sexta-feira, outubro 15, 2010

Um voto de peso para Dilma





Ontem falei com Raduan Nassar por telefone- estamos distantes, ele em Sampa, eu em Natal.
Comentamos sobre a campanha política e ele disse que votará em Dilma. Refere-se ao governo Lula e ao programa: ‘Luz para todos’ dizendo que o Brasil todo está iluminado.

Hoje liguei de novo, tentava algo mais formal sobre o apoio dele. Argumentei que está feia a campanha e que ele é tão respeitado... Ele disse que está em empate técnico e que então eu divulgasse, mas não quer assinar Manifestos.
Ok.

Se você não acredita em mim... não posso fazer nada. Todos que conhecem um pouquinho Raduan sabem que é avesso a entrevistas, além disso está gripadíssimo.


Do arquivo:
Conheço Raduan há anos, meus meninos eram pequenos. Nosso primeiro contato foi muito engraçado, eu havia feito um trabalho de psicanálise em cima do “Um copo de cólera”, uma amiga me disse que a irmã havia conhecido Raduan porque estava a fim de fazer uma peça de teatro baseada no conto "Ventre seco" e que ele foi muito simpático, recebeu-a na casa dele. Pedi o endereço para mandar meu texto, mas esta amiga é muito desligada, ou desinteressada, como queiram, e não pegava nunca o endereço. Estávamos no Rio, ele em São Paulo. Um dia eu desliguei o telefone acabando de falar com ela e liguei 102, pedi o telefone de Raduan, me deram. Eu liguei pensando que uma secretária atenderia, aquelas coisas, ele atendeu. Eu não sabia o que dizer, disse que não esperava que ele atendesse e, ansiosa, me apresentei e comecei a falar que havia feito um trabalho etc. e tal. Depois de certo tempo ele me diz, pausadamente, com aquela voz de paulista:
”Estamos conversando há quinze minutos e você não disse seu nome.”
Foi nosso primeiro contato e falamos uns cinqüenta minutos, a ligação era interurbana, eu não queria desligar nunca-  imaginem minha emoção. A partir daí passamos a nos falar sempre, pelo menos uma vez por mês. Uns dois anos depois, um dia ele me disse:
“Ficarei velhinho e você não virá me conhecer”.
Foi a senha para que eu fosse.

O primeiro encontro foi na casa dele e Raduan me fez falar, me perguntou TUDO sobre minha vida e minha família. Ficamos até uma da manhã conversando, aliás, ele me ouvindo, então me levou para a casa de meus amigos, onde eu estava hospedada. Ficamos de almoçar juntos no dia seguinte, eu voltaria para o Rio à tarde, mas no dia seguinte ele ligou dizendo que havia esquecido que era aniversário de sua mulher, hoje ex., que ficaria para a próxima vez.

Depois nos vimos no Rio num encontro que ele teve com Chico Buarque onde fizeram leituras de trechos de seus livros, Raduan leu Chico, Chico leu Raduan- já contei aqui que Chico se engasgou e quase chorou lendo “Hoje de madrugada”.
Não voltamos a nos ver*. Ele gostaria de vir ao nordeste, mas anda com probleminhas de saúde, adiou a viagem que seria em fevereiro, quer vir visitar Ariano Suassuna também de quem é amigo.

Acabo de falar com ele, fica contente pelo filme, mas disse suspirando que está tão distante disto tudo...Diz que o chateiam para dar entrevistas, acho que quem quiser saber mais sobre Raduan deve ler o Caderno e devem respeitar seu silêncio, ele concordou quando eu disse isto, as pessoas insistem, querem descobrir o porquê do silêncio. Meu Deus! se alguém pede silêncio, respeitem. O que vale é a obra maravilhosa dele, se parou de escrever, é isto ai, “É um fato”, ele disse, “e ponto final”. Concordo. Há dias em que ligo e ele está muito quieto, então eu digo:” Não quer falar hoje, não é?” “Não é com você, você sabe.” Eu sei, eu o respeito e vou amar este homem sempre, mesmo no seu silêncio: “Homem maduro, coração duro", eu digo, ai ele cai numa gargalhada que me faz feliz, ele ri comigo, isto é o que me basta. Vida longa para meu querido amigo Raduan!

*Nos encontramos novamente em 2007, dezembro, a última vez que estive no sudeste- preciso voltar.

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