sábado, julho 31, 2010

Chico Buarque fala sobre racismo



Pois é, Chico está certo. E sabemos todos o que é racismo e preconceito- muitos fingem.
Sobre violência no condomínio- não há o que fazer- também queria me mudar- se a casa não fosse minha, novinha...
Como enfrentar ignorância e machismo?

Tks, Madoka, você ai do outro lado do mundo me mostra coisas que acontecem aqui. Viva a Internet!

Vida prosaica




Vida prosaica. Todos os dias o mesmo: a cama esticada, a gata na porta à espera, o almoço a fazer, a roupa que deve ser lavada. Nas entrelinhas, um conto, um sonho. No recreio, o Twitter.

Ontem fui cortar o cabelo- a cor nunca fica como eu gostaria- antes, sim, agora não encontro o avermelhado que gosto- detesto o cobre, e o escuro me deixa mais séria do que sou- ou mais triste?
No caminho lembrei de meu irmão que eu tanto gosto. Disse para meu filho, que estava junto- ele ficou em silêncio. Deu vontade de chorar- não morreu, não, está aqui a dez minutos, mas não o vejo. Não vou contar a história de novo- já contei- os amigos antigos lembram do casamento etc. e tal.
O outro filho disse que não chamasse a faxineira que faria a faxina- fez. Lavou o chão da sala, banheiros, cozinha. Temos mais de 150 metros de chão de cerâmica branca- limpou tudo- imaginem. Foi ótimo porque ele é o que mais suja- agora vai valorizar. O vento traz areia das dunas. Muita areia.

Quem manda vir morar na duna? O pior é o vento.

Chove e venta. Natal com chuva é triste. Em Cabo Frio diziam que pior que a cidade com chuva era Cabo frio com chuva e vento. Aqui é o mesmo- litoral com chuva é sempre triste, para mim, óbvio que outros gostam, não é, C.? Tive um namorado português- o primeiro amor de verdade, que amava ficar olhando a praia quando chovia- ficávamos no Arpoador- isto na década de 70- era gostoso comer pipoca e namorar no carro- hoje impossível. Onde um namorado, também?
Sempre penso que virão com raiva contra mim quando digo algo sobre Natal- estou traumatizada. Quando eu digo: Nossa, que vento! Ouço: Ainda bem que venta, num tom de defesa. É bom o vento, mas este tipo furacão.

Uma vez disse que aqui havia muitos católicos e alguém me atacou virulentamente aqui. Vade retro! Xô!

Odeio chuva se precisar sair- é algo enraizado, deve ser porque nasci no frio- frio pra valer.

Chuva cortante, lábios partidos, corpo gelado. (Infância).

Odeio o vento, deve ser porque menina conheci o Minuano. Tenho dor de cabeça quando venta. Enlouqueço com o vento. Aqui faz úuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
É devastador, para mim.

Estes dias fiquei triste- pouco, paca...*- por não ter ganho nada no concurso da FLIP. Penso que não há como ganhar jamais com meus contos secos e truncados. Não é para o leitores comuns, eu sei. Entonces... não reclame.

Mimimi*. Chega. Tchau, fui.

*mimimi é expressão do Twitter, quer dizer isto mesmo desejar mimo, momento de queixume.

*Pouco: agora associo ao: Paca, Pouco ou Picas, do “Irritando Fernanda Young”- ela é bobinha, mas muitas vezes o programa é muito divertido.

quinta-feira, julho 29, 2010

Conto: Fragmentos






Na janela
                                                                                    
Menina paralisada, atrás do vidro, sofria.
Agora, abro o vidro. Jogo-me alada .



 A palavra

 “Coisa de prostituta! Faz engravidar!”. Ressoa nela a voz aguda da mãe.
Aos sete anos, mal entendia a fúria da mãe. Sentada de castigo na mesinha de cabeceira- pernas soltas no ar- chorava. Pouco depois seguiram para outra cidade.
Não virou puta. Do ventre, antes seco, pariu um dia um filho bastardo, num aborteiro. Sentiu alívio.


Confissão

Menina, uniforme azul e branco, sapatos apertados de verniz, atravessava a praça. A freira puxava a fila indiana de meninas silenciosas - olhos no chão.
“Eu pecador me confesso, eu pecador me confesso...”, ecoava em sua mente. Segurando o riso, contava os passos olhando a perna torta da menina da frente.
- Padre, quero me confessar.
- Quais os seus pecados, minha filha?
- Tive maus pensamentos.
 Urgia rezar mais.



O pai

Quando o pai mandou, aos gritos, que se vestissem e pegassem as roupas todas, ela não entendeu o que acontecia.
Caminharam em silêncio até o ônibus. A mãe chorava baixinho, cabeça baixa, mãos ocupadas por sacolas cheias.
Menina ainda, segurou firme a mão do irmão.
Desceram da condução com o pai quase os empurrando.
Na porta, o avô disse:
- Te entreguei um, você volta e são três. Fico com minha filha, você leva as crianças.
O pai responde:
 - Se não os quer, então os mate.
É a última lembrança que tem do pai.




Embaçado

No banheiro embaçado minha mãe me banhou. Esfregava meu corpo franzino com força. Chorava sem parar. "Lave bem aí embaixo, senão fica com mau cheiro", disse me entregando uma bucha. Esfreguei até doer. Chorei sob a água até ela me gritar: Saia dai, menina! Chega!

A primeira vez que fui para a cama com um homem, diante da minha dor, ele disse: "Precisa ir a um médico, está machucada, não é normal".
Em casa, tomei coragem e me olhei com um espelho. Desde então gosto de me tocar. 
Minha mãe me odiaria se me visse com um homem. Gosto de homens, deixo que me conduzam. Fecho os olhos e deixo que me amem.


No magazine

Fica encantada ao se ver no espelho com o vestido da loja.
Dança até cansar.
Com uma tesoura faz pequenos cortes nas roupas penduradas.
Ao bater a porta, sabia que não haveria retorno.


O jantar

Dormia quando ele chegou de madrugada. Da porta, disse: Anda, tenho fome. Sonada, levantou. Encheu a panela com água, colocou no fogão e voltou a cochilar enquanto fervia.
Ele a viu de bruços na mesa, pegou a lata de óleo e a despejou sobre sua cabeça.
- Sua vaca, levante!
Ela obedeceu em silêncio. Chorando baixinho entrou no chuveiro quente. Lembrou da mãe. Chorou, mais ainda. Levou tempo para tirar o óleo, o ódio e o medo.
Quando saiu, ele já havia comido. Estava à sua espera, pronto.
Acordou às quatro, ele ressonava de boca aberta. “Desgraçado”.
Antes das cinco estava pronta. Mochila segurando a porta da rua entreaberta. Faca na mão.
 Ela saiu de óculos escuros- amanhecia.                       

PS: Este conto eu enviei para o concurso OffFLIP, li hoje o resultado, vários premiados-acho que dez-, eu nada. Não sei porque não desisto, insisto em tentar. Acho que meus contos não são estruturados como o convencional, nunca serão aceitos. A ironia é que no primeiro concurso que concorri, eu entrei- naquele site italiano de literatura- DOMIST- escolheram três e eu estava lá, em italiano e português(agora não está mais online). 
Enfin, c'est la vie. Alguém perde, alguém ganha. Ainda não fui eu. 
Se  você gostou deste conto, me diga, se não gostou diga o que não gostou- sou toda ouvidos:)


A menina que conta estórias- Miss Capucine



Que impressionante esta menina! Vejam! É uma delícia, linda e inteligente. Oh! Dieu! Imagine ser a mãe dela.

quarta-feira, julho 28, 2010

E não matei a cobra...



Esta noite sonhei que encontrava uma cobra no jardim. Ela entrava depois num balde, e, mais tarde, estava no meu quarto sob a cama. Era uma cobra pequena- aqui temos num vidro umas três cobrinhas corais. A do meu sonho era sem graça, sem cor definida, tinha menos de um metro.
Eu chamo meu filho Dan para tirá-la do quarto, é ele quem pega as cobras, uma vez ficamos com a cobra viva dias numa gaiola apropriada. Meu filho no sonho não me ouve. E ouço então minha voz chamando: Pai!
Acordei.
Interessantes, os sonhos. Meu pai está morto, é uma memória da infância, era o pai que chamávamos à noite, era ele quem vinha me confortar dos pesadelos. Ficava deitado ao meu lado até que percebesse que poderia sair, o medo havia ido embora.
Meu pai foi um homem muito interessante, já contei antes. Era militar, chegou a general e foi a pessoa mais simples que conheci de perto. De uma simplicidade que envergonhava as filhas adolescentes. Andava muito mal vestido, fazia coisas como no lugar do cinto amarrar uma fio qualquer, uma cordinha- isto depois de aposentado, claro- de farda era lindo, elegante. OK edipiana, quem não é? Ele trabalhou como engenheiro, também era, na fábrica de Álcalis no Arraial do Cabo, contam que nos dias frios, quando dava plantão ele colocava jornal no peito para se aquecer e nos pés- este truque eu conheço e usei muito em Curitiba, quando era menina, a única coisa que aquecia meu pé era o jornal dentro do sapato- era muito frio. Odeio aquele frio e não havia botinhas de sola de borracha, estas coisas. O colégio de freiras- detesto- exigia uniforme curto, pernas no frio, sem agasalhos a não ser o casaquinho azul marinho- odeio.
Ele também foi muito econômico, mi madre diz que era miserável, ele era mão fechada, mas deixou casa para todos os cinco filhos. Se fosse miserável não teria nos dado nada de mão beijada. Tudo que temos foi ele quem deu- não consegui construir nada sozinha- não sei ganhar
dinheiro, talvez por esta relação com o pai- que não dava muito, mas o suficiente.
Neste mesmo sonho está uma cliente minha. Eu ia atendê-la na hora que precisava matar a cobra- ela diz que precisa sair na hora porque precisa trabalhar.
Ontem ela falou do pai, que nem lembra, ele morreu quando era menina. Disse que tem ótimas lembranças dele através da mãe- que foi generosa e lhe desenhou um pai bom com quem pode se identificar em muitos aspectos. Ela teria a delicadeza do pai. Tenho muito do meu pai, o cuidado com o corpo, a alimentação saudável, e o que mais gosto dele, a justiça- nunca o flagrei numa injustiça- tinha preconceitos contra cigarros, por exemplo, dizia: Aquela lá até fuma. Que é uma expressão que diziam antigamente,mas não era um hipócrita, falso moralista, como a maioria da geração dele. Eu também não sou.
Bom, é isso, chega de lembranças.

Um piada: Lean, ... y no me dejen plantada...jaja!!!!


 






EL CUMPLEAÑOS DE CHICHÍ.

Chichí, una señora "muy mayor", le pide a su hijo:
- "Nene", (el nene tiene 62 años, calculen la edad de la mamá)
- Si mamá, le dice el nene, ya sé ...
- Bueno, quiero hacer una reunion con las chicas y me gustaria que me organices un poco...

- Como no mamá, quedate tranquila que yo te arreglo todo.
- Arreglar, que???
- La fiesta mamá!!!
- Ah si!! ya me había olvidado.

Esa tarde el hijo llama a la madre a la cocina, y le muestra un papel
pegado en la heladera:

1- servir té
2- servir sandwiches
3- servir más té
4- servir masitas

Qué bueno!!! dice la señora , ahora no tendré problemas ...
gracias "nene"

Esa tarde llegan las "chicas"...
Chichí buena anfitriona, las acomoda en el living, se excusa y va a la cocina…
Lee :

1- servir té
Y alli les lleva té a sus amigas, en una coqueta mesita..
Al rato de conversar sobre sucesos actuales (Chichí, te acordas cuando en 1931 ... )

Chichí, nerviosa, va a la cocina y lee otra vez:
1- servir té
Y les sirve más té... así 4 veces.
Por fin las chicas se van.

Una de ellas le susurra a otra mientras salen del edificio:
- Tota, viste Chichí que mala anfitriona !!! Ni un té nos dio!!!
Tota, le responde:
- Chichí, de que Chichí me hablas???

Esa noche el hijo de Chichí llega a la casa de su madre y se asombra, al ver que los paquetes sandwiches y masitas estan intactos. Le pregunta:
- Mamá que pasó???
Chichí le responde:
- Podrás creer que esas desagradecidas, no vinieron!!!





Nooooooooooo, no nos pasará igual si ejercitamos nuestras neuronas !!!JA!

terça-feira, julho 27, 2010

Madeleine Peyroux - "Blue Alert"



Que bela voz e música.

Blue Alert
(Leonard Cohen)

There's perfume burning in the air
Bits of beauty everywhere
Shrapnel flying, soldier hit the dirt

She comes so close
You feel her then
She tells you No and No again
Your lip is cut on the edge of her pleated skirt
Blue Alert

Visions of her drawing near
Arise, abide, and disappear
You try to slow it down
It doesn't work

It's just another night I guess
All tangled up in nakedness
You even touch yourself
You're such a flirt
Blue Alert

You know how nights like this begin
The kind of knot your heart gets in
Any way you turn is going to hurt

There's perfume burning in the air
Bits of beauty everywhere
Shrapnel flying, soldier hit the dirt
Blue Alert

She breaks the rules so you can see
She's wilder than you'll ever be
You talk religion but she won't convert

Her body's twenty stories high
You try to look away, you try
But all you want to do is get there first
Blue Alert

You know how nights like this begin
The kind of knot your heart gets in
Any way you turn is going to hurt

There's perfume burning in the air
Bits of beauty everywhere
Shrapnel flying, soldier hit the dirt
Blue Alert
Blue Alert...

domingo, julho 25, 2010

Louis Armstrong - Danny Kaye



Lembra minha infância e meu pai.

'Manhattan' de Woody Allen



Outro dia meu filho, de 20 anos, quis saber quem era Woody Allen, conhecia de nome. No "Seinfeld" também o citaram- aquele episódio que Kramer...Eu lhe falei de alguns filmes, mas acho que ele não viu nenhum inteiro- talvez tenha visto alguns trechos, enquanto eu via.

Cada vez gosto mais dos filmes dele- pode ser que eu esteja cada dia mais woodyana, ou quem sabe, os filmes de hoje sejam tão, tão... sei lá...pouco densos, que eu prefira rever Allen mil vezes.
Este é um dos melhores, para mim, condensa o autor.

Mariel Hemingway, linda- lembro da mãe que morreu aos 41 anos- matou-se assim como o avô- Ernest , que fez como o pai-bisavô dela.

Leiam aqui uma conversa dele com Ava Gardner- impressionante. (Por isso eu amo o Google).

Suicidas se repetem nas famílias. Minha mãe adora repetir isso e contar os suicidas da família dela- há vários: tias, primos. Eu procuro deletar.

Aqui W Allen enumera coisas que fazem com que a vida valha a pena. Cita Sinatra, Marlon Brando-Oh!- Cèzanne, Louis Armstrong... Eu o colocaria entre as melhores formas de se ver a vida, via filmes. Ele, Capra, Chaplin, Bergman, Fellini, Saura, Kurosawa, Almodóvar... ficando nos que eu lembrei sem esforço. Estou com dor de cabeça...

SOS

Bom, ele cita Sinatra, uma música de Louis Armstrong, o rosto da Mariel Hemingway... Pois é, a vida vale a pena por alguns rostos amados: filhos e outros.

O amor em sonho

Foto Cabo Frio*

Sonhei com minha amiga M. Eu a via entre outras pessoas e me aproximava para abraçá-la. Ela estava meio dispersa, eu a chamo e a abraço apertado e choro muito dizendo que tenho saudades.

No outro sonho, eu digo a ele- que vejo, mas não nitidamente- que fale mais, quero ouvir sua voz para me certificar de que está vivo. Ele ri e eu digo: fale de você, qualquer coisa.

A vida ficou pior depois que eles se foram, pode crer.

É isso ai.

*Vocês não tem ideia do que este lugar foi para mim- do que representa. A casa marron era de Carlinhos, a outra, vocês sabem, do Carlos Scliar. Conheci M. via Carlinhos, ainda morava no prédio do Chopinics- lembram do bar do Jaguar? Não vou contar de novo que... Bom, até João Bosco eu conheci via Scliar. Ele não sabia, mas foi uma das figuras mais importantes da minha vida- indiretamente- para o bem e o mal.
Foram... Deixa pra lá.

quinta-feira, julho 22, 2010

Microcontos: Twitter- 22 Julho 2010




Canções de amor a levam a chorar. Chora até lavar a alma. Ai, a tristeza passa e vira lembranças de amor. A noite será menos fria, ela sabe.


A vida tornou-se estranha- como se vivesse num país onde não entendesse a língua- os códigos. Terá tempo para aprendê-los?


A dor encolheu seu espaço. Tem medo do sol, do vento, do olhar do vizinho. A casa é solar e a acolhe. Olha através da janela a vida que passa.


Tem sono na hora que antes começava a viver. Era notívaga. Desperta com gritos dos pássaros na mata. Onde perdeu o elo com o mundo?

Bom dia, tristeza



Ela acaba de cantar no especial GNT 'Maria Bethânia'. Linda canção! É de Vinícius.

segunda-feira, julho 19, 2010

The Dostoevskaya station, Moscow Subway. Станция метро Достоевская



Está opressivo? Há controvérsias sobre. Leiam aqui.

Hilda Hilst e Vinícius de Moraes





Foto daqui

Vi na GNews um programa de Edney Silvester sobre Vinícius de Moraes.
O entrevistado, José Castello, que escreveu uma biografia sobre o poeta, conta que Vinícius e Hilda Hilst tiveram um romance. Ia tudo bem, ela imaginou até que fosse viver juntos. Um dia viajavam e pararam num lugar à beira da estrada. Pediram carneiro- prato da casa. Ao olhar a janela Hilda viu que havia vários carneirinhos do lado de fora. Pediu para irem embora porque não conseguiria comer o pedido. Vinícius ficou uma fera, disse impropérios. Ela magoada foi embora. Acabou ai o caso de amor dos dois.

Brasil, meu Brasil brasileiro: Comércio



Quem conheceu este tipo de mercearia? Eu conheci.

domingo, julho 18, 2010

"Se eu fosse um homem só..."





17.7.2010

Conversando com Vinicius

José Castello

Vinicius de Moraes _ que morreu há trinta anos, deitado em sua banheira, como um Marat apunhalado por si mesmo _ acreditava em fantasmas. Nunca acreditei em fantasmas, mas creio que eles são uma excelente companhia para as horas de solidão. Nunca acreditei, mas cultivo meus fantasmas de estimação. Um deles se chama Vinicius de Moraes.

Passo muitas horas sozinho. Muitas vezes, não me sobra tempo para mais nada. Nos últimos dias, leitores reclamaram, com razão, de minha ausência neste blog. A responsável por isso é minha solidão, que me arrastou para rascunhos e leituras, me levou a me perder dentro de mim. É claro, sou responsável por minha solidão. Portanto: o responsável por minha ausência sou eu mesmo. Então me perdoem.

Mas já me perdi de novo _ e perder-se é um dos efeitos mais ferozes da solidão. Volto a Vinicius. No início dos anos 1990, durante os três anos em que trabalhei na pesquisa de "O poeta da paixão", biografia que escrevi por incentivo de Luiz Schwarcz, tive sempre Vinicius a meu lado. Não creio em fantasmas, tampouco acredito na vida após a morte. Nada disso me impediu de acreditar que o espírito de Vinicius estava sempre perto de mim.

Conversei com ele nas horas mais difíceis. Trocamos muitas ideias sobre sua vida, tivemos algumas discussões ríspidas, na maior parte das vezes sua presença silenciosa me consolou. Não acredito em fantasmas, mas conheço o poder da imaginação. Para Vinicius, a poesia se derramava para fora dos livros, se espalhava pelo mundo e se impregnava no real. Aprendi com ele que a literatura, de fato, tem um poder que ultrapassa os gêneros, as convenções e a própria linguagem. Que a literatura ultrapassa a literatura.

Por isso, durante o difícil período em que pesquisei a vida de Vinicius de Moraes _ eu, a quem o destino reservou o fardo de ser seu primeiro biógrafo _ decidi, imaginei, inventei que o fantasma do poeta estava sempre a meu lado. Não é fácil escrever a primeira biografia de um morto. Tudo o que você disser, tudo o que escrever, tudo o que sugerir passa a ser, para a maioria das pessoas, a absoluta verdade. O mais grave: o biografado não está mais aqui para desmentir. Não pode se defender. Você diz, e ninguém responde. Tudo o que um escritor tem, sempre, é o silêncio.

Passei muitas noites em claro. Tive pesadelos desagradáveis, em que Vinicius me destratava, me agredia fisicamente, me esmurrava. Em um deles, o poeta chegou a me atacar com uma faca. Lembrei-me de Marat, o revolucionário francês, que morreu com
uma faca atravessada no coração. Marat, que foi assassinado em sua banheira, me
fez lembrar de Vinicius, que morreu durante uma madrugada, depois de passar a noite compondo com Toquinho. Morreu enquanto descansava em sua banheira de espumas,
leito impecável para o poeta do transitório.

Pobre Vinicius, grande Vinicius, o poeta que, quando eu tinha dez ou onze anos de idade, em sua primeira "Antologia poética", me ensinou o que é a poesia. Foi um susto.
Enquanto lia seus versos, eu me afogava nas palavras. Como aquilo podia existir? O que eram aquelas palavras que me enlaçavam e me arremessavam para tão longe? Agora que se completam trinta anos de sua morte, sou chamado, novamente, a falar de Vinicius de Moraes. Converso com Edney Silvestre, com Ancelmo Goes. Amigos apaixonados pelo poeta, como Silvio Barsetti, Paulo Marcelo Sampaio e Timoteo Lopes, me levam a falar mais e mais dele. Um livro nunca termina.

Se eu contar os dois anos em que pesquisei seus inéditos em busca do material que formaria o "Livro de letras" e o "Roteiro lírico e sentimental do Rio de Janeiro", foram quase cinco anos mergulhado em sua obra. Pensando em Vinicius a maior parte do dia. Conversando com Vinicius _ esse fantasma homônimo que inventei para me fazer companhia. Mesmo um biógrafo precisa da ajuda da ficção. Sem inventar esse Vinicius que me acompanhou e me escoltou, que me empurrou e me consolou, eu não teria escrito a biografia. Sem inventar um Vinicius falso eu não conseguiria me aproximar um pouco (só um pouco) do Vinicius verdadeiro. Vá se entender nossa cabeça!

Quando terminei o livro, e me preparava para entregá-lo a Luiz Schwarcz, me veio uma ideia. Ela surgiu depois do pesadelo em que Vinicius, com uma faca de jardineiro, me atacava. Pensei em levar os originais ao cemitério e depositá-los sobre o túmulo do poeta. Teríamos uma conversa franca. Eu lhe diria: _ Aqui está, foi o que consegui fazer. Certamente errei muito. Creio que fracassei mais do que acertei. Mas lutei todo o tempo para ser fiel a você. Está aqui, é o que fiz. Quero que você me diga se devo entregar ou rasgar.

Não precisei ir ao cemitério, vivi essa cena em silêncio, na penumbra de meu quarto. Como agora, em meu escritório, eu a revivo mais uma vez. Vinicius continua perto de mim. Creio que respondeu que sim, que eu devia entregar o livro à editora, tanto que o entreguei. Sei que continua a meu lado, porque volto a escrever sobre ele e me acolhe com seu silêncio. Aprendi a conversar e a ouvir esse homem que não mais existe. Só não me internam em um asilo porque consigo fazer os dois movimentos: deliro com Vinicius, vou até seus braços, converso com ele, mas sei a hora de voltar. E o principal: volto.

Publiquei meu livro há dezessete anos. Há dezessete anos sou chamado para falar e falar sobre Vinicius de Moraes. Uma coisa ainda me assusta: as pessoas tomam o que digo como a límpida expressão da verdade. Não, não falsifiquei uma só linha, tudo o que escrevi é resultado do que ouvi, do que li, do que pesquisei. Mas não acredito na verdade, pelo menos não na verdade límpida e clara dos ingênuos e dos crentes. A verdade é complexa, não cabe dentro da própria verdade. É insuficiente, não dá conta do real. É móvel, ora está aqui, ora ali, nunca se deixa pegar. Tudo o que podemos fazer é roçar sua face. Com medo (Cortázar) e delicadeza (Vinicius), rocei a face barbada do poeta. E isso é tudo.

Ei, Vinicius, você aqui a meu lado, você mesmo. Não o homem Vinicius de Moraes, que está morto e não existe mais. Mas você, esse fantasma de Vinicius que nós, seus leitores, cultuamos. Não como um santo _ no máximo, como um santo sujo, para usar a
expressão genial de Humberto Werneck a respeito de Jayme Ovalle. Vai, Vinicius. Me ajuda a responder as perguntas que me fazem. Me dá coragem. E sobretudo me perdoa. Sim: estou pedindo perdão. Dirão: você é inseguro, permite que a culpa o massace, reaja! É muito simples renegar a culpa. É muito mais simples ser "saudável". Porém, sem um pouco de culpa, o que chegamos a fazer? Nada.

Que peso se transformar no narrador de uma vida! É um peso que ninguém suporta, que no máximo se arrasta. Em Friburgo, ontem à noite, dividi uma mesa de debates com Italo Moriconi. O tema que nos propuseram: a literatura cult. Italo, como sempre, foi preciso: mostrou que a ideia de uma literatura cult se define, antes de tudo, pela presença de um culto. De alguma forma, cultuamos os escritores que amamos. Isso é bom? É ruím? É humano. Precisamos desses fastasmas que nos consolam e amparam. Se você acha que não precisa, tudo bem; eu preciso.

Talvez _ como me disse uma vez João Gilberto Noll _ a literatura não passe de uma forma delicada de religião. Uma religião decaída, instável e coberta de sangue, com santos impuros e incrédulos, que odeiam os dogmas e repudiam as verdades reveladas. A literatura, Vinicius me mostrou, lida com o impuro _ leiam a "Carta aos puros"! Trabalha com o fracasso e com os restos. Há, sim, uma gota de sangue em cada poema, como o jovem Mário de Andrade conseguiu ver. Ele publicou seu primeiro livro aos 24 anos de idade e sob pseudônimo. Mário Sobral, preferiu assinar. O jovem Mário conseguiu ver o sangue, nele mergulhou seus versos, mas precisou se esconder sob um nome falso. Não suportou o que viu. Já era um grande poeta: não suportou o que era. Nao conseguiu assinar seu nome. Nâo é fácil assinar com um fio de sangue.

A meu lado, Vinicius ri. Dá imensas gargalhadas. "Vamos, relaxe!", me diz. "Tudo isso já passou!" Dezessete anos depois da publicação de meu livro, ele continua, porém, perto de mim. Nunca me abandonou. Jamais renegou, também, o que escreveu. Nem mesmo seus poemas metafísicos, escritos na juventude, sob a pressão de inúteis torturas espirituais. Sabia que, dentro de um poeta, existem sempre muitos poetas. Dentro de um homem, existem sempre muitos homens. Em voz baixa, ele se aproxima para repetir uma velha piadinha: "Se eu fosse um homem só, não me chamava Vinicius de Moraes, me chamava Vinicio de Moral".

Daqui.

Rose - Ferenc Snétberger & Markus Stockhausen



Que delícia! Faz bem à alma.

Foto vista da varanda do Jorge Pontual em NY.Daqui.

sábado, julho 17, 2010

A despedida de Paulo Moura


Despedida from Eduardo Escorel on Vimeo.

Lindo e tristíssimo.
Sábado, dia 10 de julho, Paulo Moura conseguiu reunir forças para tocar uma última música – "Doce de Côco", de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho – com seu parceiro de longa data Wagner Tiso na Clínica São Vicente. Faleceu na segunda feira, 12 de julho.

Vice- versa








 


Ele fez uma série que chamou “Solidão urbana”. Estou de acordo com muitos itens. OK.
Há muitos solitários em todos os lugares. Mas, onde não estaria o solitário urbano?
No bar tomando chope com amigos? Na cama com a amada? No ‘lar’ ao lado dos seus rebentos? Numa sala de reunião com colegas trocando ideias? Numa praia jogando vôlei? No campinho jogando uma pelada? Na cafeteria tomando um café com a melhor amiga? Num projeto social como voluntário? No divã do analista?
Onde o homem não sente solidão?
Eu me sinto confortavelmente acompanhada quando os filhos estão por perto. Quando estou com a minha sobrinha. Quando tenho um amigo/a querido por perto. Durante o trabalho. Quando estava enamorada e retinha o amor- afeto dele em mim- mesmo à distância.
Acredito que é quando posso amar- dar amor.
Há momentos em que estou só e não me sinto solitária- pode ser pendurando uma roupa no varal, ou cuidando das plantas, ou fazendo um conto. Posso lavar roupas na mão e enquanto esfrego fazer um conto. Acontece muito. Saio daqui e vou descansar na lida doméstica. Conforta cuidar da casa- tira da subjetividade mais densa- afinal continuo pensante.
O que é solidão?
O homem é essencialmente só. Todos sabemos. E daí? Nascemos e morremos sós. É fato.
Outro dia me senti mal- uma tontura, um desfalecimento. Meu filho estava perto, pegou o aparelho para ver a pressão arterial. Normal. Comecei a chorar. Ele perguntou: “Mãe, por que está chorando?”. Não respondi. Mas eu sei. Senti uma solidão profunda, um luto e entendi como é a morte.
Solidão abissal é morte. Ou vice- versa.

sexta-feira, julho 16, 2010

Miniconto: A rosa vermelha










Às sextas-feiras, ele chegava com um botão de rosa vermelha. Apenas um. Podiam ter brigado pela manhã, voltava do trabalho com a rosa. Ela sentia que a flor representava algo. Ele lavava o vaso, trocava a água e substituía a flor, num ritual que durava sete anos - o tempo de casados. "Sete, número cabalístico", ela pensava.
Nesta sexta chegou sem a flor. Deu um beijo na sua testa, perguntou pelos filhos, tomou banho e fechou-se no quarto. Ela aguardou, não queria reiniciar a briga da manhã, mas como demorava muito, resolveu bater na porta. Ele não queria abrir. Ela insistiu. Encontrou-o aos prantos, era quase um uivo de dor.
- "O que foi?" Perguntou adivinhando a resposta.
- "Câncer, é câncer".
Abraçada ao marido, sentia-se confusa. Nunca tinha visto homem chorar. Desconhecia aquele menino frágil que se agarrava a ela.
Será que aprenderia a amá-lo?

quarta-feira, julho 14, 2010

A Fuga de Pulcinella




A Fuga de Pulcinella



Por Gianni Rodari – Cronópios

Bruna G. Galvão (tradução)

Pulcinella era a marionete mais inquieta de todo o velho teatro. Tinha sempre que protestar, seja porque no momento do espetáculo preferira passear, seja porque seu manipulador concedera-lhe uma parte cômica, enquanto ele preferira uma dramática.
-Qualquer dia destes – dizia em segredo a Arlecchino – corto a corda*! E assim fez, mas não durante o dia. Uma noite, ao conseguir tomar posse de uma tesoura esquecida pelo manipulador das marionetes, cortou de um topo ao outro os fios que lhe prendiam a cabeça, as mãos e os pés e propôs a Arlecchino:
-Vem comigo.
Só que Arlecchino não queria saber de separar-se de Colombina e nem Pulcinella tinha a intenção de ir atrás daquela manhosa, que no teatro tinha-lhe pregado cem mil peças.
-Irei sozinho! – decide. Lançou-se corajosamente rua a fora, pernas para que te quero!
“Que beleza – pensava ao correr – não sentir mais os puxões daqueles malditos fios em lugar nenhum. Que beleza meter o pé bem aonde se deseja”.
O mundo, para uma marionete solitária, é grande e terrível e habitado (especialmente à noite) por gatos ferozes, prontos a confundir qualquer coisa que fuja como um rato, a qual se dá a caça. Pulcinella conseguiu convencer os gatos, que se metiam com um bom artista, e conto após conto, refugiou-se em um jardim, encostou-se em um pequeno muro e ali adormeceu.
Acordou com o nascer do sol e tinha fome. Porém, ao seu redor, até onde a vista alcançava, não havia mais do que cravos, tulipas, zínias e hortênsias.
-Paciência – falava para si Pulcinella e, ao colher um cravo, começou a mastigar-lhe as pétalas com uma certa indiferença. Não era como comer uma bisteca grelhada ou um filé de peixe pérsico: as flores têm muito perfume e pouco sabor. Entretanto, para Pulcinella aquilo parecia o sabor da liberdade e, na segunda bocada, estava seguro de nunca ter provado comida mais deliciosa. Decidiu permanecer para sempre naquele jardim e assim o fez. Dormia sob uma grande magnólia, cujas duras folhas não temiam nem mesmo as fortes chuvas, e se nutria das flores: hoje um cravo, amanhã uma rosa. Pulcinella sonhava com montanhas de espaguetes e planícies de mussarelas, mas não se rendia. Tornava-se seco, seco, mas tão perfumado, que a todo instante abelhas pousavam em seu corpo para sugar-lhe o néctar e logo afastavam-se frustradas, pois não conseguiam afundar o ferrão na sua cabeça de madeira.
Veio o inverno. O jardim, agora sem flores, esperava a primeira nevasca e a pobre marionete não tinha mais nada para comer. Sem dedos que pudessem recomeçar a viagem: as suas pobres pernas de madeira não suportariam levá-lo para longe.
“Paciência, – falava para si Pulcinella – morrerei aqui. Não é um lugar feio para se morrer. Além do mais, morrerei livre: ninguém poderá prender um fio à minha cabeça, para me fazer dizer sim ou não.”
A primeira nevasca o sepultou abaixo de uma mórbida coberta branca.
Na primavera, naquele exato lugar, nasceu um cravo. Soterrado, calmo e feliz, Pulcinella pensava: “ Eis que acima da minha cabeça cresceu uma flor. Existe alguém mais feliz do que eu?”.
Porém, não estava morto, porque as marionetes de madeira não podem morrer. Ainda continua soterrado, só que ninguém sabe disto. Se vocês pretendem encontrá-lo, não amarrem nenhum fio em sua cabeça: aos reis e rainhas do teatro, este fio não incomoda, mas a ele, pode fazê-lo sofrer.

*cortar a corda: `tagliare la corda` (no original) é uma expressão idiomática que significa “ir-se embora”. No texto original é utilizada em forma de trocadilho, devido ao fato de Pulcinella ser uma marionete (consequentemente, presa por cordas).

BIOGRAFIA: Gianni Rodari (1920-1980), jornalista e escritor italiano que se destacou como autor de histórias infantis. Dentre suas publicações está Favole al Telefono (1962), onde se encontra a fábula aqui traduzida.

Daqui.

sábado, julho 10, 2010

sexta-feira, julho 09, 2010

"Nada a esconder" - ''Caché'' de Michael Haneke



Filme excelente. Os atores estão perfeitos. Trama boa, tensa, com mistério até o fim.
Gosto de finais abertos.
Pode-se ver como a invasão das imagens perturba, desnuda e abate.
No filme, de Haneke, um casal que vive bem, numa vida confortável e interessante- trabalho e relações- (os amigos são os que eu queria ter).
Bom, um dia eles recebem um vídeo de duas horas de filmagem da frente da sua casa. Mais vídeos, desenhos... Começam os conflitos, as angústias, lembranças do passado reprimidas e por ai vai. O diretor, também, aborda com ênfase a discriminação racial.
Vale a pena ver.

quarta-feira, julho 07, 2010

A estranha escolha de Ana Maria



http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2008/10/112_3135-mulher%20de%20branco.jpg



Eu a conheci no restaurante Natural, usava roupas extravagantes, jaquetas incrementadas, veludo no calor. Era bonita, elegante, e falava pouco- ou nada.
Diziam que viveu fora, que foi famosa, era musicista-cantora-compositora e foi casada com Marcos Valle- soube hoje que teve filhos. lembro que nós a conhecíamos por outro nome, Oriana.

Mais tarde passou a andar de biquíni rosa e sombrinha da mesma cor. Andarilha, percorria Ipanema inteira. Eu a via, então, nos dias frios na calçada à beira mar.

Sempre me comoveu.

Passou a andar de branco.

Um dia no restaurante árabe da Tekla, na rua Vinícius de Moraes, ela estava com um senhor- o pai- um radialista famoso (eu não o conhecia, não sei nada de rádio) e conversamos- ela falava pouco, mas sorria gentil e me pareceu lúcida. O pai era muito amoroso com ela.

Estranha escolha de Oriana- Ana Maria. O que teria a levado a se fechar para os outros, mesmo circulando entre tantos?
Eu entendo a mulher de branco de Ipanema. O meu fantasma vaga por lá. O que teria eu deixado ali, que me faz compreender a outra que é presa à paisagem que ama? É como se ela precisava percorrer todos os lugares para garantir sua sobrevivência. Algumas vezes eu me vejo no mesmo caminho, na orla de Ipanema. Deixei no Rio o sonho de amor. Teria ela também se abandonado por amor? É o que dizem, não sei...

Diáfana e sonhadora segue Ana Maria. Vive a percorrer as ruas de seu sonho.
Que sonhos invadem a figura quixotesca de Ana Maria?




Daqui a foto.

Publicado aqui em julho de 2010.

terça-feira, julho 06, 2010

"Espero alegre a saída e espero nunca voltar."

Google homenageia Frida




Deus meu! Por que algumas pessoas sofrem tanto? Ela foi uma das mulheres mais sofridas e interessantes de todos os tempos. Frida Kahlo, nasceu num dia 6 de julho. E produzia coisas lindas.

 

Última página do diário de Frida Kahlo (1907-1954):
"Espero alegre a saída e espero nunca voltar."

segunda-feira, julho 05, 2010

Le petit soldat



Delícia!

Um dia de vento e filmes

Vejam quem está ai na foto também: Jack Nicholson


Vi dois filmes ontem, ou três? nem sei.
Um de Wim Wenders, "Movimento em Falso"- adorei. Não é para qualquer um assistir- é lento, denso, muita fala. O filme dele que mais gostei- que tem mais a ver comigo.
O outro de Elia Kazan, "O último magnata"- maravilha! Com Robert de Niro jovem, já excelente ator. Jeanne Moreau aparece pouco- ou eu perdi- perdi o comecinho.
Ah! lembrei do 3º, no canal francês, para distrair, mas bom, o nome? Tinha a ver com o desejo de cantar, em francês, vou ver depois. Foi interessante misturou canto lírico com espionagem, crime, um filme muito louco e interessante.

Vou comentar depois. Agora vou vero o almoço.

Encontrei Livia Garcia-Roza no Twitter, legal, me reconheceu- fomos da mesma sociedade de psicanálise. O belo Garcia-Roza foi meu professor na PUC, anos 70, ela também foi muito linda. Outro dia Enaide Bezerra me achou lá. Esta eu conheço melhor, adorava as aulas dela- apaixonada pela psicanálise- me orientou no trabalho final, na última vez que estive no Rio eu a vi.

Dispensei a empregada, que era ótima na faxina, mas me enlouquecia também- fala o dia todo- comigo, com os gatos, com o vento, com a panela- tem um distúrbio qualquer. Vive rindo e falando- quase hebefrênica- para quem entende de psiquiatria.
E eu quase esquizo- dupla que não combina.
Amo o silêncio.

Há um ano a gatinha sumiu, lembram? Tanto sofrimento- tanta agressão, eu sofri. Gente ruim esta aqui- deusmeu! Não generalizo, please.

Alguém fez um comentário longo no Oriente-se. Leiam aqui. Preciso escrever mais lá. Vou responder esta mãe aflita- acho que todas ficamos assustadas com estas situações. ai ai

PS: Não revisei não dá tempo- vou pra cozinha agora. Fui.
Sonhei que dirigia e, de repente, não conseguia abrir meus olhos. Meu filho, Dan, estava junto e pegou o volante- estava ao lado. Eu disse: Estacione aqui, filho.
Que sensação horrível.
Entendi direitinho o sonho, mas é teor de foro íntimo. Também teno tido muito sono à noitinha, durmo cedo- os olhos pesam- esta sensação de olhos pesados.
O vento, ai o vento, irrita olhos, mucosas, me dá dor de cabeça. Enlouquece.

sábado, julho 03, 2010

O meu oásis



O 'meu amor' me dizia que eu era o seu oásis, não uma ilha. 
Carlos 
Drummond disse-ulalá- que eu fui um sangue novo em suas veias-
Me agradeçam, viu? Deve ter vivdo um pouco mais pelo sangue novo :)





Quem levaria para uma ilha deserta? 
Difícil responder.
O livro que eu levaria seria "Fragmentos de um discurso amoroso".
Aliás, levaria também os livros de Raduan Nassar, não cansaria de os ler.
E você?
Taí, eu iria para uma ilha com alguém que fosse forte, prático e amigo.
Quem?  lembrei de Patrício.
Ah! Ele vive numa praia 'deserta' lá no Caribe,
tem, agora, mulher e filhos, mas a gente poderia levar todo mundo.

Imagens daqui.

quinta-feira, julho 01, 2010

"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu"...




Dias diferentes, sem a A. falando o dia todo, revirando a casa- Deusmeu! Conviver com faxina TODOS os dias é enlouquecedor. Até a vassoura da piaçaba me irritava.
Bom, estou na lida doméstica- por enquanto dando conta. A casa é grande, Fora cuidar de gatos e jardim- como tem chovido, fica por conta da natureza.

Ontem tive tanta dor de cabeça que pensei em ir ao médico- mas adio- odeio médicos e sei que é enxaqueca.

Hoje amanheci tristíssima- tenho me desapontado com as pessoas, demais- será que sou eu quem busco? Espero de quem não tem nada para dar- um deles eu se que é isto e eu insisto- mania de achar que os outros mudam- ninguém muda caráter de ninguém.

Onde estão as pessoas em quem posso confiar? Parece que o mundo mudou e eu continuo buscando algo que não existe mais- amigos.

Meus queridos amigos, não falo de vocês, aqui é um oásis- posso falar, há sempre uma palavra amiga, que vem do outro lado do mundo ou daqui da Bahia, do sudeste... estranho que aqui não faço um amigo para dar uma volta, ir à praia... Mudei eu? Estou no lugar errado? A hora é outra?

Não tenho mais vontade de sair- o pior é que não tenho vontade de sair para coisas minhas também. Isto está ficando sério. Não tive análise estes dias- jogos da Copa, feriado aqui na terça- é verdade- dia de São Pedro. Putz!

Eu quero estudar num grupo legal, os grupos são de encontros mensais, os que me interessei- eu tenho ansiedade- não aguento um grupo tão distante- tenho um ritmo para estudo rápido- se for devagar, eu desanimo.
Uma coisa estranha aqui- não respondei e-mails- será que não abrem? Ou é falta de educação? Tem um grupo de psicanálise aqui, mandei uns 3 e-mails- não responderam nunca. Fui lá assistir um seminário- ruinzinho- mas quis voltar, deixei o me e-mail- não veio nada até hoje. Quem me avisa é uma cliente que conhece o grupo- ela me repassa quando chega o folder p ela.

Chega de queixas. Tenham paciência- ando azeda, mas espero mudar.

Quero fazer meditação- o budista me respondeu gentil- é budista. Vou responder agora para não deixar para amanhã- deu dicas de meditação e me convidou para o grupo- vou fazer força para ir. Não é o do Nitiren Daishonin, é outro, acho que Tibetano. Espero.
Fico ensaiando, flertando como budismo e nada.

Ontem me pediram uma historinha sobre algo a ver com moda para uma revista- enviei este conto, não era o que queriam- não fiquei chateada- mas não me deu mais vontade de fazer outra coisa- um depoimento sobre uma peça de roupa- até porque não quero me expor mais ainda. Inventaria um fetiche, claro- eu não tenho nenhum, sou tão normal...

Será que meus clientes me descobriram aqui? Espero que não. Não quero que algumas pessoas me leiam- por isso evito muitas vezes postar. Tenho desafetos por ai.
O blog não é mais o mesmo. O início era tão bom... Perdi a vontade de circular pelos blogs também, só vou nos mais chegados e em quem diz algo aqui.

O Twitter? Está ficando chato também- política demais, muito interesse em se vender ali. Mas tem muita gente legal também.

"A barra do amor é qu eele é meio ermo, a barra da morte é que ela não temmeio termo."

De saltos altos- revisto



De saltos altos




Ela passa uma, duas, três vezes na calçada em frente. Quem vê pensa que é louca. Pisa firme com os saltos altos. O toc toc a denuncia. Traz algo nas mãos, de longe parece um terço, mas não é, conheço bem aquele cordão, ganhou de um amigo, ela não o larga, diz que dá sorte. Olha alternadamente para a casa e para o fim da rua. Pensa que ainda não cheguei. Faz quase uma hora que está ali, andando de um lado para o outro impaciente. Conheço esta inquietude, ela pensa me pegar de surpresa, está com o discurso pronto, adivinho o que diria se abrisse a porta ou me vislumbrasse atrás da cortina:

-Seu cretino, como foi sair com ela? Eu pedi tanto que se afastasse daquela vagabunda!

Logo a raiva se dissiparia, nunca brigamos, basta fixar bem os olhos nos olhos dela e sorrir. Ela desmonta, vem correndo para meus braços, chora, me faz jurar que nunca mais a farei sofrer. Não digo nada, não posso lhe dizer que também amo a outra.

Vejo suas belas pernas cobertas por meias pretas, os saltos altos. “Só uso meias pretas”- gosta de dizer.


Sei que se abrir a porta, beijarei aquele rosto até que ela sorria: “Você é um bandido, te odeio”. Dirá sorrindo entre um suspiro e outro, minhas mãos rudes deslizando nas coxas lisas, rasgando a seda pura, lanhando a pele alva. “Vai me pagar”, diz. Ela estará exausta de tanto esperar, serei eu o condutor. Não pedirá nada, se entregará como sempre, como se fosse a última vez.

Ela sabe que pode estar certa.