O homem menos estranho
Pega o primeiro ônibus que chega ao ponto, o vento corta seus lábios. Há dias não vê a rua, não quer.
O ônibus está abafado, mas gosta daquele cheiro de gente. Havia lugares vazios nos últimos bancos, escolhe o que tem o homem menos estranho e senta, perna encostada na perna do homem, nem viu a cara, não importa.
A perna revestida de seda dá sensação de segunda pele, desliza, sente prazer em roçar disfarçadamente no estranho. Fecha os olhos, inspira o ar misto de cheiros. Final do dia, cada cheiro uma história, de olhos fechados adivinha que o homem ao lado tem mulher e filhos à espera.
Faz isto sempre, pega um ônibus qualquer, escolhe os dias cinzentos, aqueles que, intui, não suportará ficar tão só. Estar colada ao homem a esquenta, ele não se afasta, mas pressiona mais a coxa. Coxa contra coxa.
Finge não sentir a mão que sobe pela sua perna, deixa que o homem a toque, se arrepia, não consegue se mexer. É preciso dizer não, abre os olhos. Ele se aproxima, barba áspera, hálito acre, quente. Agarra seus ombros e a beija violentamente, morde, machuca, Ela não sente prazer, nem medo, apenas vida.
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