Foto Nils Udo*
O senhor dos meus dias
Antes de deitar me olhei no espelho com o vestido que iria usar. Pensei que poderia estar melhor. Agora era tarde.
A noite foi longa, de mormaço, tudo parado, menos o meu coração acelerado que não me deixou dormir.
A imagem dele me perseguia, quase delirava, via o sorriso dele, sentia sua boca tocando a minha.
Estava exausta ao amanhecer. No espelho, as olheiras profundas, os traços marcados da noite insone, não havia como apagar.
E se ele não me desejar mais? Guarda minha imagem do último encontro.
A dor do abandono- tanta espera- vincou meu rosto. Nada apagará.
No saguão do hotel, escolhi a poltrona do canto, meio escondida. Não li a revista que tinha no colo.
Ele disse:
- Às três horas, está bom para você?
Olhei o relógio ‘três horas’, vi a imagem do homem que se dirigia à porta buscando por mim. Desejei levantar, correr, mas o aguardei sentada.
Ele está mais magro, cabelos mais brancos, um senhor.
Pensei no quanto amo o senhor dos meus dias. Aquele que me faz desejar estar viva.
*Foto Nils Udo.
PS: O que esta foto tem a ver com o conto? sei lá... Escolhi ao acaso, depois pensei que ele- o senhor- é uma imagem bonita e vaga como esta. Quase uma miragem.
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