quarta-feira, abril 09, 2014

Nem tudo é mentira em "Psi"- Contardo Calligaris









Conheço Contardo Calligaris há dez anos. Sou, como ele diz, uma incansável correspondente. Ai vai uma ponta de ironia- acostumei com este lado dele. É sempre surpreendente. Respondeu estas questões a meu pedido.


1- Sabemos de sua paixão por cinema, da sua importância para sua formação, ao ler seu segundo romance “A mulher de branco e vermelho” visualizei cenas.
O desejo está sempre em outro lugar, costuma dizer, hoje escritor, sonha com filmes? O seriado seria um caminho para um longa-metragem?

Na verdade, foi o seriado que se meteu, enquanto eu estava pensando (um pouco mais do que isso) num longa que adaptaria "O Conto do Amor". Hoje, não sei mais. Tem uma rapidez da escrita e da realização televisivas que me seduz e me diverte. Além disso, como diz a propaganda, HBO não é televisão (ou seja, é quase cinema).


2- Os dois primeiros episódios trazem um personagem generoso sem sentimentalismo, como você gosta de se mostrar. A amiga Valentina vai mais longe na generosidade. Ela seria um alter ego de Antonini? Seu ideal do ego?

É uma sugestão interessante: ter uma mulher como ideal do ego (antes de confirmar, teria que pensar nas consequências para minha vida sexual…).


3- Você tem simpatia por pessoas que vivem fora dos padrões de normalidade, nestes episódios traz novamente- a conheci num artigo, depois em sua peça teatral- a moça que engole fogo, o que o fascina nesta personagem, você, Contardo, não o Carlo?

Na verdade, acho que tenho mais antipatia pela normalidade do que simpatia pelos que vivem fora dos padrões. O que me fascina na Isa é a liberdade da rua e a coragem de dançar na esquina. Há, nela, como havia na malabarista que conheci, uma beleza de felino selvagem. 


4- No seriado você apresenta situações inusitadas, que alguns estranharam. Vi como algo que poderia acontecer caso escolhêssemos caminhos diversos, menos preconceituosos, se aceitássemos as diferenças com naturalidade, sem receios. Sua intenção foi esta?

Não há nada ou quase nada no seriado que não seja um fragmento de realidade cotidiana (clínica ou não). Quase sempre, tivemos que reduzir a estranheza (não aumentá-la), porque o que é verdadeiro, às vezes, não parece verossímil (Aristóteles já notou isso). O inusitado é, como se diz, relativo: eu acho inusitada a maioria dos padrões da trivialidade…Também, você tem razão, para esbarrar numa realidade um pouco fora dos padrões, é preciso ter a coragem de viver de peito aberto. No fundo, a gente vive as experiências que a gente se permite (e que a gente merece) …


5- O coveiro gosta de música erudita, o homem do cemitério da Consolação- em quem ele foi baseado- tem cultura musical?

Não, o interesse pela música de Severino foi inventado, mas os concertos no cemitério acontecem realmente (assim como realmente há carpideiras profissionais). Dos dois coverios que inspiraram a personagem de Severino, um publicou dois ou três romances e o outro é quem organiza as visitas culturais ao cemitério. 


6- Você participou, direta ou indiretamente, da escolha dos atores?

Não houve nenhuma decisão de produção que não passasse por minha aprovação.


7- Conte algo curioso sobre este capítulo, please.


Oops, qual capítulo? O próximo, de domingo que vem, é o episódio 5. O que tem de curioso é que eu mesmo dei uma de Hitchcock e fiz uma figuração nesse episódio. E Alex Gabassi (o diretor de 4, 6, 7 e 8) também fez uma, na mesma circunstância…


Mais sobre o seriadoaqui.

2 comentários:

Fullmoon disse...

Bacana. Você conhece muita gente famosa.

Fullmoon disse...

Bacana. Você conhece muita gente famosa.