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terça-feira, agosto 21, 2007
Cartas sob a porta. Resgatar o amor é preciso / Arquivo revisado
Aqui tem mais uma carta do meu amigo Pimenta, que me amou intensamente sem nada pedir- se você quiser ler mais cartas e poemas dele encontrará em posts anteriores(início do blog em 2005). Abri a pasta cheia de poemas e encontro esta carta, é de doer. Ele morreu um pouco depois de aneurisma, ou doença de Chagas, não sei, não importa mais, tinha menos de trinta anos, era engenheiro e poeta.
A saudade não dói mais, faz tantos anos, mas eu sinto falta ainda dele- é incrível.
Estudamos juntos Integrais e derivadas, Luc estuda agora em engenharia, eu vejo e lembro do Pim, fazíamos exercícios e mais exercícios, enchíamos cadernos de Integrais, limites, estas coisas- eu adorava estudar matemática, esta parte- talvez por estudar com ele- que era tido com gênio por todos, só tirava dez em tudo.
Depois, quando fomos para a Faculdade, ele foi para Niterói, eu para o Rio, passamos a nos ver muito pouco. Eu tinha um namorado, o A., ele acabou casando, mas nunca deixou de me escrever- escondia minha existência da mulher(eu era uma fantasia).
Ele me escrevia- e eu a ele, várias vezes por semana, então até hoje muitas vezes, quando olho para o chão perto da porta, ou vejo uma cena num filme, me lembro dele- cartas no chão. Eu recebi muitas, muitas mesmo, durante anos. Levava na bolsa para a faculdade, relia, são muito lindas.
Niterói, 13 de março.
Lian querida
Você está linda. Assim na carta, o caminhar estranho em chão de pedras, o velho, seu livro, deram-me uma sensação de desencontro em mim mesmo, o que você deve ter sentido também, um analfabeto acharia sua carta bonita, a letra, o jeito feminino ( aliás esta mulher –total em você até me assusta, porque não se dá,não se conhece) de tudo, lembrando seda/rosa, quietude e horizontais. Eu não posso falar destas coisas, não, eu não posso, porque existe a promessa de uma nitidez e coerência, apego ao aparente –real e o encanto me leva a desvarios, e as palavras embriagam. Mas, que fique a proposição : Lian, você é linda.
A morte, suas redondezas, radijacências. Nós estamos computados. Não creia na data/fim, ela é medo apenas. Eu a vi no espelho hoje, branca, trêmula, sardenta, ruiva: roubara-me a figuração. Caratonhei, vias de dúvida- ela mesma suarenta, querendo sentar. Eu não costumo aceitar ordens da morte, mesmo quando me leva amigos e mestres conhecidos. E ouvi dizer: espera. Entende? Não há porque, janelas abram-se em plenilua. Meu anjo.
Ah, Lian, quanta forquilha, quando se espera! Deixa estar.
Vou escrever para você- a que me ouve,a que não tem medo de dizer amizade. Meu anjo, ainda te conheço qualquer dia desses!
Um beijo,
Pimenta.
PS: Sou um imbecil, mas não vem ao caso. Em miúdos: até hoje não sei falar com você. Aceita uma visita?
domingo, agosto 19, 2007
Uma porta sempre fechada

Desenho*
Niterói, 08 de abril de 1976
Lian querida:
Estava lendo:
”são vendedores ambulantes
De flores, frutas, flanelas,
doces, beijus, vassouras,
jornais e todo um extravagante
acervo de bugigangas”.
Fiquei pensando se não sou um deles, um vendedor de bugigangas, que tempo a fora sobrevive, subsiste, para apenas ver o tempo maquinalmente passar.
O amor, tecido de impossível, como um alvo móvel, fugidio, tão cultivado- tão sem futuro, ah...
Venham-me dizer eu você perdeu a vida inteira a se fazer de surda, e eu perdi a minha a me fazer de cantor.
Existem muitas formas de se morrer, lembra-se? Uma delas é devagar, mantendo acessa a chama de esperanças tolas, erguendo altares e perfumando leitos.
Uma porta sempre fechada ao final do corredor.
Ora,não há maneira de evitar o dizer que a amo?
Abraços
do seu
~~~
PS: Perdoe-me antigas ironias.
*Ps2:(Laura) Pois é, ironias da vida, o amor tecido de ilusões...O desenho é meu.
PS3: Esta carta existe, recebi de um amigo enamorado, ele morreu há muitos anos. Uma pena, era muito jovem e talentoso. Tenho outras no blog, poemas dele também.
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