Ele diz irritado no telefone:
- “Não me ligue mais, é simples, não te quero mais e ponto”.
Ela não acredita, mas se desespera, liga de novo, ele diz:
- “Estou trabalhando, me deixe em paz, sim?”
Ela desconhecia este tom de voz, aliás, conhecia sim, mas havia esquecido, é a voz que a persegue nos pesadelos, a mãe gritando, uma voz que corta, racha ao meio como um machado, a dele, amorosa, é outra, não consegue entender o que acontece.Desliga o telefone e chora, chora desconsolada, se encolhe no chão, quer morrer.
Escurece, tem fome, não quer levantar, sair para comprar o pão. Fica ali jogada no chão, o cão ao lado. É preciso acender a luz, já não vê nada.Alguém bate na porta, reluta em levantar, não quer ver ninguém, primeiro bate timidamente, depois com firmeza.
Olha no olho mágico, é ele.
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