sábado, outubro 18, 2008
O marido da vizinha I - Arquivo revisitado
14 de junho de 2005.
O marido da vizinha I
Dan foi deitar à tarde, vou atrás dar um beijo e fechar as janelas.
Vejo a casa da vizinha, tão bem cuidada, tão perfeita, nunca havia visto uma casa tão bem tratada. Lembra muito a casa da cunhada de “ Mon oncle” de Jacques Tati. Todos os dias eu lembro de Tati olhando da minha varanda os caminhos traçados no jardim, as plantas aparadas milimetricamente, a fonte na piscina recente.
- Coitada de vizinha, ficou viúva tão cedo.
- Por que está dizendo isto, mãe?
- Porque o marido dela morreu.
- Como você sabe que ele morreu?
- Por que eu sei, ele sumiu.
- Você é maluca, mãe, ele pode ter viajado...
- Eu sei, pode ter ido atrás de outra mulher, pode estar doente, na cama...mas ele morreu.
- Credo, mãe, você é doida mesmo, inventa cada coisa.
- Não estou inventando, o pobre do homem amava tanto esta casa, acabou de fazer a piscina e mal aproveitou, morreu.
- De onde você tirou isto, mãe? Esta tua maluquice?
- No dia do seu aniversário, eu acordei às sete e quinze, por ai- sei a hora porque você havia acabado de sair para a escola- abri a varanda e em vez de ver o vizinho fumando um cigarrinho na varanda esperando o táxi , eu vi dois carros na porta e gente andando pela varanda nervosamente.
- Como você sabe que estavam nervosos?
- Ah, Dan, tinha um homem que se parecia com o vizinho que andava de lá para cá, angustiado.
- Pensei primeiro que a casa tivesse sido assaltada, Betânia quando chegou pensou na possibilidade da mulher ter morrido, e não o marido, pensou em seqüestro, também, mas não havia carro da policia...
- Você fica vigiando a casa dos vizinhos, mãe, que feio...
- É impossível não ver, filho, é como no filme do Hitchcock. Lá pelas duas da tarde apareceu a mocinha na varanda, ela nem conseguia andar direito. As pessoas da manhã já haviam ido embora. O namorado chega e ela chora abraçada a ele um tempão, mais tarde a mãe aparece e eu e Betânia ficamos aliviadas-não foi ela que morreu.
- Vocês duas são malucas, mãe.
- Meu filho, impossível não querer saber o que houve, eu gostava do vizinho só de ver, eu ficava namorando a casa com ele, o jardim impecável... não estou dizendo que paquerava o vizinho, viu? É da casa que eu gosto.
- Não sei porquê, casa mais cafona, toda arrumadinha.
- É o que ela representa, filho. Você não entende ainda destas coisas.
- Você é doida, quando fizeram a piscina disse que a filha deles iria casar, agora que o pai dela morreu...
- Ainda acho que ela vai casar. Depois te conto.
PS: Esta crônica é baseada em fatos verídicos, conto o final depois no II, alguns de vocês já conhecem o fim da história.
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