Os meus dias de isolamento.
Quantas vezes repetimos: "Parem o trem, quero descer"?
E tudo parou. Um inimigo invisível nos obriga ao confinamento.
A morte ronda. Quantos de nós morreremos? O incerteza aflige, dói. O luto antecipado, entristece. Mas há que ser forte, manter a esperança num amanhã desconhecido.
Famílias inteiras num apartamento, sem privacidade, outros num cômodo sem conforto algum, casais que não se suportam no mesmo teto, dia após dia. O medo da morte, do desemprego, da fome.
O mundo precisava parar. Parou tarde. Parou no tranco. Ninguém avisou que iam puxar o freio.
A especulação financeira, o lucro desenfreado, o capitalismo voraz será substituído por algo menos desigual e injusto. É preciso repensar valores. É o que esperamos- temos esperança- talvez o que nos faça não enfraquecermos neste momento surreal.
A vida de alguns mudou drasticamente. Assustou muito, outros negaram e fingiram não haver risco nenhum nas ruas, nos encontros.
A obrigação de manter-se em casa pode ser um bom momento para reflexão.
Estou em casa desde dia 16 de março, um dia especial para mim, por razões amorosas. Não esquecerei.
O consultório fechado. Alguns clientes atendidos online, outros não querem, sentem-se desprotegidos fora do setting analítico. Como manter o um a um de longe, alguém pode ouvir atrás da porta? Fantasmas outros trazem insegurança.
A minha rotina diária mudou pouco e me adaptei rapidamente. Estranho, não é? Apenas não vou mais ao consultório, à academia, às compras... Gosto de estar em casa, sempre gostei. Há tantas coisas a fazer! Desde molhar jardim, arrumar estantes, costurar aquela almofada que espera descosturada.
Tenho o privilégio de morar numa casa confortável. O calor é o que mais incomoda. Estamos com temperaturas altas, não tenho ar refrigerado, a garganta estranha o vento constante do ventilador. Mas, sim, houve mudanças no funcionamento da casa. Como estou em casa e gosto de fazer mais do que atende, ler e ver filmes, minha presença se faz constante pela manhã e à noite. A família, e, especialmente, a funcionária que cuida de minha mãe, passou a ficar incomodada, muito. Ela foi contratada para cuidar de minha mãe, mas como é obsessiva- o que é ótimo- e controladora, quer tomar conta de tudo. Me too. Reconheço.
Ela é excelente profissional, gosta muito de todos nós, mas comigo é uma relação de amoródio. Fica magoada facilmente, não posso dizer nada. aí se fecha e transmite uma energia pesada para mim, especialmente. Deixo muitas coisas para lá, claro. Controlo as compras- é preciso não desperdiçar. A renda diminuiu. O filho faz pizza em casa. Está construindo um forno a lenha na varanda que estamos fazendo na frente da casa. Era um jardim gramado, mas que ninguém usava. Eu gostava, claro, mas a varanda será mais útil. Já está sendo- me exercito lá de noite, de dia impossível porque bate sol. Estamos fazendo outras reformas aqui. O básico, quebrar paredes e tal, um pedreiro profissional fez, agora Danton e Bambam, que é seu cunhado que mora conosco, fazem. Dan é arquiteto, entende de obras, acompanhou várias e o Bambam já ajudou o pai, que vive no Amazonas, a construir a casa.
Ah! A reforma começou porque serei avó pela primeira vez! Joyce e Danton esperam um filho. Nome? Raduan. Juro que não fui eu quem escolhi! Ela sonhou com este nome, deve ter ouvidos uma dezena de vezes aqui e ficou no inconsciente, nem sabia quem era.
Imagino se aqui há conflitos, numa casa em que tentamos ao máximo sermos harmoniosos, como será em outras casas?
Imagino aqueles que perderam suas rendas, o desespero, o medo, a insegurança!
Urge olharmos para todos, estamos num mesmo navio, alguns num porão imundo, outros em suítes, mas todos assustados e incertos sobre quem se salvará.
Se cuidem, cuidem dos que estão ao redor.
E tudo parou. Um inimigo invisível nos obriga ao confinamento.
A morte ronda. Quantos de nós morreremos? O incerteza aflige, dói. O luto antecipado, entristece. Mas há que ser forte, manter a esperança num amanhã desconhecido.
Famílias inteiras num apartamento, sem privacidade, outros num cômodo sem conforto algum, casais que não se suportam no mesmo teto, dia após dia. O medo da morte, do desemprego, da fome.
O mundo precisava parar. Parou tarde. Parou no tranco. Ninguém avisou que iam puxar o freio.
A especulação financeira, o lucro desenfreado, o capitalismo voraz será substituído por algo menos desigual e injusto. É preciso repensar valores. É o que esperamos- temos esperança- talvez o que nos faça não enfraquecermos neste momento surreal.
A vida de alguns mudou drasticamente. Assustou muito, outros negaram e fingiram não haver risco nenhum nas ruas, nos encontros.
A obrigação de manter-se em casa pode ser um bom momento para reflexão.
Estou em casa desde dia 16 de março, um dia especial para mim, por razões amorosas. Não esquecerei.
O consultório fechado. Alguns clientes atendidos online, outros não querem, sentem-se desprotegidos fora do setting analítico. Como manter o um a um de longe, alguém pode ouvir atrás da porta? Fantasmas outros trazem insegurança.
A minha rotina diária mudou pouco e me adaptei rapidamente. Estranho, não é? Apenas não vou mais ao consultório, à academia, às compras... Gosto de estar em casa, sempre gostei. Há tantas coisas a fazer! Desde molhar jardim, arrumar estantes, costurar aquela almofada que espera descosturada.
Tenho o privilégio de morar numa casa confortável. O calor é o que mais incomoda. Estamos com temperaturas altas, não tenho ar refrigerado, a garganta estranha o vento constante do ventilador. Mas, sim, houve mudanças no funcionamento da casa. Como estou em casa e gosto de fazer mais do que atende, ler e ver filmes, minha presença se faz constante pela manhã e à noite. A família, e, especialmente, a funcionária que cuida de minha mãe, passou a ficar incomodada, muito. Ela foi contratada para cuidar de minha mãe, mas como é obsessiva- o que é ótimo- e controladora, quer tomar conta de tudo. Me too. Reconheço.
Ela é excelente profissional, gosta muito de todos nós, mas comigo é uma relação de amoródio. Fica magoada facilmente, não posso dizer nada. aí se fecha e transmite uma energia pesada para mim, especialmente. Deixo muitas coisas para lá, claro. Controlo as compras- é preciso não desperdiçar. A renda diminuiu. O filho faz pizza em casa. Está construindo um forno a lenha na varanda que estamos fazendo na frente da casa. Era um jardim gramado, mas que ninguém usava. Eu gostava, claro, mas a varanda será mais útil. Já está sendo- me exercito lá de noite, de dia impossível porque bate sol. Estamos fazendo outras reformas aqui. O básico, quebrar paredes e tal, um pedreiro profissional fez, agora Danton e Bambam, que é seu cunhado que mora conosco, fazem. Dan é arquiteto, entende de obras, acompanhou várias e o Bambam já ajudou o pai, que vive no Amazonas, a construir a casa.
Ah! A reforma começou porque serei avó pela primeira vez! Joyce e Danton esperam um filho. Nome? Raduan. Juro que não fui eu quem escolhi! Ela sonhou com este nome, deve ter ouvidos uma dezena de vezes aqui e ficou no inconsciente, nem sabia quem era.
Imagino se aqui há conflitos, numa casa em que tentamos ao máximo sermos harmoniosos, como será em outras casas?
Imagino aqueles que perderam suas rendas, o desespero, o medo, a insegurança!
Urge olharmos para todos, estamos num mesmo navio, alguns num porão imundo, outros em suítes, mas todos assustados e incertos sobre quem se salvará.
Se cuidem, cuidem dos que estão ao redor.
*Sobre a funcionária ter ficado, foi escolha dela porque mora longe, em Touros.
Um comentário:
Parabéns pela sua garra nesta odisseia que nos pegou de assalto, Lian. Com certeza vai atravessar este tempo desafiador com sabedoria e novos aprendizados. Bjs
Postar um comentário