Flor Moreia
A vida mais calma, nada premente, nada dói.
O vento não
aplacou. Hoje ultrapassa seu limite quase diário- silencia depois do pôr-do-sol.
Passamos horas
procurando peças para o carro no bairro Alecrim. O nome é suave e cheiroso, o
lugar quente e sujo, mas cheio de vida, gente simpática, esperta- como diz minha
mãe. O comércio ferve como o asfalto. Eu e Dan saímos com dor de cabeça e
exaustos. Almoçamos comida japonesa para compensar num bom restaurante.
Deixamos as
peças na oficina. Ao lado o homem que vende plantas, simpático e sedutor.
Retira o boné e recoloca-o, vejo um
cabelo muito loiro- ele é um senhor. Pergunto ao Dan se viu o cabelo, “vi”. O
homem diz que está cansado também, queria tirar férias e ficar curtindo as
meninas de cinco anos. Pergunto: Filhas ou netas? Filhas, responde. Também tem um
bebê. Casou há sete anos. É uma pessoa jovial, percebe-se- o cabelo comprova.
Saímos de lá
com boldo, arruda (sempre morre), tomate, pimenta e flores- não sei os nomes- uma delas é Moreia- o nome da cobra.
Tomei um banho e tentei cochilar, enquanto ouvia Dan no jardim cavando com
enxada. Gosto de vê-lo interessado no
jardim, que está bonito, eu Auxiliadora temos cuidado- felizmente, ela gosta de
plantas, coisa rara.
O pai dos
meninos chega semana que vem, por isso compramos coisas para culinária- é
excelente cozinheiro.
Já temos
bastante manjericão- quando molho sobe um perfume delicioso.
Não fui ao
Pilates, iria compensar faltas- vou amanhã de manhã. A dor de cabeça só agora
passou.
Amanhã também atendo no consultório- prefiro sábado pela manhã do que
sexta à noite- o trânsito é desagradável.
Domingo é
aniversário de Sathia, sobrinha- faz quatro anos, comprei um cofrinho- uma
porquinha rosa linda- e uns bonequinhos pequenos, quero dar um bicicleta de
duas rodas- ela ainda não tem.
A minha mãe queria
que a festa fosse hoje, ficou contrariada: “Mas por que não é hoje?!”. O tempo
e a memória comprometidos e ela diz: “Ainda não estou senil!”- (braba).
Sabe
cozinhar algumas coisas, lava algumas louças, mas não consegue encontrar suas
roupas, guardadas numa gaveta- esquece que estão lá. Ah! Vida...
Ontem fomos à
médica:
- “Não tenho nada!”.
- “É braba
demais, eu digo.”
- “Tenho
sangue espanhol”. Diz, com orgulho.
A médica diz
que também é neta de espanhóis e é mansa.
- “Me
aborreço com o ambiente”, diz mi madre.
Médica
endocrinologista, temos hipotireoidismo, o que altera humor, se não for
tratado. Eu demorei para saber que tinha, melhorei da tensão que sentia pela
manhã- sentia como se um elástico fosse repuxado na cabeça- melhorei muito.
O vento
parou. Há grilos cantando, a lua ilumina. Ontem ficamos sem energia e as
janelas abertas trouxeram a luz da lua, não foi preciso acender velas.
É bom estar
em paz.
O filho
acaba de chegar, vou sair daqui. Se
organizam para festa de Halloween.
Boa noite.
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