domingo, março 15, 2009
Viva o Juarez!
Juarez Machado.
Meu encontro com Juarez
Eu morava em Curitiba, estudava no Colégio São José na Praça Rui Barbosa. Juarez Machado fazia muito sucesso, saia nos jornais, era um jovem de Joinvile, que estudava artes plásticas. Na TV Iguaçu fazia um quadro de humor com Ari Fontoura. Era hilário. Ari Fontoura fazia um deputado politicamente incorreto e Juarez um play boy de cabelos compridos- coisa rara na época, ele tinha um cabelo louro muito lisinho, olhos azuis, azuis.
Uma amiga de ginásio se apaixonou pelo play boy e quis conhecê-lo.
Eu o via passar pela praça na hora que saía da escola, um dia corri e disse que gostaríamos de ver os seus desenhos. Combinamos o dia e lá fomos nós, umas quatro meninas `a pensão onde ele morava na rua 24 de maio.
Quando minha amiga viu Juarez de perto se desencantou e eu me apaixonei.
Sabe aquelas paixonites de menina moça que não quer nem lavar as mãos depois que cumprimenta o amado? Pois eu era assim. Caminhava com ele até a pensão e seguia o meu caminho em êxtase. Lembro do cheiro do cigarro, ele fumava muito.
Ia, com a amiga, visitá-lo no estúdio da TV, onde ele fazia enormes painéis cenográficos, conversávamos sobre literatura, eu toda faceira, lembro, vestido de algodão engomado- aposto, mas absolutamente tímida. Tinha 15 anos.
Aos 16 meu pai resolver mudar-se para Cabo Frio e foi um sofrimento enorme.
Ganhei um desenho na despedida. Um estudo grande em preto e branco, um flautista.
Juarez namorava Gia, sua musa, dedicava todas as esculturas e desenhos para ela. Foi premiado como revelação pelas esculturas. Eu me sentia tão pequenininha, tão pouco mulher para competir com ela que guardei meu amor em segredo. De longe eu lia tudo que saía sobre ele na imprensa, já sabia que ele vivia no Rio, e acompanhava as noticias. Ele se casou com a Gia e teve dois filhos.
Um dia em 70, morando no Rio, recebo de uma loja um convite para a exposição de Jorge de Salles, era apresentado por Juarez Machado. Peguei meu pai e fui até a loja na esquina da Praça Gal. Osório em Ipanema, pertinho de casa, Apresentei-me ao Jorge- ficamos muito amigos depois- e esperei Juarez. Mas nada dele chegar e eu já com pena do meu pai que era avesso a estas festas, o lugar estava lotado- Jorge é a pessoa que mais gregária que eu conheço- resolvi voltar outra hora.
Encontrei Juarez uns dias depois, ele tinha um atelier ali na praça, em cima da OCA, no escritório do Sergio Rodrigues, o arquiteto. Passamos a nos ver ali, eu ficava vendo-o desenhar. Ele fazia uma tira para o Jornal do Brasil, um desenho nonsense, saia todos os sábados, tenho todas as tiras até hoje.
Alguns anos depois, ele mudou-se para a Rua Joana Angélica, num apê que se debruçava sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, era ali que eu o via pintar então. Conversávamos muito pouco- ele era quietão, era, não é mais, nem eu. :)
Um dia eu lhe disse que queria fazer análise, sabia que ele fazia com a Dra. Katarina Kemper, ele contava historinhas.
Ele disse: "Vá fazer com Eduardo, irá se apaixonar na hora". Acertou, foi transferência imediata, E Requião foi um dos homens mais bonitos que eu vi. Na primeira entrevista estava bronzeado, tem lindos olhos azuis, não resisti. Deitei no divã 5 anos, depois ficamos amigos- agora ele é assessor do irmão no Paraná, abandonou a psicanálise.
Durante alguns anos vi menos o Ju, ele casado, eu namorando, estudando, fazendo estágio em hospitais psiquiátricos. O atelier de São Conrado, que era lindo, eu não conheci.
Um parênteses: Tenho quase certeza, não posso afirmar, que a casa da pintora que Sônia Braga fez numa novela era o antigo espaço do Ju.
Nesta época nos encontrávamos na rua, em Ipa. Na última vez que o vi ele disse:
- Quando irá me visitar em Paris?
- Um dia irei, respondi.
Fui no ano passado, foi super divertido, ele estava com a corda toda, sarcástico, como sempre, foi uma tarde inesquecível para mim e minha amiga.
O atelier é uma beleza, um espaço incrível, de três andares em Montmartre.
Já contei sobre este encontro em outro post quando cheguei.
Conheci o filho dele, só havia visto menino, é um belo rapaz, faz cinema, mora em NY.
É filho de Eliane C. de quem Ju se separou há alguns anos depois de um longo casamento.
Eu voltei dia 13 de outubro, logo depois ele fez uma exposição na rue de Senne, eu passei na galeria, vi os quadros no chão- coloquei fotos aqui.
Pois é, Juarez faz anos hoje, que tenha vida longa. É uma das poucas pessoas que conheço que sabe viver. Soube ganhar dinheiro fazendo o que gosta, vive nos lugares que ama, parece um homem feliz, o ser angustiado dos desenhos de 1970 deve existir apenas no seu imaginário.
Que os deuses o protejam. Amém!
Do arquivo do blogspot de 2005:
A Leila, do cadernosdabélgica, convidou-me para responder um questionário literário.
Começa com a pergunta “Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?”
Para quem não sabe- tenho leitores muito jovens - “Fahrenheit 451” é um filme dirigido por François Truffaut e com Julie Christie no elenco. É um filme/livro* de ficção em que todos os livros devem ser queimados, porque propagariam a infelicidade. Há uma perseguição feroz aos livros, até que um bombeiro começa a questionar o porquê da destruição dos livros.
É um filme de ficção muito interessante e assustador.
O título Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura que os livros são queimados.
Fiquei pensando e achei estranho escolher um livro, melhor seria um personagem, aí me lembrei do meu querido Juarez Machado.
Juarez tem um livro que saiu na década de 70, inicio, onde um personagem tenta de todas as maneiras sair do quadrado que o contém, o emoldura. Juarez com a criatividade fantástica que tem, faz a cada página um desenho onde o homenzinho se vira de todas as formas para iludir o enquadramento. Dá para imaginar que no fim ele sai, consegue sair, mas que ilusão... continua preso. É a vida. Nós criamos nossa prisão.
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5 comentários:
Que deliciosa narrativa de vida vivida, intensa e real, me meti no meio de vocês e senti todo carinho e admiração de ambos, pelo que fazem e pelos amigos, adorei!
lindo dia flor querida
beijos
Que maravilha de post.
Abraços
perfeito.
Tenha uma feliz semana.
Maurizio
Obrigada queridos, estive sem tempo hj, amanhã os visito, bj Laura
Olá querida!
Pra mim, Fahrenheit 451 é acima de tudo o romance de ficção cientifica de Ray Bradbury, no qual o filme se baseou.
Se eu pudesse ser um livro, seria Rayuela, de Julio Cortazar, por mostrar que não existe uma verdade absoluta - tudo depende de quem ver. Ou ler. E assim é a vida... Um livro fundamental, importante na minha formação.
Você leu?
Beijo
PS - Quero te ligar ao tel. pra conversar alguma coisa. Posso?
O tel. ainda é o mesmo?
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