quarta-feira, agosto 03, 2005

Mini conto. Um homem, uma mulher















Era seu vizinho na cidadezinha do interior, não lembra quando começaram a namorar, devia ter menos de doze anos, coisa de criança, depois virou mulher. Se esfregavam, faziam sexo em qualquer canto do quintal, encima do forno da padaria da avó- o forno quente precisava ser forrado com cobertores- ninguém os descobriria ali.
Casaram, tiveram filhos, adotaram uma menina negra que foi deixada na sua porta, fundaram juntos uma empresa. Um belo casal.
Ele passou a ter crises depressivas alternadas por euforia, ela precisava assumir a empresa enquanto ele hibernava na cama um mês. Seu amor era ambivalente, amava e odiava aquele homem, tinha pena quando estava deprimido, tomando vinte comprimidos de Tofranil por dia, e odiava quando a crise passava e ele saia ampliando os negócios sem ter como administrá-los, fazendo empréstimos em todos os bancos possíveis.
Ele começou a receber ligações no telefone celular, falava baixinho, escondido, ela num dos raros momentos que ele esqueceu o aparelho, viu dez ligações de uma tal de Valéria. Resolveu seguí-lo, o surpreendeu num sinal de trânsito com a outra no carro. Desmascarou-o apresentando-se como a esposa.
Ele disse que o encontro era inconseqüente que o amor da vida dele era ela. Sabia que era verdade.
Para provar tal amor eterno e fervoroso, comprou de um amigo uns comprimidinhos que o fazia desejá-la a noite toda. Se fechavam no quarto, ignorando o resto da família, e faziam sexo de todas as maneiras até o amanhecer. Ela queria provar que ele não precisava de outra mulher, que podia tudo com ela.
Um dia resolveram ir ao cinema e jantar antes da noitada de prazer. Viram uma comédia, ele ao sair caiu na calçada, teve um infarto fulminante, morreu ali no chão com a cabeça no seu colo. Tinha cinqüenta e um anos.

Esta história é verdadeira, conheço os personagens, ainda não era comercializado no Brasil o Viagra, ele comprava importado, ela acha que foi o remedinho que o matou. Deixou a empresa cheia de dívidas nas mãos dela. Cenas da vida cotidiana.

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