terça-feira, junho 23, 2009

Ruídos internos


Magritte aqui



Ruídos internos


Ela diz para si num murmúrio:
"Estou exausta, quando terei trégua?"
Enxuga as lágrimas na manga, enquanto torce mais uma camisa.
Lá fora as crianças riem, correm pela grana. Um deles a vê na janela e grita: Mãe...
Chora, mais ainda, ao ver o menino sorrindo, esperando seu aceno.
Larga a roupa no tanque e volta para o fogão, enxuga as mãos frias na roupa. Abre a tampa quente da panela sem proteção. Deixa-se queimar. Uma dor real a traria de volta, pensa. O filho parece tão longe dela, tão improvável como quando dizia: "Jamais terei filhos, quero liberdade".
Desliga o fogo antes que o feijão queime, logo o menino abrirá a porta aos gritos:
- Mãe, estou com fome, faça o prato pra mim.

Ela sorrirá beijando a bochecha suada e com cheiro de moleque.



3 comentários:

chica disse...

Lindo e então o cansaço é esquecido até porque não adianta estar cansada.A vida espera...beijos,chica

BethS disse...

Porque as mulheres dos seus contos são tão sofridas? Quase todas elas estão presas a situações das quais não podem fugir, estão impotentes mas com o coração e a alma em chamas...
Fico tão mal por elas...
Mas são cada vez mais bem escritos, viu?
Beijo

Tina disse...

Oi Laura!

Você diz MUITO com poucas palavras: gosto disso.

beijos querida, fica bem.