sábado, abril 22, 2023

Nossas escolhas- reflexão

 Nossas escolhas- reflexão

"A vida devia ser como no teatro, primeiro se ensaia, depois se estreia-vive." A frase do Vittorio Gassman ecoou entre amigos, mobilizou alguns. Por que, olhando para trás, percebemos que fizemos escolhas erradas? Não esqueço a frase de uma amiga quando falamos sobre isso: 
Elianne, fizemos o que foi possível naquela época. 
Demoramos para amadurecer e, mesmo mais velhas, nos sabotamos. Fiz análise uma vida toda- dos 23 aos 65 anos, por aí, não de forma contínua, mas tive muitos analistas- é outra história interessante para contar. Penso que sou muito eloquente e me enganei e não permiti que os analistas tivessem uma visão mais distanciada de mim. A analista lacaniana, a quem me socorri por pouco tempo, num Posto de Saúde, porque não tinha como pagar, era fria, eu não me sentia confortável, parecia que não simpatizava comigo. O analista winnicotiano me fez um bem enorme, foi o período mais rico e onde me senti mais amada- não pelo analista- pelo namorado. Tive relações amorosas intensas e que duraram em média 3 anos e meio, e rompi porque não queria compromisso, quando me sentia tolhida ou não tinha mais certeza do amor por eles. Isso eu sinto verdadeiro. Sei que fiz a coisa certa. Não sei se conseguiria viver uma relação morna. Eu viveria com um homem tipo Jean- que vocês conheceram pelo texto de ontem, ou Carlinhos, que vou contar em breve, ou Raduan Nassar, meu "namorado", pessoas que eu amo e admiro até hoje. Os que se foram continuam em mim e em fotos me acompanham no meu recanto preferido da casa- hoje meu quarto. Errei ao escolher o pai dos meu filhos? Um deles quando eu digo "Deus meu, como fui me envolver com seu pai, tão diferente de mim?" Ele diz; "Mãe, não diga isso, a gente não estaria aqui!". São dois seres humanos maravilhosos de quem me orgulho muito, mais ainda por tê-los educado sozinha.
Eu os tive aos 41 e 43 anos- parto normal, mocinhas! Realmente não queria filhos antes, quando o sininho soou avisando que era agora ou nunca, eu os desejei muito. Acredito que o que me levou a essa decisão foi estar em análise com uma Sra., Nilza Rocha, que questionou o desejo de não querer filhos. Aí veio uma longa história, bastante sofrida da minha relação com minha mãe desde os meus 7 anos. Não vou contar, é muito íntimo. Mas eu não me sentia merecedora de ter filhos, algo para sempre, imagino. E sou uma mãe excelente, inclusive alguns amigos deles também me chamam de mãe, não daquela que vai para a cozinha- não é minha praia, mas a que observa olhos tristes, percebe quando algo não está bem e comemora as alegrias deles todos. 
Fiz mudanças geográficas grandes também. Por que saí de Ipanema para Natal? Muitos perguntam. Saí do Rio na hra certa. Os meninos estavam crescendo e eu só não teria condições de acompanhá-los para cursos e tal. Tenho três irmãos homens que moram aqui. Vim na ilusão que acolheriam os meninos e seriam figuras paternas presentes. Doce ilusão. Mas fui pai e mãe e dei conta. 
Aqui a vida foi mais fácil, eles podiam andar de ônibus tranquilamente, coisa que no Rio já era muito perigoso. 
Ah! Um dos irmãos, trouxe meu pai para cá também, vim para perto do pai e dos irmãos. O pai faleceu dois anos e pouco depois, mas pude me despedir, apesar de ele não estar mais consciente no finalzinho. Aqui vivo numa casa muito boa, tenho a vista privilegiada de fazendas que ficam do outro lado do rio Pitimbu. Não dá para frequentar a mata aqui atrás, os bandidos chegaram aqui há alguns anos. Todos sabemos o que acontece no RN. Ouvimos tiros de vez em quando, assusta um pouco, a  casa é muito próxima da estradinha que leva de uma via a outra. Alguns estudantes cortam o caminho por aqui.  Não passa carros, impossível- em alguns domingos aparecem motoqueiros ruidosos subindo as dunas aqui atrás. 
Gosto de olhar as famílias chegando para o banho de rio com crianças, cachorro seguindo. Vêm num grupo grande- deve ser mais seguro. Trazem isopor, às vezes fazem churrasco, algumas vezes acessam pelo outro lado do rio de carro e fazem muito barulho com aquelas caixas de som ensurdecedoras, mas é mais raro. Quase sempre são famílias simples se divertindo e eu fico feliz por elas. Vou vê-las passear e invejo um pouco o despojamento, o prazer com essas pequenas coisas, que nós, a maioria da classe média, não conhecemos. Nos lamentamos muito, mesmo com tanto conforto. 
Aprendi a curtir momentos de pequenos prazeres, a melhor hora do dia é a hora do cafezinho depois do almoço com chocolate amargo. 

PS: Na verdade, eu já havia saído de Ipanema e estava vivendo entre Rio e Cabo Frio- fiquei uns 8 anos viajando todas as semanas, trabalhava nos dois lugares. Por ter saído do Rio e permanecer mais em Cabo Frio, as colegas psis deixaram de me indicar clientes- ainda não havia o Doctoralia, site que me salvou. Aliás, essas amigas me abandonaram completamente- é uma luto que carrego até hoje, inexplicável para mim a razão da distância e do afeto, pois tenho amigos mais distantes e que nunca me abandonaram. Ah! Eu tentei viu?? Desisti. Alguns cariocas são assim:: amigos de praia, de curso, de um certo tempo de vida, depois... "C'est la vie".

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