terça-feira, fevereiro 13, 2007

Quando o Paulo Francis morreu...




















Imagem daqui


Se eu disser para vocês que a morte do Paulo Francis mudou a minha vida vão achar que é loucura minha, que estou viajando. Afinal a do Drummond mudou radicalmente a minha vida, não é? Mas é verdade.
Num dia de fevereiro de 1997 comprei a Folha de São Paulo e entrei num ônibus para Cabo Frio, como fazia todas as semanas. A poltrona que me cabia estava ocupada, a moça disse:" A Sra se importa de trocar comigo? eu gostaria de ficar aqui com meu marido". 'OK".
Pedi licença e sentei na poltrona que seria a da jovem. Como sempre estava cheia de coisas nas mãos. O homem ao lado gentilmente sorriu, vi o belo rosto, os olhos verdes. Comecei a ler a 'Folha de São Paulo' pela 'Ilustrada', como faço sempre, ela trazia o Paulo Francis- havia morrido na véspera, eu acho, não lembro mais. O homem ao lado se interessou, ofereci o jornal e passamos a viagem conversando sobre o Francis e muito mais. Ficamos amigos. É um argentino, filho de italiana, cheio de charme e sedução. Foi muito sedutor comigo, fiquei 'encantada', mas não me envolvi com ele, tenho razões para isto. Ele vive em Cabo Frio há anos, mas morou na Holanda 17 anos, tem dupla cidadania. É culto e inteligente, um ótimo papo.
Pois é, mas onde foi que mudou a minha vida? Ele me fez ver que eu estava mal no Rio, que a minha vida era restrita à filhos e ao trabalho. Fez com que eu quisesse mais da vida naquele momento em que eu me sentia tão limitada à filhos. Como é um cara que não tem raizes, me seduzia com fantasias de viver em outros lugares, foi bom para mim tê-lo conhecido, muito bom. Resgatou minha auto estima também que estava muito baixa depois da separação. Sabe quando um trator passa sobre o personagem no desenho animado? eu me sentia assim. Uma folhinha amassada.
Acabei indo para Cabo Frio morar no casarão de 300 metros quadrados da família, mas continuei trabalhando no Rio. Fiquei muitos anos neste vai-vem, que me dava muito prazer. Até o ano em que me desvinculei do Rio profissionalmente. Ai, baixou a tristeza- eu não gosto de morar em Cabo Frio, não vou falar as razões, seria antipático, eu acho. Resolvi então, já que não pretendia voltar ao Rio com dois adolescentes, mudar radicalmente, vim para cá, nordeste- Natal. Por que? Tenho a família aqui- 3 irmãos homens- não contribuíram para que eu fosse menos só com os filhos. Meu pai ainda vivia quando vim, estava aqui também. Não me arrependo da vinda- para os meninos está sendo muito bom, aqui têm uma liberdade que no Rio não teriam, não há o perigo que há lá. Eles podem chegar de madrugada de táxi de uma festa que eu não fico morrendo de medo, como aconteceu neste sábado. Dan está num dos melhores colégios daqui, Luc faz a Universidade Federal, no Rio seria muito mais complicado, todos sabem. E eu acabei escrevendo muito mais do que antes forçada pelo vazio que sinto aqui. Isto me salvou de uma baita depressão.
E o Francis? pois é, uma pena ter morrido, já faz dez anos! Faz falta, eu gostava muito dele, assustava um pouco, mas eu gostava, me acostumei ao jeito dele. Vejo o "Manhattan" agora sem grande interesse, perdeu a graça. É insubstituível. A mulher dele, Sonia Nolasco, lançou um livro dele, Jogando Cantos Felizes, ainda não li. Ela diz: "É possível que usem seu romance inédito para difamá-lo novamente. Mas vou jogar o livro na arena de leões, do jeito que Paulo Francis fazia jornalismo: com toda a coragem". triste isso. Leiam aqui.
Todas as vezes em que vejo o Francis por ai( a GNT passou um especial do "Manhattan" delicioso e a GNews um especial com ele) eu lembro do argentino, quando me despedi disse que viria morar no nordeste, dizia sonhar em morar aqui- é um sedutor incorrigível :). Outro dia perguntou por mim para uma amiga comum. É bom que tenha ficado assim, uma boa lembrança. Valeu. A vida é assim, não é?

PS: Achei este retrato do Francis aqui onde tem um texto delicioso de uma entrevista imaginária com o próprio no céu-paraiso. Divirtam-se lendo.

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