quarta-feira, outubro 29, 2008

Fragmento de um discurso amoroso

Foto stelalves



Fragmento de um discurso amoroso


Eu o sufoco, preciso me afastar, ela pensava escrever quando o carteiro chegou com um pacote. Era dele. Olha a embalagem da Livraria Cultura - ele só compra lá, ela sabe. Dentro um livro: "Fragmentos de um discurso amoroso" de Roland Barthes, e um bilhete curto: "Para você, minha cara, que ama o amor".

Fica feliz e estranha ao mesmo tempo. Ele parecia tão quieto estes dias. Teve medo de perdê-lo, sentia como se a qualquer momento pudesse dizer: "Não dá mais, gosto de você, mas não consigo levar esta relação em frente".

Com o livro na mão, folheia-o, pensando no quanto é louca. Como poderia achar que ele não a quer mais? Sabe que a distância faz isto, tem saudades, sente falta do sorriso dele, das belas mãos, da voz, e vai criando uma cena de abandono que a adoece.

"Eu te amo"
, lê no livro. Sim, é isso, ele nunca diz que a ama. Quando ela, perdida de amor, diz: "Eu te amo", ele silencia. Está no livro tudo o que sente, é isto, por isso ela se perde no silêncio, enlouquece.

Mas, teria, desta vez, ele adivinhado algo? Por que o presente hoje?

Se veste correndo e vai em busca dele, a esta hora, ela sabe, ele estará saindo do consultório. Sabe tudo dele, pensa, menos se ele a ama.

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