quarta-feira, julho 27, 2005

Paixões IV. A bela história da Marquesa e Voltaire..

















Adoro ler sobre paixões, devo me identificar com os enamorados todos, sempre estive apaixonada- algumas vezes mais, outras menos, mas a paixão não me abandona.
Rosa Montero em “Paixões” conta a história de Voltaire e Marquesa Émilie Du Châtelet, Rosa, que deve ter lido muito a respeito, considera esta a mais fascinante de todas.
Marquesa Du Châtelet, filósofa e escritora francesa do séc. XVIII foi amante de Voltaire durante quinze anos, Mulher de uma inteligência excepcional, era matemática, estudou grego, latim, geometria e física. Apaixonada e curiosa devorava livros e tinha uma energia cativante, apesar de não ser exatamente bela para os padrões, era atraente, magra e tinha olhos verdes expressivos.
Casou com o Marques Du Châtelet aos dezenove anos e três anos depois se apaixonou por um duque, como não foi correspondida tentou se matar com dose excessiva de ópio, sobreviveu à overdose e ao Duque. Vivia com o Marques em aposentos separados e tinham vidas paralelas, o que era comum no séc. XVIII.
Aos vinte e oito anos conheceu Voltaire que estava com trinta e oito, se apaixonaram e passaram a viver juntos no Castelo da Marquesa. Foram anos de amor intenso e respeito mútuo, viviam em plena harmonia. Voltaire a respeitava como intelectual, coisa rara na ocasião. O Castelo virou um centro cultural.
Dez anos depois Voltaire passa a não ser o homem apaixonado de antes, já tinha problemas de impotência (que o próprio confessou) que se acentuaram, ela sofre com o distanciamento amoroso dele, não que ele deixasse de amá-la, nunca deixou, apenas esfriou. Émilie então depois de alguns anos escreve um livro que é um belo texto sobre o amor e desamor –
“Discurso sobre a felicidade” onde ela,uma mulher em meados do século 18 discute porque as mulheres não podem ser felizes como os homens.
"É comum pensarmos que é difícil ser-se feliz e existem boas razões para assim pensar; mas seria mais fácil sermos felizes se, nos homens, as reflexões e a pauta de comportamento precedessem as acções. Somos arrastados pelas circunstâncias e entregamo-nos às esperanças, que nos proporcionam apenas metade do que esperamos. Enfim, só nos damos claramente conta dos meios para sermos felizes quando a idade e os entraves que a nós próprios pusemos lhes colocam obstáculos. (...) Para sermos felizes, é preciso termo-nos desembaraçado dos preconceitos, seremos virtuosos, gozarmos de boa saúde, termos gostos e paixões, sermos susceptíveis de ter ilusões, pois devemos a maior parte dos nossos prazeres à ilusão, e infeliz daquele que a perder". Madame du Chatelêt, "Discurso sobre a Felicidade"
Este livro parece ter sido escrito em 1747, incrível. Atualmente vemos uma centena de livros de auto ajuda dizendo a mesma coisa. Ela acreditava que é preciso manter-se centrado em si mesmo e não se perder no outro.
Mesmo tendo escrito o livro, tendo consciência de que não se deve perder-se no outro perdidamente, ela aos quarenta e um anos, esqueceu os preceitos escritos e se apaixonou por um jovem poeta medíocre de vinte anos, por ai, e se alienou, tornou-se uma outra mulher, “ o apaixonado sempre oferece ao seu amante, na paixão, o sacrifício de sua própria inteligência” – diz Rosa Montero. Engravidou, teve o filho e seis dias depois morreu de febre puerperal aos quarenta e dois anos.
No enterro, entristecidos e unidos pela dor, estavam o Marques, Voltaire e o jovem e frívolo Saint-Lambert.
No século XVIII uma mulher extraordinária, uma Marquesa, “descobre” o mal do amor e estamos até hoje discutindo apaixonadamente o mesmo tema.
Não há um mal de amor, há indivíduos enamorados e cada um viverá o seu amor com suas limitações e expectativas, suas ilusões, suas alegrias, dores, prazeres...
E viva a paixão!

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