quinta-feira, outubro 31, 2013

Drummond ainda vive




                                                                   *

Lembrar Drummond ainda me dói. 
Há muitas boas lembranças,  
e a emoção me toma e comove. 
Luc, meu filho mais velho fez 25 anos este ano. 
Não fosse a morte do poeta, não o teria, nem Dan. 
Como seria minha vida sem eles? Muito triste, suponho.

Conheci Drummond ao acaso,  
como quase tudo na minha vida.   
Nos cruzávamos por Ipanema.  
Eu a caminho do trabalho, ele ao encontro da amante.
Viramos amigos, trocávamos confidências. 
Nossas tristezas, prazeres.
Um dia, caminhávamos de mãos dadas pela Praça Gal. Osório, ele disse:
Se quiser viver uma paixão, não case. Ele estava certo. 
Casamentos desbotam chamas. 

Foram cinco anos em que me senti privilegiada, 
mas sei que há outras por quem se enamorou.
Naquele dia fomos até a esquina de sua casa caminhando no final do dia, ele disse:
"Você é sangue novo em minhas veias.  Sinto desejo,
mas o corpo não corresponde mais.".
 Ele estava com mais de 80 anos, eu tinha pouco mais que 30. 
Lygia, sua eterna namorada, mantinha encontros clandestinos com ele há 30 anos, 
ele estava casado há 50, por ai.  Fez piada sobre isso. 
Disse que se somassem os anos com as 2, 
daria mais do que sua idade. 
Era um homem denso, mas bem humorado, leve.
Um dia me ligou e disse: 
Posso fazer uma crônica sobre você? 
Respondi, que seria uma honra. 
Ele: Vou mudar seu nome para Cristiane.
Ansiosa comprei o JB para ler. O título: Coração imobiliário.
Por que?  A tal Cristiane tinha vários visitantes amigos.
Não era lisongeiro, mas enciumado o seu texto.
Este Drummond... 
No final ele dizia: Posso dar uma espiadinha nesta cobertura?  ;)
Depois perguntou: Você sabe o que significa cobertura entre animais? Eu sabia.
Quando eu dizia: Assim você me deixa encabulada, Carlos. 
(Queria que o chamasse pelo primeiro nome, 
eu preferia o Drummond, afinal...
nunca me senti muito à vontade diante dele.).
Ele respondia: Ué, você é psicanalista...
E eu: Mas tenho alma de poeta.
Ficaria o dia a contar historinhas dele,  
mas já contei antes, podem ler em Drummond e eu.
Link abaixo, na imagem da escultura dele. 
Ele está vivo em mim e nos meus filhos tão especiais.
Viva o nosso poeta!

*Este belo poema ganhei de presente, deixou na portaria do meu prédio.
Eu também deixava cartinha lá. 
 Não fez para mim,
não chegamos a tanto. 




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