sexta-feira, janeiro 25, 2013

De "Amour" e morte







Vi, em casa, sozinha, o filme “Amour”. Estava ansiosa para ver, todos diziam que eu iria gostar. Claro, gostei, mas confesso que não consigo saber se é um bom filme. Por que? Porque mexeu demais comigo.
O filme é com Jean-Louis Trintignant, um dos meus atores preferidos. Um homem com quem saia do cinema a sonhar. Belo, bom ator, o tímido que me atrai. Na vida pessoal sofreu a morte trágica da filha assassinada pelo marido- terrível. 
Pois é, o filme é com um velho que nada lembra o Trintingnant da minha juventude- nossa juventude- ele é mais velho, óbvio, pero... Passei o tempo todo entristecida pela velhice de Trintingnan- tentando ver naquele rosto crispado algum traço de beleza- nada- apenas os lábios me lembraram os dele. 
Eu me vi no filme, nos dois personagens, na mulher vaidosa, que não se aceita com limitações, no homem velho, perdido diante da dor. Deus meu! Lembrei de um amigo que morreu e que lutou bravamente contra o câncer, um homem que eu desejei cuidar até o fim, mas a vida não me permitiu.
Não é possível saber se o filme é bom, diante de tanta emoção.

Talvez tenha visto Jean- Louis a primeira vez em “E Deus criou a mulher” o famoso filme com BB. O penúltimo deve ter sido “Um homem, uma mulher- 20 anos depois”. Vi muitos filmes com ele.

“Amour” traz a estória é de um casal que vive uma vida pacata e rica- os dois são professores de música. Vivem sós, têm uma filha, (Isabelle Huppert), que os visita eventualmente, também musicista. Quebrando a tranquilidade aparece a doença na personagem de EmmanueleRiva. Fui ver sua filmografia e vi que participou de  Hiroshima Meu Amor e muitos outros filmes, como “A liberdade é azul”, muitos filmes excelentes.

O filme é lento, repetitivo, como a vida de velhos que perderam o sentido da vida.  Um ex aluno vem visitá-los e lamenta. Os vizinhos se dizem disponíveis, se precisarem, não precisam de ninguém. A filha nega o que acontece com conversas triviais, e mais tarde, explode pela impotência diante da morte, ou pela morte em vida.
Um filme sobre a morte, pensamos, por que o título ‘Amour’? Mas é um filme de amor, aquele homem velho, como o jovem personagem de “Um homem, uma mulher” ama aquela mulher que definha, que não quer viver, nem ser vista. Ele realiza os desejos dela. O fim é trágico- tinha que ser.


Alguns dias depois zapeando na TV, achei um filme: “A caixa de pandora”, de um diretor turco. Na produção, além da Turquia, havia França, Alemanha e Bélgica. Prometia. Logo nas primeiras cenas senti que era bom- em cinco minutos eu sei se o filme é bem feito ou não- olho treinado.
A estória começa com uma manhã insólita para os três filhos de uma velha senhora- recebem a notícia de que ela sumiu. ­­A trajetória dos três num carro até a aldeia é longa e conflitiva- discutem, se chocam. Têm dificuldades com a mãe, que foi diagnosticada com Alzheimer e está sem memória. Lembra do passado apenas.
Adorei o filme, não tem nada extraordinário, traz uma estorinha conhecida: o que fazer com o pai ou mãe quando tornam-se dependentes. Quem vai ficar com a mãe? Seria melhor um asilo? 
O que toca é a sensibilidade do diretor- escritor, não sei, que fez da personagem principal uma mulher intrigante apesar da doença. Ela descobre uma brecha naquele turbilhão provocado por ela, involuntariamente, e desperta no neto compaixão- ele também estava deslocado naquela família.
Há um momento em que ela diz ao neto: “Me leve para minha propriedade, antes que eu me esqueça como é.”.
O final do filme fica no ar numa bela cena dela com o jovem neto transgressor.
O filme traz a Turquia em vales belíssimos.
Um filme imperdível.


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