quarta-feira, outubro 29, 2008

Não me abandonem lá na Cultura...

Se quieserem dar uma força para a amiga aqui, vão e votem. Todos os dias envio contos pra . Escrever vicia, em vez de ir comprar puxadores para portas estou aqui a escrever.
Tchau.
Fui
Beijos e obrigada aos que forem votar. Tá bom, é chato copiar aquelas letrinhas, mas eu aqui nem letrinhas coloco. E tem uns contos super votados, fazer o quê? as pessoas devem ter Orkut, serem jovens, estas coisas, eu odeio Orkut- também tenho, mas só para que me achem- mudei muito.

O conto:

O silêncio



Naquela noite, chegou mais tarde, foi à Livraria Cultura, com certeza, eu também faço isto. Trouxe quatro livros, alguns ele ganha de editoras, vivemos cercados por livros.

- Ganhou os livros?

- Não, estes, eu comprei.

Vi que havia um de Amós Oz, outros de escritores que eu não conheço.

Entrei no banheiro na hora em que ele saía do banho. Estava embaçado. Adora banho quente mesmo no calor. Parei na porta e observei o homem nu à minha frente. Vi os pêlos brancos, os cabelos despenteados, a púbis com o pênis encolhido. Ele me olhou e perguntou:

- O que você tanto olha, menina?

- Nada, pensava no quanto eu gosto de você, só isso.

- Hum... Ele resmungou e saiu enrolado na toalha. Ao passar por mim deu um tapinha na minha bunda.

Fui atrás. Enquanto se vestia eu deitei na cama. Pensava no quanto ele envelheceu nestes últimos anos depois que adoeceu. Está tudo sobre controle, mas ele não voltou a ser o mesmo, nós sabemos. O corpo perdeu massa muscular, anda mais devagar, os pêlos ficaram brancos de um dia para outro. Todas as vezes que lembro o que passamos me dá nó na garganta. O tratamento foi muito desgastante, sofrido. Ele ficou mais triste, a morte é, a partir de então, presente em nossas vidas. Eu penso que não tenho medo da morte, e não quero que ele se vá antes de mim. Eu não suportaria esta perda.

Durante o jantar ele colocou a mão sobre a minha e disse:

- Encomendei um livro para você hoje.

Não quis dizer o nome, seria surpresa, repetiu diante de minha insistência.

Um mês depois, quando consegui sair de casa, fui direto à Cultura. João me recebeu com os olhos úmidos:

- Quero que a Sra. saiba que todos sentimos falta do doutor aqui.

Perguntei pelo livro sob encomenda, ele pediu que eu me sentasse enquanto pegava. Trouxe “Veinte poemas de amor y una canción desesperada” de Neruda.

Abri no poema 20, e li: “Mi alma no se contenta con haberla perdido”.

Entendi o porquê do presente e do silêncio. Agora eu silenciara, não havia mais nada a dizer.

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