segunda-feira, julho 02, 2007

Mini conto Cravada no espelho



















Masha Meshki



Cravada no espelho




Cravada no espelho

Não precisava fechar olhos, nem silêncio para sentí-lo perto. Adivinhava seus olhos sobre ela. O sexo pulsava.
Algo aconteceu, não o sente nas manhãs mais frias, no desejo de não estar.
Desta vez não intui mais do que desamor. Passa os dias como se um vidro a isolasse do mundo. Vê através dele o casal de mãos dadas ou o cão perdido no asfalto.
Que maldição terá ele jogado sobre ela?
O silêncio prolongado, as folhas gastas em poemas esquecidos num canto. O sorriso que jamais ganhou.
Um cansaço sob a pele, o desamparo que emerge num luto indefinido.
Sim, poderia imaginá-lo, os olhos perdidos nela, que se distancia. Há tristeza e resignação nele. Não o odeia por isso. Esteve tão perto, grudada feito tatuagem. Não aquela feita a ferro e fogo, mas cravada no espelho, jamais será apagada.
Poderia gritar, lanhar-se, se desejo houvesse.
Poderia esperar que ele quebrasse o silêncio, mas homens fortes não quebram acordos íntimos.
A ela resta sobreviver.

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