Há dias em
que escrevo mentalmente como se estivesse escrevendo para vocês. Coisas que
sempre gostei de compartilhar, minhas conversas com o jardineiro, historinhas
da faxineira, uma imagem que vi por ai. O dia passa e não estive aqui.
Hoje
amanheci pensando muito e quero contar para vocês o que pensei. Conto para que
fique registrado para mim este momento.
Estive num
retiro espiritual, recebi Shatkipat*. Como vocês sabem sempre me senti
absolutamente incrédula, mas bastante mística- era uma contradição. Algo em mim
era refratário a qualquer crença- suponho que isto tenha sido uma reação à
educação religiosa que tive, onde senti tanta hipocrisia e falta de compaixão
com o outro.
Estudei anos
numa escola de freiras e minha mãe era muito católica. Meu pai sempre foi
espiritualizado, mas em outro caminho, lia muito Krishnamurti- era de um grupo
que se reunia para estudar o Santo Graal- praticava Yoga, jejuava
periodicamente, se tratava com hidroterapia- cura através da água.
Aos 16, 17
anos, morei em Curitiba, voltei para lá depois de nos mudarmos para Cabo Frio.
O melhor colégio era o das freiras e para lá eu não iria- nem cogitamos, ou se
minha mãe tentou nem lembro. Fui morar com a avó materna em Curitiba e pasmem-
agora que percebi- fui para um colégio de freiras. A experiência ali foi muito
boa para mim, eu me sentia querida pela madre diretora, mas, ainda assim,
percebia o tratamento excessivamente rígido
que mantinham com as jovens internas.
Viver com a
avó- que eu sentia que não gostava de mim, com uma tia, idem- foi doloroso.
Sofri muito lá, me fez muito mal.
Mas, em Curitiba
eu pratiquei yoga em algum lugar e aprendi a fazer os exercícios em casa. Fazia
diariamente, tinha um caderninho de papel pardo pequeno onde desenhei todas as
posturas.
Voltei para
Cabo Frio um ano e meio depois, suponho, machucada, à flor da pele. Não fui bem
recebida pela mãe- eu praticamente fugi da casa da avó- e minha mãe acreditou
nas histórias que a avó inventava sobre mim. Anos depois descobriram que ela
estava sentindo-se perseguida, mentalmente perturbada. Foi tarde. As marcas ficaram, hoje não sinto
mais nada, mas tudo isto repercutia na minha vida, claro.
Vim morar em
Natal em 2002, dezembro, lá por 2004 tive meu primeiro contato com o budismo,
Monja Sherab. Fiquei encantada com a postura e a tranquilidade dela, sai de lá
dizendo que queria ser budista. Li bastante sobre budismo estes últimos anos,
vi muitos vídeos de Lama Michel Rinpoche- o que me ajudou bastante - fiz
retiros, simpatizava, mas não conseguia meditar.
Uma vez, eu
disse para uma moça que se preparava para ser monja e nos ensinava práticas: “Eu namoro o budismo
há muitos anos”, ela respondeu: “ Então está na hora de noivar.”
Há anos isto
me incomodava- o desejo de praticar e a impossibilidade de me manter sentada,
tentei muitas vezes, mas desistia porque me sentia ainda incapaz, dizia: um dia
eu chego lá.
Cheguei e
estou muito feliz.
Comentei com
meu filho que foi muito rápida a minha mudança interna, ele disse: “Mãe, há
anos você se repara!”. Verdade.
Se não fosse
ter conhecido Paulo Tarcísio, mestre na escola que frequento, a Nova AcrópoleParnamirim, demoraria mais para ter uma visão diferente da vida e da morte.
Minha gratidão a ele é enorme.
Ah! Não
virei budista, tenho muita dificuldade com compromissos, mas aprendi a meditar
com Swami Nardanand. É um indiano, médico Ayurveda, mestre em Yoga e filosofia,
e, para minha sorte, está construindo um Ashram* em Natal! Agora fechou o
ciclo, entendi o porquê de ter vindo morar aqui.
A vida tem
muitas coisas que não entendemos, feliz daquele que um dia percebe que tudo
aquilo que viveu faz sentido- eu não acreditava e sofria muito por isto.
Namastê!
(Interessante,
quando comecei meu blog, em 2005, eu me despedia com Namastê*, depois achei sem
sentido e retirei a saudação).
Namastê* - A
divindade em mim saúda a divindade que está em você.
Ashram-
espaço para desenvolver a vida espiritual.
Swami-
aquele que domina a si mesmo.
Shakitipat-
Leia aqui, não ouso explicar ainda escrevendo.
3 comentários:
Seu post me incentiva a seguir tentando. Fiz -- e tento, digamos, semanalmente -- a meditação transcedental. O dia em que conseguir a tranquila postura interna, vou comemorar. Ô ansiedade!
Qtas andanças para escrever a própria história... e que história rica!:)
bjimm querida
andrea
Andréa e Cláudia, só hj li vcs aqui, desculpem, ando mt desligada do blog, apesar de amá lo, vcs sabem.
Um abraço forte nas duas qrdas.
Laura
Postar um comentário