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quarta-feira, junho 06, 2012

Sobre João Gilberto- livro

Livro busca decifrar enigma João Gilberto


Edição comemorativa traz entrevistas, depoimentos e ensaios sobre o cantor, que completa 81 anos no domingo
Organizador e editores buscaram deixar em segundo plano o folclore em torno do criador da bossa nova

 
Francisco Pereira
  

João, entre Luiz Roberto e Quartera, de Os Cariocas, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, nos anos 1960, no Rio de Janeiro
João, entre Luiz Roberto e Quartera, de Os Cariocas, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, nos anos 1960, no Rio de Janeiro   
PAULO WERNECK
EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”
Depois do anticlímax de ter a turnê de seu aniversário de 80 anos cancelada no ano passado, João Gilberto completa 81 no próximo domingo debaixo de um holofote que pode ajudar a compreender por que, afinal, tanta gente o considera um gênio.
Misto de fortuna crítica e homenagem, o livro "João Gilberto", que a Cosac Naify lança nesta semana, tem tudo para se tornar um marco, como "O Balanço da Bossa" (1968), de Augusto de Campos, ou "Chega de Saudade" (1990), de Ruy Castro.
Organizado por Walter Garcia, professor do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, sob coordenação dos editores Milton Ohata e Augusto Massi, o livro pretende reunir tudo o que já se escreveu de importante sobre João e que estava fora de circulação.
Jornalistas, musicólogos, músicos e pesquisadores foram mobilizados para mostrar diferentes ângulos da arte de João, sua recepção na França, na Itália, no Japão, suas conexões com a arquitetura e a literatura.
Lá estão as primeiras entrevistas e perfis dos anos 1950, as resenhas feitas no calor da hora, os depoimentos de músicos e parceiros e uma empolgada convocação do cronista Antonio Maria para que o leitor fosse ouvir o baiano em sua companhia, numa boate em Copacabana.
"Este é um livro a favor", explica Ohata. E ser a favor, aqui, significa pôr em segundo plano o anedotário que aderiu à figura de João. Esqueça o homem que fez o gato se suicidar, que fala no telefone por código Morse, que só sabe reclamar do som e do ar-condicionado etc. Não por acaso, há no livro uma seção chamada "Antianedotário".
"É uma grande bobagem reduzir João ao anedotário", disse Garcia à Folha. "Espero que o livro ajude a desmitificar muito do que se fala de João Gilberto."
Na busca por essa "desmitificação", Garcia foi atrás de Aderbal Duarte, músico e professor baiano que conseguiu demonstrar como se dá, na pauta musical, a famosa batida criada por João.
Outra "aventura" foi localizar, em Manhattan, o baterista Sonny Carr, que atuou no cultuado disco branco de 1973 e que muitos acreditavam não passar de pseudônimo.
ENSAIO
Embora também traga reportagens e depoimentos, além de fotos inéditas (veja uma delas acima), a tônica do livro é o ensaio.
O melhor exemplo de tentativa de apreender criticamente a obra de João e tratá-la como uma questão intelectual é um texto de 1992, talvez o mais citado ensaio sobre o cantor.
No curto e brilhante "João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova", o musicólogo Lorenzo Mammì demonstra como João simbolizou uma geração que apresenta "seu mais rigoroso trabalho como um lazer, como o resultado ocasional de uma conversa de fim de noite".
Nem tudo, porém, está no holofote da Cosac Naify. Sobram EUA, Europa e Japão, mas falta esquadrinhar sua passagem pelo México, onde gravou um de seus discos mais importantes. Falta também uma análise mais densa de sua parca produção como compositor.
Dissecar o mito, no entanto, nem sempre escapa ao tom de "vida de santo" tão comum nos textos sobre o baiano. Que o diga o produtor japonês Shigeki Miyata, que em seu "O Cotidiano de um Deus" relata em êxtase um telefonema de João, numa abstrusa mistura de português e inglês: "Sentia como se tivesse ouvido uma linda música durante minutos".
Como escreve Mammì, "a perfeição de João Gilberto [...] carrega objetivamente os estigmas da obsessão".
Ou, como resumiu o amigo e parceiro Vinicius de Moraes, em 1964: "Eu sei que dentro da sua neurose, dentro da sua esquisitice, existe um lugar que ele rega diariamente com as lágrimas que chora por dentro. Um lugar que podemos chamar de Brasil, por exemplo".


JOÃO GILBERTO 
ORGANIZADOR Walter Garcia
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 215 (512 págs.)

Da Folha de São Paulo

terça-feira, abril 17, 2012

Bookcrossing com Jorge Amado



O livro que escolhi para soltar por ai foi Capitães de Areia, de Jorge Amado. Com certeza a pessoa que o pegou fará boa leitura e seguirá lendo outros livros.

Ver mais aqui.

Chico e o livro de capa amarela










Terça-feira, 28/4/2009


Chico Buarque e o Leite derramado
Jardel Dias Cavalcanti

Do Digestivo Cultural

"Aqui tudo é construção e já é ruína." (Caetano Veloso/ Gilberto Gil)

Acaba de ser lançado pela editora Companhia das Letras o melhor romance brasileiro do ano, se não for, creio eu, o melhor de décadas: Leite derramado (Companhia das Letras, 2009, 200 págs.), de Chico Buarque. E o primeiro comentário que o livro merece receber é o de que esta é uma obra escrita por alguém que domina completamente a língua portuguesa e a linguagem literária. O prazer de se ler um livro escrito por quem é mestre na própria língua já é um prazer de per si. Ainda mais num país com uma tradição de escritores que não entenderam que a literatura é feita, antes de tudo e mais do que tudo, de linguagem, e não apenas pela nobre causa dos temas sociais.

Aliás, vale aqui um parêntese: o que tem enfraquecido a arte brasileira durante tanto tempo é esse vício social que acomete nossos artistas de querer sobrepor a realidade ao ofício do ato criador da própria obra de arte, que se traduz nessa busca desesperada por explicar nossas misérias mais do que fazer um excelente trabalho artístico. Como dizia Aristóteles, na sua Poética, em arte "o impossível se deve preferir a um possível que não convença". A arte precisa de artistas e não de sociólogos.

As lições da Poética de Aristóteles e Horácio estão dentro da obra de Buarque: "a quem domina a linguagem e o assunto escolhido não faltará eloquência nem lúcida ordenação". Não que Chico Buarque se dobre ao fazer clássico como engessamento do ato criativo ou com um preceituário de soluções práticas, como condenou Paul Valéry em sua Première Leçon Du Cours de Poétique, dizendo que na poética clássica "o rigor se fez regra e exprimiu-se em fórmulas precisas". Ao contrário, no caso do nosso escritor o próprio domínio da linguagem é usado contra essa ideia lhe dando a liberdade de brincar com a estrutura do romance, fazendo e desfazendo o plano narrativo com maestria rara e sendo essa mesma desarticulação e articulação um recurso que revela o próprio ponto de vista interior do velho personagem sobre a história que conta.

Podemos pensar em Leite derramado a partir da ideia de que não se pode confundir reportagem com arte. Embora a narrativa de Chico Buarque perpasse a saga de uma família de ancestrais portugueses do tempo do Império aos nossos dias, alimentando-se do mundo real e da História, não o faz com métodos científicos ou documentais; ao contrário, cria um universo paralelo e até antagônico a esse mundo real. Na verdade, complica-o um pouco mais. E se este livro tem motivação política, aí reside sua força crítica. Ou, parafraseando Albert Camus, "em arte a crítica se instala na verdadeira criação, não apenas no comentário". E ainda, seguindo a ideia de T. W. Adorno, no seu famoso ensaio "Lírica e Sociedade", "nada que não esteja nas obras, na própria forma destas, legitima a decisão quanto ao seu conteúdo, o poetizado ele mesmo, representa socialmente".

Entrar por essa clave em Leite derramado é o que farei a seguir. O romance narra os pensamentos de um velho preso a uma cama de hospital que se dirige ora à sua filha, ora às enfermeiras, recontando o que seria sua história pessoal dentro do contexto da própria história brasileira, do Império aos nossos dias, em suas mudanças sociais, econômicas e comportamentais.

À primeira vista parece fácil perceber isso, mas quem narra é a memória de um velho perturbado por um passado complicado, sendo essa mesma memória dominada por emoções que deságuam a todo momento sobre sua cabeça na forma de desafetos, traições, taras e, além do mais, a realidade próxima da morte. Então, o reino do narrador é o próprio reino da arte, aquela arte condenada por Platão como imprevisível, paradoxal, dominada pelos sentidos, por sentimentos mórbidos, fantasias ilusionistas, própria para loucos e videntes.

Alegoricamente, podemos pensar que uma história do Brasil só poderia ser escrita nesses termos, os termos da própria realidade brasileira, que é delirante, perversa, desconstrutiva, insólita, tingida por contradições, como a memória do personagem que a narra. Nesse ponto Chico dá uma lição aos historiadores pragmáticos e racionalistas, oferecendo a possibilidade de se tentar entender uma realidade delirante a partir do próprio delírio.

A decadência da família do narrador e a própria decadência do país, que vai da tradição assentada na estrutura do poder imperial até o poder atual, com o neto traficante de drogas que consome com seu avô algumas carreiras de coca, retraçam o percurso de uma sociedade perversa em todos os sentidos, da escravidão e seu correlato e consequente racismo histórico até o abuso de poder e total falta de pudor (o velho olhando e desejando a bunda da namorada do neto) em usar este poder.

"Estou nesse hospital infecto." Esta frase do narrador talvez traduza o sentido que o próprio personagem dá ao Brasil e sua história. Espécie de paciente terminal, o Brasil de Leite derramado é pessimista. O próprio título do livro nos dá essa ideia de algo que serve para nos nutrir mas que perdemos. Um Brasil que poderia ter sido, mas não foi e pelo visto nunca será. E adianta chorar sobre o leite derramado?

E é desarticulando a narrativa que percebemos de fato isso. Nos tornamos incapazes de organizarmos os sentidos atribuídos aos personagens, pois não sabemos se são reais ou se estamos sendo induzidos por uma memória perversa, tão perversa quanto a realidade que a criou ou do qual o personagem participou.

Este mérito do romance de Chico Buarque se sobrepõe a todos. Ele é capaz de provocar a emoção estética, ou seja, o arrebatamento que nos possibilita navegar em águas turvas, ter o sentido da impossibilidade de diferenciar real e imaginário, possibilitando-nos pensar ao mesmo tempo por ordem de um discurso histórico e outro fantasioso sem saber bem qual é qual. Lugar de nossa particularidade nacional esta de sermos uma mistura irreconciliável entre desejo irrefreável (de foder e poder?) e vontade de criar a civilização democrática? Sermos o lugar da riqueza e da violência que se apodera dessa riqueza e a transforma em opressão econômica, racismo, abuso de poder e na consequente descrença social num projeto de nação a ser construída democrática e historicamente por todos?

Perversão psíquica e perversão histórico-social se confundem na narrativa. Não sabemos bem quem domina quem, quem gera quem e o quanto isso é ao mesmo tempo fabuloso (no duplo sentido da palavra) e destruidor da ideia de uma possibilidade de se estabelecer qualquer realidade sob controle.

As entrelinhas são muitas, os ditos e não-ditos é que falam, o embaralhamento é a corda do trapezista sobre a qual pendemos, seja como leitores ou como partícipes da suposta "realidade" brasileira. Chico nos devolve a realidade do nosso país com inteligência histórica visível, sem pragmatismos políticos ralos, nos levando para dentro da geléia-geral traçada no próprio interior do romance enquanto linguagem.

"Quando você compilar minhas memórias vai ficar tudo desalinhavado, sem pé nem cabeça. Vai parecer coisa de maluco", diz o personagem em certa passagem do livro. E o nosso país, não parece coisa de maluco? Eu, por mim, diria sobre o romance, seguindo Platão, que não só é coisa de maluco, mas coisa de vidente. É o que Leite derramado é.

Portanto, nem tudo nesse país se perdeu, do caos de nossa miséria histórica surge a riqueza brilhante que é um escritor de altíssima qualidade, que além de já nos presentear com sua música genial, nos brinda agora com a maturidade literária que sempre sonhamos.

Como nota final chamo a atenção para a orelha do livro, sensível e inteligentemente feita por Leyla Perrone-Moisés, ultimamente a mais sofisticada crítica literária deste país.

Para ir além





Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 28/4/2009





Mulheres e obras

Frase de Cora Coralina



Em 2005 eu disse isso:

Lembrei hoje de algumas autoras que me marcaram de alguma forma, livros admiráveis, citaria:
Clarice Lispector, Ana Cristina Cesar, Susan Sontag, Ligia Fagundes Telles, Doris Lessing, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Muriel Spark( "Memento Mori"), Xinran ("As boas mulheres da China"), Maria Amparo Escaban ("A caixa de santinhos de Esparanza", Arminda Aberastuty, Anna Freud (especialmente pela dedicação ao pai), Hilda Hilst, Nise da Silveira...
Ainda : Elis Regina, Nana Caymmi, Billie Holiday, Bethânia, Adriana Varejão, Rosana Palazian, Frida Kahlo, Debora Colker, Fernanda Montenegro...

Acrescento hoje (2011) minha ex analista Nilza Rocha- que me virou ao avesso.

Fiquei pensando nas escolhidas e percebi que a escolha recaiu em mulheres que ousaram na vida e na obra. Dá para separar? Penso que não.

segunda-feira, abril 16, 2012

Livros- dicas






Ainda não sei que perfil terá este blog, vou tateando.

Esta semana, como já disse, estive em ebulição mental, e estou a pensar (gosto desta expressão de nossos patrícios) nas mulheres. Mesmo concordando com a Sheila e outras que disseram que são contra esta comemoração, também acho que é como qualquer outra data, usada pela mídia e comércio- nem Natal eu gosto! Mas não foi possível não pensar.
Lembrei de livros que li, pouco conhecidos, sobre mulheres e recomendo:

“Corpos frágeis, mulheres poderosas”.
De Maria Martoccia e Javiera Gutiérrez.
Ed Ediouro.
Adorei, tem biografias curtas de mulheres admiráveis como: Frida Kahlo, V. Woolf, Billie Holiday, Madame Curie, M. Callas e outras. É ótimo, não deixe de ler, você lê com facilidade e traz aspectos muito interessantes destas mulheres.

“A caixa de santinhos de esperanza” de Maria Amparo Escaban.
Bela história de uma mulher que nega a morte da filha e viaja atrás do paradeiro fazendo uma rica viagem interior.

“Memento Mori”” de Muriel Spark.
Divertido, fala da morte de forma leve, os personagens são todos velhos e divertidos. A protagonista é uma ex escritora muito famosa. Há um leve tom de mistério, todos recebiam telefonemas anônimos estranhos falando de morte, mas nada que assuste, é muito gostoso.

“As boas mulheres da China”
de Xinran
Ed. Ediouro
É de uma chinesa, jornalista, que conta histórias comoventes e reais. É um livro que todos, homens e mulheres, deveriam ler. Mostra o sofrimento das mulheres chinesas, da submissão. É muito bom.

“Mulheres Alteradas”
de Maitema
É ótimo, são charges, fantásticas, Maitema conhece muito bem a cabecinha das mulheres. É um tratado de psicologia sobre o comportamento das mulheres, uma espécie de “Radical Chic”, mais abrangente, a “Radical” é carioca, moderna, as personagens da Maitema são universais.

“História das mulheres do Brasil” Coordenação de textos de Carla Bassanezi.
Ed. Contexto

Imprescindível se você quer entender a mulher brasileira, encontramos histórias de mulheres fantásticas de séculos anteriores. Aqui no R.G.do Norte tivemos Nísia Floresta Brasileira Augusta, o nome já diz muito, uma grande figura, procurem ler, uma mulher que viveu a frente do seu tempo.

Alguns de vocês devem conhecer estes livros todos, mas eu dei a dica porque às vezes fazendo palestras eu cito a Maitema e tem muita gente que não conhece. A Maitema é, talvez, a Mafalda adulta, com filhos adolescentes. Mafalda, de Quino é outro livro que adoro, tenho a coleção completa e me delicio sempre que abro, aliás, eu penso em colocar um desenho da Mafalda no lugar da minha foto, eu tenho muito da Mafaldita, questiono tudo, e houve um tempo em que me parecia mais ainda porque usava um cabelo grande, como o da Gal, mas sou mais bonitinha que ela, viu?

E a “Radical Chic”, todos conhecem? Nós cariocas somos todos fãs de Radical, uma mulher moderna e complicada, desenhada com talento pelo Miguel Paiva, se você não conhece procure conhecer, é a cara da mulher moderna, está no Jornal O Globo, você pode ver lá.

Você lembrou de livros e gostaria de dar uma dica?

O encanto de Kafka- Arquivo




Acordei às seis e meia e havia um arco-íris no meu ‘quintal’. Sonada esperei que se diluísse, demorou uma eternidade.

Há um rio aqui atrás, se eu olhasse mais a janela ao amanhecer, possivelmente veria muitos arco-iris- já vi alguns.

Sonhei que estava num guichê fazendo um pagamento- faltava quinze minutos para o Banco fechar, eu aflita não acho o dinheiro e digo para a caixa que vou em casa buscar, que era perto- saiu apressada e deixo minha carteira no balcão, percebo no sonho que corria o risco de não encontrá-la mais.
Acabei de ler pela manhã o conto “O foguista” de Kafka. Não sei fazer análises literárias, mas foi um dos melhores contos que li. É maravilhosa a narrativa, a forma como ele prende o leitor, ficamos a espera de que algo inesperado aconteça- e acontece, claro. É um texto atemporal porque nos revela o humano, a injustiça, a delicadeza. Está no livro “Contemplação/ O foguista” da Cia das Letras com outros contos também incríveis- muitos curtinhos. Um deles, “Olhar distraído para fora”, ele narra o que o personagem vê da janela, fala da sombra no rosto da moça na rua, maravilhoso!

Kafka foi um escritor excepcional, pena ter morrido tão cedo- completaria 41 anos- imaginem se ele tivesse vivido mais as maravilhas que teria deixado. Este conto, “O foguista”, Rilke considerou melhor que “Metarmofose”. Não sei fazer estas comparações, este é delicioso de se ler também. É o primeiro capítulo do livro “O desconhecido”, este eu não li ainda.

Publicado em 2011- abril.

domingo, outubro 02, 2011

Livro, pra que te quero?





Ando cansada. OK., não é novidade, mas desta vez não estou depressiva. Passei o último mês sobre os contos, relendo, trocando ideias com Daiany, que revisava para mim. Estava com pressa, havia prazo por causa do concurso do SESC.
Ai, na véspera- como convém a uma boa brasileira- fui reler o edital- que havia sido atualizado e estava lá:

6 - Será permitida a inscrição de obra cuja pequena parcela do conteúdo tenha sido publicada em blogs pessoais ou revistas eletrônicas, desde que não ultrapasse 25% do total da obra.

Poxa, fiquei desapontada. Penso que quem fez isso- claro que é uma equipe- desconhece o meio virtual, só assim entendo.

Blogs são multiplicadores- a Editora Record- que irá publicar o livro premiado, seria mais divulgada. Também desconhecem que quem lê blogs compram livros e divulgam.

Quantas vezes eu divulguei livros de amigos blogueiros aqui? Muitas.

Será que desconhecem os escritores que publicam em blogs, esperam um reconhecimento maior, dos meios de circulação convencionais?

Isso me chateou. Eliminarem de cara alguém que publica em blogs é ignorar o que rola no mundo atual. #prontofalei.

Alguns dizem, ou pensam, mas se ela já tem leitores no blog pra que quer publicar um livro? Porque o objeto- livro é fascinante para mim.

Amo livros. E, tem mais, como sou da antiga, tenho amigos que não leem no virtual e adorariam ter meu livro nas mãos.

Ai, eu penso, para me confortar, que o livro que eu enviaria, não é o que eu gostaria de fazer. Quero um livro com menos contos- selecionei muitos para enviar, seria como uma amostra maior. Quero um livro bonito, com desenhos meus. Penso que posso dividir o livro com desenhos. Agora é fazer a ‘boneca’e ir à luta.

terça-feira, março 08, 2011

Um dia especial

Frase de Cora Coralina



Em 2005 eu disse isso:

Lembrei hoje de algumas autoras que me marcaram de alguma forma, livros admiráveis, citaria:
Clarice Lispector, Ana Cristina Cesar, Susan Sontag, Ligia Fagundes Telles, Doris Lessing, Virginia Woolf, Katherine Mansfield, Muriel Spark( "Memento Mori"), Xinran ("As boas mulheres da China"), Maria Amparo Escaban ("A caixa de santinhos de Esparanza", Arminda Aberastuty, Anna Freud (especialmente pela dedicação ao pai), Hilda Hilst, Nise da Silveira...
Ainda : Elis Regina, Nana Caymmi, Billie Holiday, Bethânia, Adriana Varejão, Rosana Palazian, Frida Kahlo, Debora Colker, Fernanda Montenegro...

Acrescento hoje (2011) minha ex analista Nilza Rocha- que me virou ao avesso.

Fiquei pensando nas escolhidas e percebi que a escolha recaiu em mulheres que ousaram na vida e na obra. Dá para separar? Penso que não.

domingo, fevereiro 28, 2010

A Terra fala- pede socorro

by Tomie Ohtake



Lygia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado estão no Chile. Que pena... poderiam passar sem este susto.
Duas excelentes escritoras, mas a experiência será aproveitada por elas, com certeza.

Tenho um livro maravilhoso aqui. Nem sei se ainda existe. Parece que não com estas ilustrações, se não me engano... vou tentar confirmar.
Chama-se: “Sete cartas e dois sonhos” é de Lygia e belíssimo com ilustrações de Tomie Ohtake, aliás o livro foi feito inspirado nas obras da Tomie e não ilustrado por ela- eu acredito. É de 83. Chorei emocionada quando li. Lembrei de meu amigo pintor- é a história de um menino e seu amigo pintor que morre. Um dos meus livros preferidos. Me comoveu tanto que o pego, mas não tenho coragem de ler ainda- ando à flor da pele.

A Terra treme, a Terra fala- pede socorro.

quarta-feira, agosto 12, 2009

domingo, agosto 09, 2009

A editora de um homem só




Só hoje eu li que o livro do Alex Castro foi vendido previamente- achei legal, fui atrás dos links.
Depois fui ver a foto do Alex, conheço só uma caricatura dele há anos- nos cruzamos no virtual, ele é amigo de amigos, mas nunca nos falamos- lembram daquela enchente em New Orleans? O cãozinho dele estava lá preso, fui solidária.
No Google tem um 'Alex Castro', aqui.

Mon dieu! :)
Voltando ao Alex, não este, gostei da forma como ele fez e vendeu o livro. Ai fui parar aqui, e neste blog do dono da editora- é um cara só, simpatizei na hora.


Os Viralata
Literatura independente
Desde 2004, mostrando que há vida além das editoras




Adoro Jacques Tati

terça-feira, maio 19, 2009

O livro do Chico- 'Leite derramado'










Terça-feira, 28/4/2009


Chico Buarque e o Leite derramado
Jardel Dias Cavalcanti

Do Digestivo Cultural

"Aqui tudo é construção e já é ruína." (Caetano Veloso/ Gilberto Gil)

Acaba de ser lançado pela editora Companhia das Letras o melhor romance brasileiro do ano, se não for, creio eu, o melhor de décadas: Leite derramado (Companhia das Letras, 2009, 200 págs.), de Chico Buarque. E o primeiro comentário que o livro merece receber é o de que esta é uma obra escrita por alguém que domina completamente a língua portuguesa e a linguagem literária. O prazer de se ler um livro escrito por quem é mestre na própria língua já é um prazer de per si. Ainda mais num país com uma tradição de escritores que não entenderam que a literatura é feita, antes de tudo e mais do que tudo, de linguagem, e não apenas pela nobre causa dos temas sociais.

Aliás, vale aqui um parêntese: o que tem enfraquecido a arte brasileira durante tanto tempo é esse vício social que acomete nossos artistas de querer sobrepor a realidade ao ofício do ato criador da própria obra de arte, que se traduz nessa busca desesperada por explicar nossas misérias mais do que fazer um excelente trabalho artístico. Como dizia Aristóteles, na sua Poética, em arte "o impossível se deve preferir a um possível que não convença". A arte precisa de artistas e não de sociólogos.

As lições da Poética de Aristóteles e Horácio estão dentro da obra de Buarque: "a quem domina a linguagem e o assunto escolhido não faltará eloquência nem lúcida ordenação". Não que Chico Buarque se dobre ao fazer clássico como engessamento do ato criativo ou com um preceituário de soluções práticas, como condenou Paul Valéry em sua Première Leçon Du Cours de Poétique, dizendo que na poética clássica "o rigor se fez regra e exprimiu-se em fórmulas precisas". Ao contrário, no caso do nosso escritor o próprio domínio da linguagem é usado contra essa ideia lhe dando a liberdade de brincar com a estrutura do romance, fazendo e desfazendo o plano narrativo com maestria rara e sendo essa mesma desarticulação e articulação um recurso que revela o próprio ponto de vista interior do velho personagem sobre a história que conta.

Podemos pensar em Leite derramado a partir da ideia de que não se pode confundir reportagem com arte. Embora a narrativa de Chico Buarque perpasse a saga de uma família de ancestrais portugueses do tempo do Império aos nossos dias, alimentando-se do mundo real e da História, não o faz com métodos científicos ou documentais; ao contrário, cria um universo paralelo e até antagônico a esse mundo real. Na verdade, complica-o um pouco mais. E se este livro tem motivação política, aí reside sua força crítica. Ou, parafraseando Albert Camus, "em arte a crítica se instala na verdadeira criação, não apenas no comentário". E ainda, seguindo a ideia de T. W. Adorno, no seu famoso ensaio "Lírica e Sociedade", "nada que não esteja nas obras, na própria forma destas, legitima a decisão quanto ao seu conteúdo, o poetizado ele mesmo, representa socialmente".

Entrar por essa clave em Leite derramado é o que farei a seguir. O romance narra os pensamentos de um velho preso a uma cama de hospital que se dirige ora à sua filha, ora às enfermeiras, recontando o que seria sua história pessoal dentro do contexto da própria história brasileira, do Império aos nossos dias, em suas mudanças sociais, econômicas e comportamentais.

À primeira vista parece fácil perceber isso, mas quem narra é a memória de um velho perturbado por um passado complicado, sendo essa mesma memória dominada por emoções que deságuam a todo momento sobre sua cabeça na forma de desafetos, traições, taras e, além do mais, a realidade próxima da morte. Então, o reino do narrador é o próprio reino da arte, aquela arte condenada por Platão como imprevisível, paradoxal, dominada pelos sentidos, por sentimentos mórbidos, fantasias ilusionistas, própria para loucos e videntes.

Alegoricamente, podemos pensar que uma história do Brasil só poderia ser escrita nesses termos, os termos da própria realidade brasileira, que é delirante, perversa, desconstrutiva, insólita, tingida por contradições, como a memória do personagem que a narra. Nesse ponto Chico dá uma lição aos historiadores pragmáticos e racionalistas, oferecendo a possibilidade de se tentar entender uma realidade delirante a partir do próprio delírio.

A decadência da família do narrador e a própria decadência do país, que vai da tradição assentada na estrutura do poder imperial até o poder atual, com o neto traficante de drogas que consome com seu avô algumas carreiras de coca, retraçam o percurso de uma sociedade perversa em todos os sentidos, da escravidão e seu correlato e consequente racismo histórico até o abuso de poder e total falta de pudor (o velho olhando e desejando a bunda da namorada do neto) em usar este poder.

"Estou nesse hospital infecto." Esta frase do narrador talvez traduza o sentido que o próprio personagem dá ao Brasil e sua história. Espécie de paciente terminal, o Brasil de Leite derramado é pessimista. O próprio título do livro nos dá essa ideia de algo que serve para nos nutrir mas que perdemos. Um Brasil que poderia ter sido, mas não foi e pelo visto nunca será. E adianta chorar sobre o leite derramado?

E é desarticulando a narrativa que percebemos de fato isso. Nos tornamos incapazes de organizarmos os sentidos atribuídos aos personagens, pois não sabemos se são reais ou se estamos sendo induzidos por uma memória perversa, tão perversa quanto a realidade que a criou ou do qual o personagem participou.

Este mérito do romance de Chico Buarque se sobrepõe a todos. Ele é capaz de provocar a emoção estética, ou seja, o arrebatamento que nos possibilita navegar em águas turvas, ter o sentido da impossibilidade de diferenciar real e imaginário, possibilitando-nos pensar ao mesmo tempo por ordem de um discurso histórico e outro fantasioso sem saber bem qual é qual. Lugar de nossa particularidade nacional esta de sermos uma mistura irreconciliável entre desejo irrefreável (de foder e poder?) e vontade de criar a civilização democrática? Sermos o lugar da riqueza e da violência que se apodera dessa riqueza e a transforma em opressão econômica, racismo, abuso de poder e na consequente descrença social num projeto de nação a ser construída democrática e historicamente por todos?

Perversão psíquica e perversão histórico-social se confundem na narrativa. Não sabemos bem quem domina quem, quem gera quem e o quanto isso é ao mesmo tempo fabuloso (no duplo sentido da palavra) e destruidor da ideia de uma possibilidade de se estabelecer qualquer realidade sob controle.

As entrelinhas são muitas, os ditos e não-ditos é que falam, o embaralhamento é a corda do trapezista sobre a qual pendemos, seja como leitores ou como partícipes da suposta "realidade" brasileira. Chico nos devolve a realidade do nosso país com inteligência histórica visível, sem pragmatismos políticos ralos, nos levando para dentro da geléia-geral traçada no próprio interior do romance enquanto linguagem.

"Quando você compilar minhas memórias vai ficar tudo desalinhavado, sem pé nem cabeça. Vai parecer coisa de maluco", diz o personagem em certa passagem do livro. E o nosso país, não parece coisa de maluco? Eu, por mim, diria sobre o romance, seguindo Platão, que não só é coisa de maluco, mas coisa de vidente. É o que Leite derramado é.

Portanto, nem tudo nesse país se perdeu, do caos de nossa miséria histórica surge a riqueza brilhante que é um escritor de altíssima qualidade, que além de já nos presentear com sua música genial, nos brinda agora com a maturidade literária que sempre sonhamos.

Como nota final chamo a atenção para a orelha do livro, sensível e inteligentemente feita por Leyla Perrone-Moisés, ultimamente a mais sofisticada crítica literária deste país.

Para ir além






Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 28/4/2009





domingo, março 01, 2009

Perto do coração

by Sarah Illenberger- Lembra Leonilson, não é?




Copiei daqui, este blog era muito bom, pena que acabou.



Estava lendo, ou estou, "Histórias de uma cidade"*
Ele é exatamente o que este site diz: um livro para divertir. Hoje pensava que daria um bom seriado. Devem ter feito já.

Ontem pensei que poderia perder temp lendo algo melhor, e peguei "Perto de um coração selvagem"**, de Clarice, que eu não havia lido ainda. Ai, Clarice, eu choro com ela, é maravilhosa.
"Histórias de uma cidade" é mais leve, óbvio, tem umas 500 páginas, ontem vi que já li mais de 250 e se espremer fica quase nada. Tem a mocinha que vai morar em São Francisco num predio onde a dona, que é uma simpatia, planta maconha. Uma vizinha tem um amigo gay, super gente fina, desempregado, que vive em lugares onde possa arranjar um namorado- podem ser encontros numa lavanderia, ou supermercado. Há tambem o empresário rico que está com câncer, a mulher fútil, que transa com o entregador, o genro que é infeliz... e assim vai.
Sobra o quê? Você fica sabendo como viviam na década de 70 ali. Nada de novo para quem conhece gays ou sabe um pouquinho como era na década de 70 NY ou São Francisco, mesmo Rio e S Paulo- pré AIDS. Uma loucurraaaaaaaaaaaaa. Muitos morreram por desconhecerem a doença, mas isto já é outro assunto.
Eu não vou mais ler, cansei. E aqui o comparam com Charles Dickens, faz favor...Ou Scott Fitzgerald, sei lá, daqui a pouco vão dizer que lembra Dostoiévski. Acho até que li isto. Ai ai os tempos mudaram. Este livro não me toca, apenas leio na hora de dormir, já com sono.

Ler Clarice ou a Kisteva com sono é perder. Deixar de saborear um bom texto.

O " Sol negro" é com um estudo, preciso ler com atenção e há dias em que leio e perco o que li, felizmente o assunto já é conhecido, fala de teoria freudiana e kleiniana.

* escrito pelo ativista gay americano Armistead Maupin, abordando a vida dos moradores de São Francisco, na Califórnia

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Leiam o início do livro que Clarice escreveu quando tinha uns 16 anos de idade. Impressionante!

Trecho de "Perto do coração selvagem"

A máquina do papai batia tac-tac... tac-tac-tac... O relógio acordou em tin-dlen sem poeira. O silên­cio arrastou-se zzzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? roupa-roupa-roupa. Não, não. Entre o relógio, a má­quina e o silêncio havia uma orelha à escuta, gran­de, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam liga­dos pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes.
Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, socada, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer.
Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio. Bran­co. Mas de repente num estremecimento deram cor­da no dia e tudo recomeçou a funcionar, a máqui­na trotando, o cigarro do pai fumegando, o silêncio, as folhinhas, os frangos pelados, a claridade, as coi­sas revivendo cheias de pressa como uma chaleira a ferver. Só faltava o tin-dlen do relógio que enfei­tava tanto. Fechou os olhos, fingiu escutá-lo e ao som da música inexistente e ritmada ergueu-se na ponta dos pés. Deu três passos de dança bem leves, alados.
Então subitamente olhou com desgosto para tudo como se tivesse comido demais daquela mistu­ra. "Oi, oi, oi...", gemeu baixinho cansada e de­pois pensou: o que vai acontecer agora agora agora? E sempre no pingo de tempo que vinha nada acon­tecia se ela continuava a esperar o que ia acontecer, compreende? Afastou o pensamento difícil distraindo-se com um movimento do pé descalço no assoalho de madeira poeirento. Esfregou o pé espiando de través para o pai, aguardando seu olhar impaciente e nervoso. Nada veio porém. Nada. Difícil aspirar as pessoas como o aspirador de pó.
— Papai, inventei uma poesia.
— Como é o nome?
— Eu e o sol. — Sem esperar muito recitou:
— "As galinhas que estão no quintal já comeram duas minhocas mas eu não vi".
— Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?
Ela olhou-o um segundo. Ele não compreende­ra...
— O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas... — Pausa.
— Posso inventar outra agora mesmo: "Ó sol, vem brincar comigo". Outra maior:
"Vi uma nuvem pequena coitada da minhoca acho que ela não viu".
— Lindas, pequena, lindas. Como é que se faz uma poesia tão bonita?
— Não é difícil, é só ir dizendo.

(Perto do coração selvagem, Editora Nova Fronteira, 7ª edição, 1980)
Copiei daqui.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A camélia que não é de pedra





Hoje fiquei mais feliz com os comentários. Fui ler a Camille e li isto, depois tem gente que diz que internet só tem bobagem. Hã... ignorância pura.

E Madoka nos comentários citou Guimarães Rosa:
"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é CORAGEM".

Eu ando meio devagar, talvez acovardada, ou cansada, sei lá.

Obrigada per tutti queridos amigos. vocês me fazem um bem enorme, nem imaginam:)
Viram o comentário do Fernando que graça? :)

domingo, junho 29, 2008

Leonardo Da Vinci, o gênio




Acabo de chegar da livraria e folheei este livro. Deve ser muito bom. Não comprei
porque não leria agora, me conheço.
Leonardo Da Vinci é realmente uma figura fantástica e pouco estudada. Freud fez um estudo sobre ele, vocês sabem, mas o enfoque é outro, óbvio. Aqui, o autor, que escreveu o famoso "O tao da fisica" fala pela vertente científica.

quarta-feira, julho 27, 2005

Paixões IV. A bela história da Marquesa e Voltaire..

















Adoro ler sobre paixões, devo me identificar com os enamorados todos, sempre estive apaixonada- algumas vezes mais, outras menos, mas a paixão não me abandona.
Rosa Montero em “Paixões” conta a história de Voltaire e Marquesa Émilie Du Châtelet, Rosa, que deve ter lido muito a respeito, considera esta a mais fascinante de todas.
Marquesa Du Châtelet, filósofa e escritora francesa do séc. XVIII foi amante de Voltaire durante quinze anos, Mulher de uma inteligência excepcional, era matemática, estudou grego, latim, geometria e física. Apaixonada e curiosa devorava livros e tinha uma energia cativante, apesar de não ser exatamente bela para os padrões, era atraente, magra e tinha olhos verdes expressivos.
Casou com o Marques Du Châtelet aos dezenove anos e três anos depois se apaixonou por um duque, como não foi correspondida tentou se matar com dose excessiva de ópio, sobreviveu à overdose e ao Duque. Vivia com o Marques em aposentos separados e tinham vidas paralelas, o que era comum no séc. XVIII.
Aos vinte e oito anos conheceu Voltaire que estava com trinta e oito, se apaixonaram e passaram a viver juntos no Castelo da Marquesa. Foram anos de amor intenso e respeito mútuo, viviam em plena harmonia. Voltaire a respeitava como intelectual, coisa rara na ocasião. O Castelo virou um centro cultural.
Dez anos depois Voltaire passa a não ser o homem apaixonado de antes, já tinha problemas de impotência (que o próprio confessou) que se acentuaram, ela sofre com o distanciamento amoroso dele, não que ele deixasse de amá-la, nunca deixou, apenas esfriou. Émilie então depois de alguns anos escreve um livro que é um belo texto sobre o amor e desamor –
“Discurso sobre a felicidade” onde ela,uma mulher em meados do século 18 discute porque as mulheres não podem ser felizes como os homens.
"É comum pensarmos que é difícil ser-se feliz e existem boas razões para assim pensar; mas seria mais fácil sermos felizes se, nos homens, as reflexões e a pauta de comportamento precedessem as acções. Somos arrastados pelas circunstâncias e entregamo-nos às esperanças, que nos proporcionam apenas metade do que esperamos. Enfim, só nos damos claramente conta dos meios para sermos felizes quando a idade e os entraves que a nós próprios pusemos lhes colocam obstáculos. (...) Para sermos felizes, é preciso termo-nos desembaraçado dos preconceitos, seremos virtuosos, gozarmos de boa saúde, termos gostos e paixões, sermos susceptíveis de ter ilusões, pois devemos a maior parte dos nossos prazeres à ilusão, e infeliz daquele que a perder". Madame du Chatelêt, "Discurso sobre a Felicidade"
Este livro parece ter sido escrito em 1747, incrível. Atualmente vemos uma centena de livros de auto ajuda dizendo a mesma coisa. Ela acreditava que é preciso manter-se centrado em si mesmo e não se perder no outro.
Mesmo tendo escrito o livro, tendo consciência de que não se deve perder-se no outro perdidamente, ela aos quarenta e um anos, esqueceu os preceitos escritos e se apaixonou por um jovem poeta medíocre de vinte anos, por ai, e se alienou, tornou-se uma outra mulher, “ o apaixonado sempre oferece ao seu amante, na paixão, o sacrifício de sua própria inteligência” – diz Rosa Montero. Engravidou, teve o filho e seis dias depois morreu de febre puerperal aos quarenta e dois anos.
No enterro, entristecidos e unidos pela dor, estavam o Marques, Voltaire e o jovem e frívolo Saint-Lambert.
No século XVIII uma mulher extraordinária, uma Marquesa, “descobre” o mal do amor e estamos até hoje discutindo apaixonadamente o mesmo tema.
Não há um mal de amor, há indivíduos enamorados e cada um viverá o seu amor com suas limitações e expectativas, suas ilusões, suas alegrias, dores, prazeres...
E viva a paixão!

sábado, março 12, 2005

Dicas de livros






Ainda não sei que perfil terá este blog, vou tateando.

Esta semana, como já disse, estive em ebulição mental, e estou a pensar (gosto desta expressão de nossos patrícios) nas mulheres. Mesmo concordando com a Sheila e outras que disseram que são contra esta comemoração, também acho que é como qualquer outra data, usada pela mídia e comércio- nem Natal eu gosto! Mas não foi possível não pensar.
Lembrei de livros que li, pouco conhecidos, sobre mulheres e recomendo:

“Corpos frágeis, mulheres poderosas”.
De Maria Martoccia e Javiera Gutiérrez.
Ed Ediouro.
Adorei, tem biografias curtas de mulheres admiráveis como: Frida Kahlo, V. Woolf, Billie Holiday, Madame Curie, M. Callas e outras. É ótimo, não deixe de ler, você lê com facilidade e traz aspectos muito interessantes destas mulheres.

“A caixa de santinhos de esperanza” de Maria Amparo Escaban.
Bela história de uma mulher que nega a morte da filha e viaja atrás do paradeiro fazendo uma rica viagem interior.

“Memento Mori”” de Muriel Spark.
Divertido, fala da morte de forma leve, os personagens são todos velhos e divertidos. A protagonista é uma ex escritora muito famosa. Há um leve tom de mistério, todos recebiam telefonemas anônimos estranhos falando de morte, mas nada que assuste, é muito gostoso.

“As boas mulheres da China”
de Xinran
Ed. Ediouro
É de uma chinesa, jornalista, que conta histórias comoventes e reais. É um livro que todos, homens e mulheres, deveriam ler. Mostra o sofrimento das mulheres chinesas, da submissão. É muito bom.

“Mulheres Alteradas”
de Maitema
É ótimo, são charges, fantásticas, Maitema conhece muito bem a cabecinha das mulheres. É um tratado de psicologia sobre o comportamento das mulheres, uma espécie de “Radical Chic”, mais abrangente, a “Radical” é carioca, moderna, as personagens da Maitema são universais.

“História das mulheres do Brasil” Coordenação de textos de Carla Bassanezi.
Ed. Contexto
Imprescindível se você quer entender a mulher brasileira, encontramos histórias de mulheres fantásticas de séculos anteriores. Aqui no R.G.do Norte tivemos Nísia Floresta Brasileira Augusta, o nome já diz muito, uma grande figura, procurem ler, uma mulher que viveu a frente do seu tempo.
Alguns de vocês devem conhecer estes livros todos, mas eu dei a dica porque às vezes fazendo palestras eu cito a Maitema e tem muita gente que não conhece. A Maitema é, talvez, a Mafalda adulta, com filhos adolescentes. Mafalda, de Quino é outro livro que adoro, tenho a coleção completa e me delicio sempre que abro, aliás, eu penso em colocar um desenho da Mafalda no lugar da minha foto, eu tenho muito da Mafaldita, questiono tudo, e houve um tempo em que me parecia mais ainda porque usava um cabelo grande, como o da Gal, mas sou mais bonitinha que ela, viu?
E a “Radical Chic”, todos conhecem? Nós cariocas somos todos fãs de Radical, uma mulher moderna e complicada, desenhada com talento pelo Miguel Paiva, se você não conhece procure conhecer, é a cara da mulher moderna, está no Jornal O Globo, você pode ver lá.

Você lembrou de livros e gostaria de dar a dica?