sexta-feira, abril 11, 2014

Josué, o jardineiro










Josué, o jardineiro


Ouço uma voz distante me chamar. Levanto os olhos do teclado. O cão late e corre para a porta. Visto uma blusa que me cubra mais. 
Josué está à minha espera na varanda. Observa as plantas. Comentamos sobre o jardim. Baixa galhos da amoreira para que eu cate frutas.
- Qualquer dia, quando estiver cheio de amoras, venho aqui tirar para você.
- Como está seu filho?
- Ele está bem, quer parar o remédio. "Disse que tem força para parar.".
- É melhor ele tomar. Bom que o médico acertou. Deixe que tome.
- É mesmo, ele está normal. Às vezes o testo dizendo umas coisas que ele antes acreditava e ele discorda de mim, diz que estou errado.
- Então. É preferível tomar e ficar bem do que se descontrolar.
- É verdade, ele tinha uns descontroles. Uma vez queria que a família desse queixa da mulher dele sem motivo. No caso, ele que estava errado. Tinha saído de casa.
- Pois é, ainda bem que existem remédios hoje, antes era pior, não havia.
- Engraçado, como é que eles funcionam... Ele no começo se negava a tomar.
- Há pessoas que não aceitam e a família tem que colocar na comida.
- Pois foi o que aconteceu com ele no começo. Dizia que não precisava, minha mulher dava suco para ele com a medicação. Agora ele aceita tomar.
- Como é que o remédio acalma a pessoa?... 
- Eles pesquisam. Hoje já sabem o que é bom para o que. 
- E testam com quem?
- Não sei... ratos.
- Homens... Uma vez trabalhei num SPA. Você sabe o que é SPA? 
- Sei, também trabalhei em um.
- Eles testavam aqueles aparelhos de massagem para tirar barriga em mim.
- E adiantou? (Pergunto olhando seu abdômen- expressão séria).
- Lá tinha todo tipo de atendimento. A esteticista me colocava no aparelho. Não era bom. Dá uns choques fortes. Antes fiz exame do coração para ver se estava bem. Disseram que eu poderia doar meu sangue, porque era muito bom. Sem colesterol, sem nada.
- Que bom.
- Sabe o nome desta praga da grama? 
- Não.
- Tiririca. Hoje coloquei um óleo que acaba com ela num jardim ali em cima. Custa uma fortuna, mais de mil reais um litro. Ele mata a praga, mas não a grama. Sabe o que é mamona? (Ele gosta de me perguntar se conheço plantas).
- Sei.
- Meu pai tinha cavalos e o óleo de mamona é purgativo. Sabia que cavalos dormem em pé?
- Não sabia. É mesmo, nos filmes estão sempre em pé.
- Quando deitam estão com problemas de intestino. A gente corria chamar o pai e ele colocava na goela do bicho o remédio, logo depois... imagine o que saia. 
O sol se pôs e os mosquitos chegavam.
- Quando você puder, tire o mamoeiro macho do quintal.
- Amanhã eu venho, estarei aqui  no condomínio.
- Boa noite, Josué, até amanhã.


Um comentário:

Lia Noronha disse...

Lindo de viver florzinha amiga e madrinha do meu Cotidiano.bjinsss