Holofotes
Naquela tarde havia um movimento diferente no portão. De longe notou que eram da imprensa. Não sentiu medo, nem susto, apenas surpresa.
Cumprimentou um estranho que fumava na varanda e foi entrando na casa tão conhecida como uma intrusa. Ele estava no escritório, sob holofotes. Um repórter o entrevistava. Esgueirou-se entre fios, recostando-se na parede lateral. Mal o via dali. Ouviu quando disse que lançaria um livro em breve, uma novela, um diretor amigo pediu que escrevesse. Será filmada no próximo ano, disse orgulhoso.
Suas palavras a atingiram como lanças.
Por que não falou do livro? "Ficarei em silêncio estes dias, não estranhe", dizia. Acostumada ao pouco que recebia, não o questionava.
Quanto dela estaria no livro? Sentiu um calafrio.
Não esperou a entrevista acabar. Saiu de fininho. Anoitecia, a casa estava escura, acendeu apenas o abajur da sala. Parou na porta, olhou a sala, pousou os olhos em cada objeto, gostava daquela sala, tudo ali tinha uma história. Pegou um ex-voto, guardou no bolso, ele saberia que foi ela quem levou. Sabia que não voltaria mais.
Despediu-se de Zampanô, o vira latas, que a acompanhou até o portão. Sentiria sua falta. Não olhou para os dois homens que conversavam recostados no carro. Não queria que a vissem aos prantos.
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