domingo, agosto 19, 2007

Uma porta sempre fechada


Desenho*

Niterói, 08 de abril de 1976

Lian querida:

Estava lendo:
”são vendedores ambulantes
De flores, frutas, flanelas,
doces, beijus, vassouras,
jornais e todo um extravagante
acervo de bugigangas”.
Fiquei pensando se não sou um deles, um vendedor de bugigangas, que tempo a fora sobrevive, subsiste, para apenas ver o tempo maquinalmente passar.
O amor, tecido de impossível, como um alvo móvel, fugidio, tão cultivado- tão sem futuro, ah...
Venham-me dizer eu você perdeu a vida inteira a se fazer de surda, e eu perdi a minha a me fazer de cantor.
Existem muitas formas de se morrer, lembra-se? Uma delas é devagar, mantendo acessa a chama de esperanças tolas, erguendo altares e perfumando leitos.
Uma porta sempre fechada ao final do corredor.
Ora,não há maneira de evitar o dizer que a amo?
Abraços
do seu
~~~
PS: Perdoe-me antigas ironias.

*Ps2:(Laura) Pois é, ironias da vida, o amor tecido de ilusões...O desenho é meu.
PS3: Esta carta existe, recebi de um amigo enamorado, ele morreu há muitos anos. Uma pena, era muito jovem e talentoso. Tenho outras no blog, poemas dele também.

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