segunda-feira, junho 25, 2007

Mini conto Mais nada















Munch. O beijo.



Mais nada



Não estranhou quando ele disse no final da tarde: "Vou em casa mudar de roupa e volto às nove para irmos à festa".
Deitou e relaxou, a barriga começava a crescer, tinha muito sono.
Levantou, banhou-se, vestiu a roupa especial para o dia e ele não chegava. O coração começou a ficar apertado. "E se ele não voltar?"
Procurava pensar que o trânsito estava difícil, as ruas fechadas para a festa. Fez uma retrospectiva do dia. "Ele virá, sim".
Nove e meia, dez horas, e ele não veio. A amiga ligou perguntando se estavam saindo. "Não, acho que não vou, ele não voltou"...
Ela insistiu: "Venha sim, não quero que fique sozinha. Logo hoje... preparei uma ceia para nós. Venha!"
Fechou a porta engasgada, não queria chorar. Olhou no espelho do elevador, estava bonita de branco, não iria borrar os olhos com lágrimas.
Ao passar pelo porteiro disse: "Se ele chegar diga que já fui, ele sabe onde me encontrar".
Não havia táxis disponíveis, todos voltavam para casa. Pegou um ônibus, escolheu um lugar perto do motorista, o trajeto era curto. A rua fervilhava, todos, ansiosos pela virada do ano, vestiam branco. Procurou não pensar em nada, olhava as pessoas, mas só via o branco, o movimento do branco, pernas, braços brancos, não via expressões. Não suportaria ver um rosto alegre, sabia que choraria se alguém lhe sorrisse.
À meia noite os fogos estouraram e salpicaram o céu em cores mágicas. Ela olhava para o cima e não via mais do que luzes, lágrimas brotavam . A chuva que deveria vir nos últimos dias caiu naquele momento. O rosto lavado pela chuva, as sandálias novas afundadas na areia molhada.
Não foi até mar molhar os pés. Não poderia perguntar a Yemanjá o por quê dele não voltar.
Era só isso que ela queria saber, mais nada.

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