoso, eu leio aos poucos sorvendo para curtir melhor :) o que me surpreende é que ele é italiano, viveu na França anos, depois nos EEUU, mora aqui desde 84, sei lá, por ai, e escreve sobre assuntos nossos(Brasil) como se fosse brasileiro. Pode?

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