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16 de março de 2009
Calou-se
Um zumbido a acordou. Olhou a janela, a noite se despedia, o céu se rasgava em tons róseos.
Procurou um inseto. Nada. Olhou sob a cama, quem sabe uma abelha perdida... Nada. O ruído a intrigou, seria uma alucinação?
Foi até o banheiro, o som diminuiu. Investigou cada canto. Nada. A luz acesa a incomodava.
Pegou o travesseiro e saiu arrastando o lençol em busca de outro quarto.
A manhã corria frouxa quando despertou. Fazia calor. Encolheu-se, "não quero viver o dia de hoje", pensou.
Como fugir? Os filhos chegariam para almoçar, os gatos miavam na porta, pediam a liberdade na grama.
Temia este dia desde o ano passado. A voz dele não mais existe. Como viver sem aquele tom suave e amoroso?
Precisava exorcizar a dor. Tentou nadar, não conseguiu. Inspirou fundo, a respiração veio entrecortada. Encheu a banheira-luxo para dias especiais - a tensão não a deixou.
Pintou o cabelo, tirou as cutículas, as sobrancelhas, passou creme no rosto, no corpo.
O olhar no espelho era distante, desconhecido.
Não chorou, apenas um breve gemido surdo. Emudeceu.
Não havia o que dizer hoje, precisava soltar a fala que sabe de cor depois de tantos anos:
"Feliz aniversário, meu amor".
2 comentários:
Coisa mais linda, Laura. Simplesmente amo seus mini contos sem revisão. E, há muito tempo não os lia. Este me emocionou bastante. Continue nos encantando com as suas palavras, com o seu tom.
Beijos, alegrias e poesias,
Daniel Rubens Prado.
Daniel, que bom que vc gosta do que eu escrevo, então venha mais, ficarei mais animada p escrever.
Fui ver seu blog e está bloquedo p esranhos.
Um abraço, Laura
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