terça-feira, outubro 04, 2005

Mini conto: Zampanô
















Michal Zaborowski



Zampanô

Abre a porta. Está escuro.
- Zampanô, Zampanô...
Acende a luz, o cão sai correndo eufórico, sobe no sofá, desliza pelo assoalho de sinteco.
- Zampanô, que dia hoje. Ufa!... Precisava ver. O ônibus cheio, abafado, o trânsito engarrafado. Gente com cada cheiro, Zampa...
O cachorro pula desta vez em suas pernas.
- Calma, calma, senão vai desfiar minha meia, filhote.
Tira primeiro os sapatos, depois as meias, a saia, e por fim, a blusa de frio. Continua com a camiseta de algodão e a calcinha.
Vamos lá, vou te dar comida.
Liga a TV, passa a novela das sete, detesta aquela baboseira, mas vê. Diverte-se fazendo críticas azedas:
- Zampa, esta mulher é insuportável, se você visse concordaria comigo.
Requenta a comida. Deita-se no sofá depois de comer- só sairá dali quando estiver quase dormindo. A louça fica para amanhã, o banho fica para amanhã, a roupa jogada juntará amanhã.
- Zampa, hoje não vamos passear, estou tão cansada...
A cão abana o rabo, enquanto as mãos magras alisam seu corpo.


Nota: Zampanô é personagem de Fellini de La strada. Veja aqui, se quiser, Antony Quinn fazia Zampanô e contracenava com Giuletta Masina no papel de Gelsomina, um dos personagens mais comoventes do cinema, se ainda não viu veja.

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