sexta-feira, outubro 26, 2012

Vida amena



Flor Moreia


A vida mais calma, nada premente, nada dói.

O vento não aplacou. Hoje ultrapassa seu limite quase diário- silencia depois do pôr-do-sol.
Passamos horas procurando peças para o carro no bairro Alecrim. O nome é suave e cheiroso, o lugar quente e sujo, mas cheio de vida, gente simpática, esperta- como diz minha mãe. O comércio ferve como o asfalto. Eu e Dan saímos com dor de cabeça e exaustos. Almoçamos comida japonesa para compensar num bom restaurante.

Deixamos as peças na oficina. Ao lado o homem que vende plantas, simpático e sedutor. Retira o boné e recoloca-o,  vejo um cabelo muito loiro- ele é um senhor. Pergunto ao Dan se viu o cabelo, “vi”. O homem diz que está cansado também, queria tirar férias e ficar curtindo as meninas de cinco anos. Pergunto: Filhas ou netas? Filhas, responde. Também tem um bebê. Casou há sete anos. É uma pessoa jovial, percebe-se- o cabelo comprova.

Saímos de lá com boldo, arruda (sempre morre), tomate, pimenta e flores- não sei os nomes- uma delas é Moreia- o nome da cobra. 

Tomei um banho e tentei cochilar, enquanto ouvia Dan no jardim cavando com enxada.  Gosto de vê-lo interessado no jardim, que está bonito, eu Auxiliadora temos cuidado- felizmente, ela gosta de plantas, coisa rara.

O pai dos meninos chega semana que vem, por isso compramos coisas para culinária- é excelente cozinheiro.
Já temos bastante manjericão- quando molho sobe um perfume delicioso.

Não fui ao Pilates, iria compensar faltas- vou amanhã de manhã. A dor de cabeça só agora passou. 

Amanhã também atendo no consultório- prefiro sábado pela manhã do que sexta à noite- o trânsito é desagradável.

Domingo é aniversário de Sathia, sobrinha- faz quatro anos, comprei um cofrinho- uma porquinha rosa linda- e uns bonequinhos pequenos, quero dar um bicicleta de duas rodas- ela ainda não tem.

A minha mãe queria que a festa fosse hoje, ficou contrariada: “Mas por que não é hoje?!”. O tempo e a memória comprometidos e ela diz: “Ainda não estou senil!”- (braba).
Sabe cozinhar algumas coisas, lava algumas louças, mas não consegue encontrar suas roupas, guardadas numa gaveta- esquece que estão lá. Ah! Vida...
Ontem fomos à médica:
-  “Não tenho nada!”.
- “É braba demais, eu digo.”
- “Tenho sangue espanhol”. Diz, com orgulho.

A médica diz que também é neta de espanhóis e é mansa.
- “Me aborreço com o ambiente”, diz mi madre.
Médica endocrinologista, temos hipotireoidismo, o que altera humor, se não for tratado. Eu demorei para saber que tinha, melhorei da tensão que sentia pela manhã- sentia como se um elástico fosse repuxado na cabeça- melhorei muito.

O vento parou. Há grilos cantando, a lua ilumina. Ontem ficamos sem energia e as janelas abertas trouxeram a luz da lua, não foi preciso acender velas.
É bom estar em paz.

O filho acaba de chegar, vou sair daqui.  Se organizam para festa de Halloween.
Boa noite.

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