sábado, março 05, 2005

Drummond e eu II





Drummond e eu II


Drummond me constrangia no telefone, fazia perguntas íntimas cabeludas, eu não queria responder, ele retrucava: “mas você não é psicanalista?”
Para não entrar em detalhes, conto uma historinha que ilustra bem isto.
Eu o encontrei com a filha na Rua Farme de Amoedo, em frente à loja Forma que vende, móveis importados.
Após as apresentações, ele disse:” Minha filha a Elianne é psicanalista, Elianne me diga o que significa comprar cadeira?” Eu respondo: “Deixe de brincar, Drummond...” Ele, rapidamente emenda:“Comprar cadeira para ficar ereto”.
Era danado mesmo. Uma outra vez me telefona e diz que fez uma crônica para mim, que a personagem da crônica mora numa cobertura, aí diz: “Você sabe o que é cobertura, Elianne? É o que os machos fazem com as fêmeas no cio”.
Assim era o Carlos Drummond que eu conheci com mais de 80 anos, imaginem antes como não seria? Quando comecei a escrever sobre ele aqui hoje, escrevi que nos cruzávamos pelas ruas, fiz de propósito lembrando dele.
Ele me confessou que sentia desejo por mim, apenas o corpo não respondia mais, e disse uma coisa que me faz muito feliz, afinal ele tinha mais de 80 anos: “Você foi um sangue novo em minhas veias”.
Drummond é mais um dos meus casos impossíveis, a diferença de idade era muito grande e eu não o via como objeto de amor. A vida me deu vários casos impossíveis, o maior talvez o Jean Guillaume, mas é outra história, outro caso. Devo ter sido uma amante terrível na outra encarnação, vim pagar os pecados, desejando e sendo desejada por homens impossíveis. Grandes e complicados amores. O pior é que não acredito em reencarnação...

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