Faz calor, as pernas dela doem inchadas, lamenta o dia todo:
"Ai minhas pernas... ai como doem". Fala com o cão, que a olha indiferente.
Teve lindas pernas, além de bonitas, lisas. Ele dizia: "Sente aqui do meu lado", ela colocava suas pernas sobre as dele, que as tocava- dedos suaves- alisando-as em direção à sua púbis.
"São minhas estas pernas de seda, cor de âmbar", dizia.
As mãos dele estão longe. Se tivesse morrido sofreria menos, mas não, está vivo, e as mãos alisam agora pernas torneadas e masculinas. Nunca pensou ser deixada por outro. Ainda o vê sorrindo e se entristece. Às vezes se pergunta se é mais dolorido por ser um homem, ou seria maior a dor se fosse outra? Deve ser belo e forte. Ela é frágil, chora à toa. Não imagina o outro chorando no ombro dele.
As pernas incham porque mal caminha. Não só as
pernas sofrem, sente falta de ar, não gosta de abrir as janelas. A casa cheira
a mofo, respira com dificuldade.
Não se importa.
Não se importa.
3 comentários:
Muito bom voltar a te ler, tem anos que não venho aqui. Belo conto.
Victor Az
concretismo.zip.net
Victor, qto tempo... vou lá te visitar. Bom revê-lo aqui, dá vontade de voltar a postar lembrando aqle tempo tão fértil.
Abs
Acabo de achar seu blog agora, por acaso, como tudo na net. E já gostei. Se me permite, passearei mais por aqui.
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