sábado, maio 10, 2008

A nostalgia da carioca



Demorei a entender a placa acima. A casa verde é uma clínica de olhos. Eu e Tom Jobim moramos na quadra anterior. Ali na esquina tem um bar fuleiro, onde Chico Buarque se reunia com o Aquiles, o Magro(do MPB4), para jogarem futebol.
Bons tempos aqueles. A gente os via ali, era natural, ninguém os chateava.
O dono deste bar matou o irmão do Pepê, lembram? História trágica, o irmão morreu assassinado ali, e o Pepê num acidente. A mãe perdeu dois filhos. Eu a conheci, era inteirinha, fazia ginástica na praia com o pessoal da terceira idade. O marido dela se chamava Danton, com meu filho. Um dia eu gritei na rua: "Páre Danton, cuidado com a esquina". Ele se voltou e disse que também era Danton. Ficaram amigos. Era avô de um menino amigo de Luc na Escola, nos encontrávamos na saída do colégio, quando eu tinha tempo para ir buscá-los. Ufa! minha vida era dura naquela época, muito dura.





Hoje amanheci com Insensatez na cabeça porque o Betão me mandou umemail falando do concurso de contos sobre Bossa nova. Só consigo pensar no Tom e num romance com ele.
Que coisa! Acho que vou tentar escrever algo, mas estou vendo que vai ser xaropada, com Tom, só muito amor e dengo. Assim que eu me vejo com ele. hihihi Pirei, podem dizer hohoho
Bom, ai fui consultar minha memória virtual- o Google- e achei este post. Quem quiser ler... alguns já leram, a vocês minhas desculpas pelo excesso de narcisismo.
Ufa! não estou me suportando estes dias: tristeza + ansiedade = irritação


No final de 90 quando saiu “ Ela é carioca” de Ruy Castro ganhei de uma ex cliente. Ali estão todos os personagens da cultura carioca da década de sessenta.
Carlos Scliar, Juarez Machado, Rudolf Hermanny ( meu professor de ginástica durante dez anos, homem sensível e charmoso), Mario Carneiro ( vizinho), Drummond, João Bosco, Franco Terranova(marchand,vizinho), César Thedin (arquiteto, ex marido de Tonia Carrero, amigo de Jean). Talvez pouco tenham em comum, estão lá no livro. Eu os conheci, alguns mais, outros menos, há um mundo de gente que conheci de vista, de esbarrar na praia, nos bares ou na ruas. Como Carlinhos Lira e a Kate, Scarlet Moon, Eduardo Mascarenhas (tínhamos consultório no mesmo prédio, o Top Center, na praia ele andava de sunguinha, como Gabeira, chocava os psi ortodoxos todos, namorava Cristiane Torlone, ex cliente), Leila Diniz, Tom Jobim, (freqüentava o bar Bofetada aos sábados, tomava chope com meu ex. Na última vez que o vi andava sozinho com certa dificuldade, estava de chapéu, entrou no restaurante Satiricon), Jabor (comia no Restaurante Natural, onde eu ia todos os dias em 70). Stepan Nercessian era meu amigo, freqüentava minha casa, dormia a sesta lá.
O livro me entristece, me dá uma nostalgia enorme, uma sensação de que cheguei tarde a festa.
Ruy Castro diz que a “república de Ipanema” acabou em 1970, exatamente o ano em que cheguei a Ipa, a minha percepção é esta. Mas e daí? E daí é que eu sinto isto em relação a vida e fica difícil então dizer : “e daí?”
Sabem aquela sensação de não estar incluída? De uma certa exclusão, não total, mas assim, assim, “so so”.
Eu não casei como todas as moças da minha geração, vivia a liberdade de uma mulher solteira numa cidade maravilhosa, mas ao mesmo tempo não estava na minha "tchurma", convivia com gente mais careta, a minha turma teria sido esta dos intelectuais, mas eu vivia entre psicólogos/as, ex alunas da PUC, moças comportadas, que viviam com as famílias. Eu morava só, vivia apaixonada, em êxtase ou na fossa, como a personagem do Jaguar, outro ipanemense.
Esta minha escolha pela paixão me fez perder muito. Ah! sim ganhei muito também, grandes amores, mas eu deixei de viver o dia a dia como aprendi a viver hoje, vivia a espera do amado. O trabalho me ajudou a não enlouquecer, sempre ajuda, podem crer, houve momentos e grande depressão, tristeza profunda e o trabalho me resgatou.
Não sei se por amor , covardia ou preguiça, mas deixei a vida passar sem planejar nada, uma coisa bem carioca talvez. Teria sido diferente se tivesse pelo menos pensado um pouco mais no futuro, mas não.
Agora é tentar resgatar o que for possível e viver intensamente porque já não há mais tanto tempo e a sensação de exclusão fica cada dia maior. Será que vou acabar num mosteiro? Não sei... quem sabe.




Site do Tom , cheio de músicas deliciosas.

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